17 julho 2009

Só sei que nada sei ?

Conta-se (ou cantava-se) nos meios académicos, pelo menos de Lisboa e Coimbra, uma historinha, mais ou menos "anedotificada", mas que retratava uma situação real passada numa aula de uma das várias "Matemáticas" pelo qual passaram os que andaram pelo Técnico ou pela Faculdade de Ciências de Lisboa nos idos de 60 do século XX (t'ou mesmo velho...!).

A coisa aconteceu com um professor de Matemática, conhecido e excelente cientista (está fora de dúvida), mas um tanto bronco no que tocava a sua vaidade pessoal, e rezava da seguinte forma:

- Meus senhores, no Congresso do último fim de semana só sábios eramos 14 !

Com toda esta modéstia é de prever que outras broncas sairiam de vez em quando, e saiam mesmo. Mas foi um excelente "prof" a quem muita gente da minha geração deve muito, do muito pouco que sabe.

Isto a propósito do vídeo/musiquinha de hoje, estilo "palavras cruzadas pensantes" para o fim de semana.

É que esta coisa de ponderar sobre o que se sabe ou não sabe, muitas vezes complica-se e damos connosco a pensar se de facto sabemos alguma coisa e que coisa é essa do saber.

Assim a modos como as "certezas" ácerca das quais eu sempre gosto de reproduzir um diálogo:

- Toda a gente que tem a certeza absoluta do que diz é estúpido...
- Tens a certeza ?
- Absoluta !

À hora a que habitualmente alinhavo estes pequenos introitos aos vídeos com que vou preenchendo as 6ªs feiras já não tenho paciência para dissertar sobre a relatividade do saber e do conhecimento, tanto mais que cada vez com maior frequência as “sardinhas assadas com pimentos” que ontem eram um veneno para tudo, hoje são um bálsamo para uma quantidade de maleitas perigosíssimas… !
O que significa que quanto mais certo estou de alguma coisa, mais perto estarei de um qualquer génio-novo vir provar que o quadrado é redondo e o círculo tem, nada menos do que quatro lados em bico concavo cruzados com semi-retas elíticas…
E quando um génio-novo diz… é porque é verdade, seja lá o que fôr !
Até aparecer o próximo génio-novo.

Portanto aqui Vos deixo um muito ligeiro alerta para as vossas convicções inabaláveis, tanto mais que a fixação das ideias está cada vez mais em risco.



E como diria o Rui, "G's" há muitos (!) e todos "G's".

Como sempre, desejo-vos a todos, a todos mesmo, um bom fim de semana cheio de boas e verdadeiras certezas.
Abraços.

JPSetúbal

15 julho 2009

G de... Maçonaria

Embora a Maçonaria Continental use o símbolo do esquadro e compasso apenas com estes dois elementos, a Maçonaria anglo-saxónica, de tradição e língua inglesa, usa como símbolo notoriamente reconhecido como o da Maçonaria uma imagem similar à que encima este texto, com o esquadro, o compasso e a letra "G".

É inevitável! O neófito, o recém-iniciado, uma das primeiras perguntas que coloca é qual o significado desta letra.

Também eu, naquele tempo em que era Aprendiz, fiz essa pergunta. Mas como eu sempre gostei de "beber do fino", não fui de modas e, quando se apresentou a oportunidade, fiz a pergunta ao Grão-Mestre! Era então Grão-Mestre, Fundador, o já falecido e, independentemente de infelizes sucessos posteriores, por mim muito admirado, Fernando Teixeira. Já noutro escrito o classifiquei como um vero príncipe da Renascença. Governava a Obediência com mão ferro envolta em luva de veludo. Experiente, sabedor - muito sabedor! -, inteligente e matreiro, bonacheirão na hora do descanso e ferreamente sério na altura do trabalho, era um líder carismático. Carisma que cultivava. E parte do cultivo desse carisma fazia-o com a disponibilidade que manifestava para ensinar, esclarecer, iluminar os Aprendizes com quem gostava de confraternizar.

Portanto, para mim não foi nada de mais fazer a pergunta que - imagino-o hoje - antes de mim dezenas ou centenas de outros lhe tinham feito: o que significa o "G"?.

O Fernando sorriu, recostou-se na cadeira e, mais uma vez, deu a resposta que já dezenas ou centenas de vezes dera: havia vários significados possíveis; uns defendiam que o "G" significava Gnose; outros que aludia a Geometria ou Geómetra, e por aí fora. Matreiro que era, nunca dizia o que se esperava que também dissesse e aguardava que a "brilhante sugestão" viesse do Aprendiz: e não significaria simplesmente "God" (Deus em inglês)? Mais um sorriso confirmava que a pergunta era aguardada e lá esclarecia que a Maçonaria era Universal, inerente a todas as línguas, que não parecia muito curial que um símbolo tão universal respeitasse a uma língua, e lá repisava as teses da Gnose (que lhe era cara, estudioso como era dos Mistérios Mitraicos) e da Geometria ou Geómetra.

Pese embora a minha admiração por ele, na altura pensei cá para os meus botões, aproveitando na íntegra o silêncio do Aprendiz, que "tá bem, abelha, a Maçonaria teve origem em Inglaterra, os ingleses são aqueles tipos que têm a mentalidade de pensar que, quando existe uma tempestade no Canal ds Mancha e a navegação tem de ser ali suspensa, é o Continente Europeu que fica isolado deles, queriam lá saber da língua dos outros; o "G" era de God e não se falava mais nisso!" A solução mais simples costuma ser a correta, para quê complicar?

Os anos passaram, a Mestre cheguei e Mestre sou e, cá para mim, embora, quando perguntado, exponha a tese da Geometria ou Geómetra (a da Gnose nunca foi do meu agrado, demasiado rebuscada que a acho), sempre que do meu interlocutor lá vinha a referência ao "God" eu lá admitia como possível, se calhar provável. Não podia eu desmerecer do que intimamente eu próprio pensava...

Pois bem! Aprender até morrer! Só os burros não mudam de opinião!

Estou finalmente convencido que o "G" significa Geometria.

No texto da semana passada referi como aprendi que, nos antigos manuscritos da Maçonaria Operativa, a palavra Maçonaria era comummmente usada como sinónimo de Geometria e da Geometria aplicada à construção, a Arquitetura. Pois bem, se "Maçonaria" era sinónimo de "Geometria", a inversa também era verdadeira. Na Maçonaria Operativa, falar-se de maçonaria era falar-se de geometria, falar-se de geometria era falar-se de maçonaria. Então, nada mais simples do que criar o símbolo da Ordem com os artefatos da profissão e a letra inicial da ciência em que se baseava: o esquadro, o compasso e o "G".

Portanto, afirmo e proclamo, abjurando das minhas antigas dúvidas e reservas: o "G" do símbolo da Fraternidade simboliza a Geometria. O que é o mesmo que dizer que... simboliza a Maçonaria!

Está assim explicado o título: "G" de... Maçonaria!

(E quanto a ti, meu caro Fernando Teixeira, meu sempre lembrado Grão-Mestre Fundador, que só por isso e pelo teu carisma obnubilas divergências posteriores, bem o sinto: se lá do assento etéreo em que subiste, memória deste mundo se consente... estou a ver o teu sorriso bonacheirão, contente e vitorioso! O "rapaz" foi teimoso, demorou vinte anos a lá chegar, mas finalmente acabou de te reconhecer a razão... - Não, meu caro, quanto à Gnose, não insistas... Já era um exagero... Concordemos em discordar... - Fica prometido: no próximo ágape ritual em que eu estiver, depois dos sete brindes rituais, chegada a hora dos brindes livres, eu proporei um brinde à tua memória. Porque de ti guardo e guardarei sempre enquanto por aqui andar a memória do teu carisma, da tua inteligência, da tua sabedoria, do muito de bom que fizeste e deixaste. Do resto, da divergência final, não cura a minha memória: já não eras tu, já era a doença final que te levou daqui. É assim que se constroem e se lustram as memórias daqueles que prezamos e admiramos!)

Rui Bandeira

13 julho 2009

Continuidade - Vem aí o 20º Veneravel.

Acontece todos os anos na primeira sessão do mês de Julho a eleição do Veneravel Mestre e do Tesoureiro.

A estabilidade da Loja permite que o processo eleitoral decorra sem quaisquer problemas ou dificuldades e consequentemente se eleve o espirito de união da loja.

Para os cargos de Veneravel e Tesoureiro foram eleitos respectivamente Rui C.L. e Alberto J.G. ambos mestres.

Se Alberto é um mestre recente e assume aqui o seu primeiro cargo de Loja, já Rui é um mestre com muitos, muitos anos de maçonaria. É do tempo da fundação da Grande Loja e não fosse ter tido que se ausentar durante uns anos já teria sido seguramente Veneravel há muito mais tempo.

Junta-se assim a experiencia de um com o desafio a outro no sentido de levar a Loja Mestre Affonso Domingues para mais um ano de trabalho que se espera gratificante.

A instalação decorrerá, previsivelmente, na primeira sessão de Setembro.


José Ruah

10 julho 2009

Modernices...

Desta vez não deixo passar a 6ªfeira sem Vos deixar uma prenda.

Vou fugir de novo das coisas sizudas, mas não menos sérias, para Vos trazer o resultado de uma daquelas modernices que andam para aí, que o pessoal agora inventa e impinge à malta, a "bué da malta", que fica "fixe à brava" com estas "manifs".

É assim, o mundo não pára e as sociedades vão assim de glória em glória até à... glória final.
Isto digo eu que sou otimista.
A imagem que junto hoje, dizem, disseram já vários entendidos na matéria, que não se repetirá.

- Olha que novidade... Se se repetisse é que eu ficava "estúpido", disse o "Lecas", "os cotas já malharam... áh, com'é que podem repetir ?"

Vejam e não fiquem invejosos por não serem capazes de fazer o mesmo.
Pensem que há mais assim. Não é Vosso exclusivo.



Sabem quem eram ? Quem eram, não, quem são, porque estes "não malharam, não...!"
O enorme par, com muito mau feitio, mas com uns pés de estarrecer.

Fred Astaire e Eleanor Powell aqui ficam para recordar... os que se recordarem, claro !

Ia esquecendo um pormenor. A "voz off" é... essa mesmo, "The voice" ! (Frank Sinatra).

Abração. Bom fim de semana.

JPSetúbal

08 julho 2009

Maçonaria = Geometria = Arquitetura

Albert G. Mackey

Estou agora a ler um livro que um dos meus Irmãos me ofereceu vai já para quatro anos e que os afazeres da vida, o imenso que há para ler e prioridades de leitura de outras obras relegaram para esta ocasião. É uma obra notável de um autor notável. O autor é Albert Gallatin Mackey. O nome dirá pouco a quem não for maçon- Trata-se do autor da conhecida Enciclopédia de Maçonaria (que está a ser publicada no sítio da Loja Mestre Affonso Domingues), um médico americano de Charleston, Carolina do Sul, também erudito historiador da Maçonaria. A obra é The History of Freemasonry - Its Legendary Origins (A História da Maçonaria - as suas Origens Lendárias).

A leitura desta obra permite-me relembrar algo aprendido em outras leituras, mas sobretudo permite-me aprender algumas coisas que não sabia. É assim, o Mestre maçon, se há algo que aprende, é que tem sempre mais a aprender...

