Juramento e compromisso maçónicos...
(imagem proveniente de Google Images)
Quando se segue uma Via Espiritual ou se é admitido numa Ordem de tipo esotérico-iniciática tal como a
Maçonaria se define, é habitual o novo membro efetuar um juramento no momento da
sua admissão ou durante a execução de uma cerimónia de cariz iniciático, no qual se assume um determinado compromisso. E somente após a realização desse juramento é que o
neófito é recebido e integrado no seio da respetiva Ordem.
No caso que irei abordar e que será sobre a
Maçonaria, é natural quando se fala em compromisso
maçónico também se abordar simbióticamente o juramento maçónico. Tanto um como o outro são indissociáveis,
porque um obriga ao outro e o mesmo, reciprocamente.
Durante o desenrolar de uma Iniciação Maçónica, no
seu “ponto alto”, o neófito concorda em submeter-se a um juramento onde assume
como compromisso de honra, aceitar e respeitar as Regras, Usos e Costumes da Maçonaria bem como as regras e leis do
país onde se encontra sediada a Obediência Maçónica e a respetiva Loja da qual irá
fazer parte. Nomeadamente e de entre os vários princípios maçónicos que se
aceitam cumprir, os mais conhecidos pelo mundo
profano são a Fraternidade entre todos os Irmãos, a prossecução do
espírito da Liberdade na Sociedade Civil
e o sentimento de Igualdade entre todos.
Assim, assumir-se um compromisso com a Ordem
Maçónica é assumir-se um compromisso pela
Ordem e a bem da Ordem. Isto é que
é o tão propalado estar à Ordem.
E estar-se
é mais do que o ser-se! E digo isto
porque qualquer um pode “o ser”, mas
“estar” apenas se encontra ao
alcance de poucos…
Estar implica
sacrifício, comprometimento, trabalho, prática e estudo, e isto de forma
incansável e perene.
Por isto é que assumir um compromisso deste género e
com a relevância que este tem, nunca deverá ser feito de forma leviana; o mesmo
se passa com os outros compromissos que se assumem durante a nossa vida profana
e que também não devem ser assumidos se não estivermos capacitados para os
cumprir.
-Há que se ter a noção daquilo a que nos propomos a fazer-.
Por isso é que o compromisso maçónico é feito
com a nossa Palavra e sobre a nossa Honra. Desvirtuar estas duas qualidades,
é desvirtuar a própria Maçonaria.
Da mesma forma que, se não respeitarmos a
nossa palavra e não mantivermos a nossa dignidade na sociedade civil, também não somos
dignos de nela estarmos integrados e sofreremos as consequências ou punições
que forem legitimadas pelas leis do país.
De certa maneira, a Maçonaria atua e se
assemelha com a sociedade profana, com as suas leis e os seus costumes, competindo aos maçons respeitar a sua aplicação e observar o seu cumprimento. É
mais que um dever ou obrigação tal. É a assumpção que assim o
deve ser e nada mais!
Porque assim tem funcionado há quase três séculos e o
deverá continuar a ser noutros tantos…
Aliás, ainda na Maçonaria contemporânea se encontra
algo que dificilmente se encontra na profanidade atualmente, ou seja, o valor
da palavra sobre a escrita. O que não deixa de ser curioso dados os tempos que
correm.
Nesta Augusta Ordem, ainda hoje aquilo que um maçom afirma tem um valor
tal, que se poderá assumir que não necessitará de ser escrito para que o seja
considerado; basta se dizer, que assim o será.
O tal “contrato verbal” na
Maçonaria ainda hoje tem lugar. E somente pessoas de bons costumes o usam
fazer, pois a sua honra e a sua conduta serão sempre os seus melhores avalistas.
Não obstante, o compromisso maçónico ao ser albergado
por um juramento, obriga a que quem se submete a ele, o faça de forma permanente.
Não se jura somente aquilo que gostamos ou somente aquilo que nos dá jeito
cumprir.
Quando entramos para a Maçonaria sabemos que, tal como noutra
associação ou organização qualquer, existem regras
e deveres para cumprir; pelo que o
cooptado compromete-se em respeitar integralmente todas as regras e deveres que
existem na sua Obediência. E quem age assim,
fá-lo porque decidiu livremente que o quer fazer e não porque alguém a tal o
obriga.
E uma vez que a adesão à Maçonaria se faz por vontade
própria, aborrece-me bastante (para não ser mais acutilante ainda…) assistir
ou ter conhecimento de casos em que este juramento foi atraiçoado e em que os compromissos assumidos perante todos, foram deliberadamente e conscientemente
esquecidos.
Será que quem age desta forma, poderá ser reconhecido como um verdadeiro maçom?
Ou será
apenas gente que simplesmente enverga um avental e um par de luvas brancas nas
sessões da sua Loja?
