O símbolo da Loja Mestre Affonso Domingues
Em comentário ao texto, Maçonaria e Filosofia Pitagórica - o QUATRO, Jocelino Neto perguntou:
Perdoe-me pela análise superficial, mas a vesica piscis faz parte do partido construtivo da imagem que identifica visualmente a R.´.L.´. (Respeitável Loja) Mestre Affonso Domingues? O significado deste símbolo é desvelado apenas aos seus O.`. (Obreiros)?
Quanto à primeira questão, a resposta é negativa. Repare-se que, enquanto a vesica piscis é o espaço comum resultante da interseção de dois círculos iguais com centros na mesma linha horizontal, a uma distância entre si inferior ao diâmetro de cada círculo (cfr. figura abaixo), a estrutura do símbolo da Loja Mestre Affonso Domingues é constituída por três círculos interligados, para além dos outros elementos.
Também a resposta á segunda pergunta é igualmente negativa. Parece haver tendência para envolver tudo o que respeita à maçonaria num véu de mistério, de segredo... Como o propósito deste blogue é precisamente mostrar que essa tendência não é consistente, aproveito o pretexto para explicar as circunstâncias da criação do símbolo da Loja Mestre Affonso Domingues e indicar o que pretende representar cada um dos seus elementos constitutivos. Quer as circunstâncias, quer os significados são o mais prosaicos possível, adianto já...!
Nos primórdios da Loja Mestre Affonso Domingues e da então denominada Grande Loja Regular de Portugal, hoje Grande Loja Legal de Portugal/GLRP, a preocupação era a de aprender, criar e consolidar estruturas, enfim, trilhar o caminho da Regularidade Maçónica e da obtenção do Reconhecimento internacional. Os contactos que havia era com maçons da Grande Loge Nationale Française, que, por vezes, se apresentavam em sessão com a medalha da respetiva Loja. Também maçons portugueses iniciados no estrangeiro em Obediências Regulares podiam finalmente aceder a sessões maçónicas regulares no seu país e, comparecendo em sessões de Loja da novel Obediência Regular, frequentemente usavam as medalhas das suas Lojas de origem. Eu próprio, que tinha sido iniciado na Loja Miguel Cervantes y Saavedra, ao Oriente de Bona, no período em que frequentei a Loja Mestre Affonso Domingues com o estatuto de visitante (até ser admitido como obreiro do seu quadro), usava a medalha da minha Loja-mãe.
A Loja Mestre Affonso Domingues, sendo então a mais apurada na prática ritual, era a Loja mais visitada por obreiros estrangeiros e cedo verificou o costume de cada Loja ter uma medalha que era usada pelos seus obreiros. Foi assim simplesmente natural que a Loja, a certa altura, decidisse criar e mandar fabricar a sua medalha distintiva.
Um obreiro da Loja, artista plástico, elaborou o projeto que, com algumas modificações, sobretudo ao nível das cores (modificações essas que, assinale-se, por ser justo fazê-lo, o autor do projeto nunca viu com bons olhos), veio a servir de modelo para a confecção da medalha.
A imagem dessa medalha veio a ser utilizada como logotipo da Loja nos seus documentos e, a breve prazo, transformou-se no símbolo identificativo da Loja Mestre Affonso Domingues.
O significado dos seus elementos é simples e intuitivo e tem, naturalmente, muito a ver com o nome adotado pela Loja, Mestre Affonso Domingues, o arquiteto do Mosteiro da Batalha, imortalizado num belo texto das Lendas e Narrativas de Alexandre Herculano.
As porções visíveis dos três círculos entrelaçados cruzados por seis semicírculos virados para o exterior, evocam a principal característica da arquitetura gótica, a que pertence o Mosteiro de Santa Maria da Vitória, mais conhecido por Mosteiro da Batalha, a abóbada em cruzaria. Na figura abaixo, pode-se ver a representação esquemática de uma abóbada de cruzaria sexpartida.
Repare-se: seis arcos quebrados ou ogivais góticos (a que correspondem as seis "pontas" da medalha) unidos e sustentados por três nervuras diagonais estruturais, que suportam e distribuem o peso, a abóbada de nervuras (a que correspondem os três círculos entrecruzados, só parcialmente visíveis)
Cada uma das pontas da medalha termina em forma de flor-de-lis, tal como as existentes no brasão de armas do Mestre de Avis, depois rei D. João I, que ordenou a construção do Mosteiro da Batalha (ver figura abaixo).
