05 dezembro 2008

As escolhas


Hoje deixo-vos mais uma historieta para reflexão nesta sexta-feira, véspera de fim de semana prolongado por feriado. Reescrevi-a com base num texto, de autor que desconheço, que recebi por correio eletrónico. Não trata de otimismo, muito menos otimismo bacoco e infundamentado. Trata da atitude a tomar perante a vida e o que ela, nas suas voltas, nos reserva, muitas vezes inesperadamente. Trata de escolher entre deixar-nos abater pelas adversidades, resignar-nos ao que pensamos ser inevitável e lamentar-nos da nossa má sorte ou procurar sempre obter a melhor solução possível e fazer por a obter. Trata de escolher entre ser marioneta manipulada pelos acontecimentos ou ser ator interventivo das situações. Saber escolher é fundamental. Porque os acontecimentos sucedem e nenhum de nós está numa redoma, eternamente a salvo de percalços. E, quando estes surgem (não é se, é quando, porque, tarde ou cedo, surgem sempre...) estar preparado para reagir, procurar a melhor solução possível, sabendo que se pode sempre ganhar ou perder, se se lutar pelo melhor resultado, mas, se nada se fizer, o quase inevitável resultado é o pior. Afinal, quando a situação parece desesperada, há sempre um aspeto positivo: não pode piorar; o que fizermos ou mantém ou melhora ou resolve; logo, é sempre melhor fazer pela vida...

Luís estava sempre de bom humor e sempre tinha algo de positivo para dizer. Se alguém lhe perguntasse como estava, a resposta seria logo:


- Ah... Se melhorar, estraga.

Era um motivador nato. Por isso, os seus colaboradores seguiam-no para onde ele fosse trabalhar, em todos os projetos que levava a cabo.

Se um colaborador estava a ter um dia mau, Luís procurava sempre mostrar-lhe como ver o lado positivo da situação.

Um dia alguém lhe perguntou:

- Como consegue ser uma pessoa sempre positiva? Como faz isso?

Ele respondeu:

- A cada manhã, ao acordar, digo para mim mesmo: “Luís, tens duas escolhas hoje. Podes ficar de bom humor ou de mau humor". Eu escolho ficar de bom humor. Cada vez que algo de mau acontece, posso escolher armar-me em vítima ou aprender alguma coisa com o ocorrido. Eu escolho aprender algo. Sempre que alguém se queixar, posso escolher aceitar a queixa, sem mais, ou mostrar o lado positivo da vida.


- Certo, mas não é fácil - argumentou o interlocutor.

- É fácil sim, disse o Luís.- A vida é feita de escolhas. Quando se examina a fundo qualquer situação, percebe-se que há sempre escolha. Pode-se sempre escolher como reagir às situações. Pode-se escolher como as pessoas afetarão o seu humor. É nossa a escolha de como viver a nossa vida.

Um dia, no seu local de trabalho, Luís foi atacado e dominado por assaltantes. Enquanto, por ordem dos assaltantes, tentava abrir o cofre, a sua mão, tremendo pelo nervosismo, desfez a combinação do segredo e o cofre bloqueou e acionou o alarme. Os ladrões entraram em pânico e dispararam contra ele. Por sorte, foi encontrado a tempo de ser socorrido e levado para um hospital. Depois de 18 horas de cirurgia e semanas de tratamento intensivo, teve alta, ainda com fragmentos de balas alojadas no corpo.

A quem lhe perguntava como estava, Luís continuava a responder:

- Se melhorar, estraga.


A quem lhe perguntava o que lhe havia passado pela mente na ocasião do assalto, respondia:

- A primeira coisa que pensei foi que deveria ter trancado a porta das traseiras. Depois, deitado no chão, ensanguentado, lembrei-me que tinha duas escolhas: Podia viver ou morrer. Escolhi viver! Os paramédicos foram ótimos. Diziam-me que tudo se ia resolver e que eu ia ficar bom. Mas quando entrei na sala de operações e vi a expressão dos médicos e enfermeiras, fiquei apavorado. Nos seus lábios, eu lia: “Este já era”. Decidi então que tinha que fazer algo.

