20 fevereiro 2011
16 fevereiro 2011
Origem e primórdios do Rito Escocês Antigo e Aceite - 1804
Recorde-se que fora na Europa que fora concebido o rito de Altos Graus em 25 graus denominado Rito de Perfeição. Exportado para a América, nos Estados Unidos veio a evoluir para um rito de 33 graus, incluindo os três graus simbólicos de Aprendiz, Companheiro e Mestre com a denominação de Rito Escocês Antigo e Aceite.
No entanto, na Europa o que existia era, por um lado, a Maçonaria que hoje denominamos de Simbólica, dos três graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre, praticada no rito exportado pelos Modernos da Premier Grande Lodge de Londres e, por outro, a profusão de chamados Altos Graus, algo desorganizada.
Ainda em outubro de 1804, uma Assembleia Geral do nóvel Supremo Conselho de França deliberou fundar, também em Paris, uma Grande Loja Geral Escocesa, para organizar o ritual das Lojas Azuis do Rito Escocês Antigo e Aceite. Emulava-se assim a regra da Maçonaria inglesa de colocar sobre a jurisdição de uma grande Loja os três primeiros graus e estabelecia-se concorrência com o rito inglês nas Lojas Azuis. O ritual estabelecido teve como base o Rito Antigo e Aceite praticado pela Grande Loja dos Antigos em Inglaterra.
Cabe aqui chamar a atenção que, na época, estava pujante a rivalidade entre Modernos e Antigos. Só em 1815 a reunificação maçónica ocorreria em Inglaterra, com a fusão das duas Grandes Lojas rivais na Grande Loja Unida de Inglaterra. Tendo isto em perspetiva, impõe-se a consideração de que a implantação em França dos três primeiros graus do Rito Escocês Antigo e Aceite foi feita em claro contraponto aos Modernos e apoio às posições dos Antigos, daí resultando a reivindicação do rito da sua antiga linhagem de direto herdeiro da verdadeira maçonaria, preservada pelos Escoceses (os adeptos dos Stuarts e não os nacionais da Escócia, note-se) e pelos Antigos.
O Grande Oriente de França tinha como rito oficial o chamado Rito Escocês dos Modernos, também chamado Rito Francês ou Moderno, semelhante ao praticado pelas Lojas inglesas dos Modernos, que passou assim a sofrer a concorrência do Rito Escocês Antigo e Aceite, nos três primeiros graus.
Inteligentemente, e a fim de evitar que viesse a crescer e a fazer efetiva concorrência ao Grande Oriente de França a Grande Loja Geral Escocesa, braço do Supremo Conselho de França para os três graus das Lojas Azuis, o Grande Oriente de França logrou celebrar, ainda em 1804, um acordo com o Supremo Conselho através do qual o Rito Escocês Antigo e Aceite nos três primeiros graus seria também praticado dentro do Grande Oriente de França. Foi um acordo inteligente, porque com ele ambas as partes asseguraram os seus principais objetivos: o Grande Oriente absorvia à nascença a possibilidade de concorrência institucional quanto aos três graus das Lojas Azuis; o Supremo Conselho obtinha a caução institucional para o desenvolvimento do Rito Escocês Antigo e Aceite em França e, podia, a partir daí, difundi-lo pela Europa.
Tudo parecia justo e perfeito. O Rito Escocês Antigo e Aceite chegava (regressava, enquanto sucessor do Rito de Perfeição) à Europa e, em menos de um trimestre, obtinha caução institucional, estabelecia-se nos três primeiros graus e tinha abertas as portas da grande Obediência continental europeia, o Grande Oriente de França. Porém costuma dizer-se que, na cultura cigana, não se gosta de ver bons começos aos filhos, porque serão ilusórios e seguidos de dificuldades sem que estes se tenham preparado para elas. No caso da implantação do Rito Escocês Antigo e Aceite assim veio a suceder: o inteligente acordo durou pouco, muito pouco, torpedeado por querelas de poder e o bom princípio viria a ser apenas um breve introito para um período de turbulência. Veremos isso no próximo texto.
Fonte:
http://www.oficina-reaa.org.br/v1/index.php?option=com_content&view=article&id=53:detalhes-dos-rituais-azuis-do-reaa&catid=38:trabalhos0&Itemid=2
Rui Bandeira
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14 fevereiro 2011
O conceito maçónico de "Grande Arquiteto Do Universo" - I
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09 fevereiro 2011
Origem e primórdios do Rito Escocês Antigo e Aceite - Do Caos a Ordem
Em agosto desse ano, o Grande Consistório dos Príncipes do Real Segredo emitiu uma carta-patente, pela qual nomeava Stephen Morin Inspetor-Geral do Rito para o Novo Mundo. Ainda nesse ano, Morin chegou a Santo Domingo (República Dominicana) e a partir daí começou a disseminação do Rito e designou diversos Inspetores para as Índias Ocidentais e para o Continente Americano. Um dos nomeados foi Moses Michael Hays, um abastado comerciante judeu, de origem holandesa, de Boston, grande defensor da liberdade religiosa e dos direitos civis, que veio a ser, em 1792, Grão-Mestre da Massachussets Lodge of Masons.
