28 dezembro 2011
21 dezembro 2011
Exortação solsticial
É bom que, como referi no texto da semana passada, esteja projetado num hospital português um espaço de assistência espiritual e religiosa concebido para ser utilizado pelos crentes e ministros de todas as religiões, mas essa é (ainda?) uma exceção.
Deve-se aspirar a que a tolerância religiosa seja, mais do que um facto, uma naturalidade, e que locais de culto utilizáveis e utilizados por crentes de todas as religiões não só existam, como sejam uma banalidade.
Mas o ótimo é inimigo do bom e não devemos confundir sonhos e aspirações com a realidade. Até que a tolerância religiosa seja tão banal e tão natural que se entenda, sem rebuço, que o que importa é que cada um cultue o Criador e não a forma como o faz e seja comummente entendido que o espaço de culto pode ser indiferentemente utilizado pelos crentes de qualquer religião, muitas águas passarão debaixo de muitas pontes de muitos rios, muitas pontes se construirão, serão derrubadas e reconstruídas, muitas gerações têm de passar. É assim a vida e a evolução da espécie humana. Tudo tem o seu tempo, tudo tem de medrar e crescer, de evoluir e de florescer. O sonho de ontem tem de ser a aspiração de hoje, o desejo de amanhã, a hipótese de depois de amanhã, o trabalho do dia seguinte - e isto a uma escala temporal obviamente bem mais alongada.
Mas no presente de cada um há lugar e modo e tempo para a concretização desse ideal, desde que cada um tenha a noção de que o que importa não são as pedras, as edificações, os lugares, os locais, o que verdadeiramente importa somos nós, cada um de nós, elemento individual e importantemente imprescindível da imensa comunidade que chamamos de espécie humana e que tem dentro de si, no íntimo do mais íntimo do seu íntimo, a centelha divina que nos fez, desde tempos imemoriais, descer das árvores e caminhar, eretos, pela terra, evoluir da brutidão à civilização e que em nós desperta e mantém o insaciável apetite de aprender, aprender sempre, melhorar, melhorar sempre, paulatinamente aproximando o bruto primata da inefável Perfeição que tudo originou.
O que importa, repito, não são as pedras, somos nós - cada um de nós. Não é assim, no fundo, essencial que haja um, vários ou muitos locais edificados que sejam utilizáveis e utilizados para o culto do Criador segundo as diversas crenças, religiões, tradições. O essencial é que cada um tenha a noção de que pode procurar a aproximação, o convívio, a comunhão, o culto, o louvor, a adoração - chame-lhe cada um o que quiser chamar - com o Criador, não importa onde esteja.
Mais importante que haver um local onde todos os crentes de todas as religiões possam praticar os seus cultos é que todos os crentes de todas as religiões tenham a noção e a prática de que podem praticar os seus cultos em qualquer lugar, em qualquer edificação, em qualquer templo de qualquer religião. Porque Aquele que se cultua é sempre o mesmo, independentemente de nome, de hábitos, de culturas, de tabus, de proibições e de obrigações.
Eu sinto-me bem e confortável em qualquer local de culto, seja ele católico, adventista, de Testemunha de Jeová, islâmico, judeu, bahá'í, mitraico ou de candomblé. Em qualquer desses locais sinto -me em paz e sinto a predisposição para a ligação ao Divino. Não me importam as diferenças - interessa-me apenas e sempre e só o essencial: o Criador.
Os verdadeiros templos não são feitos de pedra e cal e tijolo e telha. São feitos de carne e osso e sangue e, sobretudo, espírito. Cada um de nós é o mais livre e essencial dos templos, onde se pode e deve, em todos os momentos, cultivar a ligação com o Criador, trilhar o Caminho, desbastar o que de impuro se tem para que, em toda a sua glória, se descubra a Luz que cada um de nós É - e tantos não o sabem, por isso a mantêm escondida, velada, inacessível a todos os olhares, até aos de si próprios.
Vejo e sinto e exorto todos a que vejam e sintam todos os locais de culto de todas as religiões como seus locais de culto e que, mais ainda, não precisem realmente de locais para o exercer, cientes de que cada um é o seu próprio e insubstituível local do seu culto.
Que assim seja e, se assim for, quando assim for, mais um (grande) passo no sentido da melhoria terá dado a Humanidade. E esse passo, como sempre, depende sempre e só de cada um de nós.
Esta a mensagem que eu, maçom, sem segredos, aqui deixo, a menos de vinte e quatro horas do solstício, de inverno no hemisfério norte e de verão no hemisfério sul, de 2011.
A todos, Boas Festas!