O que fez? - perguntou o interlocutor.


- Bem, havia uma enfermeira que fazia muitas perguntas. Perguntou-me se eu era alérgico a alguma coisa. Eu respondi: "Sim". Todos pararam para ouvir a minha resposta. Tomei fôlego e gritei: “Sou alérgico a balas”! De repente, todos riram, o ambiente desanuviou-se e eu aproveitei para dizer: “Eu escolho viver, operem-me como um ser vivo, não como um morto”.

Luís sobreviveu graças à persistência dos médicos... mas a sua atitude é que os fez agir dessa maneira.

Pensem nisto e, sempre que se depararem com situações difíceis, quiçá desesperadas, lembrem-se que podem sempre escolher entre nada fazer ou fazer algo para tentar melhorar a situação. E façam! Nem sempre terão sucesso, pois não se pode ganhar sempre, mas algumas vezes hão de conseguir. E, afinal de contas, as situações difíceis, depois de ultrapassadas - sobretudo se bem ultrapassadas... - sempre dão umas boas histórias para contar aos netos...

Rui Bandeira

04 dezembro 2008

Recandidatura, já!

Está em curso, na GLLP/GLRP, o processo eleitoral para a escolha do Mestre Maçon que exercerá a função de Grão-Mestre no biénio 2009/2010. Foram elaborados e divulgados às Lojas da Obediência os cadernos eleitorais, decorre o período da verificação da sua conformidade e, sendo caso disso, de introdução das correções pertinentes. O prazo para apresentação de candidaturas ao ofício decorrerá entre 15 e 31 de dezembro.A eleição efetuar-se-á por voto universal e secreto de todos os Mestres Maçons da Obediência, sendo as assembleias de voto as Lojas. A votação decorrerá dentro do período entre 10 de fevereiro e 5 de março de 2009. O apuramento dos resultados terá lugar no dia 7 de março de 2009.

Quando foi dado conhecimento em Loja do desencadear do processo, surpreendi-me. Já? Passaram já dois anos desde que o Muito Respeitável Irmão Mário Martin Guia foi eleito Grão-Mestre?

Olhei à minha volta. Todos os rostos espelhavam uma calma tranquilidade. Quase indiferença. A notícia do desencadear do processo eleitoral a ninguém agitou. Como se tivesse sido anunciada a realização de uma rotineira assembleia de Grande Loja, sem particular motivo de interesse. Daquelas reuniões em que se tratam dos aborrecidos assuntos burocráticos que, por o serem, não deixam de ter de ser resolvidos.

A explicação para tanta tranquilidade é simples: desde que se decidiu reduzir o tempo de mandato do Grão-Mestre de três para dois anos, resolveu-se que o Grão-Mestre em funções se podia, por uma única vez seguida, recandidatar ao ofício. Portanto, todos calma e tranquilamente esperam que o Muito respeitável Irmão Mário Martin Guia se recandidate, para lhe renovarem, merecidamente, a sua confiança para mais dois anos de mandato, que todos esperam tão profícuo como o primeiro biénio.

Mais tarde, disse-me quem sabe destas coisas que o Muito Respeitável Grão-Mestre hesita em se recandidatar. Que considera que a sua idade de septuagenário já na segunda metade da década aconselha a que se retire para uma merecida reforma. Logo ele, que é mais jovem do que muitos jovens de olho vivo e pé ligeiro que vejo por aí... Isso não é, desculpará o querido Mário Martin Guia, argumento que se aceite. Velhos são os trapos, o Mário está aqui para as curvas, a reforma pode esperar. E não é justo privar-nos da sua tranquila e serena liderança, quando é manifesto que praticamente todos nos sentimos muito confortáveis com ela e desejamos que prossiga por mais um biénio.

