02 agosto 2007

Desafio - mais respostas

O nosso leitor Simple deixou esta pergunta reflexão.

A Maçonaria revela pouquíssimo sobre si mesma aos não-iniciados. Por outro lado, as regras de admissão ditam que "if you want to be one, ask one". Das duas anteriores decorre que quem quiser ser maçon tem que querer ser algo que não sabe bem o que é. Em alternativa, o candidato terá que "escarafunchar" sozinho e descobrir por si mesmo a partir das escassas e contraditórias fontes existentes.A Maçonaria diz ser uma "via de melhoramento" do homem. Contudo, a natureza desse "melhoramento" é cuidadosamente ocultada dos profanos. Porquê? Em suma: de que serve, ou que objectivo serve, todo este secretismo?


Temos então algumas questões aqui:

Quais as regras de Admissão ?
A Maçonaria revela muito ou pouco aos não iniciados?

Quais os metodos de pesquisa ?
Ocultaçao da "via de melhoramento", porquê?

Porquê o secretismo ?


O nosso leitor parte de uma premissa que sendo verdadeira não é Universal, nem espelha a totalidade do processo.

"if you want to be one, ask one".

Esta é a forma Americana. Não é a forma Europeia. E mesmo sendo a Americana deve ser interpretada apenas como relativa ao primeiro passo.

Comecemos pelo segundo passo que se constitui como tronco comum ao "recrutamento" de novos membros. Todos os candidatos são apresentados por um ou dois "padrinhos".

O primeiro passo regula apenas a forma de abordagem, o padrinho aborda um futuro candidato sondando-o e convidando-o ou o candidato tem interesse e dá o primeiro passo de contacto.

A Maçonaria Americana espera que o Candidato dê o primeiro passo, a Europeia utiliza o metodo de escolha e abordagem. ( embora quer num sitio quer no outro se convide ou se dê continuidade a candidaturas espontaneas)

Devo acrescentar que a Maçonaria Americana está gradualmente a modificar esta abordagem, uma vez que tem tido um decrescimo de admissoes nos ultimos anos.

Isto pode ser percebido quando se consultam sites de Grandes Lojas Americanas - How to Join.

Ora se entendermos correctamente o segundo passo, o dos padrinhos, respondemos a mais questões nomeadamente sobre a qualidade de informaçao revelada e os metodos de pesquisa.
Os padrinhos terão como missão explicar ao candidato ao que vai e direccioná-lo nas suas pesquisas , alem de alijá-lo das suas duvidas.

Quanto ao melhoramento , esse é um caminho individual e consequentemente nao pode ser revelado nem ocultado pois é sentido por cada um individualmente, à medida que vai aprendendo e progredindo.

Quanto ao Secretismo, permito-me discordar. Se é certo que as organizaçoes maçónicas não publicam tudo, mas também quais as organizaçoes que o fazem hoje dia , também é verdade que com a actual sociedade de informação grande parte das coisas estão disponiveis para consulta seja na Net seja em livro.

Sobre o Segredo Maçónico poderá consultar O Segredo em Maçonaria (post meu de há uns meses atrás) bem como as etiquetas deste Blog Segredo Maçónico

Espero ter respondido as suas questões.

Jose Ruah

P.S. vou tentar seguir uma certa ordem cronologica nas respostas, tentando escrever um ( no máximo dois) post por dia.

01 agosto 2007

Desafio - primeiras respostas

Começam as respostas,


Um dos nossos leitores mais assiduos, O Profano colocou as seguintes questões. ( em verde porque ele é do SCP), às quais se responde em preto.


º Quais as razões de existirem vários Ritos dentro da Ordem Macónica?

São essencialmente razões históricas, esotericas e geograficas. Sobre este assunto existem inumeras teses. Proponho que faça umaspesquisas adicionais sobre o tema e que voltemos a este assunto mais tarde.

ºNa Câmara das Reflexões, o "testamento" assinado por um Candidato, pode prejudica-lo se depois o mesmo no futuro, quiser "adormecer"?

Não o prejudica nunca ! Adormecer é um direito e acontece quando o Irmao por seu desejo o faz, liquidando as suas obrigaçoes para com a Loja e saindo com a folha limpa.


ºO Grão Mestre, Os Grandes Oficiais e os Veneraveis de Loja ocupam esses cargos a tempo inteiro, ou continuam a fazer o seu trabalho "normal" no seu Emprego?

