Uma História da maçonaria Britânica (1797-1834)
Mas a Maçonaria recebeu um novo golpe com a descoberta de que rebeldes irlandeses tinham usado formas maçónicas de organização na preparação da rebelião irlandesa de 1797. O Governo propôs ao parlamento a proibição de reuniões à porta fechada. Finalmente, na sequência de um dramático debate parlamentar, acabou por ser aprovada uma excepção, em favor das lojas maçónicas, à Lei das Sociedades Proibidas de 1799. Esta legislação criou uma separação entre a Maçonaria e outras formas de organizações fraternais. Designadamente, os Oddfellows sofreram severas restrições na sua actividade.
Estas pressões sociais e políticas acabaram por influenciar a união entre as duas Grandes Lojas (a dos Modernos, ou primeira Grande Loja e a dos Antigos), ocorrida em 1813. Maçons de várias outras zonas da Europa ansiavam por que as Grandes Lojas em Inglaterra realmente conseguissem deter sobre os seus membros o controlo que reclamavam ter. Por exemplo, a Grande Loja da Suécia reclamava que as Lojas inglesas eram demasiado permissivas na admissão de marinheiros provenientes das classes baixas, que posteriormente criavam problemas quando se deslocavam ou regressavam à Suécia e tentavam juntar-se a lojas suecas. O Ministério do Interior Britânico exerceu pressões sobre a Grande Loja dos Antigos, para que esta banisse os ágapes após as reuniões maçónicas, pois muita conspiração podia aí decorrer.
Na negociação da união das duas Grandes Lojas, o Duque de Sussex (Príncipe Augustus Frederick, sexto filho de Jorge III, Grão-Mestre da Grande Loja dos Modernos em 1813 e subsequentemente primeiro Grão-Mestre da Grande Loja Unida de Inglaterra - na foto que acompanha este texto) atendia a várias preocupações. Por um lado, pretendia garantir que não existisse o perigo de a Maçonaria ser usada por elementos sediciosos. Por outro lado, procurava criar uma Maçonaria apta para o Império , criando uma uniformidade na sua prática em todo o Império Britânico. Esperava ainda que a união das duas Grandes Lojas inglesas viesse a ser seguida pela união da Grande Loja Unida de Inglaterra com as Grandes Lojas da Escócia e da Irlanda, o que explica alguns detalhes da reforma do ritual maçónico ocorrida em função da união entre os Modernos e os Antigos.
O Duque tinha mais largas ambições com a sua reforma. Esperava que, consumada a união, iria também levar a cabo um maior serviço à Humanidade. Estava fascinado pela ideia de que a Maçonaria recobria os restos de um antigo culto solar, anterior ao Cristianismo e encarregou Godfrey Higgins, que fora o pioneiro dessa teoria nas suas publicações, de investigar mais as origens da Maçonaria. Higgins afirmou ter encontrado provas suportando a sua teoria. Com a ajuda de Higgins, Sussex sonhava em usar a Maçonaria para dar uma nova religião ao Mundo, o que ele pensava ser um avanço para a civilização.
Não obstante o seu radicalismo religioso, Sussex mostrou ser muito mais conservador em termos sociais e económicos. Insistiu em que os escravos libertos não podiam ser admitidos maçons, causando o caos na Maçonaria caribenha, que só foi ultrapassado em meados do século XIX. Não foi sensível às necessidades e características das novas cidades industriais, o que talvez tenha potenciado a secessão de um grupo de lojas no Noroeste de Inglaterra, após a união das duas Grandes Lojas. Em termos gerais, parece não ter havido interesse na divulgação da Maçonaria nas cidades industriais. Um exemplo característico parece ter sido o de Bradford, onde a loja maçónica local continuou a ser constituída em exclusivo por artesãos, que aparentemente buscavam manter nela o sentido de comunidade que o desenvolvimento industrial da cidade fizera desaparecer.
(Prossegue-se na divulgação do trabalho do Professor Andrew Prescott, que constituiu a sua lição de despedida do Center for Research in Masonry da Universidade de Sheffield)
Rui Bandeira