Disse-me depois quem sabe destas coisas que o Muito Respeitável Grão-Mestre pondera dar uma lição de desapego ao poder, abdicando da possibilidade de reeleição. Mas para quê dar lições desnecessárias em momento injustificado? Todos nós conhecemos o percurso de serviço e de disponibilidade do Mário ao longo de dezenas de anos. Todos nós sabemos muito bem que, em todas as funções que desempenhou, procurou servir, ajudar, não ascender a qualquer ilusório "poder". Todos nós sabemos que a função de Grão-Mestre é por si exercida nesse mesmo estado de espírito. Por isso é pacífico que deve continuar! Não precisa de provar o que temos por evidente e notório!

Disse-me finalmente quem sabe destas coisas, com alguma preocupação, que, se calhar, seria precisa uma vaga de fundo para remover as dúvidas, afastar as hesitações, do Mário em se recandidatar. Qual quê! Para marinheiro experiente, como é o Mário, a melhor garantia de viagem bonançosa é este mar chão, sereno, tranquilo, em que a Obediência navega. Mais demonstrativa de confiança do que qualquer "vaga de fundo" é esta serenidade, este sentimento generalizado de que a eleição de fevereiro-março deve ser uma simples ratificação, uma clara confirmação da confiança que todos depositam no Mário.

Portanto, meu caro Mário Martin Guia, deixa-te de bizantinices! Faz mas é o favor de, a partir do dia 15, apresentar a tua declaração de aceitação de candidatura! E não te preocupes com os proponentes. Faz assim: no dia em que fores entregar na Grande Secretaria a tua candidatura, após sair de casa, aos três primeiros Mestres que vires dá-lhes o papel a assinar. Já está! Alguma dúvida?

Além do mais, queremos todos mais dois anos de trabalho tranquilo, sereno e profícuo, enquanto aproveitamos para ir vendo, com um ar levemente divertido (pelo menos da minha parte...) as movimentações de quem se quiser posicionar para daqui a dois anos...

Rui Bandeira

03 dezembro 2008

Direitos humanos para todos

Com a ilustração de um texto de origem brasileira, o JPSetúbal lançou o repto para algum debate sobre os Direitos Humanos, seu significado, seus eventuais limites. Claro que, mal vejo um desafio interessante, me lanço de cabeça e peito feito! O JPSetúbal tem inteira razão quando escreve que, se há algo sagrado em Maçonaria, é a intocabilidade dos Direitos Humanos. Mas uma coisa é serem intocáveis, outra, bem diferente, é serem indiscutíveis. Pelo contrário, discutir a origem, o significado, o alcance, os limites,a justificação, a indispensabilidade dos Direitos Humanos é imprescindível para que estes sejam respeitados. Porque a sua violação, pelos poderosos ou por simples criminosos de direito comum geram revolta, sentimentos de vingança, que facilmente ultrapassam o alvo da violação concreta ocorrida, do criminoso que a perpetrou, para se rebelarem contra os Direitos Humanos, ao menos aqueles que são reconhecidos ao malfeitor. Isto é natural, decorre de tragédias pessoais ou a que se assistiu. É humano.

Mas é também primário. Porém, de nada vale dizer ao revoltado que o seu sentimento é primário. Existe, sente-se e pronto! O que há a fazer é lembrar que as pessoas de bem não são como os crápulas criminosos e não devem, por consequência, ceder ao primarismo da dor ou da revolta. Reconhecer ao criminoso os seus direitos humanos, quando ele não os reconheceu em relação às suas vítimas não é certamente fácil. Mas é a maneira de se demonstrar que se não é como ele!

O texto de partida para este debate é, claramente, um texto demagógico, no sentido em que parte de uma situação existente (exigência de reconhecimento de direitos a quem violou direitos de outrem), amplia a aparente contradição (situação do infrator versus irremediabilidade da situação decorrente da violação de direitos por si perpretada) e tece uma conclusão inaceitável.