Era bom era ser remunerado !!!!! A norma em Portugal é que o desempenho destes cargos é feito de forma gratuita e apenas consome um pouco mais de tempo. Todos continuam normalmente com as suas ocupaçoes profissionais. A excepção feita aos reformados que por terem essa condiçao podem dedicar mais tempo.
Nalguns países todavia o cargo de Grande Secretério é um emprego em full time e consequentemente remunerado.



ºQuantos obreiros tem a Respeitavel Loja Mestre Affonso Domingues no total?

Num dos meus ultimos textos dou esta resposta. A Loja Mestre Affonso Domingues tem mantido um quadro de obreiros de cerca de 40 membros.


ºNão tendo eu reparado, talvez, qual ou quais os ritos que se efectuam na respectiva Loja?

Em cada Loja só se pratica um Rito. É o rito escolhido no momento da consagraçao da LOja ( por norma) ou outro para o qual a Loja tenha decidido mudar. Estas mudanças são dificeis do ponto de vista administrativo e ritual pelo que são muito raras.

Na RLMAD o rito desde o inicio é o Rito Escoces Antigo e Aceite - primeiros 3 graus . Mas de facto anda muito Distraido porque este topico foi ja tema de varios Posts neste Blog.


Aguardo nova serie de perguntas


José Ruah

31 julho 2007

O Dever de Escrever - O Desafio

Para o Rui o dever de ferias e muito bem, porque ele tem sido de facto a força motriz deste blog. Na estatistica individual devera seguramente ter contribuido com mais de 50 % dos textos.

Para os que ficam ( e nao sei se sao os ou o porque nao faço a minima por onde anda o JPSetubal ) o Dever de escrever.

Não que com isso se pretenda recuperar na estatistica de textos, mas porque ao longo deste ano e pouco fomos "angariando" leitores assiduos que nos merecem o maior respeito.

É certo que estes ultimos dias com o calor que está tem sido dificil encontrar inspiração ( já transpiração ....) para escrever.

Todavia e correndo riscos imensos mas porque gosto de os correr e sobretudo porque gosto de desafios lanço aqui


UM DESAFIO

Estimados leitores no espaço reservado aos comentários escrevam as vossas perguntas. Escrevam os temas que gostariam de ver tratados.

As regras são as seguintes:

Serão apenas consideradas perguntas sobre Maçonaria.
Os temas sugeridos também só serão considerados se forem temas Maçonicos.

AS respostas serão tão prontas quanto possivel.

Não serão em caso algum respondidas perguntas cuja resposta implique revelar dados pessoais, ou informaçoes reservadas.

Este Desafio é válido por 15 dias, podendo ser prolongado ou não.


Aqui vos espero.

José Ruah


P.S. leitores nao registados , basta fazerem registo de conta google para poderem comentar.

27 julho 2007

O dever de férias

Costuma-se falar mais do direito a férias. Mas é característica do humano necessitar de um período de repouso, de saída da rotina, para manter um bom rendimento na actividade a que se dedica.

Para quem se preocupa em usar eficazmente as suas capacidades em tudo o que faz, ter férias é também um dever. Um dever perante si, para reconstituir a sua capacidade de trabalho, um dever perante os demais, para poder manter um rendimento adequado.

Desde que me abalancei a iniciar e manter este blogue, sempre me propus manter uma apreciável regularidade na produção de textos e a qualidade de escrita tão boa quanto me seja possível.

O blogue é uma actividade lateral à minha actividade profissional e à minha vida familiar e social mas, como tudo o que se faz, deve-se fazer bem feito.

Desde o início do blogue, há catorze meses, que a ele tenho dedicado parte apreciável das minhas energias. Mesmo durante os períodos de férias da minha actividade profissional, arranjei maneira de ir sempre escrevendo e publicando.

Pois bem: chegou a altura de eu tirar uma férias do blogue. Nas últimas semanas , começo a sentir a perda de alguma frescura, de alguma espontaneidade, na escrita. Não é que me faltem temas. Pelo contrário, tenho temas para vários meses de textos. Mas, nas últimas semanas, comecei a notar um certo cansaço, um como que escrever por dever e não por prazer. Em resumo, as baterias da escrita precisam de ser recarregadas, chegou o momento de eu cumprir o meu dever de tirar férias do blogue.

Durante um mês e mais uns diazinhos, não irei publicar uma linha, uma palavra, uma letra. Nem em textos, nem em comentários. Continuarei a ler, com prazer, o que os demais elementos que aqui escrevem publicarem, pois tenho os meios técnicos para aceder ao blogue onde quer que esteja. Mas não vou escrever nada de nada de nada.

