Crónicas da Polónia - Rudyard Kipling
A minha Loja em Varsóvia é composta por obreiros francófonos (Europeus, Africanos e alguns Polacos) e trabalhamos no REAA com os Rituais da GLNF
Temos Irmãos radicados na Polónia e outros, expatriados pelas suas empresas. Estes últimos, dos quais faço parte, irão permanecer somente alguns anos antes de voltar para os seus países de origem ou, então, para outra expatriação.
O nosso Segundo Vigilante, de nacionalidade Belga, deixará a Polónia nos próximos dias para um novo desafio profissional no Líbano.
Decidi, na ocasião da última sessão na qual o nosso Irmão irá participar, ler um texto de Rudyard Kipling, «a Loja-Mãe»
Tenho de confessar que R. Kipling é um dos autores Ingleses que me dá mais prazer ler e sempre encontro, nas interlinhas dos seus textos, a sua sensibilidade de Maçon.
Kipling, que nasceu em Bombaim, foi iniciado na Loja «Hope and Perseverance» de Tahore e escreveu a poesia que se segue alguns anos após o seu regresso na Inglaterra.
Mother-Lodge
There was Rundle, Station Master,
An' Beazeley of the Rail,
An' 'Ackman, Commissariat,
An' Donkin' o' the Jail;
An' Blake, Conductor-Sargent,
Our Master twice was 'e,
With 'im that kept the Europe-shop,
Old Framjee Eduljee.
Outside -- "Sergeant! Sir! Salute! Salaam!"
Inside -- "Brother", an' it doesn't do no 'arm.
We met upon the Level an' we parted on the Square,
An' I was Junior Deacon in my Mother-Lodge out there!
We'd Bola Nath, Accountant,
An' Saul the Aden Jew,
An' Din Mohammed,
draughtsman Of the Survey Office too;
There was Babu Chuckerbutty,
An' Amir Singh the Sikh,
An' Castro from the fittin'-sheds,
The Roman Catholick!
We 'adn't good regalia,
An' our Lodge was old an' bare,
But we knew the Ancient Landmarks,
An' we kep' 'em to a hair;
An' lookin' on it backwards
It often strikes me thus,
There ain't such things as infidels,
Excep', per'aps, it's us.
For monthly, after Labour,
We'd all sit down and smoke
(We dursn't give no banquits,
Lest a Brother's caste were broke),
An' man on man got talkin'
Religion an' the rest,
An' every man comparin'
Of the God 'e knew the best.
So man on man got talkin',
An' not a Brother stirred
Till mornin' waked the parrots
An' that dam' brain-fever-bird;
We'd say 'twas 'ighly curious,
An' we'd all ride 'ome to bed,
With Mo'ammed, God, an' Shiva
Changin' pickets in our 'ead.
Full oft on Guv'ment service
This rovin' foot 'ath pressed,
An' bore fraternal greetin's
To the Lodges east an' west,
Accordin' as commanded
From Kohat to Singapore,
But I wish that I might see them
In my Mother-Lodge once more!
I wish that I might see them,
My Brethren black an' brown,
With the trichies smellin' pleasant
An' the hog-darn passin' down;
An' the old khansamah snorin'
On the bottle-khana floorLike a Master in good standing
With my Mother-Lodge once more!
Outside -- "Sergeant! Sir! Salute! Salaam!"
Inside -- "Brother", an' it doesn't do no 'arm.
We met upon the Level an' we parted on the Square,
An' I was Junior Deacon in my Mother-Lodge out there!
No seu texto, Rudyard Kipling evoca a composição da sua Loja: todas as profissões estão representadas, das mais humildes às mais prestigiosas, todas as religiões e todas as raças. Mas, concluiu «sabíamos os antigos landmarks e observamo-nos escrupulosamente».
A diversidade sociológica nas Lojas é um factor essencial de identidade para a maçonaria. Efectivamente, se o recrutamento se fizesse unicamente dentro da elite social, nada seria verdadeiramente diferente do Rotary, dos Lions ou outras organizações de caridade, e a iniciação não teria outro interesse se não a curiosidade.
Se se tratasse de uma elite financeira, logo as acusações de fazer negócios dentro da Ordem voltariam a aparecer, como de costume.