Claro que o criminoso tem de expiar o seu crime. Claro que as vítimas e as famílias das vítimas têm de ser apoiadas, devem sentir a solidariedade que tantas vezes insensivelmente lhes é subtraída. Claro que quase todo o texto de partida tem razão de ser, quando compara o relativamente pequeno incómodo da família do criminoso que é transferido para uma prisão mais longínqua, em relação à irreparável perda da mãe da vítima mortal. Mas a razão para aí. Não chega à inaceitável frase final: Direitos humanos só deveriam ser para "humanos direitos". Não, não, mil vezes não, por muitas mais razões do que as que sou capaz de expor!

Desde logo, reconhecer direitos humanos a quem não é "humano direito" é uma indispensável forma de higiene mental, de mostrarmos A NÓS PRÓPRIOS que não somos "como eles".

Também porque é muito perigoso o caminho de só reconhecer direitos a quem for "direito", pela simples razão de que, logo a seguir se põe a questão de quem define quem é "direito" e quem não é "direito" e, um passinho à frente, deparamos com o escolho de garantir que não haja abusos nessa definição e não se esteja, afinal, a pôr a raposa a guardar o galinheiro...

Ainda porque é uma questão civilizacional. Para que não se regrida à barbárie, há que reconhecer, respeitar, praticar - mesmo quando não apetece; sobretudo quando não apetece! - os direitos humanos em relação a todos. Mesmo em relação ao mais empedernido e revoltante criminoso. O fundamento básico do direito criminal é a assunção pela Sociedade toda, através do Estado, da tarefa de punir o criminoso, de retribuir o mal que ele fez, SUBTRAINDO ESSE "DIREITO" À VÍTIMA OU SUA FAMÍLIA. Trata-se de impedir a vingança privada - que, se admitida, tornaria qualquer sociedade ingovernável e impediria se garantisse um mínimo de segurança para os seus membros.

Mas trata-se também de ir mais longe do que a punição, a retribuição do mal. Se assim fosse, estar-se-ia ainda no estádio civilizacional do "olho por olho, dente por dente". E, por muito que por vezes nos apeteça o contrário, já há muito deixámos esse estádio para trás! Para além da vingança, do castigo, da retribuição do mal, o direito de punir assegura dois outros essenciais princípios e valores: o da prevenção e o da ressocialização.

Prevenção, na medida em que a pena aplicada deve servir para desmotivar o próprio de cometer novas infrações (prevenção especial) e deve também servir para desmotivar outros de cometer infrações (prevenção geral).

Ressocialização, na medida em que o objetivo último e essencial da punição não é só retribuir, não é só também adicionalmente prevenir, é isso e ainda procurar conseguir que, no futuro, não só quem cometeu crime não volte a cometer, mas seja um elemento útil à sociedade, interiorizando o mal que fez, vendo o que deve fazer para não reincidir e atuando como um elemento válido da sociedade que, pelo seu contributo positivo futuro, de alguma forma compense os prejuízos que causou no passado.

Portanto, a minha proclamação é, pelo contrário, que os direito humanos são para serem respeitados e assegurados também aos que não são "humanos direitos". Não particularmente por eles. Sobretudo por nós. Todos!

