As Respeitáveis Lojas
As Respeitáveis Lojas são a célula donde brota a vida maçónica. Não há em Maçonaria estrutura mais determinante, mais padronizadora de saberes e de comportamentos. É na Loja que se aprende, é na Loja que se convive, é na Loja que nos assumimos, é na Loja que podemos, se para tanto o nosso engenho e a nossa arte o permitirem, transformar quem somos em quem queremos ser.
Respeitando os mesmos princípios que os restantes Irmãos, percebemos que lhes devemos oferecer, todos os dias, no Templo e fora do Templo, a nossa fraternidade; que o nosso pobre egoísmo ficou, com as nossa pobres vaidades, esquecido fora da Loja, numa atitude que – e há que o acentuar vivamente – não é só fruto da cultura, como da inteligência, como da maturidade que alguns percebem, como da inteligência, como da maturidade que alguns percebem que não é desprendimento pela vida mas amor à vida e ao que ela encerra de mais nobre e mais digno.
Tudo isto pode ser percebido, sentido e interiorizado em Loja pelo estudo que vivamente se aconselha dos nossos rituais e dos muitos textos que nos podem enriquecer mas serão sempre limitados os resultados se não houver um esforço de superação consciente e persistente.
Não são as Lojas estruturas isoladas. Mau sinal seria se proporcionassem a fraternidade entre os Obreiros de cada uma e não a fomentassem entre os Obreiros que trabalham em diferentes Lojas. Esse risco nem sempre é ultrapassado por Lojas que, embora trabalhando muito bem, se esquecem de que o Movimento Maçónico, (o Mundo Maçónico, a Família Maçónica) não é um arquipélago constituído por ilhas que ignoram a vida das restantes mas é um todo cuja eficácia é resultante do somatório dos trabalhos dos seus membros.
Os Regulamentos existentes, quer o da GLLP/GLRP que os das RR...LL..., corolários daquele, não são mais de um conjunto de normas que servem de referência para o trabalho concreto mas que devem ser sempre vistos como uma emanação dos nossos princípios e dos nossos “Landmarks”.
Não há, e é importante que tal seja plenamente assumido e entendido, uma estrutura maçónica inspirada em estruturas ou códigos profanos, tenham eles origem cultural, política ou social. Como não há uma hierarquia dependente da decoração dos aventais; a decoração dos aventais, salvo no tocante à que caracteriza o grau de cada Obreiro é um indicativo de responsabilidades assumidas durante um período de tempo, e nunca um objectivo que permite a satisfação de vaidades puramente profanas. Cada nova responsabilidade assumida em Loja, inclusive no seu Quadro de Oficiais tem de ser encarada como estímulo para um maior aperfeiçoamento como acontece, ainda com maior exigência, quando da iniciação da passagem a Companheiro e da elevação a Mestre. Pela mesma ordem de razão não são toleráveis os falsos argumentos freudianos que alijam responsabilidades que são claramente das RR...LL... para outras estruturas da GLLP/GLRP.
Daqui a estupefacção que sentimos por vezes quando somos confrontados com a ideia, nascida da ignorância, de que “as RR...LL... devem cumprir o programa da Grande Loja”.
Como é de todos sabido são promovidas, em especial desde há poucos anos, diversas iniciativas de que podem participar Irmãos de todos as Lojas, nomeadamente no âmbito cultural. Mas estas participações são sugeridas, nunca impostas, e têm a intenção de enriquecer a formação dos Obreiros não se pretendendo, bem pelo contrário, desmotivar a acção das Lojas, que deverá partir sempre da sensibilidade, das circunstâncias e da capacidade de trabalho e de organização de cada R...L... na convicção que todos temos de que esta é fonte criadora do livre pensamento. E este, aberto à vida e à verdade, pesquisa, investiga, estuda, respeitando os que sabem mais mas procurando sempre caminhos próprios.
Aos Órgãos da Grande Loja compete coordenar, estimular e se necessário intervir se os nossos documentos fundamentais não estiverem a ser respeitados; para além do cumprimento das atribuições que lhe estão naturalmente cometidas. Também lhes compete colaborar na criação de melhores condições de trabalho como vem sucedendo no tocante à consagração de novos Templos; e catalizar apoios favorecendo, por exemplo, o levantamento de colunas ou reinício da actividade de várias RR...LL.... Como se percebe, é bem preferível seguir este caminho de verdade do que criar novas RR...LL... só com a intenção de nos vangloriarmos com o seu número.
Tem sido bem visível o aumento do grau de exigência das RR...LL..., nomeadamente no que diz respeito ao rigoroso cumprimento dos rituais. Por aí teremos de prosseguir, como terá de continuar a ser prestado apoio pela RR...LL... com maior número de obreiros e maior dinamismo às suas Irmãs. Também por este caminho de entreajudas se tornará mais límpida a diferença entre o fundamental e o acessório; o grau de exigência seguido em cada R...L... é testemunho da forma como sabem encarar duas virtudes que não nos cansamos de apontar: a dignidade e a verdade. São virtudes visadas no mundo profano que nós, numa Ordem Iniciática, que respeita valores espirituais, por maior força de razão deveremos, sempre respeitar.
(Excerto do artigo "A actualidade da Maçonaria", da autoria do Mui Respeitável Grão Mestre da Grande Loja Legal de Portugal /GLRP, Alberto Trovão do Rosário, originalmente publicado em "O Aprendiz", Revista da Grande Loja Legal de Portugal / GLRP - Nova Série, Ano 6, n.º 25; este é o sexto de nove excertos que serão aqui publicados; o anterior foi publicado em 7/11/2006, sob o título "Obreiros"; o próximo terá o título "Os Altos Graus").
Rui Bandeira