29 agosto 2016
22 agosto 2016
A Santificação do Homem (republicação)
O texto de hoje, ou a sua republicação, foi escrito pelo José Ruah em 2009 e onde aborda o Judaísmo, a sua religião, e reproduz uma comunicação que apresentou no colóquio " Turres Veteras X - a Historia do Sagrado e do Profano".
O texto original pode ser consultado aqui.
Uma pequena menção do autor: "O Texto foi escrito para ser lido e por isso perdoarão alguma incorrecção. As citações são extraidas do Livro " Torá" editado recentemente pela editora Sefer do Brasil e consequentemente estão escritas em português do lado de lá."
Quando me foi lançado este desafio, de vir aqui falar sobre o Sagrado e o Profano do ponto de vista do judaísmo, aceitei sem saber bem o que iria dizer sobre o tema.
É importante lembrar que não sou Rabino nem estudioso de matérias religiosas pelo que corro o sério risco de vos apresentar algo que fique muito aquém das expectativas, mas é a minha visão do assunto.
O judaísmo enquanto religião e forma de vida visa sempre a santificação do homem numa perspectiva de o tornar mais próximo de Deus.
A religião judaica prescreve mandamentos e regras que se integralmente cumpridas representarão o respeito máximo por Deus e pela sua Santidade, e que não cumpridas farão do homem um profano que ao contrario do seu irmão cumpridor, no dia do julgamento poderá ser considerado como indigno de se manter vivo.
Todavia o homem está sempre a tempo de se arrepender e retornar ao caminho da santidade com isso glorificar Deus. Este arrependimento, que pode surgir a qualquer altura, está muito associado com o dia do Kipur. Dia de penitencia e arrependimento e também o dia em que cada judeu se apresenta perante Deus e lhe apresenta contas do que fez, esperando que o seu nome seja inscrito por Deus no Livro da Vida e que o seu arrependimento seja aceite.
Neste sentido e de forma a realçar a importância do percurso do homem, de cada homem, no sentido a elevação espiritual decidi ir buscar exactamente os trechos da Torá que explicam e regulamentam o dia de Kipur e de lá extrair o que me pareceu fundamental para ilustrar a perspectiva judaica sobre o sagrado e o profano, do ponto de vista do homem.
Uma breve explicação prévia, a Torá é composta por 5 livros (Bereshit – Génesis, Shemot – Êxodo, Vaycrá -Levitico, Bamidbar – Números e Devarim – Deutronomio) e constitui a lei fundamental do judaísmo, a lei dada por Deus a Moisés no deserto. Nestes livros poderemos encontrar desde a criação do Mundo aos preceitos alimentares e regulamentos familiares. Estes livros são lidos em capítulos semanais de maneira a que num período de um ano todos os livros tenham sido integralmente lidos e se recomece.
Estes são os livros de base do que se convencionou chamar de Bíblia.
Para ilustrar o tema de hoje escolhi algumas passagens e respectivos comentários, que penso poderão ajudar a explicar o que o judaísmo pensa e preconiza. Estas passagens estão incluídas no capítulo que regula o Dia de Kipur.
“... E tomarás os dois cabritos e os farás ficar diante do Eterno à porta da tenda da reunião. E lançará Aarão sobre os dois cabritos, sortes, uma para o Eterno e outra para Azazel. E aproximará Aarão o cabrito sobre o qual caiu a sorte para o Eterno e o oferecerá como oferta de pecado. E o cabrito sobre o qual caiu a sorte para Azazel colocar-se-á vivo diante do Eterno, para expiar por meio dele, para envia-lo para Azazel no deserto.
…
E colocará Aarão suas duas mãos sobre a cabeça do cabrito vivo, e manifestará sobre ele todas as iniquidades dos filhos de Israel, todos os seu delitos e todos os seus pecados, e os porá sobre a cabeça do cabrito e o enviará, por mão de um homem designado para isso para o deserto. E levará o cabrito todas as iniquidades à terra desabitada e deixará o cabrito ir pelo deserto… “
Vaikrá (Levitico) 16: 7 a 10 e 21 a 22
Sobre este trecho da Torá o Rabino Mendel Diesendruck, que na década de 50 do sec. XX foi Rabino em Lisboa escreve o seguinte:
“ Sortes: os nossos exegetas interpretam esta cerimónia de sortear os cabritos como indicação simbólica para os dois diferentes elementos humanos e a sua maneira distinta de encarar os problemas da vida. Um encarna com o seu estilo de viver e pela pureza das suas acções e pensamentos aquela máxima gravada em muitas sinagogas com letras douradas por cima da Arca Sagrada, Shiviti Hashem Lenegdi Tamid (Tenho o Eterno sempre à minha presença), ou seja tudo o que eu faço e pretendo fazer é orientado e guiado por uma única motivação: Viver sempre dentro das prescrições da Torá, amar a Deus, o meu povo e a humanidade inteira; e para concretizar este meu ideal sublime não receio qualquer sacrifício.