Rui Bandeira

02 dezembro 2008

Direitos humanos X Humanos direitos

"Mãe com seus Filhos" de Adolphe Bouguereau

De mãe para mãe...
'Vi o seu enérgico protesto diante das câmaras de televisão contra a transferência do seu filho, menor, infractor, das dependências da prisão em São Paulo para outra dependência prisional no interior do Estado de São Paulo. Vi você se queixando da distância que agora a separa do seu filho, das dificuldades e das despesas que passou a ter, para visitá-lo, bem como de outros inconvenientes decorrentes daquela mesma transferência.Vi também toda a cobertura que os média deram a este facto, assim como vi que não só você, mas igualmente outras mães na mesma situação que você, contam com o apoio de Comissões Pastorais, Órgãos e Entidades de Defesa de Direitos Humanos, ONG's, etc...
Eu também sou mãe e, assim, bem posso compreender o seu protesto. Quero, com ele, fazer coro. No entanto, como verá, também é enorme a distância que me separa do meu filho.
Trabalhando e ganhando pouco, idênticas são as dificuldades e as despesas que tenho para visitá-lo. Com muito sacrifício, só posso fazê-lo aos domingos porque labuto, inclusive aos sábados, para auxiliar no sustento e educação do resto da família. Felizmente conto com o meu inseparável companheiro, que desempenha, para mim, importante papel de amigo e conselheiro espiritual. Se você ainda não sabe, sou a mãe daquele jovem que o seu filho matou cruelmente num assalto a um vídeo-clube, onde ele, meu filho, trabalhava durante o dia para pagar os estudos à noite. No próximo domingo, quando você estiver abraçando, beijando e fazendo carícias ao seu filho, eu estarei visitando o meu e depositando flores na sua humilde campa rasa, num cemitério da periferia... Ah! Já me ia esquecendo: e também ganhando pouco e sustentando a casa, pode ficar tranquila, pois eu estarei pagando de novo, o colchão que seu querido filho queimou lá, na última rebelião de presidiários, onde ele se encontrava cumprindo pena por ser um criminoso. No cemitério, ou na minha casa, nunca apareceu nenhum representante dessas 'Entidades' que tanto a confortam, para me dar uma só palavra de conforto, e talvez indicar quais "Os meus direitos". Para terminar, ainda como mãe, peço "por favor": Faça circular este manifesto! Talvez se consiga acabar com esta (falta de vergonha) inversão de valores que assola o Brasil e não só... Direitos humanos só deveriam ser para "humanos direitos" !!!
Este texto chegou-me via e-mail (como de costume...) e apenas lhe ajustei os parágrafos.
A história é contada como sendo passada no Brasil, mas é uma realidade em todos os países do mundo, e naqueles em que não é, é porque é pior !
Trata-se aqui de uma ideia que provavelmente anda pelo subconsciente de todos nós, responsável por sentimentos de revolta que de vez em quando explodem sem pré-aviso.
O conceito de "Direito humano", como coisa a ser usada tem muito que se lhe diga, com conteudo tão complexo que é causa para guerras, zangas, crimes dos mais trágicos, mas também para grandes uniões, "eternas" amizades.
Até onde vai o direito a recorrer aos "direitos humanos" ?
Todos os humanos têm direitos ?
Com que direito ?
Este não é um jogo de palavras, antes um pontapé de saída para discorrermos sobre "O que são os direitos humanos" ? Como se utilizam e quem os utiliza ? Qual a razoabilidade dos "direitos adquiridos" ? E esses são humanos também ?
Em Maçonaria se há algo de sagrada é claramente a intocabilidade dos "Direitos Humanos" (direito à vida, direito à Família, direito a condições de vida dignas, direito à honra,...).
Como se classifica um "direito" que colide, ou prejudica, claramente com direitos de outros ?
Vá, boa semana de trabalho. Para a semana há mais feriado !
JPSetúbal

29 novembro 2008

Para um fim de semana prolongado



Nem uma palavra a mais, alem do texto que mail Amigo me mandou.

Um jovem recém casado estava sentado num sofá num dia quente e húmido, beberricando chá gelado durante uma visita ao seu pai. Ao conversarem sobre a vida, o casamento, as responsabilidades da vida, as obrigações da pessoa adulta, o pai remexia pensativamente os cubos de gelo no seu copo e lançou um olhar claro e sóbrio para o filho.

- Nunca te esqueças dos teus amigos, aconselhou! Serão mais importantes na medida em que envelheceres. Independentemente, do quanto ames a tua família, os filhos que porventura venham a ter, sempre precisarás de amigos. Lembra-te de ocasionalmente ir a lugares com eles; faz coisas com eles; telefona para eles ...

- Que estranho conselho! Pensou o jovem. Acabo de ingressar no mundo dos casados. Sou adulto. Com certeza que minha esposa e a família que iniciaremos serão tudo o que necessito para dar sentido à minha vida!