Rui Bandeira
Publicado por Rui Bandeira às 12:00 13 comments
19 dezembro 2011
Quinze anos, 10 dias e 12 horas depois
Publicado por Jose Ruah às 13:00 3 comments
Marcadores: GLLP/GLRP, José Moreno, Maçonaria Regular, RLMAD
Liberdade e tratamento da doença
Publicado por Paulo M. às 05:18 2 comments
15 dezembro 2011
Uma realidade próxima
Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
(Fernando Pessoa - verso inicial da Segunda Parte / Mar Português, da Mensagem)
Na sequência do texto da semana passada, mão amiga proporcionou-me o acesso ao relatório e contas relativo ao ano de 2009 do Hospital de S. João, no Porto, que foi ultimado em 26 de março de 2010. Na página 106 desse relatório, inserida no capítulo Responsabilidade social e sob as epígrafes Outros - Religião, pude ler:
No Hospital de São João, já há muitos anos que padres e ministros de outras religiões acompanham espiritualmente os seus crentes, num apoio personalizado que pretende ajudar a suportar o sofrimento.
No dia seguinte ao internamento, os doentes são visitados por voluntários que lhes propõem assistência religiosa, seja qual for o credo: católico, islâmico, hindu, judaico, budista, baha'i ou de outras confissões cristãs.
O espaço de culto ainda é a capela católica, mas em breve haverá um lugar multirreligioso que poderá ser utilizado por todos, com a capacidade de se adaptar à simbologia de todos os credos.
O pólo inter-religioso será construído após a ampliação do 9.º e 10.º piso. Será um bloco espiritual.
Em 2010 o projecto deste novo espaço será apresentado ao Ministério da Saúde, pelo grupo inter-religioso para a assistência espiritual e religiosa no Serviço Nacional de Saúde.
O capelão do HSJ, padre José Nuno Silva, ingressa esse grupo como coordenador católico das capelanias hospitalares.
Quem me informou disse-me ainda que o grupo interreligioso para a assistência espiritual e religiosa no Serviço Nacional de Saúde aprovou o projeto, que havia dinheiro para o executar e que as obras do Hospital de S. João estão em execução, pelo que espera que, no próximo ano de 2012, esse espaço seja inaugurado e comece a funcionar. Segundo essa pessoa, a conceção e projetado funcionamento desse espaço será muito parecida com o que escrevi a semana passada. Não será totalmente assim, nem poderia - ou porventura deveria - sê-lo, até porque se tratará de um espaço específico para assistência espiritual e religiosa em ambiente hospitalar, em que não cabem algumas das valência que referi naquele texto. Mas, como se lê no relatório e como me foi reafirmado, o espírito será muito semelhante.
Fico contente - muito contente.
Só espero que os conhecidos constrangimentos orçamentais do presente não sirvam de pretexto ou motivo para a atual gestão do setor da Saúde em Portugal fazer alguma marcha-atrás neste projeto e que ele se concretize efetivamente. Se assim for, será um exemplo de boa decisão, de bom projeto. Perante a doença, a dor, a fragilidade assolando o ser humano (e todos, mais tarde ou mais cedo, mais ou menos vezes, passaremos por doenças e fragilidades físicas) que, ao menos, a tolerância, a concórdia, a cooperação na assistência religiosa e espiritual sejam garantidas.
Que o projeto se concretize e sirva de exemplo para outros lugares, outros espaços, outras comunidades, é o meu voto.
E, já agora, noto o agradável simbolismo, para um maçom, que este projeto tenha nascido no Hospital de S. João. Como todos os maçons sabem e os profanos que não sabiam ficam agora a saber, os maçons consideram S. João o seu patrono. Qual S. João? Ambos, S. João Batista e S. João Evangelista, cujos dias de festa rondam os solstícios, respetivamente, de verão e de inverno no hemisfério norte (e inversamente, no hemisfério sul), dualidade para nós também muito simbólica (sobre este tema, aconselho a leitura deste excelente texto, da autoria do Paulo M., por ele apresentado na Loja Mestre Affonso Domingues já lá vão mais de três anos).
Rui Bandeira
Publicado por Rui Bandeira às 12:00 14 comments
Marcadores: Religiões, Templo, tolerância
14 dezembro 2011
Deveria ser Instrução em Maçonaria -VII - Mas Não é ! é outra coisa !
José Ruah
Publicado por Jose Ruah às 01:31 6 comments
11 dezembro 2011
Especular - o trabalho maçónico
Publicado por Paulo M. às 21:44 3 comments
Marcadores: aperfeiçoamento, Maçonaria explicada, Trabalho
07 dezembro 2011
Um sonho meu
Eles não sabem, nem sonham,que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.
(estrofe final de Pedra Filosofal, de António Gedeão)
Sonho que se construa um espaço de culto que não seja igreja, não seja mesquita, não seja sinagoga, não seja salão, não seja terreiro - mas seja tudo isso e mais!
Sonho que esse espaço seja sóbrio, seja moderno, seja agradável, mas nele não se veja obrigatoriamente nenhum símbolo de nenhuma religião em particular - mas se possam ver, quando necessário, os símbolos de todas as religiões.