A leitura desta obra oferece-me assunto para partilhar as minhas descobertas em vários textos. Começo hoje por algo que, sendo básico (depois de se saber...), permite compreender e interpretar melhor o significado real de algumas passagens dos textos primitivos da Maçonaria, anteriores à instauração da primeira Grande Loja de Londres e às Constituições de Anderson.

Existem diversos manuscritos que vêm do tempo da Maçonaria Operativa. O mais antigo de todos é o manuscrito Halliwell, que contém o chamado Poema Regius, que se crê datar de cerca de 1390. O manuscrito Cooke calcula-se que seja de um século depois. Do século XVI, segundo se crê, encontraram-se os manuscritos Downland e Landsdowne. Do século XVII, foram descobertos e estudados os manuscritos York, n.ºs 1, 2, 5 e 6, Harleian, n.ºs 1942 e 2054, Grand Lodge, Sloane, n.ºs 3323 e 3848, Aitcheson-Haven, Edinburgh-Kilwinning e Lodge of Antiquity. Já do século XVIII, mas anteriores à criação da primeira Grande Loja de Londres, descobriram-se os manuscritos, Alnwick, York, n.º 4 e Papworth.

Estes manuscritos contêm diversas informações sobre o que era a Maçonaria Operativa, entre elas a chamada Lenda do Ofício, a Lenda da criação e evolução da Maçonaria.

Uma das coisas interessantes desses manuscritos, vinda dos mais antigos e mantida nos mais recentes (que, em grande parte, eram cópias dos anteriores) é que a palavra Maçonaria era, nesses tempos, usada como sinónimo de Geometria. Assim, quando neles se escreve que Euclides é fundador da Maçonaria, o que se está realmente a dizer é que Euclides foi o criador da ciência da Geometria.

Por sua vez, a Geometria aplicada à construção, ou seja, a Arquitetura, também era designada por Maçonaria nesses manuscritos.

Ou seja, nos tempos da Maçonaria Operativa, dos construtores em pedra, a palavra maçonaria tinha três significados: a associação de construtores em pedra, que preservava e transmitia os segredos da profissão e regulava esta; a ciência da Geometria; a arte da Arquitetura.

Estes três significados, naturalmente, interligavam-se, porquanto os segredos da construção eram noções geométricas (tirar ângulos retos, a 47.ª Proposição de Euclides, mais conhecida entre nós por Teorema de Pitágoras, etc.), aplicadas à arte da Arquitetura e sua execução prática.

Não tinha ainda deparado com esta noção de que a palavra Maçonaria, nos documentos antigos, tinha também os significados de Geometria e de Geometria aplicada à construção, isto é, Arquitetura.

E esta noção permite compreender melhor os relatos desses documentos primitivos. Lidos com esta noção, talvez alguns pontos da Lenda do Ofício não sejam tão lendários como isso e correspondam a relatos, necessariamente imprecisos, da pré-história da Maçonaria, da ciência da Geometria e da arte da Arquitetura.

Pelo menos é uma interessante tese exposta pelo insigne historiador da maçonaria que foi Albert Mackey.

Fonte: The History of Freemasonry - Its Legendary Origins, Albert Gallatin Mackey, Gramercy Books, New York.

Rui Bandeira

04 julho 2009

Porque hoje é Sábado !

Pois é, porque eu me "distraí", porque eu me "atrasei", porque eu ando metido em 24 coisas ao mesmo tempo (é..., eu reconheço, sou burro...!) deixei passar a 6ª feira.
Sei que os habituais deste espaço ficaram a esfregar as mãos de contentes. Desta vez é que o "chato" cedeu ! Ficamos com um fim de semana limpinho.
Desenganem-se.
Mas porque hoje é Sábado ponho no blogue uma lufada de ar fresquíssimo, bem disposto, capaz de Vos deixar a pensar se me vão perdoar ou não...
Já não é mau ! Fica criada a dúvida, o que já é ganho.

Meus Caros, oiçam, reoiçam, trioiçam... e depois concluam como eu:
- BRILHANTE !
Vamos aplaudir de pé, mesmo.

Além de não acreditar que não ficaram, pelo menos, com um leve sorriso, seus mal encarados.

Queridos Irmãos, Amigos, Leitores, Bisbilhoteiros e demais ocasionais, para todos bom fim de semana.
E como disse o grande Vinicius "porque hoje é Sábado", aqui fica a nossa imagenzinha semanal:


JPSetúbal

02 julho 2009

O Silêncio dos Aprendizes

O Silêncio dos Aprendizes

Ao escolher este tema presto homenagem ao silêncio dos aprendizes em loja e em particular ao seu significado e objectivos, dado considerar que ele contribuiu decisivamente para a minha aprendizagem e para a minha evolução como pessoa e, espero que, como Maçon.

Silencio

Nas conversas prévias que tive com os Irmãos Mestres J:. R:. e R:. B:., integradas no meu processo de admissão à Maçonaria, houve desde logo algo que me causou alguma apreensão – como iria eu conviver com o silêncio que se impunha aos aprendizes em Loja. Ter uma opinião para transmitir e não o poder fazer, só poderia ser uma forma sofisticada de praxe ou de tortura, para ver se eu me aguentava....

Sendo normalmente uma pessoa interventiva, o ficar calado significava para mim quase que uma prova de fraqueza ou ignorância, e isso era algo que não estava habituado. No mundo profano, nomeadamente nas esferas empresariais, é normalmente preferível dizer alguma coisa, mesmo que inútil, do que não dizer nada, já que isso parece ser apreciado.

As minhas primeiras sessões em loja foram muito conflitivas – se não podia falar e só podia ouvir, o que é que eu estava ali a fazer? Durante este período, passei por várias fases evolutivas: equacionei ir-me embora, já que não queriam ouvir o que eu tinha para dizer e eu tinha muito para dizer; ponderei os inconvenientes de desrespeitar a regra, rompendo o silêncio; efectuei comparações entre os argumentos que eram utilizados e os que eu utilizaria na mesma situação, etc.. Creio que posso afirmar que a minha permanência na Maçonaria se deve a um acto de teimosia, já que decidi não desistir e ir até ao fim.

Gradualmente, fui começando a alterar a minha atitude perante o silêncio, principalmente a partir do momento em que conclui ser inútil preocupar-me em construir uma argumentação que depois não teria continuidade. Já que não podia falar, talvez existissem outras formas de rentabilizar o tempo que ali passava e a forma mais lógica e imediata parecia ser, ouvir e assimilar o que estava a ser dito. Tal “descoberta” fez-me começar a escutar de forma consciente, o que efectivamente se dizia, o que me conduziu a uma nova descoberta acerca de mim próprio: tinha tendência para só escutar os outros em função da resposta que teria de lhes dar e não por aquilo que tinham para me dizer.

Esta constatação levou-me a começar a tentar escutar os outros de forma desinteressada e sem reservas ou intenções. Foi um processo intencional, lento, com avanços e retrocessos mas extremamente agradável - sentir que começava a descobrir os outros e ver que a atitude destes se alterava gradualmente. De forma tímida no inicio, primeiro nos círculos familiares e depois entre amigos e em ambientes profissionais, foi encorajante ouvir frases como “não sei porquê, mas agora é mais agradável conversar contigo”...

No campo estritamente profissional e nomeadamente nos processos negociais, em que cada argumento antecipado pode constituir uma vantagem para os outros, descobri também que o escutar me permitia analisar melhor a situação e sobretudo preparar melhor a argumentação necessária à consecução de estratégias ganhadoras.

E no entanto toda esta simplicidade parece ser fruto de uma sabedoria milenar que já Hiram utilizava quando formava os seus aprendizes e companheiros, para os preparar para a construção do Templo de Salomão.

Quando o recém iniciado é advertido de que não poderá falar em loja, desde a sua iniciação até à sua passagem a mestre, devendo apenas ouvir e observar, está-se simplesmente a dar continuidade a um dos mais antigos costumes das ordens iniciáticas: o silêncio.

Voltado para si mesmo, calado, numa postura de reflexão e recepção, o Aprendiz Maçon deverá evitar resvalar para uma atitude passiva ou desinteressada. Pelo contrário, todos os seus sentidos devem estar atentos para o que se passa em loja. Ver, ouvir, receber, reflectir e guardar, são as palavras chave deste processo de aprendizagem e evolução interior. Juntar e interligar todas as informações que lhe chegam ao cérebro, estranhas e diferentes das que já conhece, formulando hipóteses e conclusões que lhe permitam uma visão cada vez mais elevada das observações que faz. Esta deve ser a maior preocupação do iniciado.

O ainda candidato é exposto pela primeira vez perante a regra de silêncio quando é introduzido na Câmara de Reflexão, permanecendo sozinho e ladeado por símbolos, palavras e frases, estimulado a pensar e a penetrar no fundo do seu interior. No silêncio da meditação, vai ao encontro de si mesmo, examinando minuciosamente o que lhe vai na alma. É então confrontado com a sigla Vitriol (Visita Interiora Terrae, Retificandoque, Invenies Occultum Lapidem), que na sua tradução para português significa: "desce ao interior da terra, e perseverando na rectidão, poderás encontrar a pedra oculta".

Após toda a cerimónia de iniciação, o candidato profano transforma-se em recipiendário silencioso, o recém iniciado assume o papel do hermetista, ou do alquimista na sua busca incessante da Pedra Filosofal, que uma vez descoberta, o transformará no homem perfeito. Este é o sentido que o maçom busca quando luta para transformar a sua Pedra Bruta na Pedra Cúbica, que poderá utilizar e encaixar perfeitamente na construção do seu novo Templo interior.

O conselho "lege, lege, relege, ora, labora et invenies", que significa lê, lê, relê, ora, trabalha e encontrarás, era dado ao eleito para conhecer e assimilar os mistérios da Alquimia. Hoje, continua sendo este o conselho dado ao iniciado. O maçon afasta lentamente todas as suas paixões, os seus vícios, os seus desejos incontroláveis, para vê-los transformarem-se em virtudes, domínio de si mesmo, tolerância e prudência, alcançadas no silêncio e na introspecção. O iniciado reconhece como fundamentais, as palavras "Vigilância e Perseverança" nas metodologias do seu estágio de observação. Quem fala muito pensa pouco, ligeira e superficialmente, e a Maçonaria quer que seus membros sejam melhores pensadores do que faladores.

Todo este processo pretende, na sua essência, preparar e induzir ao Aprendiz a necessidade da reflexão como método de transformação interna. Embora indirectamente, é possível estabelecer vários paralelismos e interacções com o Catecismo do 1º grau, nomeadamente:

  • Quando o Aprendiz afirma vir “vencer as suas paixões, submeter a sua vontade e realizar novos progressos na Maçonaria”, logo seguido de “Porque um Maçon deve desafiar-se a si próprio e evitar juízos de valor antes de consultar a sabedoria dos irmãos”. O silencio proporciona-lhe um método de progressão e impõe-lhe uma prática de reflexão que o levará a ponderar os seus juízos de valor em função de conhecimentos que deve reconhecer como mais profundos.
  • Na resposta “Antes queria ter a garganta cortada do que revelar os segredos que me foram confiados”, que pressupõe não só dedicação e respeito pela Ordem, mas também a capacidade de responder ou reagir após um processo de interiorização e valoração, que a pratica do silencio poderá ajudar a tornar inconsciente e natural.
  • Na resposta “Porque todas as forças destinadas a desenvolverem-se utilmente no exterior devem primeiro concentrar-se em si mesmas”, em que claramente transparece a necessidade de um trabalho interior prévio em que o silencio pode e deve ser uma peça fundamental.