Hays introduziu o Rito na Costa Leste americana e nomeou vários Inspetores-Adjuntos para diversas zonas do que viriam a ser os Estados Unidos da América: Isaac da Costa e, depois da morte deste, Joseph Myers para a Carolina do Sul, Solomon Bush para a Pensilvânia, Barend M. Spitzer para a Geórgia.
Em 1767, é aberta uma Grande Loja de Perfeição em Albany, Estado de New York. Em 1783 cria-se uma Sublime Grande Loja de Perfeição em Charleston, Carolina do Sul. Nesta mesma cidade, cria-se, em 1788, um Grande Conselho dos Príncipes de Jerusalém. Em 1797, um Capítulo de Cavaleiros Rosa-Cruz, Cavaleiros da Águia e do Pelicano estabelece-se na cidade de New York. E é neste mesmo ano que a Loja de Perfeição Rei Salomão, de Martha's Vineyard, Massachusetts, abdica da sua jurisdição sobre os três primeiros graus a favor da Grande Loja de Massachusetts, estabelecendo o precedente para o que é atualmente regra em todo o Mundo: os três primeiros Graus (Aprendiz. Companheiro e Mestre) são da jurisdição exclusiva das Grandes Lojas / Grandes Orientes, ficando os organismos de Altos Graus apenas com jurisdição sobre estes.
Tudo isto se passa ainda no âmbito de um Rito de Perfeição com 25 graus. Entretanto, em 1786, foram aprovadas em Berlim, por Frederico da Prússia, as Constituições dos Supremos Conselhos dos Soberanos Inspetores Gerais do 33.º e Último Grau. É a primeira referência a um Rito com 33 graus. Não há notícia de anterior existência de qualquer Supremo Conselho antes desta data. O Rito (ainda de Perfeição) era dirigido por Inspetores-Gerais, cada um com competência para determinada zona geográfica. Segundo as novas Constituições, o poder soberano do Rito alargado a 33 graus e redenominado de Rito Escocês Antigo e Aceite passaria a ser detido, em cada nação, por um Conselho de 9 elementos. Única exceção: os Estados Unidos da América, que seriam dotados de dois Conselhos: o da Jurisdição Norte e o da Jurisdição Sul (sistema que ainda hoje vigora).
O primeiro Supremo Conselho estabelecido segundo as Constituições de 1786 ficou sediado em Charleston (Carolina do Sul), inicialmente com jurisdição em todo o território dos Estados Unidos e, após a constituição do Supremo Conselho da Jurisdição Norte, com a sua autoridade reduzida à Jurisdição Sul. Este primeiro Supremo Conselho em todo o mundo foi criado em 1801, por iniciativa dos Soberanos Inspetores Gerais John Mitchell e Frederick Dalcho.
A transformação do Rito de Perfeição de 25 graus no Rito Escocês Antigo e Aceite de 33 graus consumou-se assim nos Estados Unidos no início do século XIX. A sua evolução futura vai depender seguidamente de acontecimentos no Velho Continente. Veremos isso no próximo texto.
Fontes:
http://www.phoenixmasonry.org/AASR_1884_/history.htm
http://www.uniaoesegredo.com.br/reaa.htm
Rui Bandeira
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02 fevereiro 2011
Origem e primórdios do Rito Escocês Antigo e Aceite - o Discurso do Chevalier Ramsay
Em 1710, estudou sob a orientação do filósofo místico François Fénelon, tendo-se, por influência deste, convertido ao catolicismo. Após a morte de Fénelon, em 1715, foi viver para Paris, onde se tornou amigo do Príncipe Regente de França, Philippe d'Orléans, que o fez, em 1723, Cavaleiro da Ordem de S.Lázaro de Jerusalém - o que motivou a sua futura designação por Chevalier Ramsay.
Defensor das pretensões jacobitas (de James Stuart) aos tronos de Inglaterra e Escócia, chegou a desempenhar, embora por breve espaço de tempo, as funções de tutor dos filhos de James Stuart, Charles Edward e Henry. Entre 1725 e 1728, viveu como hóspede convidado no Hotel de Sully, sob o patrocínio do Duque de Sully, e frequentou o clube literário parisiense Club de l'Entresol, onde se relacionou, entre outros, com Montesquieu.
Em 1727, publicou as Viagens de Ciro, que foi um grande êxito (um verdadeiro best-seller na época) e o tornou célebre na sociedade (o que, na época, equivalia a dizer: entre a nobreza) francesa.
Desde a introdução em França (através dos exilados jacobitas) da maçonaria que Ramsay nela se integrou.