Conheço-me: as primeiras duas semanas vão-me saber mais do que bem; à terceira, vai começar a fugir-me o pezinho para a dança; à quarta, vou estar com a cabeça a fervilhar, com uma vontade louca de voltar a escrever... O ciclo recomeçará, em melhor.

Portanto, meus caros, pelo respeito que todos vocês que fazem o favor de me ler me merecem, adeuzinho e até 3 de Setembro!

Rui Bandeira

26 julho 2007

Será só Semantica ?

Anda aqui uma duvida existencial a assolar-me o espirito (maçónico é claro !), há já uns tempos.


A sigla com que terminamos os nossos textos e que nos fala dos abraços

T F A ou T A F

Triplo e Fraterno Abraço
(triplice e fraternal abraç0)

ou

Triplo Abraço Fraterno


É Triplo e Fraterno o Abraço ?

ou só o Tiplo Abraço é que é Fraterno ?

Se eu der um só abraço e usar o TAF e nao o TFA entao o meu abraço não é fraterno ? E se eu o der a um Irmão ?


Pronto já larguei mais uma "bizantinice" como lhe chama o Rui !!

Eu prefiro TFA


José Ruah

25 julho 2007

Garibaldi: selos comemorativos com logotipo maçónico

Os Correios do Brasil e do Uruguai lançaram no passado dia 4 de Julho dois selos assinalando o bicentenário do nascimento de Giuseppe Garibaldi, conhecido maçon do século XIX que lutou pela unificação da Itália e, no Brasil, apoiou a Revolução Farroupilha. Garibaldi nasceu no dia 4 de julho de 1807 em Nizza (hoje conhecida como Nice).

Criação de Márcia Mattos, o selo brasileiro retrata, em primeiro plano, Giuseppe Garibaldi a cavalo, levando a bandeira dos revolucionários gaúchos, simbolizando a importância de seu papel na Revolução Farroupilha.

Em segundo plano,vê-se o barco Seival, com o qual, após atravessar os pampas gaúchos, obteve vitória na conquista de Laguna, no Estado de Santa Catarina, ocasião em que foi proclamada a República Juliana. Ao fundo, uma vista da cidade de Porto Alegre, na época. No canto superior direito, o logotipo da Maçonaria, de que era obreiro. Para acriaçãodo selo, foram utilizadas as técnicas de lápis, aguarela e computação gráfica.

O selo uruguaio apresenta o rosto de Giuseppe Garibaldi nas cores verde e branca e uma linha vermelha, simbolizando as cores da bandeira da República Italiana, em homenagem à Itália, pela qual Garibaldi combateu.

À esquerda, uma fragata do século XIX, em que tremula a bandeira do Uruguai, lembrando a actuação de Garibaldi como Comandante da Frota na defesa do Governo daquele país. A concepção é de Menck Freire.

Mais informações e contactos para aquisiçãp aqui e ali.

Rui Bandeira

24 julho 2007

O fim da infância

Os minutos seguintes foram dos mais complicados da história da Loja. Quase 40 Homens adultos nos braços uns do outros – não importava que caminho tinham votado – chorando.

José Ruah, in Um dia fui Venerável Mestre da Mestre Affonso Domingues - 2


Nesta passagem, José Ruah não exagerou nem um bocadinho! Foi assim mesmo que se passou! No entanto, ao longo de duas reuniões, com várias horas, dois grupos de membros da Loja esgrimiram razões, arremessaram argumentos, prouraram influenciar os aparentemente indecisos para a sua posição, sabendo ambos que a maioria, num ou noutro sentido, seria muito pequena. Foi uma luta leal, mas uma luta dura! Assim sendo, como foi possível que, minutos após a decisão, que determinou vencedores e vencidos, não existissem nem uns, nem outros, mas apenas Irmãos chorando as circunstâncias, despedindo-se uns dos outros, mutuamente se desejando felicidades e esperando que um dia se reunissem os que então se separavam?

A resposta está em que a Loja Mestre Affonso Domingues teve, então em escassos sete anos de existência, a felicidade e a arte de viver a Maçonaria bem vivida e, assim, criar o que é, não apenas o mais importante, mas o básico, o essencial, numa Loja Maçónica: o cimento da união na diversidade, a argamassa da fraternidade na diferença. Esses escassos sete anos bem vividos permitiram aprender - e praticar! - que discordar não implica querelar, que o respeito do outro implica a aceitação do seu pensamento, ainda que diferente do nosso, que o meu Irmão é meu Irmão não apenas quando concorda comigo, mas também quando nos opomos. E que a oposição não implica zanga, nem desrespeito, nem quebra de afectividade. Numa palavra, a Loja teve a oportunidade de aprender a Tolerância!

