Regularidade, a Geometria do Invisível
Numa conversa, pós um ágape regado de canhões cheios de pólvora amarela, falou-se sobre Regularidade. É um tópico onde cabem vários temas, o reconhecimento, as constituições, homens e mulheres, o que seja. Para mim, o foco da Regularidade é a crença no GADU, a Fé necessária para que possamos ser maçons.
Resumindo, a Regularidade de que falo não se escreve em papel timbrado, nem se confirma por decreto. Não nasce de um reconhecimento externo, mas sim de uma coerência interna, é o reflexo de algo que vibra no mesmo compasso da Luz, porque um homem pode ser reconhecido por todas as potências do mundo e, ainda assim, ser irregular, se o seu coração não for crente no Grande Arquitecto do Universo.
A Maçonaria, como é sabido, é uma Ordem Iniciática. E toda a iniciação é um ato de fé, não uma fé imposta, nem cega, mas lúcida. A confiança de que há sentido no invisível, ordem no caos, proporção naquilo que os olhos ainda não entendem.
Há quem lhe chame Deus, quem lhe chame Allah, quem lhe chame Javé, ou lhe chame seja o que for ou que lhe decidam chamar. Ele é o Grande Arquitecto do Universo, não é uma figura dogmática, mas o arquétipo da harmonia, o símbolo que torna o nosso trabalho espiritual possível.
É aqui que entra a fé do maçon, sem ela o juramento é apenas uma promessa dita no vazio, sem fé, o rito é teatro e o Templo é o cenário, onde o homem pode repetir as palavras, mas elas não ecoam.
Juramos porque acreditamos. Acreditamos porque reconhecemos, no silêncio do Templo, que há algo maior do que nós. Algo que escuta, que mede, que dá sentido às palavras que pronunciamos. Essa é a diferença entre um contrato e um juramento.
O primeiro vincula homens; o segundo liga almas.
Um juramento maçónico é uma aliança com o princípio da Criação, com o próprio GADU, é o instante em que o homem confia e coloca a sua palavra sob a Luz de algo superior, e meus caros isto só pode ser verdadeiro se houver fé.
Sem ela, o juramento até pode ser formal, mas nunca será sagrado. Pode ter som, mas não eco, pode ter forma, mas nunca alma.
A fé é o que liga a palavra ao espírito, é o que torna o verbo criador, o gesto vivo, o símbolo real, e dá corpo à promessa, tornando a obediência um ato de consciência, nunca de submissão.
Quando um homem jura sobre o Volume da Lei Sagrada, o que está em causa não é o livro, mas sim o que ele representa, pois é o espelho da fé, o elo entre o humano e o divino. Sem fé, são apenas palavras soltas em papel e tinta, com fé, é o alicerce da Regularidade.
A Regularidade não está na forma como seguramos o malhete, nem na ordem dos nossos rituais, mas na presença interior de quem acredita no que faz. Regular é aquele cuja palavra é verdadeira porque vem do espírito; irregular é aquele que repete palavras sem alma, que se ajoelha sem saber porquê.
Por isso, penso que um maçon sem fé é um pedreiro sem prumo, pode levantar muros, mas nunca erguer um Templo, pode trabalhar a pedra, mas não a si mesmo.
A fé é o prumo invisível da alma, e o GADU é o ponto fixo que mantém a geometria do nosso ser. Sem Ele, tudo se desfaz, tudo se relativiza, tudo perde proporção.
No fim, a Regularidade é isto:
Harmonia entre o que o homem promete e o que o seu espírito acredita.
Harmonia entre o Templo exterior e o Templo interior.
Harmonia entre a palavra e o silêncio que a sustém.
Podem reconhecer-nos ou negar-nos, aceitar-nos ou afastar-nos, mas a verdadeira Regularidade não depende do olhar dos outros, depende apenas do GADU, que vê não o feito, mas a intenção.
A fé no GADU é a geometria do invisível.
João B. M∴M∴


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