Em alguns casos destes, creio que foram pessoas que entraram
na Maçonaria, mas que por sua vez, a Maçonaria certamente não entrou neles…
Algumas vezes, infelizmente, isto pode acontecer porque
quem vem para a Maçonaria vem “desavisado”, isto é, pouco conhece ou percebe o
que é a Maçonaria e o que ela representa, “vem ao escuro” por assim dizer, e
caberá a quem apadrinha uma candidatura maçónica, informar ou retirar algumas
dúvidas que se ponham ao seu futuro afilhado e consequente irmão. Em última
instância, devem os responsáveis pelas inquirições que decorrem no âmbito de um
processo de candidatura maçónica, no momento das entrevistas aos candidatos,
terem a sensibilidade para se aperceberem do desconhecimento do entrevistado sobre
os princípios e causas que movem os maçons e sobre a Ordem da qual este
manifesta a vontade de vir a fazer parte, e nesse caso, serem os próprios
inquiridores nessas alturas em concreto, a efetuar o trabalho que deveria ter
sido feito anteriormente pelo proponente da referida candidatura, no que toca a
esclarecer o profano e a fornecer-lhe as informações que lhe sejam necessárias
para que esta (possível) adesão possa decorrer sem sobressaltos, nem que esta
admissão venha a causar problemas (previsíveis!) no futuro, seja para a respetiva Loja ou até mesmo para a Obediência que porventura o vier a acolher.
Todavia, normalmente no momento do juramento
maçónico, o neófito fá-lo sem saber/compreender o que estará a jurar e para o
que estará a jurar, pois o véu que o cobre
na sua Iniciação é de tal densidade que
muitas vezes somente passado algum tempo
é possível se perceber o juramento que se fez e o compromisso que se tomou, e
que por vezes pode ser diferente daquilo que são as crenças pessoais e
respetiva forma de estar de cada um ou até mesmo porque se acreditava que se “vinha para
uma coisa e afinal se encontrou outra”…
E o trabalho que um padrinho deve desenvolver com o
seu afilhado durante a formação deste tanto como a responsabilidade que assumiu
perante o afilhado e a Ordem ao subscrever a candidatura dele, serão fulcrais
neste tipo de situação concreta. O padrinho (pelo dever moral) e a Loja em si (porque
é um dever da loja acompanhar e tentar integrar corretamente os Irmãos nos
valores maçónicos) devem tentar perceber o motivo pelo qual alguém se “distancia”
da Maçonaria. E apenas ulteriormente, se for caso disso, devem aconselhar a um
possível adormecimento desse irmão por
não ser do seu intento continuar a pertencer a algo com o qual não se
identifique mais.
Pelo que desta forma se prevenirão certos casos e eventuais “lavagens de roupa suja” ou fugas de informação que poderão surgir, as quais na sua maioria nem
sequer são informações plausíveis nem verídicas sequer, pelo que apenas posso especular que estas ocorrências se devem a paixões e vícios mal combatidos e nem sequer
evitados… E como se costuma dizer, “o mal
corta-se pela raiz”, pelo que “as desculpas devem evitar-se”…
E quem entra na Maçonaria deve ter a noção
que as suas atitudes já não lhe dirão respeito apenas a si, mas a todos os
integrantes desta Augusta Ordem, a conduta de um maçom estará sempre sob um fino
crivo pela sociedade e sempre debaixo do escrutínio de todos, seja de fora ou internamente. - Porque um,
pode sempre e a qualquer momento, “por em xeque” os demais -. E ter esta noção e assumir
esta responsabilidade é algo que deve ser intrínseco desde os primeiros momentos de vida maçónicos.
Já
não é o Nuno, o X ou o Y que fazem isto
ou aquilo, serão os maçons Nuno, X ou Y que o fazem… Logo é a Maçonaria na sua
generalidade que será atentada com a má conduta que os seus membros possam ter,
para além da Ordem poder vir a ser acusada de cumplicidade pelos atos efetuados
pelos seus membros.
Assumir que a
nossa forma de estar e agir condiciona e se reflete na
Maçonaria é um dos maiores compromissos que os maçons poderão tomar. Tanto que
o dever de honrar a nossa Obediência, a nossa Loja e a Maçonaria em geral, deve
permanentemente se encontrar na mente de
todos os maçons.
Um juramento implica obrigações, e jurar ser-se maçom, mas
fundamentalmente ser-se reconhecido maçom pelos nossos iguais, implica que sejamos
maçons a “tempo inteiro” e não apenas às segundas-feiras ou quintas-feiras de
manhã ou à noite, ou quando nos dará mais jeito, é sempre!
Sermos maçons, não é
quando visitamos a loja e usamos os respetivos paramentos. Não basta envergarmos
um avental, calçar umas luvas brancas e fazer uns “gestos estranhos”, é muito
mais que isso! É cumprir preceitos, rituais e trabalhar em prol da Ordem.
E se
não estivermos prontos para tal, de nada valerão os juramentos que fizermos,
porque nunca nos iremos comprometer com nada na realidade e em último caso, nem
sequer reconhecidos como tal seremos.
E a
palavra persisitirá perdida…