Aikido e maçonaria
Seria Morehei Ueshiba, fundador do Aikido, Maçon? Ou mesmo até mesmo alquimista?
Não sou maçon, sou apenas um profano curioso e aikidoca. Pode-se dizer que os meus conhecimentos sobre a maçonaria são muito superficiais. Sei apenas que se trata de uma sociedade secreta, fraternal e universal. Visa o aperfeiçoamento espiritual e pessoal. É repleta de ritos e símbolos. O Aikido é, antes de mais, uma arte marcial mas transcende muito esse conceito. Pode-se dizer que se trata de um modo de vida. Eu sei que dito assim parece muito abstracto. Eu pensava o mesmo sempre que lia sobre isso. Mas então o que é afinal isto do Aikido?
Aikido significa “via da harmonização da energia” e foi criado em plena Segunda Guerra Mundial (1940). O seu fundador, Morehei Ueshiba, vendo como o povo sofria com a guerra, decidiu criar uma arte de paz, algo que tornasse as pessoas melhores e, assim contribuísse para um mundo melhor. É curioso que quando iniciamos a prática do Aikido pensamos apenas em aprender uma arte de defesa, algo que sirva para nos defendermos. Durante a prática preocupamo-nos apenas em deitar o outro ao chão, sermos eficazes, etc. Mas então, à medida que o tempo passa, as coisas vão mudando radicalmente. Deixamos de centrar a nossa prática no “derrubar ou imobilizar o adversário”, centramo-la antes em nós, centramo-nos nos nossos defeitos técnicos e nas nossas limitações. Eis que começa a surgir o caminho que temos a percorrer. O caminho não tem fim, nem é tão pouco fácil. Buscamos a perfeição sabendo que nunca a teremos, mas ainda assim não cessamos de a buscar. Quanto mais praticamos mais o caminho se torna óbvio. O nosso objectivo passa a ser uma transmutação quase alquímica. Tomamos consciência que, quando iniciamos a caminhada somos uma espécie de bloco de chumbo: grosseiro, pesado, inflexível. Com o passar do tempo procuramos transmutarmo-nos não em ouro, pois não procuramos a riqueza material, mas em mercúrio (o único metal líquido à temperatura ambiente). O mercúrio é fluido, é capaz de se adaptar às situações. Mas o mais curioso são as implicações que esta busca tem no nosso quotidiano. Tornamo-nos pessoas mais calmas, mais compreensivas e tolerantes. Evitamos o confronto, não fugindo, mas adaptando-nos à situação. Dito desta forma parece que esta prática é algo solitária e até um pouco “egoísta”. Mas não é. Se houve algo que a vida me ensinou foi que “só, nada se consegue”. Em cima do tatami (colchões sobre os quais praticamos) não importa a cor da pele, o estatuto social, o credo ou a opinião política. No tatami somos todos iguais, todos entramos nele com o espírito aberto, prontos a ensinar e a aprender, conscientes que, independentemente da graduação, somos e seremos sempre aprendizes, não só no Aikido como na vida.
Morehei Ueshiba não era Maçon nem alquimista. Com este testemunho profano, pretendo apenas demonstrar a universalidade dos princípios que, a meu ver, a maçonaria defende, assim como mostrar como duas coisas aparentemente tão diferentes têm tanto de semelhantes.
Excelente contributo e interessante ponto de vista! Eu, que, embora seja adepto do preceito mens sana in corpore sano, com o passar dos anos e a preguiça do sedentarismo, me vou contentando com a mens sana em corpore mais ou menos em condições, muito dificilmente me lembraria de relacionar aikido e maçonaria! Mas este contributo foi pretexto para alguma reflexão, que espero traduzir em dois textos a publicar proximamente aqui no blogue.Entretanto, caro José Restolho, muito obrigado pelo contributo e disponha sempre! Este blogue é de temática maçónica, mas é escrito a pensar, não só nos maçons, mas também nos profanos interessados no que aqui se trata. E fico muito satisfeito por ter estimulado esta sua reflexão.
Rui Bandeira