Se mais não houvesse para aprender na Maçonaria, o ter conhecido o valor do silencio e tudo aquilo que este me proporcionou, já teria valido a pena.

Partindo de um silencio imposto, cujas motivações se fundamentam na sabedoria milenar do grupo e que constitui como que um tirocínio para o recém iniciado, passa-se para uma fase de utilização em termos interiores do silencio, evoluindo finalmente para um estadio de admiração pelo silencio em que a imposição se transforma em voluntariado que assim se transforma em sabedoria, fechando o círculo e preparando o iniciado para novas fases da sua evolução e do seu crescimento interior.

A. Jorge em 27.04.6000

01 julho 2009

Os segredos de Rosslyn (III)

(... continuação)

O Segredo das Pedras

Tendo descoberto irrefutáveis evidências que um alto grau da Maçonaria era conhecido por William St Clair, começámos a olhar mais atentamente do que antes para os mínimos detalhes do intrincado interior e exterior esculpido de Rosslyn. Uma pequena, porém fantástica descoberta, era a gravação de dois homens, lado a lado. Apesar desta escultura exterior estar danificada pelas intempéries e possuir aproximadamente trinta centímetros de altura, pudemos observar muito bem a maior parte dos seus detalhes. Ela mostra um homem vendado com vestimentas medievais, ajoelhado e segurando na sua mão direita um livro com uma cruz na capa, tendo os seus pés colocados de modo a formar um esquadro. Em torno do pescoço do homem há um nó corrediço, sendo a ponta deste segurada por um segundo homem que estava veste um manto templário com a cruz distintiva mostrada no seu peito.

Quando descobrimos esta pequena gravação, procurámos Edgar Harborne, uma autoridade da Grande Loja Unida da Inglaterra. Somados, tínhamos aproximadamente setenta anos de experiência maçónica e sabíamos exactamente o que estávamos a olhar. Edgar estava empolgado e surpreso, assim como nós, pois não havia qualquer dúvida; esta era a imagem de um candidato à Maçonaria durante o processo de sua iniciação no ponto crítico de seu juramento de obrigação. A forma dos pés, o cordame, a venda, o volume da lei sagrada - esta imagem mostra um homem sendo admitido na Maçonaria cinco séculos e meio atrás! Ainda mais, esta pequena estátua era a primeira representação visual de um Templário conduzindo uma cerimonia que nós agora consideramos ser unicamente maçónica.

O facto de ela apresentar um Templário conduzindo um candidato implica que a escultura estava a demonstrar um evento histórico que datava do período templário, deste modo ela poderia estar a mostrar-nos uma cerimónia maçónica de setecentos anos de idade.

Dentro da edificação, nós analisamos cada uma das pequenas esculturas. Isto era difícil, devidoa, em algum ponto do passado recente, alguma alma caridosa ter cobrerto completamente o interior com uma massa de areia e cal numa mal sucedida tentativa de proteger o trabalho de cantaria, o que obscureceu os pequenos detalhes.

No alto de dois meio pilares construídos na parede meridional, com uma altura de aproximadamente três metros, nós descobrimos pequenas representações que eram extremamente interessantes. Uma destas com apenas alguns centímetros de altura mostra um grupo de figuras com uma pessoa transportando uma peça de tecido, que tem no centro a face de um homem barbado e com cabelos longos. A figura que transporta o tecido não tem cabeça e, uma vez que há poucos danos ao edifício, parece, como pensamos, que ela foi deliberadamente removida. Isto fez-nos olhar para outras cabeças e ficámos impressionados pela distintiva aparência de cada uma delas. As faces não são amenas ou anónimas, como normalmente se vêem em edifícios semelhantes; elas dão a impressão de que eram deliberadamente semelhantes a indivíduos conhecidos - quase como máscaras mortuárias em miniatura.

Só nos restava especular: esta pequena estatueta representa alguém segurando o Sudário de Turim?

Só existem duas explicações para tal imagem: é o Sudário de Turim que está sendo transportado ou é aquilo que conhecemos por "Veránica"?.

A lenda não-bíblica de Santa Verónica narra como uma mulher (frequentemente associada à Maria Madalena) deu o seu manto (em algumas versões o seu véu) a Jesus para enxugar a sua face quando ele estava a deixar o Templo ou no caminho do Calvário transportando a sua cruz. Quando esta tomou o manto de volta, neste havia a imagem da face miraculosamente impressa no tecido. Estudiosos modernos acreditam que o nome "Verónica" é derivado do latim vera e do grego eikon, significando "a verdadeira imagem". O nome e a ideia são um tanto suspeitos, uma vez que a Igreja Católica Romana não reconhece uma santa chamada Verónica. Apesar desta negação de beatificação, o "manto original" pode ser encontrado na Basílica de São Pedro na Cidade do Vaticano.

Isabel Piczek, uma artista que tem estudado o Sudário de Turim e que provou que este não poderia ser uma pintura, esteve numa visita não oficial para ver a Verónica na Basílica de São Pedro. Ela descreveu esta experiência ao pesquisador do Sudário, Ian Wilson:

Sobre ele estava um pedaço de tafetá colorido do tamanho de uma cabeça, do mesmo tipo do sudário, levemente acastanhado. Ele não parecia estar remendado, apenas uma mancha de cor ferrugem acastanhada. Parecia um pouco desigual, excepto por algumas descolorações trançadas... Mesmo com a melhor das imaginações, você não é capaz de deslumbrar qualquer rosto ou imagem dele, nem mesmo a mais leve sugestão disto.

Estávamos cientes que esta antes inexpressiva relíquia "sagrada", ou a ideia por trás dela, possa ser anterior ao advento do Sudário, mas não era certamente logo após as exibições públicas do Sudário de Turim em Lirey que a popularidade de uma imagem do rosto sagrado cresceu. O Padre Thurston, um historiador cristão, categoricamente estabelece que a lenda da Verónica, como apresentada na actual Estações da Via Dolorosa, não pode ser datada de antes do final do século XIV. Tal datação significaria que a lenda surgiu após a primeira exibição pública do Sudário de Turim em 1357.

A cabeça de Cristo tem sempre sido representada nos ícones como tendo longos cabelos repartidos ao meio e com uma barba espessa e quando um pedaço de tecido surgiu com tal representação poderia ter difundido a ideia de uma "Verónica".

A coluna seguinte em Rosslyn possui uma cena igualmente pequena que mostra uma pessoa sendo crucificada, mas estranhamente, uma vez mais a cabeça foi removida. Os únicos danos aparentemente deliberados que nós conhecemos na edificação são as das cabeças portando o rosto no tecido e da pessoa crucificada. É como se alguém sentisse a necessidade de ocultar a identidade por detrás destas imagens. Nós imaginamos se a pessoa que encobriu o pilar de Jachin com gesso também removeu as cabeças dessas figuras chaves?.

Se estes eram uma simples Verónica e uma representação padrão de Jesus na cruz, não haveria necessidade de desfigurar os principais rostos.

A figura crucificada não está pregada numa ideia normal da cruz cristã, onde a parte superior continuava afim da trave horizontal, mas numa cruz na forma de um Tau judaico que possuí a forma de um T. As representações cristãs medievais frequentemente mostram uma segunda trave representando a placa que com zombaria, proclamava Jesus como sendo o Rei dos Judeus - mas nunca mostra uma cruz Tau.

"Tau" é a última letra do alfabeto hebraico e, como a letra grega "Omega", representa o fim de algo, especialmente a vida. É também verdade que a maioria das crucificações romanas eram feitas em estruturas com este formato, mas nenhum construtor do século XV teria condições de saber isto. Parece que o criador desta pequena gravação ou era muito bem informado a respeito da metodologia das crucificações romanas ou estava deliberadamente utilizando a simbologia judaica para a morte. Aquando da pesquisa para o nosso livro anterior, nós tinhamos trabalhado com a ideia de que a imagem do Sudário de Turim poderia ser a do último Grão-Mestre dos Templários e, se as nossas suspeitas de que o Sudário de Turim é a imagem de Jacques de Molay estiver correcta, nós poderíamos esperar que William St Clair estivesse atento a este facto, uma vez que a sua família esteve intimamente envolvida com os Templários que tinham fugido para a Escócia após a queda da Ordem - mas por que é que ele está representado desta forma? Talvez o Sudário seja muito mais importante do que tinhamos pensado.

O corpo governante da Maçonaria Inglesa e Gaulesa, a Grande Loja Unida da Inglaterra, é enfático sobre o facto de nada ser conhecido ao certo sobre a história da organização anterior à fundação da Grande Loja de Londres em 1717. Tem sido crítico para nós sugerir que há uma história a ser descoberta para aqueles que escolheram procurar, e aqui, em Rosslyn, nós possuíamos provas positivas de que os rituais maçónicos são pelo menos duzentos e setenta e cinco anos mais antigos do que a história oficial da Maçonaria, como definida pela Grande Loja Unida da Inglaterra.

O nosso próximo passo de pesquisa era olhar atentamente para como e porque a Maçonaria Inglesa perdeu contacto com seu passado e estabelecer o que está sendo escondido, se for o caso, por trás de uma cega recusa em conhecer qualquer história anterior a 1717.

Conclusão

Parece que os Cavaleiros Templários conheciam o que estavam à procura quando iniciaram sua escavação de nove anos e o seu voto de obediência fortemente sugere que outros estavam envolvidos por detrás disto tudo.

Rosslyn é uma cópia deliberada das ruínas do Templo de Herodes com um projecto que é inspirado na visão de Ezequiel da nova "Jerusalém Celeste". As pistas para a compreensão da edificação estavam colocadas dentro do então secreto ritual do Grau do Santo Real Arco da Maçonaria. William St Clair utilizou este método para nos contar que a edificação é "o Templo de Jerusalém", "uma chave para um tesouro" e "um lugar onde algo precioso está oculto", ou "a própria coisa preciosa".

A grande parede ocidental de Rosslyn pode ser conclusivamente encarada como uma reconstrução de parte do Templo de Herodes, e o nome "Roslin" possui o surpreendente significado "o antigo conhecimento passado ao longo de gerações", quando compreendido a partir do gaélico. A razão para este nome não está clara, mas Henri St Clair de Roslin era excepcionalmente íntimo de Hugues de Payen, o líder dos primeiros Templários.

Uma gravação no exterior claramente mostra um candidato sendo iniciado na "Maçonaria" por um homem usando um traje templário, e uma inscrição dentro da edificação demonstra que os construtores estavam familiarizados com um dos altos graus da Maçonaria, trezentos anos antes da data anteriormente aceita de sua origem.

Uma gravação dentro da edificação parece mostrar o Sudário de Turim sendo transportado por alguém e uma outra que mostra a crucificação de uma pessoa sem cabeça numa cruz Tau judaica. Talvez o Sudário de Turim esteja directamente conectado à história que Rosslyn narra em pedra.

Tradução livre de Texto de Dr. Robert Lomas e Christopher Knight

Os autores:

  • Christopher Knight nasceu em 1950 e em 1971 concluiu os seus estudos formando-se em publicidade e desenho gráfico. Demonstrou um forte interesse no comportamento social e no sistema de crenças tendo por muitos anos actuado como analista de consumo envolvido no planeamento de novos produtos e nas suas estratégias de vendas. Em 1976 tornou-se Maçon e actualmente é presidente de uma agência de publicidade e marketing.
  • Dr. Robert Lomas nasceu em 1947 e graduou-se com honra em engenharia eléctrica, dedicando-se após isso a pesquisa no campo de física dos estados sólidos. Mais tarde trabalhou no sistema de direcção para os mísseis Cruise e esteve envolvido no desenvolvimento de computadores pessoais mantendo sempre o seu interesse sobre história da ciência. Actualmente lecciona no Centro de Administração da Universidade de Bradford. Em 1976 tornou-se Maçon e rapidamente se tornou um conceituado orador e palestrante sobre a história da Maçonaria nas Lojas da região de West Yorkshire.