Sonho que o Templo - chamemos-lhe simplesmente assim - se destine a todos os cultos, seja utilizável por todas as religiões, seja utilizado pelos sacerdotes ou ministros de todos os cultos e pelos crentes de todas as religiões.
Sonho que ali existam, movíveis, facilmente colocáveis onde devem ser colocados, guardados quando devam estar guardados, expostos quando devam estar expostos, os símbolos e artefatos inerentes aos cultos de todas as religiões. Que quando ali se se celebre uma missa católica, esteja à vista, no local próprio, a cruz cristã, o sacrário, o altar. Quando ali tenha lugar a oração dos muçulmanos, não haja representações figurativas, nem do divino, nem do humano, facilmente os crentes saibam para que lado e direção está Meca e que tudo o que é necessário ou conveniente ao culto islâmico esteja onde deve estar. Que, quando ali tiver lugar culto judaico, no sítio próprio estejam os rolos da Lei e mais tudo o que a Tradição judaica mande que esteja. E que similarmente assim seja quando ali houver cultos de quaisquer outras religiões ou crenças.
Sonho que naquele edifício haja, não um, mas vários espaços, separáveis e independentes, que permitam que, com a necessária privacidade, possa ao mesmo tempo prestar-se culto ao Criador de várias formas e segundo diferentes tradições. Que tudo isso seja administrado de forma isenta, cooperante, organizada, de forma a que todos e cada um sintam aquele espaço comum como seu e podendo utilizá-lo segundo as suas necessidades e conveniências. Que haja o bom senso, a tolerância, a abertura e o espírito de cooperação para, por exemplo, se entender, sem conflitos, que o mais "nobre" ou espaçoso dos espaços de culto deve preferencialmente ser reservado à sexta-feira para os muçulmanos, ao sábado para os judeus, ao domingo para os cristãos.
Sonho que nos espaços de apoio aos locais de culto convivam harmoniosamente os ministros de todas as religiões, partilhando os espaços comuns que podem e, portanto, devem, ser por todos partilhados e dispondo dos espaços privados às necessidades de cada um e do seu ministério.
Sonho que o sistema informático desse espaço tenha um bom servidor para uso comum, dividido ou partilhado em diversas máquinas virtuais, cada uma utilizada por cada culto, de forma a que todos beneficiem da mesma infraestrutura, mas cada um só acedendo ao que a si diz respeito. Afinal, o hardware, o Universo, que a todos nós abriga, é único - e cada religião nele implanta o seu software próprio... E - não o duvido - o "Administrador do Sistema" é único e garante que as várias variantes existam e funcionem, cada uma com o "sistema operativo" que prefere...
Sonho que o Centro Social anexo seja também comum e comummente utilizado por todos, que tenha áreas partilháveis e partilhadas por todos e espaços próprios para cada um. Que harmoniosa e proficuamente aqui haja catequese, ali escola rabínica, acolá estudo do Alcorão, e, se assim for conveniente, tudo isso ao mesmo tempo. Que as crianças da zona vão ali aprender o que em cada tradição lhes seja conveniente aprender, podendo todos brincar e conviver em conjunto, pois, sendo metodistas, evangélicas, católicas, hindus, muçulmanas, judias, xintoístas, etc., são todas, acima de tudo e antes de tudo... crianças.
Sonho que as residências dos ministros das diversas religiões estejam, lado a lado, nas traseiras do edifício, para que todos estejam perto e disponíveis para os seus crentes, mas para que, sobretudo, sejam todos vizinhos uns dos outros e todos em conjunto cuidem do comum interesse de manter aquele pequeno bairro cuidado, ordenado e aprazível.
Sonho que tudo isto permita que cada um viva a sua religião como entender, segundo a sua tradição, mas respeitando as religiões de todos os demais e, sobretudo, aprendendo a cooperar em tudo o que em comum possam cooperar e a aproveitar e maximizar as semelhanças e a tolerar e relativizar as diferenças.
Sonho enfim que este espaço simbolize e materialize que a religião, a crença, não pode, não deve, ser motivo de discórdia, de luta, de emulação, antes seja por todos compreendida como assunto de cada um, que só a cada um diz respeito. Afinal, o Criador é Um e, com toda a probabilidade, deve ser-Lhe mais ou menos indiferente a forma como cada um a Ele se liga, pois o importante é a ligação, não a forma do laçarote...
Sonho isto porque sou maçom. Mas, sobretudo, sou maçom porque sonho isto!
Rui Bandeira
Publicado por Rui Bandeira às 12:00 7 comments
Marcadores: Religiões, Templo, tolerância
06 dezembro 2011
Instrução em Maçonaria - VI
As minhas desculpas pelo atraso no texto, mas algumas dificuldades técnicas impediram-me de o concluir em tempo util.
Publicado por Jose Ruah às 10:00 1 comments
02 dezembro 2011
Afinal, o que é o segredo maçónico?
Só isto.
Publicado por Paulo M. às 01:19 7 comments
Marcadores: Comunicação Social, segredo maçónico