Este elemento humano que representa pela nobreza do seu carácter a perfeição da criação Divina é o símbolo de “ para o Eterno” .
Mas existe também um elemento radicalmente oposto. É aquele ser humano cuja vida é claramente profana, cujos interesses nesta vida são de um materialismo vil, uma abjecção grosseira; o tipo de ser humano cujo maior ideal é o seu próprio ego, para o qual o meio ambiente não existe, porque ele é incapaz de dar algo de si.
Este tipo de homem vive na auto ilusão de ser um elemento útil à sociedade mas quem for capaz de deitar um olho para dentro da sua alma vazia e pobre, verificará facilmente que ele, coitadinho, não é mais que um bode isolado num deserto. Pois nós todos sabemos muito bem que existem não apenas desertos geográficos, mas também – e o que é mais lamentável – desertos espirituais, intelectuais, assim como existem climas que não dependem somente das condições atmosféricas, mas sim do calor das nossas almas e dos sentimentos de nossos corações. Este segundo elemento também não se importa em fazer toda a espécie de sacrifícios para alcançar o seu fim, mas é o fim próprio que distingue estes dois carácteres.
Enquanto para o primeiro o alvo é “ para o Eterno “ , a meta do segundo é orientada “ para Azazel “.
A cerimónia de sortear os bodes, oficiada no dia mais sagrado e pelo homem mais sagrado (o sumo-sacerdote) é talvez a mais bela e mais significativa demonstração de que o acaso pode ser um factor decisivo quando se trata de carneiros inocentes, mas nunca em relação ao homem responsável pelos seus actos. “
Mais à frente pode ler-se na Torá:
“… E falou o Eterno a Moisés dizendo: “ Fala a toda a congregação dos filhos de Israel, e lhes dirás: Santos sereis, pois santo sou EU o Eterno vosso Deus….” …”
Vaikrá (Levitico) 19: 1 e 2
A este propósito o Rabino Mendel Diesendruck escreveu o seguinte:
“Santos Sereis: Segundo Rashi (comentador mais importante da Torá) isto significa – “ afastai-vos de toda a espécie de imoralidade e da transgressão” – “
O Rabino Diesendruck retoma escrevendo:
“ O Judaísmo não conhece nenhum outro “santo” além de Deus. Em que consiste então a substancialidade de Deus? No “ser diferente”, no “ser fora” de toda a natureza e por isso na liberdade. A opinião que Deus Sive Natura é uma flagrante negação da doutrina básica do judaísmo. Fora da natureza é o reino da liberdade. “Santo” significa livre no grau mais transcendental. O homem nunca é fora da natureza; para o ser o humano só pode prevalecer sempre a “aspiração à santidade “, aspiração cujo objectivo é livrar suas acções de tudo o que é terrestre, material, fútil, mesquinho e profano, uma aspiração a que os seus sentimentos e desejos sejam determinados o máximo possível pela sua consciência divino-espiritual…”
O comentário é concluído com a seguinte afirmação:
“ Ser criado à imagem de Deus não é um facto consumado, mas sim uma elevada missão, uma potencialidade em constante desenvolvimento. “
Na mesma edição da Torá que utilizei e a propósito da mesma passagem os editores juntam o seguinte comentário:
“ Santos sereis: O homem não precisa de executar nenhum acto fora do comum ou feito extraordinário para ser santo. Em todas as esferas da vida o “fazer” e o “não fazer” de cada indivíduo é que o tornam santo. A singularidade do povo de Israel está no facto de que a vida e a santidade não são dois domínios separados. Quem deseja ser santo não precisa de se afastar da natureza, da vida, retirar-se da sociedade para ir viver no deserto, fechar-se asceticamente dentro de muros ou ir viver isolado para a floresta. Todos nós podemos ser “ um reino de sacerdotes e um povo santo” (Êxodo 19:6), e isso não se dará pelo afastamento ou renúncia da vida, mas sim através da santificação da vida, de acordo com o conselho: “ Reconhece-O em todos os teus caminhos” (Provérbios 3:6).”