30 junho 2009

Os segredos de Rosslyn (II)

(... continuação)

Plano de Rosslyn

Wilson iniciou um levantamento de toda a cidade de Jerusalém para a padronização do Levantamento de Artilharia em 1865 e, em Fevereiro de 1867, o tenente Warren chegou para empreender uma escavação dentro das galerias debaixo da área do Templo. Um dos diversos diagramas produzidos por Warren Ilustra o grau de dificuldade que eles encararam e ajuda a explicar o porquê dos Cavaleiros Templários terem levado nove anos para realizar as suas escavações.

A maior parte da edificação de Rosslyn foi projectada como uma interpretação da visão de Ezequiel da Jerusalém reconstruída ou "celeste" com suas muitas torres e pináculos. Uma das partes da edificação que é claramente diferente é a parede ocidental que foi construída em proporções maiores. A explicação oficial para esta escala maior é a de que a própria "capela" seria somente uma capela lateral de uma igreja colegiada muito maior. Os actuais guardiões de Rosslyn admitem que esta explicação é uma suposição, uma vez que não existem evidências de que esta fosse a intenção de William St Clair. Certamente, qualquer parede que permanecesse sozinha poderia ser parte de uma edificação que tenha sido praticamente demolida. Neste caso há uma terceira opção: a de que a parede seja uma réplica de uma edificação praticamente demolida, deste modo, nunca haveria uma outra parte - nem actual, nem pretendida.

Inicialmente, parecia ser assim, embora fosse impossível encerrar de modo conclusivo o debate.

Após a publicação do nosso livro anterior, estivemos em contacto com um grande número de pessoas, muitas das quais possuíam informações para nós ou estavam em posição de nos ajudar. Entre estas pessoas encontrava-se Edgar Harborne que é um conceituado Maçon, sendo um Past Grande Mestre de Cerimónias Assistente da Grande Loja Unida da Inglaterra.

Edgar é também um estatístico e integrava uma sociedade de pesquisa na Universidade de Cambridge, onde era patrocinado pelo Ministro da Defesa para analisar a rendição e os pontos cruciais dos campos de batalha. Ele foi capaz de confirmar que a nossa tese a respeito da morte de Seqenenre Tao, o rei da décima sétima dinastia do Antigo Egipto, era altamente plausível devido aos ferimentos que não eram totalmente típicos daqueles encontrados em antigas batalhas.

Edgar foi perspicaz ao visitar Rosslyn em companhia do seu bom amigo Dr. Jack Millar que é o director de estudos de uma famosa universidade. Felizmente para nós, Jack é um geólogo de considerável fama, com aproximadamente duzentas publicações académicas em seu nome.

No inicio de Agosto de 1996, Edgar e Jack voaram até Edimburgo onde nos encontrámos, numa sexta-feira à tarde, e imediatamente nos dirigimos para Rosslyn para uma avaliação do terreno como precursora de uma investigação de solo mais profunda. Lá, encontrámo-nos com Stuart Beattie, o director de projecto de Rosslyn, que gentilmente nos abriu o edifício. Edgar e Jack passaram algumas horas absortos pela beleza e complexidade da obra de arte, e então retirámo-nos para o hotel para discutir o nosso plano de acção para o dia seguinte. Ambos os homens estavam muito excitados e conversámos muito sobre o que tinhamos visto. Entretanto, Jack esperou até o café da manhã do dia seguinte para nos contar que ele tinha notado algo sobre a parede ocidental que ele acreditava que acharíamos interessante. Quando voltámos a Rosslyn ele explicou:

"Este debate sobre se a parede ocidental é uma réplica de uma ruína ou uma secção inacabada de uma edificação muito maior...", disse Jack, apontando para o lado do noroeste. "Bem, há somente uma única possibilidade - e eu posso assegurar-lhes que vocês estão correctos. Aquela parede ocidental é um disparate".

Nós ouvimos atentamente as razões que poderiam provar os nossos argumentos. "Há duas razões do porquê de eu poder assegurar que isto é um disparate. Inicialmente, enquanto aqueles suportes possuem uma integridade visual, os mesmos não possuem nenhuma integridade estrutural; a cantaria não está presa completamente à secção central principal. Qualquer tentativa de construir além teria resultado em um colapso estrutural... E o povo que construiu esta "capela" não era tolo. Eles simplesmente nunca pretenderam ir além". Nós olhámos para onde o Jack estava a apontar e pudemos ver que ele estava absolutamente certo.

Ele continuou: "Ainda mais, venham até aqui e dêem uma olhada nas pedras de canto". Jack andou até o canto e nós seguimo-lo, de modo que todos estivéssemos diante das desiguais paredes arruinadas que possuíam pedras projectando-se na direcção do ocidente. "Se os construtores tivessem interrompido o trabalho por causa da falta de dinheiro ou apenas para completarem posteriormente, eles teriam deixado um trabalho de cantaria perfeitamente esquadrinhado, mas estas pedras tinham sido deliberadamente trabalhadas para aparentar estarem danificadas - exactamente como uma ruína. Estas pedras não foram expostas às intempéries como aquela... Elas foram cortadas para parecerem com uma parede arruinada".

A explicação de Jack foi brilhantemente simples.

No início daquele ano, nós tinhamos trazido o Professor Philip Davies, do Departamento de Estudos Bíblicos da Universidade de Sheffield e o Dr. Neil Sellors, um colega de Chris, até a Escócia onde fomos convidados do Barão St Clair Bonde, um descendente directo de William St Clair e um dos conservadores da Capela de Rosslyn.

Nós dirigimo-nos à inacreditavelmente bela moradia do Barão em Fife onde nós fomos muito bem recebidos por ele e pela sua esposa sueca, Christina, e onde nos foi servida uma esplêndida refeição sueca e nos foi apresentado um outro conservador, Andrew Russell e sua esposa Trish.

Na manhã seguinte, fomos todos visitar Rosslyn onde o Professor Davies tinha marcado um encontro com seu velho amigo o Professor Graham Auld, o Reitor da Divindade da Universidade de Edimburgo. Os dois pesquisadores bíblicos estudaram a edificação por dentro e por fora e então dirigiram-se ao longo do vale para a ver de uma certa distância. Ambos os homens conheciam muito bem Jerusalém e de facto concluíram que a construção era um notável remanescente do estilo herodiano.

Olhando a partir do exterior da parede norte, Philip repetiu as suas impressões: "Este não se parece com qualquer lugar de veneração cristã. A impressão esmagadora é a de que foi construída para abrigar algum grande segredo medieval".

Juntando os argumentos destes conceituados académicos das universidades de Cambridge, Sheffield e Edimburgo, parece que nós tinhamos provado o nosso argumento de que Rosslyn foi projectada como uma réplica do Templo de Herodes.

O Barão St Clair apontou que mais de 50% do grande número de figuras esculpidas na edificação seguram rolos de pergaminhos ou livros e um pequeno friso é arrematado com uma cena que parece mostrar algo como rolos de pergaminhos a serem colocados em caixas de madeira com uma sentinela colocada portanto uma chave encimada com um esquadro. O esquadro é uma peça fundamental do simbolismo maçónico. Esta e outras evidências a partir das esculturas convenceram-nos de que os manuscritos dos Nazoreanos que nós já sabíamos terem sido removidos debaixo do Templo de Herodes pelos Cavaleiros Templários estavam aqui em Rosslyn.

Uma Linha de Conhecimento

Sempre nos impressionou, como uma forte curiosidade, que o nome da "capela" é escrita como Rosslyn, enquanto que o da vila em torno desta é escrita como Roslin. Ao pesquisarmos sobre esta diferença, foi-nos dito que se passou a escrever o nome com um duplo "s" e com "y" somente a partir da década de 1950 como uma forma de tornar o lugar um pouco mais celta.

Nós sabemos que os lugares com nomes celtas possuem sempre um significado, mesmo sendo estes muito cumpridos, como a vila gaulesa de Llanfairpwllgwyngethgogerwyllyndrobwllllantisiliogogogoch, e que contém uma completa descrição do lugar. (esta última significa: A Igreja de Santa Maria próxima ao rápido moinho d'água ao lado da côncava aveleira branca oposta à caverna vermelha de São Sílio). Assim, ficámos curiosos sobre o significado gaélico de "Roslin" que frequentemente tem sido explicada como uma queda dágua ou promontório, apesar desta não descrever o local nem agora e nem em qualquer época passada. As palavras comuns em gaélicos para promontório são roinn, rubha, maoil ou ceanntire e para queda d'água são eas ou leum-uisge. Um significado adicional para Ross, ocorrendo apenas em nomes de origem irlandesa, é promontório de madeira, que somente se poderia formar usando esta definição, se o nome possuísse conexões irlandesas (ou se os pesquisadores anteriores tivessem usado um dicionário gaélico-irlandês por engano).

Com fluência em gaélico, Robert sabia que o som fonético "Roslin" poderia ser escrito como "Rhos Llyn" que significa "lago acima do pântano". Sem ser surpreendente, entretanto, estas palavras oriundas de Gales não descrevem o lugar de forma melhor que as irlandesas e, deste modo, procuramos as duas sílabas num dicionário gaélico-escocês que nos forneceu a seguinte definição:

  • Ros: um substantivo que significa conhecimento.
  • Linn: um substantivo que significa geração.

Parece que em gaélico, Roslinn poderia ser traduzido por conhecimento das gerações.

Estamos certos de que confiar em dicionários resulta sempre em traduções curiosas e sendo assim, decidimos recorrer a alguém que realmente conhecesse a língua gaélica (correctamente conhecida por gaélica e nunca como gaulesa).

Durante uma visita à Grande Loja da Escócia em 1996, fomos apresentados à Tessa Ransford, a directora da Biblioteca de Poesia Escocesa em Edimburgo. Nós ficámos extremamente lisonjeados ao descobrir que ela, uma notável poetisa escocesa, tinha escrito um poema para louvar o nosso livro anterior. Um dos propósitos principais da Biblioteca é tornar acessível ao público a poesia da Escócia em qualquer língua que tenha sido escrita; isto significa que Tessa, que é casada com uma pessoa fluente em gaélico, se reunia regularmente com um grande número de pessoas que possuíam um conhecimento detalhado da língua.

Nós contactamos a Tessa e pedimos para ela verificar se a nossa interpretação do nome Roslin estava correcta e ela gentilmente concordou em discuti-la com especialistas desta língua. Alguns dias mais tarde, ela procurou-nos dizendo que a nossa tradução não tinha considerado uma significante pista contida na palavra "Ros" que mais correctamente carrega um significado que a faz ser mais especificamente ser "antigo conhecimento"; deste modo, a tradução que ela confirmava era mais precisamente: antigo conhecimento passado ao longo das gerações.

Tessa e os seus colegas estavam realmente excitados e nós estarrecidos com esta ainda mais poderosa interpretação que aparentava encaixar-se perfeitamente com o propósito de Rosslyn ser considerada como um santuário de antigos manuscritos.