Em 1737, sendo então Grande Orador em França, escreveu e proferiu, perante uma assembleia de nobres, o seu célebre Discurso pronunciado na receção de Maçons por Monsieur de Ramsay, Grand Orador da Ordem.
Neste discurso, Ramsay efetua uma ligação da Maçonaria às cruzadas. Veio a ser um dos discursos maçónicos mais divulgados e discutidos da História da Maçonaria. Nenhum outro recebeu alguma vez mais atenção. Nenhum outro teve, até agora, maior efeito no desenvolvimento dos eventos relativos à Maçonaria.
No entanto - e tal é hoje pacífico entre os historiadores da maçonaria - o que ele relatou não corresponde à realidade histórica. A Maçonaria não deriva dos Templários nem das Cruzadas e Ramsay sabia-o bem. Na ocasião, o seu propósito foi dar aos recém-iniciados uma razão para terem orgulho na Ordem. A sua Oração, por consequência, não foi um resumo histórico factual, antes uma narrativa alegórica sobre as suas origens. Foi essencialmente o discurso do idealista que ele era.
Assim, ele falou de uma ligação entre os Cruzados e os Maçons, afirmando que, depois das Cruzadas, o Príncipe Eduardo, filho de Henrique III de Inglaterra, tinha trazido de volta àquele país as suas tropas, que tomaram o nome de... Maçons. Acrescentou que, das Ilhas Britânicas, a Arte Real estava então a passar para França, que iria passar a ser a sede da Ordem (!) e continuou dizendo:
Quase que de um dia para o outro, a nobreza e a intelectualidade francesa dedicaram-se a esta novidade, reformulando-a a seu gosto: em pouco tempo, mais de 1.100 graus foram inventados, agrupados em mais de cem ritos. A maior parte deles teve uma existência efémera, mas, entre os que sobreviveram, contavam-se os 25 graus do Rito de Perfeição, antecessor direto do Rito Escocês Antigo e Aceite.
O maçom Andrew Michael Ramsay, com o seu famoso Discurso, inadvertidamente mudou o curso da História da Maçonaria, ao inspirar a criação dos Altos Graus, daí vindo a ocorrer uma evolução que veio a culminar no Rito Escocês Antigo e Aceite.
Fontes:
http://www.chevalierramsay.be/chevalier-andrew-ramsay/
http://en.wikipedia.org/wiki/Andrew_Michael_Ramsay
Rui Bandeira
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30 janeiro 2011
A maçonaria vista de fora - vista de dentro
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26 janeiro 2011
Origem e primórdios do Rito Escocês Antigo e Aceite - hipótese sobre o nome
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23 janeiro 2011
Votar: direito e dever individual
Paulo M.
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19 janeiro 2011
Origem e primórdios do Rito Escocês Antigo e Aceite - Antecedentes em Inglaterra
As Lojas operativas de construtores em pedra regulavam o ofício e transmitiam os ensinamentos a ele inerentes, conjuntamente com normas éticas e conhecimentos científicos vindos de tempos imemoriais, particularmente no domínio da Geometria. Foram essenciais na regulação do ofício da construção em pedra por toda a Idade Média. Porém, o Renascimento, a difusão, tímida mas paulatina, do Conhecimento, facilitada pela divulgação na Europa da impressão mecânica - e consequente embaratecimento e disponibilidade de livros -, a aquisição por operários exteriores às Lojas das técnicas de construção, foram insensível mas inevitavelmente desgastando a capacidade de influência e a relevância social das Lojas operativas. Cada vez mais sabiam construir sem terem aprendido a fazê-lo em Lojas operativas de construtores. Cada vez menos estas regulavam eficazmente o acesso ao ofício.
A lógica natural da evolução levaria à extinção das Lojas operativas - como sucedeu por essa Europa fora. Porém, na Escócia, na Irlanda, em Inglaterra, uma evolução ligeiramente diferente ocorreu. Os operários construtores reagiram à crise abrindo as suas Lojas a não construtores. Aos senhores que lhes encomendavam trabalhos, a membros da pequena nobreza rural, a pessoas interessadas no saber, que aos saberes simples herdados de muitas gerações atrás assim acediam. Naturalmente que, a pouco e pouco, esses maçons Aceites passavam a ter cada vez mais importância nas Lojas, estas deixavam de ser centros reguladores da Arte de Construir e passavam a centros de debate e difusão de conhecimentos. Evoluía-se assim da Maçonaria Operativa para uma nova realidade: a Maçonaria Especulativa.
Esta evolução processa-se ao longo de todo o século XVII e início do século XVIII e, naturalmente, ocorre em ritmos diferentes, sendo aceitável que tenha sido mais acelerada em centros urbanos que rurais, mais profunda e rápida em Londres do que na Escócia ou em York.