Contudo, ele obedeceu ao pai. Manteve contacto com os seus amigos e anualmente aumentava o número deles. Na medida em que os anos se passavam, ele foi compreendendo que o seu pai sabia do que falava. Conforme o tempo e a natureza realizam as suas mudanças e mistérios sobre um homem, amigos são baluartes da sua vida. Passados mais de 40 anos, eis o que ele aprendeu:

O Tempo passa. A vida acontece. A distância separa. As crianças crescem. Os empregos vão e vêem. O amor fica mais frouxo. As pessoas não fazem o que deveriam fazer. O coração rompe-se. Os pais morrem. Os colegas esquecem os favores. As carreiras terminam. MAS... os verdadeiros amigos estão lá, não importa quanto tempo e quantos quilómetros estão entre nós. Um amigo nunca está mais distante do que o alcance de uma necessidade, torcendo por nós, intervindo em nosso favor e esperando de braços abertos, abençoando a nossa vida! Quando iniciamos esta aventura chamada vida, não sabíamos das incríveis alegrias ou tristezas que estavam adiante.

Nem sabíamos o quanto precisaríamos uns dos outros.
UM ABRAÇO.

JPSetúbal

28 novembro 2008

Ser professor

A profissão de professor anda na ribalta nos últimos tempos. Por boas e más razões. Ele é a desconsideração progressiva do papel e da importância do professor, ele é o confronto sobre a avaliação dos professores, razões de uns e de outros, ora se reconhece a importância dos professores, ora se acusa os professores de não cumprirem devidamente com o seu múnus, em generalizações de sinal contrário que, por serem generalizações, são inevitavelmente erradas, já que,como em todas as profissões, há professores excelentes, bons, medianos, fracos e péssimos.

A história de hoje que,como habitualmente, recebi por correio eletrónico, cuja autoria desconheço e que editei ao meu jeito,procura mostrar como deve ser um bom professor.Não o que nunca erra.mas o que é interessado e dedicado e procura fazer o melhor possível. Quantas vezes,fazendo a diferença!

Aquela professora, apesar de sempre ter proclamado que gostava de todos os alunos por igual, olhava para Ricardo com não muito bons olhos. Notava que ele não rendia, não se dava bem com os colegas de turma e muitas vezes as suas roupas estavam sujas e cheiravam mal. Houve até momentos em que ela sentia um certo prazer em dar-lhe notas baixas, ao corrigir as suas provas e trabalhos.

No início do ano letivo, a cada professor era solicitado que lesse com atenção a ficha escolar dos alunos, para tomar conhecimento das anotações. Ela tinha deixado a ficha do Ricardo para o fim. Mas, quando finalmente a leu foi grande a sua surpresa...

Ficha do 1º ano:

“Ricardo é um menino brilhante e simpático. Os seus trabalhos estão sempre em ordem e são muito nítidos. Tem bons modos e é muito agradável estar perto dele.”

Ficha do 2º ano:

“Ricardo é um aluno excelente e muito querido dos seus colegas, mas tem estado preocupado com a mãe, que está com uma doença grave e desenganada pelos médicos. A vida no seu lar deve estar a ser muito difícil.”

Ficha do 3º ano:

“A morte da sua mãe foi um golpe muito duro para o Ricardo. Ele procura fazer o melhor, mas o seu pai não tem nenhum interesse e depressa a sua vida será prejudicada, se ninguém tomar providências para o ajudar.”

Ficha do 4º ano:

“O Ricardo anda muito distraído e não mostra interesse nenhum pelos estudos. Tem poucos amigos e muitas vezes adormece na sala de aula.”

A professora deu-se conta do problema e ficou terrivelmente envergonhada... E lembrou-se dos lindos presentes de Natal que recebera dos alunos, com papéis coloridos, excepto o do Ricardo, que estava enrolado num papel pardo. Lembrou-se que abriu o pacote com tristeza, enquanto as outras crianças se riam ao ver que era uma pulseira à qual faltavam algumas pedras e um frasco de perfume apenas meio cheio. Apesar das piadas, ela tinha tido a presença de espírito para dizer que o presente era precioso e pôs a pulseira no braço e um pouco de perfume sobre a mão. No fim do dia, Ricardo ficou um pouco mais de tempo na sala de aula do que o costume. E, já depois de todos os seus colegas terem saído, quando ele próprio se dirigia para a porta, dissera-lhe, timidamente:

- A senhora está perfumada como a minha mãe!