A próxima questão era: quando é que a palavra "Roslin" ou "Roslinn" (uma vez que não havia uma padronização da escrita naqueles dias) foi usada inicialmente? Nós sabíamos que ela era anterior à construção da "capela" de William St Clair, o que poderia indicar que os manuscritos removidos debaixo do Templo de Herodes tinham sido mantidos no castelo antes da "capela" ter sido construída.

Através de uma breve investigação, rapidamente descobrimos que a história dos St Clair, na Escócia, iniciara-se com um cavaleiro chamado William St Clair que popularmente era conhecido como William, o Gracioso. William era natural da Normandia e a sua família era conhecida oponente do Rei Guilherme I, o normando que conquistou a Inglaterra em 1066. William St Clair considerava que ele possuía um bom motivo para reivindicar o trono da Inglaterra através de sua mãe Helena, que era filha do quinto Duque da Normandia, uma vez que Guilherme, o Conquistador, era o filho ilegítimo de Roberto, Duque da Normandia, com a filha de um curtidor que se chamava Arletta. A família St Clair ainda se refere ao Rei Guilherme I simplesmente como Guilherme, o Bastardo.

William, o Gracioso, foi o primeiro St Clair a mudar-se da Normandia e naturalmente falava apenas o francês, mas o seu filho Henri foi educado sob a forte regra celta de Donald Bran e, deste modo, falava o gaélico tão bem como o francês normando (assim como todos os St Clair posteriores até o tempo de Sir William, o construtor da "capela"). Nós descobrimos que foi este Henri St Clair quem primeiro portou o título de Barão de Roslin, logo após ter voltado da Primeira Cruzada.

Esta data foi um grande desapontamento para nós uma vez que ela desestruturou a nossa bela teoria. Henri teria voltado da Cruzada por volta do ano 1100, oito anos antes dos Templários iniciarem suas escavações, e deste modo o nome Roslin (antigo conhecimento passado ao longo das gerações) não poderia ser uma referência aos manuscritos que nem ainda tinham sido descobertos. Contudo, nós reflectimos e pensámos que tinhamos descoberto algo novo e muito importante para a nossa pesquisa. Nós recusávamo-nos a acreditar que seria uma mera coincidência o facto de Henri ter usado um nome de tal significado para o seu novo título e, sendo assim, começámos a pesquisar em busca de novas pistas.

Logo após, descobrimos que Henri St Clair tinha lutado nas Cruzadas e marchado para Jerusalém ao lado de Hugues de Payen, o fundador dos Cavaleiros Templários. Além disso, após Henri ter escolhido "Roslin" como seu título, Hugues de Payen casou-se com a sobrinha de Henri e foram-lhe dadas terras na Escócia como um dote. As conexões estavam além da controvérsia, mas o que é que elas significavam? Henri estava, através da escolha de seu título, sinalizando que possuía um conhecimento especial da antiga tradição, ou era, talvez, apenas uma partida pregada por Henri para seu próprio divertimento? Parece que a nossa intuição de que o os nove Cavaleiros que formavam os Templários sabiam o que estavam procurando estava correcta, mas nós não poderíamos imaginar como eles poderiam saber o que estava enterrado sob o Templo de Herodes. Talvez, um melhor estudo da edificação revelaria alguma pista.

Os Cavaleiros da Cruz Vermelha da Passagem da Babilónia

A nossa descoberta de que Rosslyn possuía conexões incontestáveis com os graus da Maçonaria moderna causou muito interesse após a publicação d'A Chave de Hiram e muito pesquisadores nos procuraram. Um deles era um historiador maçónico da Bélgica chamado Jacques Huyghebaert. Jacques enviou-nos um e-mail perguntando-nos sobre a origem da inscrição em latim gravada no arco da Capela de Rosslyn que tinhamos mencionado no nosso livro. Traduzida ela significa:

O VINHO É FORTE,

UM REI É MAIS FORTE,

AS MULHERES SÃO AINDA MAIS FORTES.

MAS A VERDADE CONQUISTARÁ A TODOS.

Este estranho lema é a única inscrição original em toda construção e era claramente de muita importância para William St Clair na década de 1440.

A mensagem electrónica de Jacques dizia:

Vocês poderiam me fornecer a versão original em latim desta inscrição que está esculpida no Santuário de Rosslyn? Vocês seriam capazes de a datar?

... Vocês conhecem um grau [maçónico] complementar que se ocupa da relação entre Vinho, Reis, Mulheres e a Verdade?

Este grau é chamado de "Ordem dos Cavaleiros da Cruz Vermelha da Babilónia" ou da "Ordem do Caminho da Babilónia" e na Inglaterra está intimamente relacionado ao Real Arco.

... O seu ritual é baseado no Livro de Esdras e os eventos que ocorreram durante o Cativeiro da Babilónia... De acordo com a lenda maçónica deste grau, Zorobabel, o Príncipe de Judá, solicitou uma audiência no Palácio na Babilónia, de modo a obter permissão para reconstruir o Templo do Altíssimo em Jerusalém.

O Rei da Pérsia, demonstrando a sua boa vontade sobre esta permissão, disse "que tem sido um costume desde tempos imemoriais, entre os Reis e os Soberanos desta região, em ocasiões como esta propor certas questões". A questão que Zorobabel deveria responder era: "Qual delas é a mais forte, a Força do Vinho, a Força dos Reis ou a Força das Mulheres?"

Nós estávamos muito empolgados com as boas novas e respondemos a Jacques, dizendo que a existência desta inscrição em Rosslyn e o seu uso num alto grau da Maçonaria deveria estar além da coincidência. Ele respondeu-nos:

rosslyn_chapel_ap_col_6733Como vocês disseram, isto deve estar além da coincidência. Entretanto, eu recomendaria sermos cautelosos... Vocês poderiam verificar se esta inscrição não foi esculpida por um "espertinho" no século XIX ou XX, que tinha conhecimento deste grau, e a adicionou discretamente durante um recente trabalho de restauração?

Se, entretanto, por acaso a inscrição em latim em Rosslyn provar ser mais ANTIGA do que 1700, então não haverá dúvida de que vocês fizeram uma GRANDE DESCOBERTA, pois esta seria a primeira prova irrefutável de que os rituais dos altos graus eram trabalhados na Escócia tempos antes do seu lugar geralmente aceito e do seu período de criação: em França, após o ‘Discurso" do Chevalier Ramsay, isto é, a partir da década de 1740.

Imediatamente contactámos Judy Fisken, que era a curadora de Rosslyn àquela época, para estabelecer a origem da inscrição. Judy informou-nos que a pedra na qual a inscrição se encontrava gravada era uma parte intrínseca da estrutura da edificação e que ela estava certa de que as palavras gravadas datavam da construção da "capela", em meados de 1400. Assim, escrevemos a Jacques:

"As hipóteses da inscrição em latim ser uma adição posterior são iguais a zero. Nenhuma área do interior foi deixada sem ser esculpida e estas palavras não foram certamente sobrescritas a qualquer outra existente. O tipo de fonte certamente corresponde a do século XV. Também até 1835, a conexão maçónica com o edifício não era ainda amplamente conhecida para que alguém tivesse embocado sobre o pilar Jachin, fazendo parecer exactamente como os demais pilares, de modo que o significado maçónico dos pilares gémeos fosse escondido".

Uma noite, nós discutimos esta abordagem com Philip Davies e na manhã seguinte dirigimo-nos ao escritório de Chris com uma fotocópia dos dois Livros de Esdras que fazem parte apócrifa da Bíblia. Nós mantivemos Jacques a par das nossas pesquisas.

O Professor Philip Davies veio junto de nós com uma tradução completa do Livro de Esdras. A parte que nos interessou não é muito extensa, mas muito curiosa! Acredita-se que no texto original não havia o termo a "verdade" que fora adicionado posteriormente por um autor judeu.

O Rei tinha pedido à sua guarda pessoal para dizer o que era a coisa mais forte e contou-lhes que aquele que fornecesse a resposta mais sábia tornar-se-ia um igual ao Rei e desfrutaria de grandes riquezas. O homem que disse "a verdade é a mais forte" é feito nobre e então diz ao Rei:

"Lembrai de vosso juramento que fizestes um dia quando vós vos tornastes Rei, construir Jerusalém, e que enviaria de volta todos os vasos sagrados que foram tomados de Jerusalém que Ciro havia protegido quanto destruiu Babilónia e que prometera enviar para lá. Vós também jurastes construir o Templo que os Edomitas queimaram quando a Judeia caiu diante dos Caldeus".

Isto era importante para William St Clair, pois Rosslyn era a sua reconstrução do Templo, baseada no modelo do Templo de Herodes e na visão de Ezequiel da Nova Jerusalém.

Como você disse, tudo isso não pode ser coincidência.

rosslyn_chapel_ap_col_2398Neste meio tempo, nós tinhamos inquirido os nossos companheiros Maçons por qualquer informação sobre o ritual dos Cavaleiros da Passagem da Babilónia e descobrimos a nossa primeira referência numa publicação maçónica.

Cruz Vermelha da Babilónia: O mais profundo e místico dos Graus Maçónicos

Associados, este grau é similar aos graus 15º (Cavaleiro da Espada ou do Oriente), 16º (Príncipe de Jerusalém) e 17º (Cavaleiro do Oriente e do Ocidente) do Rito Escocês Antigo e Aceito. Os três pontos ou partes da cerimónia descendem de três dos graus praticados nos meados do século XVIII. Parte da cerimónia é semelhante à Passagem dos Véus dos ritos escoceses e do Campo de Balduíno... Para ser um membro dos Graus Maçónicos Associados você deve ter sido tanto um Maçon do Real Arco, como um Mestre Maçon da Marca.

Agora que sabíamos que o grau existia sob os auspícios do Grande Capítulo, rapidamente localizámos o ritual e este era uma fascinante leitura. O "Campo de Balduíno", pensámos inicialmente, parecia ser uma referência ao acampamento dos Cavaleiros Templários no terreno arruinado do Templo de Herodes sob os auspícios do Rei Balduíno de Jerusalém, mas logo aprendemos que estava associado com um antigo grupo de Maçons de Bristol.

O título completo do grau é Cavaleiro da Cruz Vermelha da Babilónia ou da Passagem da Babilónia. Ele consiste em três dramas ritualísticos, ou pontos, que narram três incidentes retirados dos capítulos 1-6 do Livro de Ezra, dos capítulos 2-7 do Livro de Esdras e dos capítulos 1-4 do Livro 11 d'As Antiguidades dos Judeus, de Josephus.

Este grau narra detalhadamente os motivos e os propósitos da reconstrução do Templo de Jerusalém. O líder do grau, conhecido como Mui Excelente Chefe, marca o exacto ponto na abertura do grau quando ele propõe a seguinte questão:

  • Excelente Primeiro Vigilante, que horas são?

Ele recebe a seguinte resposta:

  • A hora da reconstrução do Templo.

O ritual prossegue dizendo que Dario concordou em apoiar Zorobabel, o Príncipe de Judá, e emite um edito que permite a reconstrução do Templo e "ainda mais, os vasos de ouro e prata que Nabucodonosor tinha tomado serão restaurados e colocados em nos seus devidos lugares". Neste ponto da cerimónia, Dario nomeia o candidato, que faz o papel de Zorobabel, um cavaleiro do Oriente, e dá-lhe uma fita verde ornada com ouro o que significa a iniciação nos mistérios secretos.