Então, devemos ser uma elite intelectual? Se assim fosse, seria ligar a iniciação ao quociente intelectual quando sabemos que qualquer um não está apto a ser iniciado, intelectual ou não. Para o ser, é preciso ter em si uma aspiração, um desejo.
O escritor Paul Valery definiu este pensamento na inscrição realizada na fachada do Palácio de Chaillot em Paris:
« II dépend de celui qui passe,
que je sois tombe ou trésor,
que je parle ou me taise ;
ceci ne tient qu'à toi.
Ami, n'entre pas sans désir. »
De facto, o elitismo é subconstancial da iniciação. O iniciado se sente legitimamente membro de uma elite por que a iniciação singulariza, torna diferente. Hoje, as pessoas sentem-se cada vez mais massificadas, integradas em multidões, identificadas por número, e procuram uma identidade através das tatuagens, dos piercings, roupas extravagantes ou cortes de cabelos pelo menos curiosos. Ora, sentir-se iniciado dá sentido à vida, oferece precisamente ao ego a possibilidade de ser, revela em si a pessoa.
Porque, para se tornar uma pessoa de parte inteira, é preciso, antes de tudo, aprender a amar-se. Nem demais, nem pouco ou mal. Nas nossas sociedades, nas quais a aparência exterior gera uma apreciação definitiva sobre o que somos, amar o seu próximo é começar por amar-se a si próprio. É o que nos ensina a fraternidade maçónica.
No REAA apresentamos trabalhos em Loja, «pranchas», sobre aspectos simbólicos ou directamente ligados à maçonaria. É uma incitação, em casa ou em Loja, ao trabalho, ao aperfeiçoamento. Permite a cada um exprimir-se em função da sua história pessoal, da sua profissão ou da sua cultura. Já que o enriquecimento de todos vem do que somos realmente, pelo menos tanto, e provavelmente mais, do que sabemos.
Jean-Pierre Grassi
No seu texto, Rudyard Kipling evoca a composição da sua Loja: todas as profissões estão representadas, das mais humildes às mais prestigiosas, todas as religiões e todas as raças. Mas, concluiu «sabíamos os antigos landmarks e observamo-nos escrupulosamente».
A diversidade sociológica nas Lojas é um factor essencial de identidade para a maçonaria. Efectivamente, se o recrutamento se fizesse unicamente dentro da elite social, nada seria verdadeiramente diferente do Rotary, dos Lions ou outras organizações de caridade, e a iniciação não teria outro interesse se não a curiosidade.
Se se tratasse de uma elite financeira, logo as acusações de fazer negócios dentro da Ordem voltariam a aparecer, como de costume.
Então, devemos ser uma elite intelectual? Se assim fosse, seria ligar a iniciação ao quociente intelectual quando sabemos que qualquer um não está apto a ser iniciado, intelectual ou não. Para o ser, é preciso ter em si uma aspiração, um desejo.
O escritor Paul Valery definiu este pensamento na inscrição realizada na fachada do Palácio de Chaillot em Paris:
« II dépend de celui qui passe,
que je sois tombe ou trésor,
que je parle ou me taise ;
ceci ne tient qu'à toi.
Ami, n'entre pas sans désir. »
De facto, o elitismo é subconstancial da iniciação. O iniciado se sente legitimamente membro de uma elite por que a iniciação singulariza, torna diferente. Hoje, as pessoas sentem-se cada vez mais massificadas, integradas em multidões, identificadas por número, e procuram uma identidade através das tatuagens, dos piercings, roupas extravagantes ou cortes de cabelos pelo menos curiosos. Ora, sentir-se iniciado dá sentido à vida, oferece precisamente ao ego a possibilidade de ser, revela em si a pessoa.
Porque, para se tornar uma pessoa de parte inteira, é preciso, antes de tudo, aprender a amar-se. Nem demais, nem pouco ou mal. Nas nossas sociedades, nas quais a aparência exterior gera uma apreciação definitiva sobre o que somos, amar o seu próximo é começar por amar-se a si próprio. É o que nos ensina a fraternidade maçónica.
