08 outubro 2010

Ainda os Altos Graus


Mesmo depois de tudo quanto foi já explicado quanto à natureza dos Altos Graus e à sua vacuidade de poder, poderão restar ainda algumas dúvidas facilmente sanáveis. Desmontemos então, uma por uma, as bases em que tal argumentação se sustenta.

Em primeiro lugar, os Altos Graus estão, muito democraticamente, ao alcance de qualquer mestre maçon que seja suficientemente empenhado para investir o seu tempo e o seu dinheiro (sim, que os aventais, luvas e demais adereços não são de graça, e a maçonaria não recebe subsídios...). Pensemos neles como graus académicos, mas sem a "pequena questão" da avaliação: quem frequenta obtém o grau. Ora, tal sistema não permite distinguir quem sabe de quem não sabe, já para não falar de outras qualidades. Um sistema que permita chegar-se ao topo apenas com tempo e dinheiro só pode ser interessante para o próprio, o que é justamente o caso.

Em segundo lugar, não sendo objeto de eleição ou escrutínio, os Altos Graus não conferem qualquer legitimidade representativa. Um mestre maçon que tenha atingido o grau 32 ou mesmo o 33 não fala por ninguém senão por si mesmo. Por isto é que é frequente, sempre que alguém nota que fulano de tal, "que até é grau 33", disse isto ou aquilo, de imediato se recordar que cada um apenas fala por si, e é livre de manifestar a sua opinião como quiser, sem que os demais se sintam obrigados pela sua palavra.

Em terceiro e último lugar, foquemo-nos onde se encontra o verdadeiro poder: nos Grandes Oficiais. Destes, apenas o Grão-Mestre é eleito, indigitando depois o seu quadro de Grandes Oficiais. Todavia, se recordarmos que a Maçonaria é como que um "pequeno mundo em miniatura", em que pode desempenhar-se papéis a que, doutro modo, dificilmente se acederia - sendo assim uma espécie de "Kidzania para crescidos" onde se aprende com a experiência - então vemos que, quais notas de Monopólio, qual jogo a feijões, o "poder" da Maçonaria se confina aos limites da própria Ordem, e mesmo dentro desta os "poderes" são, essencialmente, administrativos e/ou rituais. Ser-se Grande Oficial, longe de conferir qualquer poder real, é antes uma carga de trabalhos, e visto, acima de tudo, como um serviço que se presta.

Para terminar, para quando virem um texto assinado por um "grau 33", deixo uma pista para se aferir a legitimidade do discurso e da sua representatividade: um "grau 33" não fala, normalmente, senão por si mesmo; no entanto, um Grão Mestre pode falar por toda uma Obediência...

Paulo M.

10 comentários:

Diogo disse...

Portanto os graus são como as novas oportunidades de Sócrates – nada valem.

Continuo sem perceber o que é discutido em Loja – para além dos apertos de mão e da côr dos aventais, já que a política e a religião estão proibidas (de notar que uma religião é uma filosofia).

Abraço

Rui Bandeira disse...

Diogo dixit:

(de notar que uma religião é uma filosofia).

Exemplos de acordos e desacordos, convergências e divergências entre mim e o Diogo há muitos no espaço de comentários deste blogue - e é natural e saudável que assim seja.

Agora esta tirada do Diogo é que - francamente! - acho de cabo de esquadra! Sobretudo porque ele se reclama, e eu não tenho razões par disso desconfiar, de saber de filosofia mais do que a média.

Não posso estar mais em desacordo com o Diogo quando este afirma a similitude entre religião e filosofoa ou, quiçá, que entre esta e aquela existe uma relação de género-espécie.

Para que conste: na minha opinião, religião NÃO É uma filosofia. Entendo mesmo que é algo não só diverso como divergente, quiçá contraditório.

Para encurtarmos razões, convido à consulta das várias definições de Filosofia que a Wikipedia nos propõe em http://pt.wikipedia.org/wiki/Filosofia.

Das propostas, a minha preferida é a de Auguste Comte: ciência universal que deve unificar num sistema coerente os conhecimentos universais fornecidos pelas ciências

Já quanto à religião, atente-se na definição proposta também pela Wikipedia em http://pt.wikipedia.org/wiki/Religi%C3%A3o:

A Religião (do latim: "religio" usado na Vulgata, que significa "prestar culto a uma divindade", “ligar novamente", ou simplesmente "religar") pode ser definida como um conjunto de crenças relacionadas com aquilo que parte da humanidade considera como sobrenatural, divino, sagrado e transcendental, bem como o conjunto de rituais e códigos morais que derivam dessas crenças.

Filosofia é do ramo do saber. Religião da zona da crença. Não têm nada a ver!

Paulo M. disse...

In sterquilino pullus gallinaceus
Dum quaerit escam, margaritam repperit.
"Iaces indigno quanta res" inquit "loco.
Hoc si quis pretii cupidus vidisset tui,
Olim redisses ad splendorem pristinum.
Ego quod te inveni, potior cui multo est cibus,
Nec tibi prodesse nec mihi quicquam potest".

Rui Bandeira disse...

O Paulo M. agora foi mauzinho...

Como nem todos conseguem orientar-se no latim, procuro explicar: o texto acima colocado pelo Paulo M. é uma das fábulas de Esopo, escritas em versos jâmbicos em latim por Fedro.

