03 novembro 2010

Vencedor e... vencedor!


Quando decorreu o processo eleitoral para a eleição do terceiro Grão-Mestre, a GLLP/GLRP estava ainda em convalescença da cisão que abalara o mandato do segundo Grão-Mestre. Esse processo eleitoral teve uma diferença substancial em relação aos anteriores: enquanto, quer Fernando Teixeira, quer Luís Nandin de Carvalho tinham sido candidatos únicos, para a eleição do terceiro Grão-Mestre apresentaram-se dois candidatos: José Manuel Anes e Alberto Trovão do Rosário.

José Manuel Anes era bem conhecido. Fora um prestimoso colaborador de Luís Nandin de Carvalho e em boa parte também a ele se devera a manutenção do reconhecimento internacional, após a cisão. Alberto Trovão do Rosário, professor universitário, obreiro de uma Loja no distrito de Setúbal, era então menos conhecido, mas era-lhe reconhecida grande capacidade, profunda estatura cívica e intelectual e era ardentemente apoiado por alguns Irmãos que suportavam a sua candidatura.

Recentemente cicatrizada de uma cisão, a GLLP/GLRP e os seus obreiros não pretendiam propiciar condições para que uma outra viesse a ocorrer. As duas candidaturas preocuparam-se assim em atuar de forma a que nenhuma fagulha ativasse indesejável braseiro. Pela primeira vez havia disputa eleitoral, importava demonstrar que esse facto integrava a normalidade da vida institucional da Obediência. Sabia-se que alguém havia de vencer e alguém haveria de perder a eleição. Isso era normal e fazia parte do processo eleitoral. Importava que a aceitação do resultado eleitoral fosse consensual e não criasse risco de perturbações - já tínhamos tido a nossa conta delas!

A divulgação das candidaturas e seus projetos - aquilo a que vulgarmente se designa por campanha eleitoral... - decorreu de forma exemplar: cada candidatura elaborou os seus documentos, que foram divulgados e distribuídos pela estrutura da GLLP /GLRP, com rigorosa imparcialidade. Ambos os candidatos se deslocaram às Lojas para se apresentarem e com os obreiros das Lojas debater os respetivos projetos. Mas essas deslocações tiveram a particularidade de terem sido feitas em conjunto. Não houve campanhas eleitorais, houve a apresentação de projetos, em sadio confronto.

Dificilmente se poderia ter tomado melhor opção! O processo eleitoral decorreu em harmonia, sem incidentes, cada um apresentando as suas ideias e assistindo à apresentação das ideias do seu opositor. Tudo decorreu com elevação, em verdadeira fraternidade.

No decorrer desse processo, verificou-se que as bases, as Lojas e seus obreiros, apreciaram a forma como ambos os candidatos divulgaram os seus propósitos. Verificaram que tinham perante si dois verdadeiros potenciais Grão-Mestres. Sabiam que só um seria eleito. Mas demonstravam o seu apreço por ambos. Consensualmente, a ideia surgiu, a sugestão foi verbalizada, o apelo foi feito, a opinião, Loja a Loja, coletivamente foi formada: um dos dois candidatos seria eleito, mas ambos eram merecedores de o ser. Então, sendo inevitável que houvesse um eleito e um não eleito, havia que proceder da forma que melhor se pudesse reconhecer esse mérito de ambos os candidatos. Loja a Loja, a mensagem que os candidatos ouviram afinava pelo mesmo diapasão: o candidato eleito Grão-Mestre deveria designar o outro candidato Vice-Grão-Mestre!

Talvez inicialmente não fosse essa a ideia dos candidatos. Mas o pulsar da Obediência era inequívoco.

E assim foi feito! Apurados os resultados da eleição, verificou-se que fora eleito para terceiro Grão-Mestre José Manuel Anes. Não se soube - está definido que não se saiba! - se a sua eleição ocorreu com grande ou pequena vantagem. Não houve elementos quantitativos a deslustrar a valia qualitativa de ambos os candidatos. E o Grão-Mestre eleito designou como Vice-Grão-Mestre o seu opositor na eleição!

Alberto Trovão do Rosário foi assim designado Vice-Grão-Mestre, com toda a legitimidade, com todo o peso institucional que a exemplar atuação de ambos os candidatos na eleição permitiram que lhe fosse conferido.

E foi assim que, de uma assentada, a GLLP/GLRP, recentemente cicatrizada a ferida da cisão, elegeu, não um, mas dois Grão-Mestres! Porque logo então se percebeu que, salvo qualquer anormalidade, não se tinha eleito apenas o terceiro Grão-Mestre: também se tinha escolhido o seu sucessor!

Rui Bandeira

4 comentários:

jpa disse...

É uma maravilha, mesmo com a possibilidade de errar no seu voto, se tem a certeza que alguém com muito valor é eleito.
Já o mesmo não se passa noutras eleições. Por mais que se escolha não se consegue acertar.

Cumprimentos
JPA

Jocelino Neto disse...

Mestre Rui Bandeira,

Agradecido por compartilhar tão prestimosa memória. Quiçá tão nobre atitude transcendesse ao mundo profano, onde o instinto pela competição sobrepõe-se ao espírito de colaboração, haveria a possibilidade de um real progresso.

Abraços Fraternos!

Diogo disse...

Rui, quer comentar isto que vinha hoje no Jornal de Negócios?:

É uma entrevista arrasadora. Henrique Neto, histórico do PS, diz que Sócrates "é um vendedor de automóveis" que "está no topo da pirâmide dos que dão cabo disto".
Revela que Sócrates disse que cortar na Função Pública era atacar a base eleitoral do partido. A maçonaria "é a coisa pior que pode existir na política". "Ser empresário hoje é ser herói."

Acusando o primeiro-ministro de "mentira" e falando também de Mários Soares, Jorge Sampaio ou Pina Moura, Henrique Neto critica a actual forma de direcção do Partido Socialista: "Isto é uma máfia com experiência na maçonaria".

jpa disse...

Diogo;
Quem deve comentar isso é Henrique Neto.
Será ele, Henrique Neto Maçon?
Será Sócrates Maçon?
A Maçonaria existe na politica?
Quem parece saber é Henrique Neto.
Questione Henrique Neto, que aliás deveria ter sido o papel do jornalista.

Cumprimentos
JPA