Passou a dar mais atenção aos seus alunos, especialmente ao Ricardo. Com o passar do tempo, notou que o rapaz melhorava. E quanto mais ela lhe dava carinho e atenção, mais ele se animava. No fim do ano letivo, o Ricardo foi o melhor da turma.

Seis anos depois, recebeu uma carta do Ricardo contando que havia concluído o secundário e que ela continuava a ser a melhor professora que tivera.

As notícias repetiram-se até que um dia ela recebeu uma carta assinada pelo Dr. Ricardo, o seu antigo aluno.

Mas a história não termina aqui...

Tempos depois, recebeu convite para o casamento de Ricardo. Aceitou o convite e, no dia do casamento, usou a pulseira que recebera do Ricardo anos antes - e também o perfume.

Quando os dois se encontraram, abraçaram-se longamente e Ricardo disse-lhe ao ouvido:

- Obrigado por ter acreditado em mim e me fazer sentir importante, demonstrando-me que posso fazer a diferença.

Ser professor não é só debitar matéria, avaliar e ser (ou não...) avaliado. Ser (bom) professor é fazer realmente a diferença, quando é preciso que ela seja feita.

Bom fim de semana e bom feriado!

Rui Bandeira

27 novembro 2008

A Maçonaria e a Revolução Farroupilha

A Maçonaria Regular não tem intervenção política e funciona dentro da legalidade vigente. Estes são dois princípios básicos e essenciais do comportamento da Maçonaria Regular em Democracia.

Mas, historicamente, nem sempre a Maçonaria assumiu esse comportamento. Umas vezes por opção própria, nomeadamente na variante dita Irregular ou Liberal, sempre mais interventiva politicamente. Outras vezes, porque a Democracia não estava presente, a tirania campeava e ser maçon, prosseguir o ideário de Liberdade que é apanágio da Maçonaria, implicou lutar pela Liberdade em falta, intervir mesmo em Revoluções.

A Itália fez-se enquanto país unificado muito graças à atuação de Garibaldi e outros maçons. A América Latina ganhou a sua liberdade e a independência de vários dos seus países graças aos esforços de Simón Bolívar e seus companheiros, muitos deles também maçons. Maçons também deram os seus esforços para a instauração da República em Portugal.

Alguns dos episódios que ajudaram a forjar a identidade brasileira também têm a intervenção decisiva de maçons. É o caso da Revolução Farroupilha, que foi desencadeada pelos membros da loja maçónica Philantropia e Liberdade, sob a direção do seu Venerável Mestre Bento Gonçalves da Silva.

Pelo seu interesse histórico, eis um extrato da sua Prancha (ou Balaústre) n.º 67, relativa aos trabalhos da sessão da Loja de 18 de setembro de 1835, que transcrevo sem qualquer edição, tal qual a descobri num artigo do Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva, professor do Colégio Militar de Porto Alegre, publicado em 7 de novembro de 2008, no jornal eletrónico Última Hora News:

Aos 18 dias do mês de setembro do ano de 1835 da E:.V:. e 5835 da V:.L:. reunidos em sua sede, sito a Rua da Igreja, Nº 67, em um lugar Claríssimo, Forte e Terrível aos tiranos, situado debaixo da abóbada Celeste do Zenith aos 30º e 5´ de Latitude da América Brasileira, ao Vale de Porto Alegre, Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, nas dependências do Gabinete de Leitura onde funciona a Loj:. Maç:. Philantropia e Liberdade, com o fim de especificadamente traçarem as metas finais para o início do movimento revolucionário com que seus integrantes pretendem resgatar os brios, os direitos e a dignidade do povo Riograndense.