Eis a sua versão em português (que retirei de http://www.astrologosastrologia.com.pt/0=fabulas=fedro/fabulas=fedro.htm - não sou assim tão bom a latim. Já fui, quando o aprendi com o grande escritor e professor Vergílio Ferreira, já lá vão quarenta anos...):

O GALO E A PÉROLA

Um Galo comilão andava pela quinta à procura de comer. De repente, viu uma coisa a brilhar no chão.
- Olá! Isto é para mim – pensou ele enquanto desenterrava o que encontrara.
Mas o que era aquilo? Nada mais, nada menos, do que uma pérola que alguém perdera. Desdenhoso, o Galo murmurou:
- Podes ser um tesouro para as pessoas que te apreciam. Mas, no que me diz respeito, trocava de bom grado uma espiga de milho por um punhado de pérolas iguais a ti.

Já agora, o local da tradução acrescenta a
Moral da história:

Nem todos apreciam do mesmo modo as coisas valiosas.

Jocelino Neto disse...

Quando minha querida filha (é pequenina ainda) debate-se por não aceitar algo, mesmo após "extensos" períodos de conversa (alguns minutos para mim, longos minutos para ela), a trago para o mais próximo possível e a abraço.

Há resistência inicial, quiça negação (como ela diz: Sou uma Indivídua pai!) e o orgulho ainda é a expressão de sua vontade perante o mundo estranho e aterrador ao qual ela observa com ânsia pela fechadura.

Dentro em pouco (longos minutos para mim, não muitos para ela) acalma-se. Me fita os olhos. E sorri.

:-)

Agradeço caros amigos do A Partir Pedra, por seus sucessivos abraços.

Candido disse...

Meus caros
Tb concordo que religião não é filosofia. Pensem bem no nível dos filósofos dessas seitas!
Mas Rui e Paulo, o Diogo pôs uma questão e ambos agarraram no acessório sem tocarem no nuclear do foi exposto.
Abraços e bom fim de semana p/ todos

Jocelino Neto disse...

Ajuda?

http://a-partir-pedra.blogspot.com/search/label/Ma%C3%A7onaria%20explicada

http://a-partir-pedra.blogspot.com/search/label/segredo%20ma%C3%A7%C3%B3nico

http://a-partir-pedra.blogspot.com/search/label/ser%20ma%C3%A7on

:-)

Paulo M. disse...

Bem haja, Jocelino Neto. Ver as mesmas questões repetidas vezes sem conta não me custa; custa é vê-las provir das mesmas bocas... e ter que repetir sempre os mesmos links. Obrigado por me poupar o trabalho desta vez!!!

Já respondi mais do que uma vez a esta pergunta do Diogo; não vou responder mais. Da última vez convidei-o a ler a coleção de pranchas que está no site da Loja Mestre Affonso Domingues. Todas, ou quase todas, foram apresentadas em loja e objeto de discussão. Quem quiser saber o que se discute em Loja não tem mais que as ler. Respondeu-me, porém, o Diogo: "Paulo M., então você dá-me milhares de textos a ler sem me apontar um ou outro mais elucidativo?"

Pois... O aperfeiçoamento pelo trabalho é algo que a Maçonaria muito preza. Se o Diogo não tem sequer vontade e perseverança que o impulsionem no sentido de atingir um objetivo, não serei eu a substituí-lo no esforço. E é por esta sua falta de empenho que, desde então, tenho o Diogo em menor conta do que vinha tendo - e menos disponibilidade para lhe responder.

Paulo M.

Unknown disse...

Caro Paulo M;

Pelo discurso que acabei de ler fiquei com uma desagradavel sensação que a questão central terá a haver com poder...na sua optica claro está...!!!

Porém, para mim os graus são para dentro e não para cima, são de "poder", de "mestria" sobre si mesmo e não directamente sobre os outros...se conseguir-se ser Mestre de si próprio será para mim uma grande vitória...não sei efectivamente se "quem frequenta obtém grau"...nas lojas azuis não deverá ser só isso que conta à outros aspectos em avaliação...mas a frequência denota no minimo interesse por parte do obreiro e deverá ser tida em linha de conta.

Sei, que infelizmente muitos só andam por ai para exibir o medalhedo como diz alguém dos meus meandros...mas acredito que não serão todos assim e que a serem, será um problema deles, pois se calhar não terão feito o seu trabalho correctamente nos graus azuis.

É como no ensino académico...quem não aprende a tabuada dificilmente se proporá a fazer sistemas...!!! Obtendo os diplomas ao fim de semana...!!!

Um abraço
José C

Paulo M. disse...

Caro José:

Há tempos surgiu aqui nos comentários um argumento sustentado na opinião de certa pessoa, que até era grau 33 - e por isso, alegava-se, seria muito sabedor e conhecedor visto estar no topo da hierarquia.

O objetivo deste texto foi, precisamente, negar que a questão fosse de poder, por estar essa posição ao alcance de praticamente qualquer um suficientemente empenhado (o que não sucede com os cargos de poder); que não conferia legitimidade representativa visto não ser um cargo e muito menos eleito; e que o poder, a existir, estaria noutro lado - e que mesmo esse seria de natureza diversa da que normalmente se lhe atribui.

Concordo inteiramente com a visão expressa, de que o poder obtido é o que cada um obtém sobre si mesmo, e por isso mesmo referi que "só pode ser interessante para o próprio, o que é justamente o caso", não se exercendo de modo algum sobre terceiros.

Obrigado por me chamar a atenção para outras interpretações diversas da que pretendi expressar. Tenho que me aplicar mais na revisão do que escrevo...

Um abraço,
Paulo M.