Como podemos perceber destes comentários e do que atrás foi dito, no judaísmo é dado um especial enfoque ao homem como o decisor da santidade.
O Judaísmo preconiza valores e preceitos que permitem, se seguidos, ao homem tornar-se mais puro e mais santo, pois aproximam-no de Deus.
O homem tem a capacidade de progredir no caminho da sacralização por acção do seu livre arbítrio e vontade, cumprindo os mandamentos e preceitos e assim aproximando-se do seu Criador, à imagem do qual foi feito.
Este tema é no fundo uma das bases da sacralização pois podemos interpretar que o ter sido feito à imagem e semelhança quer dizer que lhe foi concedido raciocínio e poder de decisão.
Consequentemente o homem, ao contrário dos animais que agem por instinto, pode separar o bem do mal e pode escolher ser mais “santo” fazendo sobressair a centelha Divina que lhe foi incutida, ou por outro lado decidir uma vida mais profana.
É todavia importante perceber e diferenciar esta santificação do homem na religião judaica, da santificação / beatificação na religião Cristã. No judaísmo a Santificação é interior e exclusiva de quem segue o caminho dos mandamentos e será apenas reconhecida por Deus. Não existirá em caso algum a veneração de um homem por parte de outros homens.
Concluo com uma incerteza e uma certeza. A incerteza de vos ter trazido algo de utilidade, a certeza de ter aprendido com este trabalho e desta forma ter progredido um ínfimo passo no meu melhoramento.
Todavia se porventura a minha incerteza se tornar certeza então tenho que agradecer-vos pela oportunidade que me deram de dar mais um pequeno passo, neste caminho que todos deveremos levar no sentido da santidade.
Apenas com o trabalho interior de cada um independentemente da religião que seguimos poderemos de forma afirmativa progredir. A nossa progressão individual terá seguramente como consequência a progressão dos nossos semelhantes em direcção a um futuro que esperamos melhor.
José Ruah"
Publicado por Nuno Raimundo às 12:00 0 comments
15 agosto 2016
O Ponto Dentro do Círculo
Por aqui no blogue A Partir Pedra não se cultivam tiques exclusivistas ou manias de superioridade. Aqui escreve-se sobre Maçonaria, procurando-se que o que publicamos seja útil a maçons e a não maçons. Mas não somos os únicos a fazê-lo e não temos pretensões a ser a última Coca Cola do deserto. Vamos seguindo, com agrado e interesse, outros blogues e espaços nas redes sociais também dedicados ao tema da Maçonaria. Hoje é tempo de destacar um blogue brasileiro, já com mais de um ano de existência - os primeiros textos remontam a março de 2015 - que se vem impondo com a marca da qualidade, o blogue O Ponto Dentro do Círculo (https://opontodentrodocirculo.wordpress.com/).
O autor deste blogue é Luiz Marcelo Viegas, Mestre Maçom da Augusta e Respeitável Loja Simbólica Pioneiros de Ibirité, n.º 273, jurisdicionada à Grande Loja Maçônica de Minas Gerais e trabalhando ao Oriente de Ibirité, Minas Gerais, Brasil. Este Irmão é ainda membro da Escola Maçônica Mestre António Augusto Alves D'Almeida, a qual trabalha sob os auspícios da referida Grande Loja Maçônica de Minas Gerais.
Ao contrário do que fazemos aqui no A Partir Pedra, em que privilegiamos a escrita e publicação de textos próprios, Luiz Marcelo Viegas publica essencialmente textos alheios, que seleciona com evidente cuidado e competência. A qualidade dos textos publicados no O Ponto Dentro do Círculo é notável. Maçons e profanos que se interessam pela Maçonaria têm neste blogue um acervo de grande interesse, que vale a pena consultar e explorar. Tal como sucede no A Partir Pedra, na faixa da direita do O Ponto Dentro do Círculo está organizada uma tábua de tópicos (Categorias) em que se agrupam os textos publicados, o que muito facilita a busca por temas.
