MAÇONARIA E AMBIENTE - Intróito: desculpem lá, mas...
Sou, no entanto, obrigado a confessar que a temática ambiental não é uma das minhas preferidas. Até por deficiências - que a lucidez me impele a desde já reconhecer - da minha formação. A minha formação assentou naquilo a que dantes se chamava de "Humanidades", tudo o relacionado com o Homem, a Sociedade e as Civilizações: Línguas, Literatura, História, Direito, Relações Sociais, etc.. As disciplinas mais directamente tidas como "científicas" apenas foram por mim visitadas na medida em que contribuíam ou eram indispensáveis para o interesse central da minha atenção: a Humanidade!
Resultado: por vocação e por profissão (advogado) sou aquilo a que costumo designar por ESPECIALISTA EM IDEIAS GERAIS. Sei um poucochinho de tudo, sei a fundo de muito pouco, quase nada.
Nestas circunstâncias, interroguei-me brevemente que contributo válido poderia este primata de meia-idade dar com uma amadora reflexão sobre a temática do ambiente e sua defesa e, com uma velocidade digna do Obikwelo, logo concluí que nada de jeito! Portanto, o melhor que tinha a fazer era assobiar para o lado, fingir que a minha profunda concentração nos longínquos objectos de minhas usuais locubrações me impedira de dar conta da instância do Grão-Mestre e, diafanamente, sair discretamente pela esquerda baixa, de forma a que o especialista de ideias gerais deixasse o palco todo à disposição dos gerais especialistas com ideias sobre o tema.
Pois, só não contei com três pequenos detalhes: 1. Sou incomensuravelmente menos rápido que o Obikwelo; 2. Assobio muitíssimo pior que o Danny Kaye (e suspeito mesmo que o próprio Obikwelo...); 3. O meu querido Grão-Mestre é uma velha raposa da Maratona que deixa os candidatos a relapsos procurarem escapar à sua máxima velocidade e, devagarinho, devagarinho, vai calmamente ter com eles e apanha-os à mão com suave sorriso e indefectível persistência...
Andava, portanto, eu entretido a assobiar para o lado para aí já há uns três meses e lá tive que perder o pio: o Grão-Mestre não só não se esqueceu do seu propósito, como insiste com todos e - pior - o meu não menos querido Venerável Mestre resolveu aliar-se à autoridade máxima e reforçou o pedido!
É claro que ainda dava para dar um pouco de luta, ir deixando escapar que na Loja até temos um Irmão que é engenheiro do ambiente e tal, esse é que deve saber tudo sobre o assunto, prolegómenos, entretantos e finalmentes incluídos, estão a ver?, ele é que é bom para fazer uns textos sobre o assunto, ficamos todos contentinhos e de consciência tranquila e não se fala mais do assunto, e se fôssemos comer um preguinho e beber uma cervejinha, não era boa ideia?
Lá boa ideia era... e foi... Mas cá o meu Venerável Mestre parece-me que é da mesma escola que o Grão-Mestre, acho que ainda jogaram ao berlinde juntos quando eram miúdos e tudo, e estou feito ao bife. Nem vale a pena armar-me em mete-nojo e tentar chutar para canto, que estou mesmo a ver que a resposta viria direita e certeira: se temos cabecinha é para pensar, todos os ângulos são importantes, o ambiente e a sua defesa são assuntos demasiado sérios para serem deixados aos especialistas (ai, que esta é tão certeira, que até dói!) e tu é que quiseste esta coisa do blogue, agora aguenta-te à bronca, que também tens de participar, e porque torna, e porque deixa...
Já estão mesmo a ver, nem vou a jogo, cobardemente capitulo sem luta. Portanto, está decidido, é assim: correspondendo de bom grado e facies faceiro ao gentil pedido do meu Muito Respeitável e Respeitado Grão-Mestre, que a mim e a todos na Loja foi dado conhecimento pelo meu Venerável e Venerado Mestre, este modesto especialista de ideias gerais, que tem a audácia de escrevinhar umas coisas neste cantinho da blogosfera que dá pelo nome de A Partir Pedra, resolveu alinhavar algumas ideias, certamente coxas, sobre o tema Maçonaria e Ambiente. Para tornar a coisa menos dolorosa e pungente para as almas benfazejas que ainda vão tendo a paciência de passar seus olhos pelos arrazoados a que ele ousa chamar textos, as poucas luzes que seu torturado cérebro conseguir reunir (certamente apagadas...) serão servidas em doses, prestações ou pinguinhas (cada um escolhe o que lhe agradar mais), que serão depositadas neste espaço com a periodicidade habitual, isto é, quando calhar, me apetecer, estiver para aí virado, mas procurando que, no final, constituam um conjunto de textos (lá estou eu com a mania das grandezas...) com alguma coerência.
Suspeito que esta é uma decisão que vai piorar sensivelmente o ambiente deste blogue, mas - já viram, com certeza! - limito-me a respeitosamente aceder a sugestão das instâncias superiores da GLLP/GLRP, Ilustre Obediência da Augusta Ordem Maçónica, e a culpa não é minha (fartei-me de gritar: agarrem-me, senão eu escrevo - e ninguém me agarrou... ainda...). Mas vocês é que vão sofrer!
Rui Bandeira
5 comentários:
É verdade evidente que quanto maior a perfeição que atingimos mais esforço temos que dispender para a aperfeiçoar um pouco mais; a partir de certo ponto, o melhor mesmo é não mexer, e dedicarmo-nos ao aperfeiçoamento de outra coisa qualquer. Daí decorre que, numa perspectiva estritamente utilitária, deveremos dar prioridade ao aperfeiçoamento daquilo que cada um tem de pior - pois é aquilo de que consegue melhores progressos com o mesmo esforço.
É um prazer ler o que nos escrevem os autores deste blog sempre que se debruçam sobre o que claramente conhecem e dominam. Não há dúvida de que proporcionam a quem o lê grandes oportunidades de melhoramento. Fazem-no, contudo, em detrimento do melhoramento pessoal, especialmente quando, como o Rui, já conhecem e dominam não só a essência da matéria tratada como dominam igualmente - fruto da formação de base - a forma de a expôr; não me parece, assim, que reste muito para aperfeiçoar por aí.
Ora, fico contente por ver dada ao Rui Bandeira a oportunidade de aprender algo de novo e de no-lo transmitir de seguida, pois tal aprendizagem ser-lhe-á forçosamente tão mais proveitosa quanto mais lhe resta por aprender sobre o tema... Estou certo de que os leitores do blog - saibam ou não muito do assunto - não perderão a oportunidade de reciprocar fraternalmente o esforço do Rui nesta demanda.
Por mim, deixo já um pensamento: em vez de produzir menos lixo, produzamos menos filhos; com um décimo da população mundial haveria muito menos falta de tudo...
Abraços,
Simple Aureole
@ simple.
Como é que soube que o tema da minha próxima incursão neste assunto ia ser a Demografia?
Uma vez que não disse nada a ninguém e certamente não é telepata, só posso concluir que "les bons esprits se rencontrent".
Abraço.
@ Rui
Agradeço o cumprimento, mas ainda tenho que "partir muita pedra" para o merecer. A verdade é que li recentemente esta notícia sobre o assunto, e achei que vinha a calhar. Imagino que o possa ter lido também e tenhamos sido ambos "condicionados" no mesmo sentido...
Um abraço,
Simple Aureole
Ainda bem que o Rui decidiu escrever sobre o Meio Ambiente, assim eu posso dedicar-me a outras coisas.
Desta vez consegui mesmo passar ao lado !!!!!
Com amigos destes, não preciso de inimigos!
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