Assim se chega a 1717 e à criação por quatro Lojas londrinas da Premier Grand Lodge. Este momento marca o início dito oficial da moderna Maçonaria Especulativa, mas não só. Consumou-se também um corte decisivo com parte das tradições vindas da operatividade. Desde logo a independência total e absoluta de cada Loja. Mas também uma assumida intenção de rever e atualizar os rituais herdados dos tempos operativos e que já não correspondiam cabalmente às necessidades das Lojas Maçónicas especulativas. Os maçons da Premier Grand Lodge encetaram um movimento codificador mas também modernizador das Tradições recebidas da operatividade. Neste percurso não foram acompanhados, nem tiveram a concordância daqueles que prezavam as Tradições trabalhadas e que não viam com bons olhos as modificações que iam sendo introduzidas. Estavam criadas as condições para o que, não muito mais tarde - ainda na primeira metade do século XVIII -, veio a ocorrer na nóvel Maçonaria Especulativa britânica: a primeira grande separação, entre os Modernos (os renovadores da Premier Grand Lodge) e os que se agruparam na Grande Loja dos Antigos (que se declaravam os verdadeiros herdeiros da Tradição maçónica).
Paralelamente, a Grã-Bretanha viveu no século XVII a Guerra Civil, que opôs os partidários do rei Carlos I aos partidários do Parlamento, liderados por Oliver Cromwell. Carlos I acaba por ser preso, condenado á morte e executado, em 1649. Esta primeira guerra civil, essencialmente entre o monarca absoluto e o Parlamento, defensor de uma monarquia parlamentar, conteve os germes de uma outra confrontação: é que o Parlamento era essencialmente constituído por protestantes, que, além do mais, verberavam a Carlos I o seu casamento com uma católica e a sua participação nas guerras europeias da época, consideradas pelos parlamentares como cruzadas católicas. Nascia também uma dissensão religiosa, que veio a culminar em outra confrontação, entre o final do século XVII e meados do século XVIII: a chamada Revolução Gloriosa, que decorreu entre 1695 e 1740. No reinado de James II, da dinastia Stuart, católico, atingiram o rubro as contradições entre católicos e protestantes, entre os direitos seculares da coroa e os poderes do Parlamento. James II, deposto, exilou-se em França. O trono foi entregue a sua filha, protestante, Mary, e seu genro, William de Orange, também protestante, que foram coroados em conjunto como Mary II e William II, e iniciaram a dinastia de Orange. Durante décadas, a confrontação entre os católicos Stuart e os protestantes Orange dividiram as Ilhas Britânicas.
Chegamos assim à segunda década do século XVIII, em síntese, com esta situação:
a) Organizava-se a Maçonaria Especulativa em Inglaterra;
b) Parte da classe nobre inglesa - designadamente os católicos (ou jacobitas - não confundir com os jacobinos, fação extremista da Revolução Francesa) - estava exilada em França, integrando uma corte no exílio dos pretendentes Stuart à recuperação do trono britânico;
c) A nobreza inglesa já tinha, a partir de finais do século XVII, integrado as lojas maçónicas e participado na transição da maçonaria operativa para a especulativa;
d) Parte dessa nobreza acompanhou os Stuart no exílio em França.
e) Pesem embora as rivalidades e inimizades políticas, os maçons católicos e protestantes, apoiantes dos Stuart ou dos Orange, tinham-se já habituado a conviver fraternalmente nas Lojas maçónicas.
Os eventos seguintes que vieram a originar o aparecimento do REAA repartem-se, então, entre Inglaterra e França. Serão objeto do próximo texto.
Rui Bandeira
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15 janeiro 2011
Os que ficam pelo caminho
Os caminhos são muitos, e o destino é cada um que o escolhe. Não é, portanto, a Loja que é exigente e o "chumba" - pois para isso teria que ser a Loja a determinar os objetivos, e estes pertencem a cada um. É antes o Maçon que é muito ocupado, desiludido, ou simplesmente complacente, e se retira pelo seu pé. E assim deve ser. É que a Maçonaria não é para todos: é só para aqueles que de facto queiram - e façam por isso.
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12 janeiro 2011
Origem e primórdios do Rito Escocês Antigo e Aceite - Introdução
Nos Estados Unidos - apenas com a residual exceção de meia dúzia de "lojas vermelhas" na Louisiana - o Rito Escocês Antigo e Aceite não é praticado nos três graus simbólicos (Aprendiz, Companheiro e Mestre), existindo apenas como Sistema de Altos Graus, os chamados graus filosóficos. Na Europa, na América Latina e um pouco por todo o resto do Mundo, porém, o Rito Escocês Antigo e Aceite é trabalhado nos três primeiros graus (graus simbólicos) em Lojas agrupadas em Grandes Lojas ou Grandes Orientes, dedicados apenas ao trabalho nos "graus da Ordem" (Cratf degrees), os ditos três primeiros graus, ou graus simbólicos, de Aprendiz, Companheiro e Mestre, e nos restantes graus em Lojas, Capítulos ou Conselhos de Altos Graus ou graus filosóficos, normalmente sob a égide de Supremos Conselhos do Rito.