Um episódio anterior aos eventos de 1996 / 1997 ajuda a entender o espírito que se criara na Loja.

Ocorreu já não sei bem quando, creio que dois ou três anos antes, talvez no Veneralato do Manuel A. G.. Então, a Loja ainda se reunia nas instalações do Monte Estoril, junto ao Jardim dos Passarinhos, como nós designávamos o local. A sala onde decorriam as reuniões era muito pequena: acomodava confortavelmenteaté 15 / 20 elementos, mas, acima desse número, era francamente exígua. A Loja estava numa fase pujante, recuperada da sua fase de cansaço. A presença de obreiros nas sessões de Loja ultrapassava sistemática e significativamente o "máximo suportável" naquele espaço e era sistematicamente muito difícil "arrumar" toda a gente e conseguir garantir o mínimo de espaço para que o Mestre de Cerimónias e os outros Oficiais de Loja que necessitavam de o fazer circulassem. Várias vezes houve em que se não pôde sentar toda a gente. Resumindo, estávamos com Loja a mais e espaço a menos!

Nestas circunstâncias, era inevitável que se debatesse as medidas a tomar para ultrapassar o problema, tanto mais que, então, não se descortinava para breve a disponibilização de mais desafogadas instalações. Rapidamente se chegou à conclusão que se tinha que dividir a Loja. Essa necessidade foi consensualmente aceite. Decidido então esse passo, havia só um pequeno, mínimo, insignificante detalhe a resolver para que se executasse a consensual e necessária solução: definir quais seriam os obreiros que sairiam da Mestre Affonso Domingues e criariam a nova Loja, filha da anterior.

Aqui chegados, chegou a ser cómico de ver! Todos, mas virtualmente todos, os que, minutos antes, tinham facilmente chegado à conclusão da inevitabilidade da divisão da Loja em duas, assim que perceberam o que implicava a decisão... começaram a olhar para o lado, a assobiar para dentro, a demonstrar um súbito e irresistível interesse pela posição dos respectivos dedos nas respectivas mãos! Quando tocou a saber-se quem é que iria então sair e criar a nova Loja, ninguém se chegou à frente!

Ao fim de alguns minutos de expectante silêncio, alguém - já não me lembro quem, talvez o Venerável Mestre - declarou o óbvio: se ninguám se dispõe a sair para outra loja, então não se pode dividir a Mestre Affonso Domingues em duas...

Mal estas palavras foram ditas, pareceu que se libertou algo no ambiente: os olhares ausentes tornaram-se presentes, as caras fechadas abriram-se, as posturas hirtas descontrairam-se! E alegremente toda a gente concluiu que realmente o melhor era não dividir a Loja, que a falta de espaço não era um problema tão difícil assim, que, com mais um jeitinho ainda se acomodavam mais uns quantos, etc., etc....

E nunca mais se falou na falta de espaço nem em dividir a Loja - ideias disparatadas, obviamente!

Dois anos depois, as circunstâncias fizeram que o problema do espaço fosse o menor dos nossos problemas. Mas sempre tive para mim que o que, naquelas duas reuniões esteve, para os NOSSOS obreiros, verdadeiramente em causa não foi quem se mantinha fiel ao Grão-Mestre e quem concordava com a sua destituição. Isso foram detalhes... cada um tomou a sua decisão e só tinha de prestar contas à sua conciência. O que verdadeiramente esteve então em causa foi decidir quem ficava e quem saía!

E o que todos choraram então foi a raiva e foi a frustração de, desta vez, o problema não ter sido só de espaço (esse resolvia-se outra vez, aperta daqui, encosta dacolá...), ter sido bem mais grave, bem mais fora do nosso controlo, bem impossível de ser resolvido por nós! Foi o termos descoberto que afinal nem tudo podia ser resolvido com a nossa Cadeia de União...

Na vida chega sempre um momento assim, o momento em que somos obrigados, muito a contragosto, a aceitar que não podemos tudo. Então, chora-se de raiva, de frustração, de desgosto. Mas cresce-se!

E foi assim que a Loja Mestre Affonso Domingues saiu da infância!

Rui Bandeira