Antes de ser permitido a Zorobabel deixar a corte de Dario e retomar a sua tarefa de reconstrução do Templo, é-lhe colocado (e a mais dois companheiros) um enigma por parte de Dario, cuja resposta correcta os cobrirá de grande prestígio e honra:

O grande Rei faz através de mim conhecido o seu contentamento e deste modo cada um de vós três dará a sua opinião em resposta à questão. O que é mais forte, o Vinho, o Rei ou as Mulheres?

O ritual então conta-nos as três respostas que foram dadas ao enigma de Dario. O primeiro jovem disse que o vinho era o mais forte porque ele podia alterar a mente e o humor de qualquer um que o bebesse; o segundo jovem disse que o Rei era o mais forte, pois, mesmo os soldados eram obrigados a lhe obedecer. Na vez do candidato Zorobabel falar, o ritual coloca as seguintes palavras na sua boca:

Ó, Senhores, é verdade que o vinho é forte, bem como os homens e o Rei; mas quem controla a todos? Certamente, as Mulheres. O Rei é o presente de uma mulher. As mulheres são as mães daqueles que trabalham nos vinhedos que produzem os vinhos. Sem as mulheres, os homens não podem existir. Um homem faz de facto coisas tolas pelo amor de uma mulher; dá a ela valiosos presentes e, algumas vezes, mesmo vende-se a si mesmo à escravidão por sua saúde. Um homem deixará o lar, o país e os títulos de nobreza pelo seu bem.

Ó, Senhores, não são as mulheres fortes, haja visto o que elas podem fazer?

Mas nem as Mulheres, o Rei ou o Vinho são comparáveis à poderosa força da Verdade. Como todas as outras coisas, eles são mortais e transitórios; mas somente a Verdade é imutável e eterna. Os benefícios que dela recebemos não variam com o tempo e com a fortuna. No seu julgamento não há injustiça; e ela é a sabedoria, a força, o poder e a majestade de todas as épocas.

Abençoado seja o Deus da Verdade.

Grande é a Verdade e poderosa é sobre todas as coisas!

Em face de tal evidência, ninguém pode negar que William St Clair era conhecedor deste grau maçónico que, até o presente momento, se acreditava inicialmente ter sido praticado após 1740. Ele é pelo menos trezentos anos mais antigo - e nós em breve descobriríamos evidências que o dataria para mais longe ainda.

(continua ...)

29 junho 2009

Os segredos de Rosslyn (I)

Iniciamos hoje a publicação em três partes de um artigo bastante curioso e cujo conteúdo pode ser polémico. Não reflete a opinião dos membros do Blog, mas unicamente a dos seus autores. As partes restantes serão publicadas na terça e na quarta-feira

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A pequena vila de Roslin localiza-se a aproximadamente quinze quilómetros ao sul de Edimburgo através da estrada para Penicuik, sendo famosa por três razões:

  • uma fazenda estatal experimental que tem produzido pares de ovelhas geneticamente clonados;
  • as ruínas de um castelo que foi destruído pelo Exército dos Roundheads quando a Guerra Civil Inglesa se espalhou até à Escócia;
  • uma não muito usual capela medieval.

A construção da Capela de Rosslyn foi iniciada em 1440 e tem demonstrado ser o mais antigo monumento que possui claras conexões com a Maçonaria moderna, os Cavaleiros Templários e a Jerusalém do primeiro século.

rosslyn_chapel_02Para compreender Rosslyn, temos que compreender os Cavaleiros Templários que eram, sem dúvida, a mais famosa ordem de guerreiros cristãos surgida no período medieval ou em qualquer outro. Estes monges guerreiros possuíam uma improvável concepção, uma existência controversa e um legado espectacular; todas essas características asseguraram que eles encontrassem o seu lugar dentro de mais de uma lenda. Factos extraordinários a respeito das façanhas dos Templários têm levado a que a fantasia e a realidade se confundam, não se sabendo exactamente qual é uma e qual é a outra.

Do mesmo modo que é completamente verdadeiro que muito de absurdo tem sido escrito a respeito dos Templários, seria absurdo admitir que eles eram apenas uma ordem comum que apenas surgiu para captar a imaginação de um número sem fim de tipos esotéricos. No mínimo, os Templários seriam qualquer coisa, menos comuns.

De acordo com avaliações aceites, esta bem sucedida e enorme ordem surgiu quase que por acidente em 1118, logo após a morte do primeiro rei cristão de Jerusalém, Balduíno I, e a sucessão por seu primo, Balduíno II. Costuma-se dizer que este novo rei foi procurado por nove Cavaleiros franceses que aparentemente o informaram que desejavam ser voluntários como uma audaciosa força de defesa para proteger os peregrinos dos bandidos e assassinos que havia nas estradas da Terra Santa. A história regista que o recém empossado rei imediatamente os alojou no sítio do Templo de Salomão e pagou o seu sustento por nove anos completos. Em 1128, apesar do grupo nunca ter se afastado do Monte do Templo, foram elevados à categoria de Ordem Santa pelo Papa pelos seus valorosos serviços na protecção dos peregrinos por toda uma década. Foi neste memento, que eles formalmente adoptaram o nome de Ordem dos Pobres Soldados de Cristo e do Templo de Salomão, ou simplesmente, "Os Cavaleiros Templários". Este reduzido grupo de homens medievais foi repentinamente posicionado como o exército de defesa oficial da Igreja Romana na Terra Santa. As hostes sarracenas devem-se ter divertido muito com isto!

As coisas mudaram rapidamente. Dentro de poucos anos, o bando de maltrapilhos que tinha acampado nas ruínas do Templo dos judeus, miraculosamente transformou-se numa esplendorosa, fabulosa e saudável Ordem que viria a ser os banqueiros dos reis da Europa.

Nós acreditamos que os registos dos livros de História sobre o surgimento dos Cavaleiros Templários são demasiado "simples" e, deste modo, precisávamos descobrir o que realmente ocorreu na segunda década após a Primeira Cruzada.

No nosso último livro, chegamos à conclusão de que os Templários não tinham protegido peregrinos, pois gastaram o seu tempo a escavar debaixo do Templo arruinado, à procura de algo, possivelmente o tesouro de Salomão. De facto, outros chegaram a conclusões similares antes de nós.

rosslyn_chapel_entryA verdadeira tarefa dos nove Cavaleiros era empreender buscas na área, de modo a obter certas relíquias e manuscritos que contivessem a essência da tradição secreta do Judaísmo e do antigo Egipto, alguns dos quais provavelmente remontassem à época de Moisés.

Em 1894, quase oitocentos anos após os Templários terem iniciado a escavação sob as ruínas do Templo de Jerusalém, os seus túneis secretos foram novamente sondados, nesta época por um contingente do exército britânico liderado pelo tenente Charles Wilson, membro dos Engenheiros Reais. Eles nada descobriram sobre os tesouros escondidos pela Igreja de Jerusalém, mas nos túneis cavados séculos antes, encontraram parte de uma espada templária, uma espora, restos de uma lança e uma pequena cruz templária.

Todos esses artefactos estão agora em poder de Robert Brydon, um arquivista templário na Escócia, cujo avô fora amigo de um certo Capitão Parker que tomou parte nesta e noutras expedições que escavaram debaixo do sítio do Templo de Herodes. Numa correspondência escrita enviada ao avô de Robert Brydon em 1912, Parker relata a descoberta de uma câmara secreta debaixo do Monte do Templo com uma passagem que ligava à Mesquita de Omar. Ao surgir dentro da mesquita, o oficial do exército britânico teve que fugir dos irados sacerdotes e fiéis para não morrer.

Não há dúvida de que os Templários de facto realizaram escavações maiores em Jerusalém e a única questão que nós precisávamos considerar era: o que é que os levou a empreenderem tal enorme projecto e o que é que descobriram? Quando estávamos a escrever o nosso último livro, embora estivéssemos convencidos de saber o que eles tinham descoberto, apenas podíamos especular que a motivação para toda esta aventura deveria ter sido uma caça ao tesouro.

Considerámos o mútuo juramento de aliança que os nove Cavaleiros estabeleceram no início de sua escavação, dez anos antes de se estabelecerem como a Ordem dos Cavaleiros Templários. Diversos livros sobre os Templários usualmente estabelecem que o compromisso era uma promessa de "castidade, obediência e pobreza" - que soa mais como um voto para monges do que para um pequeno grupo independente de Cavaleiros. Contudo, quando o juramento é analisado na sua origem latina, é traduzido por "castidade, obediência e manutenção de toda propriedade em comum".

Existe uma clara diferença entre jurar nada possuir e jurar compartilhar toda a prosperidade em comum - e prosperidade é o que eles obtiveram em pouquíssimo tempo!

Nós, entretanto, permanecemos intrigados pela natureza muito religiosa deste mútuo juramento. Outros observadores têm comentado sobre isto, pois sabem com certeza que os Templários, de facto, se tornaram uma ordem de monges guerreiros, mas como é que estes nove Cavaleiros saberiam o que iria ocorrer dez anos mais tarde? Muitas questões precisavam ser respondidas:

  1. Por que eles precisavam abraçar a "castidade" numa época em que os padres católicos romanos não o faziam?
  2. Porque é que um pequeno grupo de homens completamente independente precisou realizar um juramento de obediência e a quem é que eles planeavam serem obedientes?
  3. Se eles eram meros caçadores de tesouros, porque pretenderiam compartilhar toda a propriedade em comum quando o método usual seria o de dividir o espólio?

Para responder apropriadamente a estas questões, seria necessário conhecer um pouco mais a respeito das circunstâncias deste pequeno grupo de cavaleiros que se reunira em Jerusalém em 1118. Nós claramente sentimos que algo estava errado e nosso principal temor era que a verdade pudesse ter-se perdido ao longo dos séculos e que nós nunca conseguiríamos esclarecer as motivações destes homens.

Sentíamos que a conclusão razoável a respeito da segunda questão sobre a necessidade de "obediência" fortemente sugeria que outras pessoas deveriam estar envolvidas e que deveria haver um plano mais elaborado do que uma simples caça ao tesouro. Os três votos quando colocados juntos serviam mais aos padres do que aos Cavaleiros. Convem relembrar rapidamente o estilo de vida dos homens da comunidade dos Essénios descritos nos Manuscritos do Mar Morto: uma existência ascética que igualmente se aplicava aos líderes da Igreja original de Jerusalém que originalmente havia enterrado os manuscritos e os tesouros que os Templários descobriram.

rosslyn_chapel_ceiling_23655A partir de nossas pesquisas prévias, acreditamos que os manuscritos encontrados pelos Templários agora residem debaixo da Capela de Rosslyn na Escócia.

Um Santuário Templário

A Capela de Rosslyn está protegida por uma pequena estrada lateral passando por entre duas excelentes estalagens que somente pode ser notada por aqueles que se aventuram pela vila de Roslin. É difícil ver muito da edificação à primeira vista, uma vez que ela está obstruída por árvores e muros altos ao longo do lado norte, mas que estranhamente proporciona uma rápida visão da parede ocidental com as suas duas bases de colunas no ponto mais alto.

A entrada faz-se através de uma pequena cabana, onde lembranças podem ser compradas e onde é servido chá com biscoitos. Assim que se cruza a porta dos fundos da cabana, o esplendor desta curiosa e única capelinha é imediatamente óbvio e leva-se nada menos que alguns minutos para se perceber que esta é nada menos que um texto medieval escrito em pedra.

rosslyn_chapel_ceilingA proeza artística de William St. Clair não é semelhante a nada que nós já tenhamos visto anteriormente e nunca nos tinhamos encantado tanto com a aura gerada no interior e exterior celestialmente esculpidos. Como uma obra arquitectónica, ela não é particularmente graciosa, nem as suas dimensões físicas impressionam, mas mesmo assim instintivamente sente-se que este é um lugar muito especial.

