Ser Mestre Maçom é...
... mais do que uma chegada, uma nova
partida, não um objetivo atingido mas um projeto sempre em execução. A
Exaltação à Mestria possibilita que o Obreiro atento o entenda desde logo.
Simplesmente, enquanto até aí o
maçom teve guias e apontadores de caminhos, quando a Loja concede a um maçom a
sua “carta” de Mestre, este sente-se um pouco como aquele que, após as suas
lições e o seu exame de condutor, recebe a sua carta de condução: está
habilitado a conduzir (a conduzir-se...) mas... inevitavelmente que sente
alguma ansiedade por estar por sua conta e risco, sem rede que ampare suas
quedas em possíveis erros.
Assim, apesar de serem as mais
visíveis manifestações da mudança de estado conferida pela Exaltação à Mestria,
não são o seu direito à palavra e o seu direito ao voto que são importantes. Importante é a sua total capacidade de exercer o seu verdadeiro e pleno direito ao seu caminho. O direito a trilhar o seu
caminho por si, só, se assim escolher ou assim tiver que ser, ou acompanhado por
quem quiser que o acompanhe e que o queira acompanhar, se assim for de vontade
dos interessados, pelo tempo que quiser, por onde quiser, como quiser, para o
que quiser.
O direito ao seu caminho enquanto
cidadão já o tinha desde que atingiu a idade adulta e como adulto foi pela lei
do Estado considerado. O direito ao seu caminho enquanto maçom, ou seja, o
caminho do aperfeiçoamento, da busca da excelência, da proximidade tão próxima
quanto humanamente possível for, da Perfeição, a ser trilhado por si só, como
quiser, quando quiser, pela forma que quiser, adquire-o o Maçom com a sua
Exaltação à Mestria, após o tempo de preparação que necessário foi para que não
seja em vão que esse direito lhe seja conferido, para que efetivamente o
exerça. Porque é um direito que o Mestre Maçom deve exercer como um dever, com
a diligência do cumprimento de uma obrigação.
Ser Mestre Maçom é, assim,
essencialmente cumprir o dever de exercer o seu direito de escolher e percorrer
o seu caminho para a excelência.
Para quem andou longo tempo a ser
guiado, não é fácil ver-se, de um momento para o outro, responsável pelo seu
caminho, sem ajuda, sem orientação, sem rede. Responsável, porque livre, porque
pronto, porque assim é o destino do homem que busca o brilho da Luz, da sua
Luz. Mas, após uma pausa para ganhar orientação e pesar as suas escolhas, todos
os Mestres Maçons seguem o seu caminho – porque para isso foram preparados, por
isso são Maçons, com isso são verdadeiramente Mestres.
O caminho que cada Mestre Maçom
decide escolher tem em conta a primacial pergunta que faz a si mesmo: Que
fazer, como fazer, para ser melhor? A essa pergunta cada Mestre Maçom vai
obtendo a sua resposta, pessoal, íntima, tão diferente das respostas de outros
quanto diferente dos demais ele é. E é na execução da resposta que vai obtendo,
no traçar do trabalho que essa resposta propõe, que o Mestre Maçom constrói,
porque construtor é, o seu percurso. E a cada estação conquistada, novamente a
mesma pergunta de sempre se lhe coloca: que fazer, como fazer agora para ser de
novo melhor? E nova resposta e novo percurso e nova paragem, com nova e sempre
a mesma pergunta, com outra resposta e outro percurso, incessantemente se
apresentam.
Mas o Mestre Maçom não sabe apenas
buscar a resposta à sua pergunta. Sabe também que, embora cada um trilhe o seu
solitário caminho, os caminhos dos maçons têm muito de comum e sobretudo são
postos por eles muito em comum.
O Mestre Maçom sabe assim que o que
adquire, o que ganha, o que aprende, o que consegue, não é para ser avaramente
fruído apenas por si, antes é para ser posto em comum com a Loja, pois também é
do comum da Loja que recolhe contributos, ajudas, meios, ferramentas, para
melhor e mais frutuosamente obter respostas às suas perguntas.
Ser Mestre Maçom é, assim, sempre,
dar o seu contributo à Loja, seja no que a Loja lhe pede e ele está em
condições de dar, seja no que ele próprio considera poder tomar a iniciativa de
proporcionar à Loja. Porque ser Mestre Maçom é também saber que, quanto mais
der, mais receberá, que a sua parte contribui para o todo mas também aumenta em
função do aumento desse todo e que, afinal, não é vão o dito de que “dar é
receber”.
Ser Mestre Maçom é portanto saber que
o seu percurso pessoal será mais bem e mais facilmente percorrido se o for com
a Loja, pela Loja, a bem da Loja. Porque o bem da Loja se traduz em acrescido
ganho para o maçom, que assim consegue realizar o paradoxo de ser um
individualista gregário, porque integra e contribui para um grupo que é
gregário porque preza e impulsiona a individualidade dos que o compõem.
Ser Mestre Maçom é descobrir que a
melhor forma de aprender é ensinar e assim escrupulosamente executar o egoísmo
de ensinar os mais novos, os que ainda estão a trilhar caminhos que já trilhou,
dando-lhes o valor das suas lições e assim ganhando o valor acrescido do que
aprende ensinando – e sempre o homem atento aprende mais um pouco de cada vez
que ensina.
Ser Mestre Maçom é comparecer e
trabalhar na Loja, mas sobretudo trabalhar muito mais fora da Loja. Porque o
que se faz em Loja não passa de “serviços mínimos” que apenas permitem a
sobrevivência da Loja e o nível mínimo de subsistência do maçom. O trabalho em
Loja é apenas um princípio, uma partícula, uma gota, uma pequena parte do
trabalho que o Mestre Maçom deve executar em cada um dos momentos da sua
existência.