Que originou esta diferença?
E porque é que o Rito é Escocês? Terá sido por ter sido criado na Escócia? Terá - como algumas lendárias teses ciclicamente ressurgidas defendem - alguma coisa a ver com a mítica e escocesa Rosslyn Chapel e os não menos míticos Cavaleiros Templários alegadamente fugidos para aquele País, na sequência da destruição da Ordem do Templo pelas atuações conjugadas de Filipe IV, dito o Belo, mas certamente não de caráter, e do Papa Clemente V, que de clemente bem pouco teve?
E porque é que é Antigo? Porque existe desde tempos imemoriais, evoluindo em linha direta desde os tempos dos Mistérios egípcios, passando pelos geómetras gregos, pelos Cruzados e desembocando nos humildes canteiros europeus, pelo ramo popular, e nos orgulhosos Cavaleiros, pela via nobiliárquica? Ou simplesmente será Antigo por oposição a algo que era considerado Moderno?
E porquê Aceite? Em contraposição a algo que o não era? Ou tem esta designação algo a ver com os cavalheiros que, não sendo trabalhadores do ofício da construção em pedra foram aceites nas Lojas reguladoras do dito ofício?
E é tal Rito uma criação de alguém determinado, designadamente o também mítico Cavaleiro Andrew Michael Ramsay, ou simplesmente Chevalier Ramsay, ou resulta de contribuições dispersas?
Foi propositadamente estruturado e organizado? Ou é o resultado, o que sobreviveu, de uma confusa proliferação de ritos e graus?
Cada cabeça, sua sentença! Muitas lendas, bastantes interpretações ad hoc e considerações que na realidade no sei veras, embora nos atraiam por serem bene trovatas por aí pululam relativamente ao REAA.
Não sou historiador. Não estou por isso capacitado para dar uma versão cientificamente fundada dos factos que deram origem ao rito. Mas, sendo um leitor compulsivo e voraz e tendo-me habituado a pensar pela minha cabeça, penso poder dar uma opinião não demasiadamente infundamentada de como realmente apareceu e se estruturou o rito, procurando destrinçar factos de lendas, sucessos de especulações, acontecimentos de ficções.
E, por falar em factos, estabeleça-se já o primeiro: o Rito Escocês Antigo e Aceite estruturou-se ao longo do século XVIII e fixou-se na sua forma muito semelhante à atual no início do século XIX.
Como e em que circunstâncias, é o que começarei a tentar explicar a partir do próximo texto.
Rui Bandeira
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10 janeiro 2011
Porquê "meu irmão", e não "meu amigo"?
Paulo M.
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05 janeiro 2011
A burocracia e a Loja
Muitas Lojas têm, por natureza, esse fardo aligeirado, porquanto constituíram associações de direito civil que lhes conferem personalidade jurídica e é no âmbito dessas associações e dos seus Corpos Gerentes que as tarefas burocráticas inerentes às obrigações do coletivo perante o Estado são realizadas. Mas, ainda assim, muitas tarefas de cariz burocrático respeitam apenas à Loja e são responsabilidade dela própria.
A forma de lidar com estes assuntos são diversificadas. Temos desde a forma de funcionamento de muitas (talvez a maior parte) das Lojas americanas, que dedicam grande e enfadonha parte de muitas das suas reuniões a aprovar, uma por uma, as despesas da Loja e do Templo, por mais corriqueiras (eletricidade, água) que sejam - porque só se paga o que for autorizado em Loja que seja pago - às Lojas que delegam numa Comissão de Oficiais o tratamento dessas questões, limitando-se a, em regra anualmente, tomar conhecimento dos relatórios das atuações tidas e a preconizar as diretrizes a serem seguidas no ano subsequente.
A Loja Mestre Affonso Domingues está entre estes dois extremos. Muitas matérias são decididas pelo Venerável Mestre ou pelas Luzes (o Venerável Mestre e os dois Vigilantes), ou por uma das Comissões de Oficiais (Administrativa, de Beneficência, de Justiça). Mas um número não negligenciável de assuntos são, quer por razões e prática rituais, quer por tradição, quer pela prática da Loja, decididos em sessão de Loja: assuntos disciplinares (felizmente, poucos e raros), de fixação de quotas ou comparticipações para despesas, admissão de novos elementos, alterações regulamentares, opções de gestão ou de organização, etc..
Consoante as solicitações do género, o Venerável Mestre pode optar por diluir o tratamento das questões burocráticas no trabalho geral, reservando um espaço de tempo, geralmente curto, para resolver uma ou duas questões dessa natureza por sessão, ou, se o volume ou complexidade das matérias que há que tratar é grande, dedicar uma ou duas sessões (de preferência sem serem seguidas) para arrumar os assuntos burocráticos todos de uma vez e por um tempo razoável.
