Instrução em Maçonaria - V
E ao fim de uns anos larguei a música.
Não que tenha deixado de a ouvir (porque tocar … isso não é
para mim) mas porque este ano deixei o cargo de Organista.
O Venerável pediu e o meu dever era aceitar o seu pedido e
fui consequentemente fazer outras coisas.
Foram uns anos, mais de 3. Foi mais que isso, foi um percurso,
um estudo e uma evolução. Tive a necessidade de entender sob um outro prisma o
que se passava em Loja.
A leitura dos rituais não foi suficiente, as ordens de
trabalhos insuficientes e muitas vezes incompletas ou tardias, as alterações de
ultima hora comunicadas, e as não comunicadas.
O esquecimento que esta ou aquela cerimónia tinha também
mais esta deslocação ou este momento de silencio.
Os momentos de silêncio e sua análise. Podiam ou não ser
preenchidos por música? e sendo como ?
A aprendizagem de cada momento de cada sessão, a respectiva interiorização
e visualização em pensamento e em memória “RAM equivalente” considerando ou
pelo menos tentando considerar todos os movimentos e estimando quanto tempo
duraria.
O ambiente particular de cada sessão e as diferenças de uma
para outra, os diferentes ritmos dos Veneráveis, tudo isto era de primordial importância
para a escolha da musica.
E ao chegar à escolha da música conclui que estava
formatado. Tinha passado anos a ouvir esquemas musicais parecidos quer na RL
Mestre Affonso Domingues, quer nas múltiplas Lojas que visitava. Havia um
standard criado. Esta uniformização era tão mais forte que havia peças musicais
que estavam elas próprias enraizadas e já faziam parte da mobília.
Na minha memória uma ou outra sessão na qual o anterior
organista o Irmão Alexis tinha dado umas sacudidelas ao sistema.
E quando comecei embora não formatado, não saí muito fora do
que era a regra. Todavia pouco a pouco comecei a trilhar um percurso, assente
numa máxima:
“Tudo ou quase tudo pode ser tocado numa sessão de Loja”
E pensando assim fui estudando cada vez mais os rituais,
conhecendo cada vez mais profundamente as cerimónias. Desse conhecimento
resultaram várias coisas, mas para o caso aqui em apreço importa o tipo de
percurso que se abriu à minha frente e que me levou do Barroco à música contemporânea
fosse ela clássica ou rock, bandas sonoras de filmes. Abandonei assim os clássicos,
o tradicional Mozart e os convencionais Beethoven, J.S. Bach e outros.
De repente Dire Straits, Scorpions, Eagles, Enya, Carlos
Paredes e outros passaram a aparecer nos alinhamentos de cada sessão.
Ao fim de um tempo o paradigma de música numa sessão
maçónica mudou, e mudou não porque simplesmente se abandonassem as peças
musicais mais tradicionais, mas porque estava demonstrado que era possível ir
em múltiplas direcções e não só numa apenas.
Também me dediquei um pouco à instrução, mas não tanto
ensinando como fazer mas mostrando como se podia fazer diferente sem retirar
qualquer brilho ou solenidade a uma sessão.
Um Mestre Maçon ao trabalhar no seu aperfeiçoamento, ao
continuar a sua auto instrução e mostrando aos seus Irmãos independentemente do
respectivo grau ou qualidade, que há sólidas formas de fazer coisas diferentes
sem quebrar o prescrito no regulamento ou nas leis maçónicas, está a instruir.
E por aqui ficamos esta semana.
José Ruah
PS: deixo-vos aqui com 2 versões na mesma musica. Qualquer das versões foi usada por mim em ocasiões e momentos diferentes de sessões:
1 comentário:
Boas José...
...e a "malta" agradece por isso ;)
TAF
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