Ser Mestre Maçom é portanto mais do
que aguardar que algo lhe seja pedido, antes tomar a iniciativa de fazer algo –
não para ser reconhecido pela Loja, mas essencialmente por si, que é o que
verdadeiramente interessa.
Ser Mestre Maçom não é
necessariamente fazer grandes coisas, excelsos trabalhos, admiráveis
construções. Mais válido e produtivo é o Mestre Maçom que dedica apenas cinco
minutos do seu dia a fazer algo muito simples em prol da sua Loja, da
Maçonaria, afinal de si próprio, desde que o faça efetivamente todos os dias,
do que aqueloutro que uma vez na vida faz algo estentório, notado, em grande
estilo, mas sem continuidade. Porque a vida não se esgota num momento, nem numa
hora, nem num dia. A vida dura toda a vida e é para ser vivida todos os dias de
toda a vida.
Ser Mestre Maçom não é
necessariamente ser brilhante, mas é imprescindivelmente ser persistente E o
Mestre Maçom que persistentemente realize dia a dia, pouco a pouco, o seu
trabalho, pode porventura passar despercebido, não receber méritos nem medalhas
nem honrarias, mas tem seguramente o maior mérito, a maior honra, a melhor
medalha, o maior reconhecimento a que deve aspirar: o de ele próprio reconhecer
que fez sempre o seu trabalho, deu o seu melhor, persistiu na sua tarefa e, de
cada vez que olhou para si próprio, viu-se um pouco, um poucochinho que seja,
melhor do que se vira da vez anterior. E assim sabe que, pouco a pouco, no
íntimo do seu íntimo, sem necessidade que outros o honrem por tal, ganhou um
pouco mais de brilho, está um passo mais próximo do seu objetivo, continua
frutuosamente percorrendo o seu caminho para o que sabe ser inatingível e, no
entanto, persiste em procurar estar tão próximo de atingir quanto possível: a
Perfeição!
Em suma, ser
Mestre Maçom define-se com o auxílio de uma frase que li há algum tempo e que foi
dita por alguém que creio até que nem sequer foi maçom, Manuel António Pina,
jornalista, escritor, poeta, laureado com o Prémio Camões em 2011, falecido em 19 de outubro de 2012: o Mestre
Maçom é aquele que aprendeu e que pratica que o mínimo que nos é exigível
é o máximo que podemos fazer.
Rui Bandeira
14 comentários:
Meu Ir.'., Gostaria de ler a sua peça de arquitetura em minha Loja. Você me autoriza?
TFA
@ Atilla:
Obviamente que pode ler este texto na sua Loja, devendo apenas ser indicada a autoria e o local da publicação .
TFA.
Belissima prancha a tua MQI.
M.:Q.:Ir.:
Gostei muito da tua prancha e peço-te que ma deixes lê-la na minha R.:L.:
TAF
José Fava
M.:Q.:Ir.:
Gostei muito da tua prancha e peço-te que ma deixes lê-la na minha R.:L.:
TAF
José Fava
S.'.F.'.U.'.
Meu Q.'.Am.'.Ir.'.
Amanhã haverá uma exaltação em Minha B.'.A.'.R.'.L.'.S.'. e eu sou o orador da Oficina e gostaria muito poder usar essa magnifica Obra Arquitetônica na recepção do Novo Mestre em minha oficina.
Desde já agradeço ao Ir.'.
T.'.F.'.A.'.
Volnei Ferreira
Boa noite, posso usar seu artigo como base para uma Obra Arquitetônica.
Farei as devidas citações.
TFA
@ José fava, Volnei ferreira, Osvaldo Buga e demais interessados:
Este, como todos os textos publicados por mim no blogue A Partir pedra, é um texto que pode ser lido, utilizado e usado como fonte de outros trabalhos, livremente, desde que seja sempre referenciada a autoria do texto e o seu local de publicação original.
Prezado Irmão apreciei demasiadamente a sua peça de literatura e peço-lhe a devida licença para extrair uma leitura na nossa ARLS "Fé e Perseverança", Oriente de Jaboticabal - SP. Desde já agradeço fortemente. Irmão Aureo Santana.
Prezado Irmão Áureo Santana,
Reafirmo o meu comentário anterior:
Este, como todos os textos publicados por mim no blogue A Partir Pedra, é um texto que pode ser lido, utilizado e usado como fonte de outros trabalhos, livremente, desde que seja sempre referenciada a autoria do texto e o seu local de publicação original.
gostaria de obter mais conhecimentos atraves das suas obras
acabei de ser exaltado mestre em minha loja e estarei entrando para o aprendizado dos capitulos se assim o GADU me permitir
Meu Irmão Rui Bandeira.
Tomei a liberdade de ler em Loja sua prancha. Naturalmente que mencionei a autoria, a beleza e a excelente qualidade da peça. Obrigado por proporcionar-me e à minha Loja tão proveitoso momento. T.'.F.'.A.'.
ERNANY CAMILO
02/09/2019-
ARLS Unificada e Plena - Or.'. Lagoa Santa - MG
Prezado Irmão Rui Bandeira.
Solicito vossa permissão para reproduzir partes de sua prancha no meu discurso (orador) em exaltação na minha loja.
Fraternalmente
Nivaldo do Rego
ARLS - Terceiro Milenio - Maringá Paraná - Brasil
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