A sessão foi aberta pelo Ven:. Mestre Ir:. Bento Gonçalves da Silva. Registre-se a bem da verdade, ainda as presenças dos IIr:. José Mariano de Mattos, Ex Ven:. José Gomes de Vasconcelos Jardim, Pedro Boticário, Vicente da Fontoura, Paulino da Fontoura, Antonio de Souza Neto e Domingos José de Almeida, o qual serviu como Secretário e lavrou a presente ata. Logo de início o Ven:. Mestre depois de tecer breves considerações sobre os motivos da presente reunião de caráter extraordinário, informou a seus pares que o movimento estava prestes a ser desencadeado. A data escolhida é o dia 20 do corrente, isto é, depois de amanhã. Nesta data, todos nós, em nome do Rio Grande do Sul, nos levantaremos em luta contra o imperialismo que reina no País.

Na ocasião, ficou acertada a tomada da Capital da Província pelas tropas dos IIr:. Vasconcellos Jardim e Onofre Pires, que deverão permanecer com seus homens nas imediações da Ponte da Azenha, aguardando o contingente que deverá se deslocar desde a localidade de Pedras Brancas, quando avisados. Tanto Vasconcellos Jardim como Onofre, ao serem informados responderam que estavam a postos aguardando o momento para agirem. Também fez ouvir o nobre Vicente da Fontoura que sugeriu o máximo de cuidado, pois certamente, o Presidente Braga seria avisado do movimento.

O tronco de Beneficência fez a sua circulação e rendeu a moeda cunhada de 421$000 contados pelo Ir:. Tes:. Pedro Boticário.

Por proposição do Ir:. José Mariano de Mattos, o tronco de Beneficência foi destinado à compra de uma Carta de Alforria, de um escravo de meia idade, no valor de 350$000, proposta aceita por unanimidade.

Foi realizada uma poderosa Cadeia de União, que pela justiça e grandeza da causa, pois em nome do povo Riograndense lutariam pela Liberdade, Igualdade e Humanidade, pediam a força e a proteção do G:.A:.D:.U:. para todos os Ir:. e seus companheiros que iriam participar das contendas.

Já eram altas horas da madrugada quando os trabalhos foram encerrados, afirmando o Ven:. Mestre que todos deveriam confiar nas LL:.do G:.A:.D:.U:. e como ninguém mais quisesse fazer uso da palavra, foram encerrados os trabalhos, do que, eu Domingos José de Almeida, Secretário, tracei o presente Balaústre, a fim de que, a história através dos tempos, possa registrar que um grupo de Maçons Homens Livres e de Bons Costumes, empenhou-se com o risco da própria vida, em restabelecer o reconhecimento dos direitos desta abençoada terra, berço de grandes homens, localizada no extremo sul de nossa querida Pátria.

Oriente de Porto Alegre, aos dezoito dias do mês de setembro de 1835 (E:.V:.)

18º dia do sexto mês Tirsi da V:.L:. ano de 5835.

Assinado: Ir:. Domingos José de Almeida - Secretário

Uma última nota é de fazer ressaltar: mesmo preparando uma revolução, com todas as incertezas e riscos inerentes, aquela Loja não deixou de destinar uma muito grande parte do produto do Tronco de Beneficência talvez ao mais meritório dos destinos que, na época e no lugar, podia ser destinado: à libertação de um escravo! Não há grande nem pequena liberdade. Há simplesmente Liberdade. Aqueles maçons decidiram lutar contra a tirania e em prol da Liberdade. Mas não olvidaram o dever de zelar pela libertação de quem era ainda menos dotado de liberdade do que eles: um escravo. Enquanto não era possível acabar com a escravatura, os maçons daquela Loja faziam o que era possível: acabar com ela... um a a um. O que nos deixa uma lição: por muito impossível que pareça uma empresa, por muito difícil que seja afrontar o que parece não se conseguir derrotar, é sempre possível algo fazer. Muitos poucos acabam por fazer muito!

Rui Bandeira