Também uma Loja maçónica não pode abstrair das questões de organização e de gestão administrativa. Consideramo-las menores e aborrecidas. Mas são essenciais para nos podermos dedicar ao que gostamos de fazer, ao que queremos fazer, ao que necessitamos de fazer: aprender em conjunto a ser cada um de nós um pouco melhor a cada momento.
Gostamos de aparelhar, polir e pousar nossas pedras no Templo que ensaiamos de construir. Mas só o podemos fazer devidamente se mantivermos as nossas ferramentas em ordem, o nosso local de trabalho ordenado e agradável, os nossos materiais preparados e ordenados.
Costuma-se dizer que tão necessários são os solistas como os carregadores de piano. Nós, maçons, procuramos levar mais longe essa ideia: carregamos o piano e os outros instrumentos, ensaiamos e tocamos em conjunto e, quando podemos, ainda nos atrevemos, aqui e acolá, a uns solos...
Numa Loja, como em quase tudo na vida, todos gostamos de brilhar. Mas, para o conseguir, também é preciso puxar do pano e da solarina...
Rui Bandeira
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31 dezembro 2010
A (im)perfeição e as Old Charges (III)
Paulo M.
P.S.: Este é o meu último texto deste ano. Para todos, um feliz ano novo de 2011!
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29 dezembro 2010
Paulo Guilherme D'Eça Leal, maçom irreverente
Mas, para mim, para nós, os mais antigos da Loja Mestre Affonso Domingues, foi simplesmente o Paulo Guilherme, um dos nossos, um pouco, um tudo nada, excêntrico, um espírito vivo e irreverente. E uma língua afiada também...
O Paulo Guilherme fez parte da Loja Mestre Affonso Domingues nos anos noventa. A sua permanência entre nós foi mais breve do que ele e nós gostaríamos. Nunca chegou a ser exaltado Mestre maçom. Foi iniciado Aprendiz e passado a Companheiro maçom.
Depois, a doença que, anos mais tarde, veio a vitimar o seu invólucro físico revelou-se. Fumador inveterado, o cancro da laringe apareceu. E foi o calvário dos tratamentos, a operação, a perda das cordas vocais, a incapacidade de falar, a aprendizagem da fala pelo esófago, com o auxílio do amplificador que gera aquela estranha voz metálica. Outras prioridades assolaram o Paulo Guilherme. A doença forçou-o a ficar mais caseiro. O trabalho em Loja não mais foi uma prioridade séria. E o Paulo Guilherme fez aquilo que um maçom que se preza deve fazer, quando as circunstâncias e a vontade própria a isso obrigam: pediu o seu quite e adormeceu.
Mas sempre permaneceu interessado na busca esotérica a que dedicou a parte final da sua vida. O seu estudo e tese sobre a Pirâmide de Quéops aí estão para o demonstrar.
À distância, foi mantendo contacto com alguns de nós. Em particular, com o Luís R. D., com quem, de longa data, manteve laços de amizade. Na parte final da sua vida, alguns contactos manteve comigo, também.
A idade, a doença e a debilidade foram-no tornando um pouco mais rezingão do que o habitual. Mas o génio, o vivo espírito crítico, a autoconfiança, esses, permaneceram sempre. O Paulo Guilherme foi, de facto, um artista com um génio admirável. A sua ironia enfeitiçava-me. A sua cultura maravilhava qualquer um.
Tenho pena que a doença e as circunstâncias tenham impedido que o Paulo Guilherme tivesse continuado mais tempo o seu percurso junto dos demais na Loja. Estou certo que, tivesse isso sido possível, ele deixaria uma intensa marca na Loja, quiçá inolvidável. Não posso deixar de tentar imaginar como seria se as coisas tivesse sido diferentes e o Paulo Guilherme tivesse permanecido até culminar o seu percurso com a sua Exaltação como Mestre Maçom, como seria se tivesse feito o normal percurso que todos na Loja fazemos até à Cadeira de Salomão, que surpreendente e inolvidável seria o seu tempo de Venerável Mestre da Loja. Não me atrevo a perspetivar se seria bom ou mau - sei, sem sombra de dúvida, que seria intensamente diferente!
Com o Paulo Guilherme, a Loja aprendeu a conviver com o génio algo excêntrico. Se ele a tivesse dirigido, teria sido, não duvido, algo de épico e inolvidável. Não sei se a Loja seria hoje melhor ou pior do que é. Mas de certeza, certezinha, que seria diferente!
A irreverência do Paulo Guilherme só não deixou marcas mais profundas na Loja porque a sua doença e as circunstâncias não deram tempo a que as sementes dela germinassem. Mas nós, os mais antigos, testemunhámos um pouco dessa irreverência. E eu tenho para mim que - é inevitável... - algum dia um outro artista de génio, também irreverente, deixará a sua marca na Loja. E então teremos um pouco da noção do que teria sido a marca do Paulo Guilherme na Mestre Affonso Domingues.