Nós não encontramos nada de cristão nesta assim chamada "capela", uma observação que tem sido realizada por muitos observadores conhecidos por nós, desde então. Há uma estátua de Maria com um menino Jesus, um baptistério com fonte, alguns vitrais com alegorias cristãs, mas tudo isto são intrusões vitorianas ocorridas quando a capela foi consagrada pela primeira vez. Estes actos de "vandalismo" foram muito significativos, mas mal concebidos, uma vez que eles não puderam retirar a magnificência anterior da celestial edificação originariamente esculpida.

Esta construção cuidadosamente planejada não foi somente construída sem um baptistério, não possuía nenhum espaço para um altar no seu lado oriental e uma mesa de madeira hoje em dia serve para esse propósito no centro de um simples salão. A História regista que não foi consagrada até que a Rainha Vitória a visitasse e sugerisse que a mesma fosse transformada em uma igreja.

Construída entre os anos de 1440 e 1490, a estrutura é coberta por uma combinação de motivos celtas e templários que são instantaneamente reconhecidos pelos modernos Maçons. Preparados com um detalhado senso das antigas origens da Maçonaria, nós começamos a perceber que existem pistas precisas e secretas impressas na construção da edificação que estabelecem uma ligação sem qualquer dúvida entre o Templo de Herodes e esta maravilha medieval.

Há apenas dois salões: um salão principal e uma cripta que é acessível via uma escadaria no lado oriental. O salão possui catorze pilares, doze dos quais são iguais, mas os localizados no sudeste e no nordeste são únicos, ambos esplendorosamente esculpidos com diferentes desenhos. Frequentemente tem sido dito que estes pilares representam aqueles que existiam no átrio interior do Templo de Jerusalém e que são hoje em dia muito importantes para os Maçons.

Um exame mais atento revela-nos que a parede ocidental e a totalidade do piso foram projectados como uma cópia das ruínas do Templo de Salomão e a super estrutura acima do pavimento térreo e além da parede ocidental era uma interpretação da visão sobre a Jerusalém Celeste feita pelo profeta Ezequiel.

Os pilares principais - Boaz e Jachin - são posicionados precisamente do mesmo modo que aqueles existentes em Jerusalém. Nós sabíamos que o ritual do grau maçónico conhecido como Santo Real Arco descreve a escavação das ruínas do Templo de Salomão e claramente estabelece que deveriam haver dois esplendorosos pilares no lado oriental e mais doze de concepção idêntica exactamente como encontramos em Rosslyn.

Percebemos então, que o layout dos pilares formava um perfeito tríplice Tau (três formas de "T" unidos), exactamente como o descrito no ritual maçónico. Além do mais, de acordo com o grau do Santo Real Arco, também deveria haver um "Selo de Salomão" (idêntico à Estrela de David) fixado ao tríplice Tau e uma inspecção mais acurada revelou que toda a geometria da edificação era de facto construída em torno desse desenho.

Quando construiu Rosslyn, William St. Clair inseriu estas pistas e colocou o significado da descodificação deles dentro dos então rituais secretos do grau do Santo Real Arco. Através do ritual maçónico, ele explicou anos mais tarde o que ele estava a tentar dizer:

O tríplice Tau significa, entre outros significados ocultos, Templum Hierosolyma - o Templo de Jerusalém. Ele também significa Clavis ad Thesaurum - uma chave para um tesouro - e Theca ubi res pretiosa deponitur - Um lugar onde algo precioso está oculto - ou Res ipsa pretiosa - A própria coisa preciosa.

Esta era uma profunda confirmação de nossa tese de que Rosslyn era uma reconstrução do Templo de Herodes. Nós imediatamente imaginamos se este ritual da Maçonaria continha essas palavras para o único propósito de revelar o significado de Rosslyn ou se Rosslyn havia sido projectada neste formato para se confrontar com os conhecimentos mais antigos? Nesse momento isto não importava, pois estava claro para nós que William St, Clair era o homem que tinha estado envolvido em ambos. A definição maçónica do "Selo de Salomão" transcreve-se a seguir:

A Jóia de Companheiro do Real Arco é um triângulo duplo, muitas vezes chamado de Selo de Salomão, inscrito num círculo de ouro; na base há um rolo de pergaminho onde constam as seguintes palavras Nil nisi clavis deest - Nada é desejada a não ser a chave - e no círculo aparece escrito, Si tatlia jungere possis sit tibi scire posse - Se vós pudestes compreender estas coisas, vós conhecestes o suficiente.

rosslyn_chapel_entryWilliam St Clair tinha cuidadosamente escondido esta escrita secreta dentro dos rituais da Maçonaria, que devem ter existido anteriormente a 1440. Neste ponto, nós sabíamos que era certo que o arquitecto deste "Templo de Yahweh" escocês tinha inserido as suas próprias definições para estes antigos símbolos para que alguém num futuro distante pudesse "virar a chave" e descobrir os segredos de Rosslyn.

Os nove Cavaleiros originais que cavaram debaixo dos escombros do Templo de Herodes cuidadosamente mapearam as fundações abaixo do solo, mas eles não possuíam nenhuma condição para saber como a principal super estrutura se parecia, excepto pela secção da parede ocidental que ainda existia em pé naquele tempo. As principais paredes de Rosslyn equiparavam-se exactamente com a linha de paredes do Templo de Herodes descobertos pela expedição do exército britânico liderada pelo tenente Wilson e pelo tenente Warren, membros dos Engenheiros Reais.

(Continua...)

26 junho 2009

Demagogia ? Dêem-lhe o desconto...

Demagogia ? Pois, se calhar há alguma.
Em todo o caso desafio-vos a darem um desconto, mesmo que seja grande, e ainda ficarão com muita, muita verdade.
Às 6ª.s feiras começa a tornar-se uma fatalidade terem de levar comigo para o fim de semana.
A questão está na crise... É..., também estou em crise. É assim, toca a todos, mesmo aos que gostam de rir e de levar numa levezinha mesmo quando as coisas são um tanto mais pesadas.
E o blog serve também para isto.
Esta semana não correu bem !
Na 2ª. feira entrei num restaurante cá do burgo (para o Rui é o das iscas...) e dei de caras com um amigo de curta data, mas a quem devo um dos empurrões mais desinteressados que já tive na vida. Sem me conhecer, sem nunca me ter visto (pelo menos que eu saiba) entendeu defender uma causa em que me meti, resolvendo-a num "berro", ele que é uma pessoa calma, muito pacato, nada de ribalta. Só que no momento em que a coisa tomou ar de escândalo (teve a ver com o direito à liberdade de informação) entendeu meter-se e a sério, de tal forma que tudo se calou e o assunto ficou resolvido.
Pois foi esse amigo que encontrei no tal restaurante, almoçando com a esposa e uma amiga, aparentemente sem qualquer problema (estavam sentados à mesa).
A questão surgiu-me de repente quando ao levantar-se teve de ser amparado pelas 2 mulheres e mais um empregado do restaurante. Aí percebi que algo se passara no último mês, intervalo de tempo em que o encontrara na rua, sózinho, em passeio higiénico como ele me disse.
Não é um homem novo, mas os Homens não têm idade. E este tem a idade da quantidade de rasteiras que a vida lhe foi passando.
Passemos ao nosso "bonequinho" do fim de semana.
É ao conteúdo deste "bonequinho" que eu me refiro no título. Muitos políticos pagariam para serem eles a aparecer no vídeo (no lugar da Allanis) mas desta vez ficaram de fora.
Em época de eleições seria um bombom ! Seria uma caixa inteira de bombons !


Façam o favor de ser felizes. Bom fim de semana.

J.P.Setúbal

24 junho 2009

O sítio do poeta que é Grão-Mestre

Ser Grão-Mestre da GLLP/GLRP não impede Mário Martin Guia de manter a sua atividade de criação.

Maçonaria é também amor pela cultura.

Mário Martin Guia é, além de um homem (muito) bem humorado, um poeta bem disposto. Vale a pena lê-lo. E agora nem sequer é preciso ir procurar e adquirir os seus livros. Conforme a informação abaixo, Martin Guia criou o sítio www.martinguia.com, onde, além de poder ler e ouvir alguns dos seus poemas, pode descarregar os livros que até agora publicou.




Do texto de divulgação do sítio:

Informamos que o nosso I:. Mário Martin Guia tem desde o dia 10 de Junho o Site "www.martinguia.com" onde poderão encontrar todos os livros que já publicou completos e no formato em que foram editados. Se quiser um dos livros bastará fazer o seu download.

Contém também poemas seus ditos por diversos poetas e uma secção de foto poemas com fotografias tiradas pelo autor acompanhadas de poemas que as mesmas suscitaram.

Além destas Secções tem uma outra para poemas de Amigos do Autor disponível para qualquer Irmão que deseje fazer a divulgação da sua Obra, bastando para o efeito contactar Francisco Queiroz (francisco.queiroz@martinguia.com) para que no Site seja aberta uma Secção Específica encabeçada pela respectiva fotografia.

Qualquer comentário poderá ser recebido de volta clicando em Comentários.

Quem quiser receber a notificação das novidades do Site deve registar-se para o efeito (ver Front Page).

Rui Bandeira

22 junho 2009

Solsticio de Verão

Este ano quase que coincidia, o dia do Solsticio com a realização da reunião de Grande Loja. Quase porque a Reunião aconteceu no sabado.

Este ano e com uma simplicidade absoluta, reunião decorreu sem sobressaltos nem problemas. Trataram-se os assuntos que careciam de atenção, resolvendo-os.

As Lojas fizeram-se representar de acordo com o definido e o Grande Templo não tinha um unico lugar vazio, estando assim presentes mais de 150 Irmãos.

O MRGM Mario Martin Guia na sua breve alocução abordou o trabalho realizado desde o inicio do seu segundo mandato, dando indicações sobre o trabalho a realizar de agora em diante.

Foi também assinalado mais um aniversário da constituição da GLLP / GLRP.


José Ruah

19 junho 2009

O velho é chato...

O tempo está quente e não sopra uma aragem.
Mesmo bom para um tempinho no parque.

O Jean Pierre trouxe-nos à recordação o Kipling a propósito do qual o Nuno Raimundo recordou o famosíssimo "IF"...

Vem mesmo a "talhe de foice" !

Para um fim de semana que se prevê muito quente e a convidar às sombras dos parques (os que as têm) aqui fica uma página do "diário" que certamente é comum a muitos.
Na certa é comum a todos os que são Pais.



No parque, na praia ou a trabalhar (é... vai acontecer a vários, vai !), tenham um bom fim de semana.
Cuidado com o Sol, com o fogo... e com o resto.

JPSetúbal

18 junho 2009

Crónicas da Polónia - Rudyard Kipling




A minha Loja em Varsóvia é composta por obreiros francófonos (Europeus, Africanos e alguns Polacos) e trabalhamos no REAA com os Rituais da GLNF

Temos Irmãos radicados na Polónia e outros, expatriados pelas suas empresas. Estes últimos, dos quais faço parte, irão permanecer somente alguns anos antes de voltar para os seus países de origem ou, então, para outra expatriação.