Justaposto a este conjunto, estão dois círculos concêntricos, formando uma faixa de fundo branco onde está inscrito o nome da Loja, Mestre Affonso Domingues, e o local da sua fundação e o seu número de ordem na Grande Loja, Cascais - n.º 5, inscrições separadas por duas folhas de acácia, símbolo maçónico conhecido. Inscrito no círculo interior está um triângulo (símbolo maçónico comum), em fundo vermelho (cor do Rito Escocês Antigo e Aceite, rito praticado pela Loja Mestre Affonso Domingues), que contám no seu interior o também comum e conhecido símbolo maçónico do compasso e esquadro, este sobre aquele.
Como se vê, é prosaicamente simples a explicação do símbolo da Loja Mestre Affonso Domingues!
Rui Bandeira
Perdoe-me pela análise superficial, mas a vesica piscis faz parte do partido construtivo da imagem que identifica visualmente a R.´.L.´. (Respeitável Loja) Mestre Affonso Domingues? O significado deste símbolo é desvelado apenas aos seus O.`. (Obreiros)?
Quanto à primeira questão, a resposta é negativa. Repare-se que, enquanto a vesica piscis é o espaço comum resultante da interseção de dois círculos iguais com centros na mesma linha horizontal, a uma distância entre si inferior ao diâmetro de cada círculo (cfr. figura abaixo), a estrutura do símbolo da Loja Mestre Affonso Domingues é constituída por três círculos interligados, para além dos outros elementos.
Também a resposta á segunda pergunta é igualmente negativa. Parece haver tendência para envolver tudo o que respeita à maçonaria num véu de mistério, de segredo... Como o propósito deste blogue é precisamente mostrar que essa tendência não é consistente, aproveito o pretexto para explicar as circunstâncias da criação do símbolo da Loja Mestre Affonso Domingues e indicar o que pretende representar cada um dos seus elementos constitutivos. Quer as circunstâncias, quer os significados são o mais prosaicos possível, adianto já...!
Nos primórdios da Loja Mestre Affonso Domingues e da então denominada Grande Loja Regular de Portugal, hoje Grande Loja Legal de Portugal/GLRP, a preocupação era a de aprender, criar e consolidar estruturas, enfim, trilhar o caminho da Regularidade Maçónica e da obtenção do Reconhecimento internacional. Os contactos que havia era com maçons da Grande Loge Nationale Française, que, por vezes, se apresentavam em sessão com a medalha da respetiva Loja. Também maçons portugueses iniciados no estrangeiro em Obediências Regulares podiam finalmente aceder a sessões maçónicas regulares no seu país e, comparecendo em sessões de Loja da novel Obediência Regular, frequentemente usavam as medalhas das suas Lojas de origem. Eu próprio, que tinha sido iniciado na Loja Miguel Cervantes y Saavedra, ao Oriente de Bona, no período em que frequentei a Loja Mestre Affonso Domingues com o estatuto de visitante (até ser admitido como obreiro do seu quadro), usava a medalha da minha Loja-mãe.
A Loja Mestre Affonso Domingues, sendo então a mais apurada na prática ritual, era a Loja mais visitada por obreiros estrangeiros e cedo verificou o costume de cada Loja ter uma medalha que era usada pelos seus obreiros. Foi assim simplesmente natural que a Loja, a certa altura, decidisse criar e mandar fabricar a sua medalha distintiva.
Um obreiro da Loja, artista plástico, elaborou o projeto que, com algumas modificações, sobretudo ao nível das cores (modificações essas que, assinale-se, por ser justo fazê-lo, o autor do projeto nunca viu com bons olhos), veio a servir de modelo para a confecção da medalha.
A imagem dessa medalha veio a ser utilizada como logotipo da Loja nos seus documentos e, a breve prazo, transformou-se no símbolo identificativo da Loja Mestre Affonso Domingues.
O significado dos seus elementos é simples e intuitivo e tem, naturalmente, muito a ver com o nome adotado pela Loja, Mestre Affonso Domingues, o arquiteto do Mosteiro da Batalha, imortalizado num belo texto das Lendas e Narrativas de Alexandre Herculano.
As porções visíveis dos três círculos entrelaçados cruzados por seis semicírculos virados para o exterior, evocam a principal característica da arquitetura gótica, a que pertence o Mosteiro de Santa Maria da Vitória, mais conhecido por Mosteiro da Batalha, a abóbada em cruzaria. Na figura abaixo, pode-se ver a representação esquemática de uma abóbada de cruzaria sexpartida.
Repare-se: seis arcos quebrados ou ogivais góticos (a que correspondem as seis "pontas" da medalha) unidos e sustentados por três nervuras diagonais estruturais, que suportam e distribuem o peso, a abóbada de nervuras (a que correspondem os três círculos entrecruzados, só parcialmente visíveis)
Cada uma das pontas da medalha termina em forma de flor-de-lis, tal como as existentes no brasão de armas do Mestre de Avis, depois rei D. João I, que ordenou a construção do Mosteiro da Batalha (ver figura abaixo).