Paulo Guilherme, o artista nunca passa despercebido. E tu não o passaste na Mestre Affonso Domingues. Até um dia, em outra dimensão, que a todos nós espera! Suspeito que a esta hora, a marca da tua irreverência já se faz sentir e que, parafraseando o Poeta, o assento etéreo onde subiste já está, no mínimo, muito mais bem decorado! Olha, se puderes, faz um favor a este teu admirador: usa as tuas capacidades e faz lá uma ilustração de como agora o puseste. Sei que só em sonho a poderei ver - mas estou certo que vou gostar!
Rui Bandeira
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25 dezembro 2010
A (im)perfeição e as Old Charges (II)
Alegava-se, por exemplo, que a Bíblia descreve, repetidamente, como só um animal perfeito e sem mancha podia ser oferecido em sacrifício. Se o bicho tivesse a mínima imperfeição deixava de ser passível de ser oferecido em holocausto: ao Divino não se oferecia senão o que se tinha de melhor. Ainda nesta perspetiva, uma vez que, em Maçonaria Regular, se trabalha "À Glória do Grande Arquiteto do Universo" - donde decorre que o trabalho que se faz é feito em Sua intenção, sendo cada maçon a sua própria oferenda - a aplicar-se à letra o antigo princípio da perfeição da vítima sacrificial, poder-se-ia discorrer que um deficiente físico não seria "suficientemente bom" para ser oferecido ao Grande Arquiteto do Universo.
Outro dos argumentos teria que ver com a capacidade de trabalhar. A Maçonaria - mesmo a Especulativa - socorre-se do trabalho como forma e método de aprendizagem, pelo que a incapacidade para desempenhar tarefas úteis poria em causa todo o método maçónico. Por outro lado, é essencial que um maçon se baste a si mesmo, pois de outro modo não teria a disponibilidade mental para se aperfeiçoar enquanto pessoa. É uma questão de prioridades: primeiro o sustento do corpo, depois o apuramento do espírito.
A própria simbologia maçónica era usada como argumento. Discutia-se, com a maior seriedade, se, uma vez que a maçonaria tinha por objetivo a "construção do Templo" a partir das pedras que cada um ia tratando de polir, não seria contrário à mesma maçonaria aceitar pedras "tortas"? Que Templo Perfeito poderia a Maçonaria almejar construir à Glória do Grande Arquiteto se as pedras não fossem todas perfeitas?
Espantosamente, este debate ainda persiste; ainda há Obediências - Grandes Lojas - cujos regulamentos proíbem a admissão de deficientes físicos. Contudo, mesmo a maioria dessas admite que, se um Irmão ficar limitado (amputado, paralisado...) após a sua admissão, terá todo o apoio da loja.
Na Grande Loja Legal de Portugal/GLRP a questão, tanto quanto sei, não se coloca. As condicionantes à admissão são, de acordo com a Constituição e Regulamento Geral da GLLP, apenas que os candidatos sejam "homens livres e de bons costumes que se comprometem a pôr em prática um ideal de paz" , que tenham "o respeito pelas opiniões e crenças de cada um", e sejam "homens de honra, maiores de idade, de boa reputação, leais e discretos, dignos de serem bons irmãos e aptos a reconhecer os limites do domínio do homem, e o infinito poder do Eterno".
Pode argumentar-se que um deficiente físico não é inteiramente livre. Fosse esse um requisito - ser inteiramente livre - e não haveria quem pudesse ser admitido na maçonaria. Todos nós só o somos até certo ponto. Quanto à iniciação, será que se perde alguma coisa se for feita de cadeira de rodas? Claro que sim. Mas não se perde mais numa iniciação do que num passeio na cidade; quem está limitado sabe que o está, e em que medida.
E um surdo? Ou um cego? Poderão ser iniciados maçons? Não vejo porque não. Desde que aptos a comunicar, estou certo de que se providenciaria o que fosse razoável para os acomodar. Um surdo pode, por exemplo, ler nos lábios; e poderia "falar" por escrito, à falta de melhor. Um cego pode ouvir e falar - apesar de poder ser curioso ouvir da sua boca algumas fórmulas rituais que se referem à Luz e às Trevas, por exemplo, mas basta que interiorizemos que a Luz e as Trevas, em Maçonaria, são simbólicas, não precisando nós dos olhos para as poder entender, para que logo as suas palavras deixassem de soar estranhas.