No REAA apresentamos trabalhos em Loja, «pranchas», sobre aspectos simbólicos ou directamente ligados à maçonaria. É uma incitação, em casa ou em Loja, ao trabalho, ao aperfeiçoamento. Permite a cada um exprimir-se em função da sua história pessoal, da sua profissão ou da sua cultura. Já que o enriquecimento de todos vem do que somos realmente, pelo menos tanto, e provavelmente mais, do que sabemos.
Jean-Pierre Grassi
6 comentários:
Boas...
Gostei do texto de Kipling.
Não o conhecia. Dele apenas conheço o poema "IF" e o "livro da selva" por causa do Mogli. (leituras de criança).
Mas no que refere ao elitismo.
Ele só existe ou resulta dependendo da vontade de outrém em afirmar que alguém pertence a algum tipo de elite.
Não basta o sermos ou acharmos que o sejamos.
é preciso o seu reconhecimento pelos outros, senão nada os difere da generalidade.
Se qualquer pessoa se achasse parte de uma elite ou ela mesmo a Elite, e esse facto não fosse validado por alguém, seria ela mesmo parte integrante ou mesmo sequer a Elite?
Penso que não. Quanto muito seria alguém "diferente".
Talvez um "livre-pensador", um benemerente, etc etc...
abr...prof...
No fim de contas, para o iniciado, o que separa uma loja maçónica de uma seita evangélica? Além de se sentir parte integrante de um grupo?
Portanto, o Nuno Raimundo sente que faz parte de uma elite. O que o fará pensar isso?
Boas Diogo...
Eu não faço parte de nenhuma elite, pois tb não sou iniciado ( sou profano).
O comentário face ao elitismo, é que para ele existir, alguém tem de o "validar". apenas isso.
Não basta alguém se sentir "especial" ou que o grupo a que pertença se sinta dessa maneira.
Tem sempre de existir uma "validação" por parte da generalidade da sociedade para que alguém pertença a uma elite.
Quanto muito existem é grupos que se acham "diferentes" dos demais e que essa diferença seja considerada uma forma de "elite".
mas isso "são outros quinhentos"...
E mesmo esses passam pela aceitação e "validação" da sociedade em que se encontrem.
Mas a questão do Diogo é outra, "Se a Maçonaria será uma elite?"
Na minha opinião de profano que sou, ela é um pouco ambígua e como tal estudo a Ordem de modo a ficar com uma posição definida.
Passo a esclarecer, se ela é formada por gente nobre de espírito, com vontade de mudar a população pela instrução, educação, pela igualdade de direitos, tolerãncia perante a diferença,se um ser humano tenta evoluir, aprender com os demais... então talvez se possam considerar como parte de uma elite, os maçons. porque na generalidade da sociedade em que vivemos, poucos são os que têm essas vontades, " do melhor pela comunidade, através do seu contributo e evolução pessoal".
Mas para se ser elite tem de se diferenciar dos demais "grupos".
E às vezes assistimos a casos menos claros que apenas obscurecem e mancham a reputação da Ordem, por isso, tais personalidades não podem ser de "elite", pois não?!
ABR...PROF...
Caro Sr. Jean-Pierre Grassi;
Mais um excelente texto, mostra o quão abrangedor em termos pessoais é a Loja.
Se é uma elíte? Tabalhando bem forçosamente, os seus membros, serão uma elíte.
Mesmo dentro da Maçonaria há elítes, pois há grupos que trabalham mais e melhor do que outros. Não são eles que querem ser uma elíte, mas acabam por o ser.
Exacto Nuno,
Nos primeiros graus da maçonaria noto uma genuína vontade de aperfeiçoamente pessoal e espiritual (conheço alguns casos).
Nos graus mais elevados tenho sabido pelos Media de demasiados casos menos claros.
Abraço
Diogo,
Nós não somos perfeitos e ainda bem que não o somos. Procuramos contudo ser o menos imperfeitos possível, sendo que a maçonaria é suficientemente flexível para deixar que cada um encontre a via que julgar melhor.
Não nego que já houve situações menos "maçónicas" dentro da maçonaria; apesar disso, recorde-se que uma floresta é boa, mesmo quando tem uma árvore que não corresponde ao que seria desejável.
É um prazer vê-lo tambem de volta.
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