Venerável Mestre
No texto publicado ontem, é referido, a dado passo, o "Venerável Mestre". Será esta a primeira expressão a ser esclarecida.
Venerável Mestre é a designação dada ao membro que exerce a função de direcção dos trabalhos de uma Loja maçónica.
Na Loja Mestre Affonso Domingues, o Venerável Mestre é eleito, usualmente em Julho, e toma posse após a pausa para férias, que decorre sempre durante todo o mês de Agosto. Logo, e ressalvada a ocorrência de situações que imponham uma alteração pontual (doença, por exemplo), o Venerável Mestre eleito em Julho toma posse no decorrer do mês de Setembro subsequente. Isto dá-lhe tempo para escolher e convidar os membros da Loja que, durante o seu mandato, irão exercer as várias tarefas necessárias ao funcionamento de uma Loja maçónica. Com efeito, à excepção da função de Tesoureiro - cujo titular é eleito, por regra em simultâneo com o Venerável Mestre - todas as demais funções são exercidas por elementos escolhidos pelo Veneável Mestre eleito. Pretende-se assim garantir o funcionamento de uma equipa que seja, tanto quanto possível, coesa e, portanto, eficaz no exercício das suas tarefas.
O mandato do Venerável Mestre (e também o do Tesoureiro) é de um ano, de Setembro a Setembro, podendo o Venerável Mestre ser reeleito apenas uma vez (o Tesoureiro pode ser reeleito sem qualquer limitação). Assegura-se, assim, que a Loja não fique dependente da direcção de um dos seus membros, por muito influente, eficaz ou consensual que seja.
Na Loja Mestre Affonso Domingues, a prática tem sido a de o membro eleito para Venerável Mestre exercer um só mandato. Privilegia-se assim a rotatividade e a aplicação do princípio de que todo o elemento admitido na Loja tem capacidade para a dirigir, pelo que, a seu tempo, o fará.
Com a eleição de um membro para Venerável Mestre, a Loja delega-lhe o poder de direcção da mesma, quer em temos administrativos, quer em termos de direcção de reuniões, quer em termos de execução das deliberações tomadas.
A confiança que a Loja deposita no membro que elegeu para exercer a função de Venerável Mestre inclui a delegação de poder para, sempre que, sobre qualquer assunto em debate, não se verifique a existência de uma posição consensual, ser o Venerável Mestre quem assume a decisão, a qual deve, porém, ser ponderada, prudente e tendo em atenção as posições expostas. Essa decisão poderá, assim, ser a de opção por uma das posições expressas (normalmente, quando o Venerável Mestre verifica ser essa a posição largamente maioritária, ainda que não consensual), a opção por uma das posições expressas, alterada ou complementada parcialmente por contributos provenientes das outras (procurando-se atingir a melhor solução racionalmente possível) ou uma solução intermédia entre duas ou mais das posições expressas (normalmente quando se não forma uma maioria clara, procurando-se atingir uma solução em que, ainda que não totalmente, todos, ou quase, os elementos da Loja, se possam rever).
Na sequência da discussão de qualquer assunto, em que todos os Mestres maçons têm a oportunidade de se pronunciar, a decisão anunciada pelo Venerável Mestre, decorrente do seu prudente juízo sobre a vontade da Loja, assume o carácter de deliberação da Loja, que é então, sem mais discussão, aceite e executada pelos seus membros.
Durante o período do seu mandato, os poderes delegados ao membro da Loja eleito Venerável Mestre são, assim, consideráveis e devem ser exercidos com a Sabedoria e a Prudência que a tradição atribui a Salomão. Costumam, assim, os maçons dizer que o Venerável Mestre da Loja toma assento na Cadeira de Salomão.
A expressão "Venerável Mestre" decorre da adaptação da expressão inglesa "Worshipful Master". São expressões que se utilizam desde o século XVIII e que, embora nos dias de hoje, tenham uma aparência pomposa e deslocada do uso actual da língua, continuam a ser comummente utilizadas pelos maçons, sempre rigorosos na aplicação da Tradição e dos bons ensinamentos dos que nos precederam. Também noutas ocasiões, todos utilizam expressões que cairam em desuso no dia a dia: quem não dirigiu já a sua correspondência a um "Exmo. Senhor"?
Rui Bandeira