Pode um amputado praticar natação? Ou um paraplégico jogar basquete? Sabemos que podem. E podem competir de igual para igual com uma pessoa não deficiente? Tenho as minhas dúvidas. Mas poderá a prática desportiva tornar a sua vida mais completa, incrementar a sua saúde, torná-los pessoas mais felizes? Disso já tenho a certeza. Do mesmo modo, poderá um deficiente físico tirar partido da maçonaria tanto quanto alguém que o não seja? Bom... em muitos casos até pode, mas admitamos que não podia. Seria essa lacuna, esse inultrapassável obstáculo, razão para que fosse impedido de atingir todo o resto?
Paulo M.
Publicado por Paulo M. às 00:01 6 comments
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24 dezembro 2010
A distância não se mede em segundos
JPSetúbal
Publicado por J.Paiva Setúbal às 17:08 2 comments
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23 dezembro 2010
Boas festas!
Paulo M.
Publicado por Paulo M. às 18:28 5 comments
22 dezembro 2010
Elegia a um homem bom
Escondi o meu pensamento, proferi as palavras de conforto e encorajamento que devem ser levadas por quem visita quem está doente - esperando que às mesmas conseguisse conferir um pouco de credibilidade. Como é meu hábito (defesa?) nestas situações, procurei orientar a conversa para temas ligeiros e lançar um par de larachas que, por momentos embora, desanuviassem o ambiente. Senti-me grato por ter conseguido vislumbrar um par de sorrisos no homem doente. Pensei que, quando chegasse a altura de ser eu a fazer a mesma viagem que adivinhava que aquele homem não demoraria muito a fazer, também gostaria que alguém conseguisse fazer-me sorrir - a tal viagem é certa para todos nós, já que todos temos que a fazer, que se faça bem-disposto...
Da família que rodeava o homem, uma das filhas já se apercebera da iminência da partida. A outra guardava ainda uma réstia de esperança que a técnica médica ainda pudesse adiar o momento que a irmã já sentia chegando. A mãe de ambas, companheira de toda uma vida, incansavelmente acompanhava o seu marido, refugiando-se em pequenas coisas, não querendo pensar nem encarar o que temia sucedesse.
Uma hora depois, deixámos o homem doente. Outras solicitações de uma vida sempre atarefada nos aguardavam.
Na manhã seguinte, a notícia! O homem bom que tínhamos visitado, partira para o além desconhecido durante essa noite. A minha mulher soltou a sua emoção. Eu pensei - mas reservei para mim esse pensamento - que fora uma felicidade que a agonia tivesse sido breve. Vim a saber depois que a viagem fora feita durante o sono - e de novo dei graças por tal. A minha mulher, imersa na sua emoção, perguntava, insatisfeita, porque eram os bons que partiam quando tantos maus ficavam por aqui atormentando os seus semelhantes. Perguntei-lhe se sabia ela que se estava melhor aqui do que para onde se seguia...
Gostaríamos que os bons estivessem connosco sempre mais. Lamentamos a sua partida. Principalmente a família experimenta a orfandade da separação, o desgosto do desaparecimento. E tem de fazer o luto pela sua perda.
Quem não é crente, não tem, nestas ocasiões, arrimo para o sentimento de perda. Já quem crê em algo mais do que a materialidade que nos rodeia, sem deixar de sofrer o choque, tem a possibilidade de se consolar com a noção de que o fim deste caminho não é o fim do caminho, que, para além do que vemos e sentimos e sabemos, mais e diferente caminho existe para caminhar, não sabemos de que forma, como - mas existe.
O maçom confronta-se com a ideia do seu desaparecimento físico e aprende a não o temer, a entender que o momento inescapável é apenas uma passagem - um fim, mas também um novo princípio.
Um homem bom terminou a sua caminhada entre nós. Como todos os que gostam da companhia de quem é bom, lamento que essa companhia tenha cessado. Mas creio que a razão porque a sua presença física cessou foi apenas porque a sua missão aqui foi cumprida. Nova missão, novo desafio, nova jornada, encetou - como todos nós havemos de encetar. Foi cedo de mais? Poderia a Providência ter-lhe dado, a ele e aos seus e a todos nós um pouco mais de tempo para apreciarmos a nossa mútua companhia? É humano que o desejemos. Mas a hora foi esta porque a sua missão aqui fora ultimada, cumprida, realizada - e com êxito! Já o homem bom era, porventura, mais necessário onde seu espírito agora prossegue a sua caminhada.
Os bons vão primeiro? Pudera! É por serem bons que melhor e mais depressa cumprem a sua missão aqui!
O solstício de inverno - que hoje decorre - lembra-nos que a escuridão, o frio, a noite longa e o dia breve, o fim, afinal são um recomeço e, a partir do ponto de transição, a escuridão pouco a pouco de novo cede o lugar à luz, o frio desaparece, a noite se encurta e o dia se alonga, o fim é afinal um novo princípio.
É disto que nos devemos lembrar sempre que vemos partir um homem bom.
(Homenagem a um homem bom que partiu).
Rui Bandeira
Publicado por Rui Bandeira às 12:00 12 comments
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