Este não é um blogue para se "dar uma vista de olhos" ou para, de vez em quando, se "espreitar". Este blogue, pela qualidade, profundidade e, por vezes, extensão dos textos ali publicados, é um blogue para se frequentar com tempo, com calma, muita atenção e reflexão. Quem assim fizer, certamente tirará grande proveito e muito aprenderá. Por mim, que estou sempre procurando aprender, estou na fase de ler integralmente este blogue, tendo começado no primeiro texto, de 2 de março de 2015 (As Lágrimas dos Anjos) e indo por aí fora, até chegar ao texto mais recente. Tem-se muito de interessante para ler, já que este blogue vai com mais de 530 textos publicados, na altura em que elaboro este texto...
Para além do blogue propriamente dito, e aproveitando as disponibilidades técnicas do Wordpress, no endereço do O Ponto Dentro do Círculo dispõe-se ainda, designadamente, no espaço Biblioteca, de sugestões de leitura de livros com interesse para os maçons, e, no espaço JB News, de ligações para o diário maçónico editado pelo Irmão Jerônimo Borges, de Florianópolis, Santa Catarina, com o mesmo título.
É com todo o gosto que aqui vivamente se recomenda a frequente consulta e atenta leitura do excelente blogue O Ponto Dentro do Círculo.
Rui Bandeira
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08 agosto 2016
"O Ramo da Acácia" (republicação)
Hoje trago-Vos um texto "antigo" de 2007 saído da mão do José Ruah que aborda um dos símbolos mais importantes da Maçonaria, a Acácia.
No texto que abaixo republico e que pode ser consultado no seu original aqui, o José dá a sua opinião sobre esta madeira e a sua simbologia na Maçonaria.
Acredito que as coisas têm um fundamento e que esse fundamento poderá ser encontrado na História, nos Usos e Costumes, ou em Livros Sagrados.
O que fazemos com as coisas pode derivar da interpretação dada, tenha ela sido a mais correcta ou não, ou simplesmente diferente.
Hoje decidi pegar na Acácia.
A Maçonaria elegeu como um dos seus símbolos a Acácia, outros, e apenas a título de exemplo, são o Esquadro e o Compasso.
Porquê a Acácia e não o Cedro? Sabemos pela tradição e pela História que estas madeiras foram usadas no Templo de Salomão, base simbólica da Maçonaria Especulativa tal como a conhecemos actualmente.
Aliás o Cedro é muito mais mencionado como material de construção do Templo que a Acácia, mas não é utilizado na simbologia Maçónica.
E a Acácia, ou mais propriamente o Ramo de Acácia (Inglês: Sprig; Francês: Rameau) passou a ser claramente um símbolo.
As primeiras referências à Acácia aparecem no Antigo Testamento no Livro do Êxodo. Aqui Deus determina que será esta a madeira e não outra a que será utilizada para a construção da Arca a Aliança onde estão depositadas as Tábuas da Lei, bem como para a construção da mesa Para os Pães da Preposição e outros objectos de culto utilizados naquele que foi na verdade o primeiro Templo.
Não um templo de pedra como o que o rei Salomão constrói ( ou manda construir), mas um templo móvel que era erguido nos acampamentos do Povo Judeu.
A estrutura deste Templo Móvel é depois emulada por Salomão para a construção do Templo em Jerusalém, respeitando as proporções e os compartimentos. Nesse Templo foi depositada a Arca da Aliança e os demais objectos de culto.
Ora o Templo era revestido a cedro, mas os Objectos de Culto em Acácia.
O termo hebraico é Shittah e pensa-se que referencia a espécie de Acácia hoje conhecida por Nilotica ou Seyal. Sendo que na região também existem a Albida, Tortilis e Iraqensis.
Mas esta referência é à madeira de Acácia. Todavia como já disse antes o Símbolo é o Ramo de Acácia.
E as referencias ao Ramo de Acácia aparecem também relacionadas com os Hebreus, mas não com o Templo.
De entre as tribos do Povo Judeu uma originou a linhagem dos Sacerdotes. Primeiro no Templo móvel e depois no Templo de Jerusalém. Ora por uma questão religiosa estes Sacerdotes não podiam aproximar-se de cadáveres humanos e por consequência das respectivas campas.
Na altura os cemitérios não estavam tão organizados como actualmente e os defuntos eram inumados nos terrenos fora das cidades mas muitas vezes sem critérios de localização. Ora isto representava um problema para os Sacerdotes pois para cumprirem os preceitos religiosos tinham que saber onde estavam essas campas.