O nosso Segundo Vigilante, de nacionalidade Belga, deixará a Polónia nos próximos dias para um novo desafio profissional no Líbano.

Decidi, na ocasião da última sessão na qual o nosso Irmão irá participar, ler um texto de Rudyard Kipling, «a Loja-Mãe»

Tenho de confessar que R. Kipling é um dos autores Ingleses que me dá mais prazer ler e sempre encontro, nas interlinhas dos seus textos, a sua sensibilidade de Maçon.

Kipling, que nasceu em Bombaim, foi iniciado na Loja «Hope and Perseverance» de Tahore e escreveu a poesia que se segue alguns anos após o seu regresso na Inglaterra.


Mother-Lodge

There was Rundle, Station Master,
An' Beazeley of the Rail,
An' 'Ackman, Commissariat,
An' Donkin' o' the Jail;
An' Blake, Conductor-Sargent,
Our Master twice was 'e,
With 'im that kept the Europe-shop,
Old Framjee Eduljee.


Outside -- "Sergeant! Sir! Salute! Salaam!"
Inside -- "Brother", an' it doesn't do no 'arm.
We met upon the Level an' we parted on the Square,
An' I was Junior Deacon in my Mother-Lodge out there!
We'd Bola Nath, Accountant,
An' Saul the Aden Jew,
An' Din Mohammed,
draughtsman Of the Survey Office too;
There was Babu Chuckerbutty,
An' Amir Singh the Sikh,
An' Castro from the fittin'-sheds,
The Roman Catholick!

We 'adn't good regalia,
An' our Lodge was old an' bare,
But we knew the Ancient Landmarks,
An' we kep' 'em to a hair;
An' lookin' on it backwards
It often strikes me thus,
There ain't such things as infidels,
Excep', per'aps, it's us.

For monthly, after Labour,
We'd all sit down and smoke
(We dursn't give no banquits,
Lest a Brother's caste were broke),
An' man on man got talkin'
Religion an' the rest,
An' every man comparin'
Of the God 'e knew the best.

So man on man got talkin',
An' not a Brother stirred
Till mornin' waked the parrots
An' that dam' brain-fever-bird;
We'd say 'twas 'ighly curious,
An' we'd all ride 'ome to bed,
With Mo'ammed, God, an' Shiva
Changin' pickets in our 'ead.

Full oft on Guv'ment service
This rovin' foot 'ath pressed,
An' bore fraternal greetin's
To the Lodges east an' west,
Accordin' as commanded
From Kohat to Singapore,
But I wish that I might see them
In my Mother-Lodge once more!

I wish that I might see them,
My Brethren black an' brown,
With the trichies smellin' pleasant
An' the hog-darn passin' down;
An' the old khansamah snorin'
On the bottle-khana floorLike a Master in good standing
With my Mother-Lodge once more!
Outside -- "Sergeant! Sir! Salute! Salaam!"
Inside -- "Brother", an' it doesn't do no 'arm.
We met upon the Level an' we parted on the Square,
An' I was Junior Deacon in my Mother-Lodge out there!

No seu texto, Rudyard Kipling evoca a composição da sua Loja: todas as profissões estão representadas, das mais humildes às mais prestigiosas, todas as religiões e todas as raças. Mas, concluiu «sabíamos os antigos landmarks e observamo-nos escrupulosamente».

A diversidade sociológica nas Lojas é um factor essencial de identidade para a maçonaria. Efectivamente, se o recrutamento se fizesse unicamente dentro da elite social, nada seria verdadeiramente diferente do Rotary, dos Lions ou outras organizações de caridade, e a iniciação não teria outro interesse se não a curiosidade.

Se se tratasse de uma elite financeira, logo as acusações de fazer negócios dentro da Ordem voltariam a aparecer, como de costume.

Então, devemos ser uma elite intelectual? Se assim fosse, seria ligar a iniciação ao quociente intelectual quando sabemos que qualquer um não está apto a ser iniciado, intelectual ou não. Para o ser, é preciso ter em si uma aspiração, um desejo.

O escritor Paul Valery definiu este pensamento na inscrição realizada na fachada do Palácio de Chaillot em Paris:

« II dépend de celui qui passe,
que je sois tombe ou trésor,
que je parle ou me taise ;
ceci ne tient qu'à toi.
Ami, n'entre pas sans désir. »

De facto, o elitismo é subconstancial da iniciação. O iniciado se sente legitimamente membro de uma elite por que a iniciação singulariza, torna diferente. Hoje, as pessoas sentem-se cada vez mais massificadas, integradas em multidões, identificadas por número, e procuram uma identidade através das tatuagens, dos piercings, roupas extravagantes ou cortes de cabelos pelo menos curiosos. Ora, sentir-se iniciado dá sentido à vida, oferece precisamente ao ego a possibilidade de ser, revela em si a pessoa.

Porque, para se tornar uma pessoa de parte inteira, é preciso, antes de tudo, aprender a amar-se. Nem demais, nem pouco ou mal. Nas nossas sociedades, nas quais a aparência exterior gera uma apreciação definitiva sobre o que somos, amar o seu próximo é começar por amar-se a si próprio. É o que nos ensina a fraternidade maçónica.

No REAA apresentamos trabalhos em Loja, «pranchas», sobre aspectos simbólicos ou directamente ligados à maçonaria. É uma incitação, em casa ou em Loja, ao trabalho, ao aperfeiçoamento. Permite a cada um exprimir-se em função da sua história pessoal, da sua profissão ou da sua cultura. Já que o enriquecimento de todos vem do que somos realmente, pelo menos tanto, e provavelmente mais, do que sabemos.

Jean-Pierre Grassi

17 junho 2009

Blogueirólico nada anónimo

("Blogueirólico" acabei de inventar. Significa "escrevinhador compusivo de textos de blogue". Se a palavra pegar, se se tornar neologismo, se porventura chegar a, ainda que de forma obscura, ter lugar no vocabulário da língua portuguesa, já sabem: reivindico a paternidade da sua invenção. Para que conste na Enciclopédia dos Conhecimentos Inúteis...)

Pois é! Estava eu, como há séculos o grande Camões escreveu sobre a bela Inês (de Castro, pois claro!), naquele engano de alma, ledo e cego, gozando o meu merecido repouso de quase três anos de muitos e variegados textos, parcimoniosamente matutando na melhor maneira de ir gerindo o institucional sítio da GLLP/GLRP, quando o José Ruah - amigo da onça! - matreiramente me atira, assim como quem não quer a coisa: Olha lá, o texto do aniversário do blogue fazes tu! Isso podes, não tem nada a ver com a Grande Loja...

E eu, pobre de mim, alma ingénua e pura (pelo menos, de vez em quando, sobretudo quando estou distraído...), nem me apercebi da armadilha, da ratoeira, da rede que subrepticiamente aquela raposa lançava sobre mim, para pilhar meu sossego! E, qual confiante criancinha de olho azul e louros caracóis, disse que sim!

Oh, destino cruel! Ai, que imprudência tamanha! Como pode um momento de desatenção mudar toda uma vida!

Um certo leitor deste blogue diria - que digo eu? Insistiria, teimaria, repetiria - que assim estava destinado, que tudo está determinado. Pensando nisso, intuí porque o determinismo tantos e tão abnegados defensores tem. No fundo, é um descanso, uma paz para a alma e a consciência, uma desculpa sempre à mão: a culpa não foi minha, o disparate não fui eu que o cometi, estava determinado, escrito nas estrelas e no Livro de Todos os Sucessos desde o Big até ao Bang, entendendo-se aquele como o estoiro inicial e este como o suspiro final de tudo o que existe, existiu e existirá...

Mas, ai de mim!, eu sempre tive a - vejo-o agora! - imprudência de acreditar firmemente no livre arbítrio - e na inerente responsabilidade que tal implica para cada um de nós. Não há desculpa possível para o disparate individual. Quem o faz, fê-lo. Por si. Por sua conta e risco. Por sua imprudência, pouco siso ou menos esperteza. Não há maneira de me poder consolar. Não estava nada escrito! O disparate fi-lo eu, por minha única e exclusiva culpa e imprevidência!

E, no entanto, bem poderia eu ter evitado tamanho trambolhão, tão aziago mau passo! Bem sabia eu que o alcoólico em recuperação, aquele que, anónimo ou não, conseguiu arranjar forças para se desintoxicar e consegue - quantas vezes há anos e anos - resistir ao chamamento da traiçoeira garrafa de bebida com álcool, não cede à tentação nem de um saudoso gole, muito menos de um desejado copo, porque sabe que, se ceder, o gole não será o único e o copo será apenas o primeiro.

Bem sabia eu - ex-fumador inveterado e permanentemente saudoso do inenarravelmente saboroso cachimbo - que quem consegue deixar de fumar, ainda que os anos tenham passado depois que se sobrepôs ao doentio hábito e conseguiu parar, se ceder à tentação de "dar só uma passa" é meio caminho andado para, a breve trecho, voltar a gastar mais em tabaco do que em combustível para o automóvel, enegrecer os pulmões, estreitar as artérias e apressar o conhecimento do que está para além da Derradeira Viagem...

Bem sabia eu que o vício, traiçoeiro, espreita, manso e escondido, a oportunidade para se reapossar de nossa vontade!

Apesar disso, apesar de tudo isso saber - oh! suprema imprudência! - disse que sim! Pior! Cumpri! Escrevi mesmo o texto do terceiro aniversário do blogue. Todos são testemunhas! Mas, se alguém duvida da minha desgraça, cavada com as minhas próprias mãos, torneada com o meu próprio teclado, revelada pelo meu próprio monitor, confira aqui a prova do meu deslize, da minha imprevidência!

Pois. Cedi. Não pensei. E agora, pobre e desgraçado blogueirólico nada anónimo, para aqui estou, tremendo, com os neurónios excitados, ansiando por mais e mais textos, com os dedos frementes de excitação alongando-se para o teclado, com cãibras nos olhos de tanto os virar para o monitor e de lá os afastar! Toda a minha abstinência, todo o esforço que me convenci ter tido sucesso, crente de me ter conseguido libertar da compulsão da escrita, foi então em vão?

Cedo? Desisto? Jogo tudo no vermelho, esperando que não saia preto?

Ah! A tentação é grande! A volúpia da palavra, o veludo da frase, assolam-me todos os sentidos!

Mas eu sou maçon! E que faz o maçon? Pratica a virtude e cava masmorras aos vícios! Há que resistir ao vício! Lutar...

Mas eu não sou perfeito! Por isso sou maçon. Porque reconhecço que necessito de me aperfeiçoar. E o ótimo é inimigo do bom. Lutar contra o vício, lutarei. Mas só na medida em que seja vício. Afinal de contas, o segredo está na moderação. Não me deixar cair em excessos. Não escrever nada é fugir do vício. Escrever com moderação é combatê-lo. E os maçons combatem os vícios...

Por isso, eu blogueirólico nada anónimo me confesso: decidi combater o meu vício e... só para mostrar que não tenho medo dele... escrever este texto!

(E quem não percebeu que, como sempre, o tema da escrita é a Maçonaria, faça o favor de ler outra vez, para perceber! Há muitas maneiras de escrever sobre maçonaria. Também levezinhas. Também brincando. Porque, ao contrário do que se diz por aí, a melhor maneira de lidar com as coisas sérias é conseguir brincar com elas. Porque, às vezes, aprende-se mais a brincar do que em muitas horas de aturado estudo. Perguntem a qualquer criança!)

O blogueirólico,

Rui Bandeira