Justaposto a este conjunto, estão dois círculos concêntricos, formando uma faixa de fundo branco onde está inscrito o nome da Loja, Mestre Affonso Domingues, e o local da sua fundação e o seu número de ordem na Grande Loja, Cascais - n.º 5, inscrições separadas por duas folhas de acácia, símbolo maçónico conhecido. Inscrito no círculo interior está um triângulo (símbolo maçónico comum), em fundo vermelho (cor do Rito Escocês Antigo e Aceite, rito praticado pela Loja Mestre Affonso Domingues), que contám no seu interior o também comum e conhecido símbolo maçónico do compasso e esquadro, este sobre aquele.
Como se vê, é prosaicamente simples a explicação do símbolo da Loja Mestre Affonso Domingues!
Rui Bandeira
7 comentários:
@Rui: E não quererás tu desvendar, para memória futura, quais as tais alterações cromáticas feitas ao desenho original?
Abraço,
Paulo M.
@Bruno Santos
Dada a assertividade do seu comentário e a certeza nele demonstrado, quererá ter então a gentileza de nos mandar a memoria descritiva do simbolo, isto claro caso a tenha.
O que se vê não é necessáriamente a razão de existencia das coisas.
@ Paulo M.:
Não me recordo completamente da conversa que tive com o autor do projeto, mas creio que ele não tinha previsto que o espaço entre os dois círculos concêntricos formando uma faixa fosse de fundo branco e as letras e as folhas de acácia a dourado, pois creio que tinha previsto fundo na cor do metal e as letras e as folhas de acácia a negro. Sendo um artista plástico, não concordou com a alteração, porque entende que alterou o equilíbrio cromático que tinha idealizado.
Isto se bem entendi o que me transmitiu...
@ Bruno Santos:
O seu comentário não foi, nem arrogante, nem inoportuno. Pelo contrário, os comentários de quem lê os textos deste espaço são sempre bem-vindos e as posições discordantes entendidas como naturais.
Quanto ao fundo da questão, num ponto estamos totalmente de acordo. a vesica piscis é de origem muitíssimo anterior à construção do Mosteiro da Batalha. Aliás, se consultar o meu texto Maçonaria e Filosofia Pitagórica - o DOIS, publicado neste blogue em 4 de maio de 2011, logo verá que essa forma já era considerada na Escola Filosófica de Pitágoras...
No mais, teremos de concordar em discordar: a vesica piscis resulta da dinâmica da interseção de dois círculos iguais com centros na mesma linha horizontal, a uma distância entre si inferior ao diâmetro de cada círculo, enquanto que o símbolo da Loja Mestre Affonso Domingues se baseia na dinâmica da interseção de TRÊS círculos, um dos quais em plano superior aos dois outros entre os quais se inscreve. Claro que, se retirássemos esse terceiro círculo, os dois que restavam formavam uma vesica piscis. Mas, meu caro, se assim fosse, e tal como o slogan publicitário o diz, podia ser assim... mas não ersa a a mesma coisa!!!!
Creio que facilmente é entendível o processo de composição que expus no texto e as razões porque foi utilizado. A Loja mestre Affonso Domingues quis prestar homenagem ao arquiteto da Batalha cujo nome orgulhosamente ostenta - e não ilustrar qualquer "uso operativo do compasso".
Ao contrário do que por vezes se tem a tendência de pensar, normalmente o que com mais simplicidade explica as coisas é o correto...
Claro que qualquer pessoa pode abstrair ou discordar da explicação simples e partir em busca de ligações mais complexas, que vislumbra vitoriosamente como revelação de ocultos e elaborados segredos...
Mas, meu caro, sem qualquer intenção de ofender, denegrir ou apoucar o seu pensamento e a sua convicção, penso que deve prevenir-se contra tendência de generalizar o que não é generalizável, relacionar o que não é relacionável, unir pontas soltas que soltas e separadas devem ficar - ou corre o risco de cair nos excessos apontados, com um pouco de caricatural exagero, no meu texto O teórico da conspiração, publicado neste blogue em 11 de agosto de 2010.
E isso, estou certo, o Bruno não é!
Um abraço!
@ Bruno:
Espero que a clara, ilustrada e referenciada explicação que o Paulo M. publicou neste blogue em 17/7/2011, sob o título "O símbolo da MAD e a vesica piscis" tenha desvanecido de vez as suas dúvidas.
Abraço.
Caros leitores, foram elimindados por serem spam 4 comentários inseridos neste texto por Arnaldo Ribeiro.
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