Como sabemos a Acácia é considerada em muitos sítios uma praga, pois precisa de poucos recursos para viver e em caso de incêndio é a primeira planta a aparecer, não deixando que as espécies autóctones voltem e assim causando desequilíbrios ambientais.
Esta característica seguramente levou a que as campas passassem a ser marcadas com um Ramo de Acácia para assim serem facilmente reconhecidas pelos Sacerdotes.
Daqui à Lenda de Hiram é um passo, pois a lenda situa no espaço e no tempo a estória da morte de Hiram , espaço e tempo que são os que acabo de referir , Jerusalém na época da construção do templo.
Na Lenda Hiram é assassinado e o seu cadáver enterrado fora da cidade para encobrir o crime. Todavia a regra mandava marcar a sepultura com um Ramo de Acácia.
Temos aqui a ligação.
Hoje o ramo de acácia continua a ser usado como símbolo, sendo que e tanto quanto consegui perceber é o Ramo da Acácia Nilotica ou Seyal, ou eventualmente o da Acácia Robinia.
Ficam aqui as imagens de cada um deles e cada um de vós que tire as conclusões.
Publicado por Nuno Raimundo às 12:00 0 comments
Marcadores: Acácia, Simbolismo, Templo
01 agosto 2016
Cerimónia de iniciação e Iniciação
Como é sabido, a admissão na Maçonartia ocorre através de uma Cerimónia de Iniciação do interessado. Através dessa Cerimónia, o interessado adquire formalmente a condição de maçom. Mas adquire em que termos? É maçom enquanto continuar a integrar uma Obediência maçónica, ou a aquisição dessa qualidade é vitalícia, isto é, perdura mesmo que a pesoa em causa abandone a Maçonaria ou dela seja expulsa ou excluída?
"Num documento da Maçonaria, assinado por Egas Moniz, comprova-se que Agostinho Lourenço terá sido membro de uma loja maçónica, em 1914. As mesmas figuras que comparecem com ele, como o médico Ramon Nonato La Féria, na ocasião de uma cerimónia maçónica, testemunhada pelo jornal O Século, em 1931, serão perseguidas pela polícia que ele dirige, meia dezena de anos depois." (in http://visao.sapo.pt/actualidade/portugal/2016-07-17-O-anjo-negro-de-Salazar).
É, para mim, claro que a Cerimónia de Iniciação não tem artes mágicas para transformar um profano num maçom. Nem todos os que se submetem à Cerimónia de Iniciação são verdadeiramente Iniciados. A Cerimónia de Iniciação (ver, neste blogue, A Iniciação (I) e A Iniciação (II)) é, a meu ver, essencialmente um catalisador que propicia a mudança e transformação daquele que a ela se submete, no sentido de passar de um profano a um vero Iniciado. Mas essa transformação ou é feita no próprio pelo próprio, ou não há Cerimónia que lhe valha...
Asssim, e resumindo, a minha posição sobre este assunto é: um maçom verdadeiramente Iniciado é, sim, um maçom para toda a vida - e não haverá ventos nem marés nem vicissitudes nem vontades que mudem isso, porque, se foi verdadeiramente Iniciado, foi transformado e comportar-se-á em conformidade. Normalmente, não sairá, nem será excluído ou expulso. Se sair de uma Obediência, ou dela for excluído ou mesmo expulso, se foi verdadeiramente Iniciado e transformado, continuarei a considerá-lo como tal - e, se calhar, o problema será da estrutura que o afastou... Mas não basta ter passado por uma Cerimónia de Iniciação para ser verdadeiramente Iniciado. E aqueles que, embora tendo-se submetido a uma Cerimónia de Iniciação, não lograram - porque não quiseram, ou simplesmente porque não foram capazes - transformar-se a si próprios não me merecem o reconhecimento como Iniciados. Saindo, sendo excluídos ou expulsos, são simplesmente ex-maçons e, afinal, impropriamente, assim designados, porque não passaram de erros de casting...
No fundo, no fundo, ambas as posições têm a sua razão. O que importa é distinguir entre simplesmente passar por uma Cerimónia de Iniciação e ser verdadeiramente Iniciado. Aqueles serão ex-maçons, porque no fundo nunca foram maçons. Estes merecem sempre o nosso reconhecimento como tal, porque nunca desmerecerão da transformação que tiveram.
Disse. Não sei se bem, se mal. Mas disse e dito está!
Publicado por Rui Bandeira às 12:00 7 comments
Marcadores: Iniciação