31 outubro 2008

Pontuação

Hoje trago-vos duas variantes do tema "diferentes pontos de vista". O primeiro reconheço-o como ajustado. Sendo advogado, há muitos anos que estou habituado a que, nos pleitos judiciais existam, pelo menos, três verdades - e, infelizmente mais vezes do que seria desejável, quatro. O segundo é um trocadilho com alguma piada e que serve para bem ilustrar a moral tirada. Obtive ambos através de uma mensagem de correio eletrónico recebida do Brasil.

Um professor de Direito dizia o seguinte:

Todos os processos têm quatro verdades.

1 - A verdade do seu cliente, que você irá defender.

2 - A verdade da outra parte, que o outro advogado irá defender.

3 - A verdade do juiz, que a terá com base no que os advogados conseguiram convencê-lo, e perpetuará (sentença).

4 - A verdade verdadeira, o que realmente aconteceu de facto !!!!!!!

Resultado:

A verdade está em acreditar naquilo que julgamos ser verdade, e cada indivíduo tem a sua, com base no seu caráter, educação e meio no qual vive. Pontue a sua vida!

E agora a segunda historieta:

Um homem rico estava muito mal, agonizando. Pediu papel e caneta. Escreveu assim:

'Deixo os meus bens à minha irmã não a meu sobrinho jamais será paga a conta do padeiro nada dou aos pobres.'

Morreu antes de fazer a pontuação. A quem deixou a fortuna?

Eram quatro concorrentes.

1) O sobrinho fez a seguinte pontuação:

Deixo os meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho. Jamais será paga a conta do padeiro. Nada dou aos pobres.

2) A irmã chegou em seguida. Pontuou assim o escrito:

Deixo os meus bens à minha irmã. Não a meu sobrinho. Jamais será paga a conta do padeiro. Nada dou aos pobres.

3) O padeiro pediu cópia do original. Puxou a brasa para a sardinha dele:

Deixo os meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga a conta do padeiro. Nada dou aos pobres.

4) Aí, chegaram os descamisados da cidade. Um deles, sabido, fez esta interpretação:

Deixo os meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga a conta do padeiro? Nada! Dou aos pobres.

Moral da história:

Assim é a vida. Pode ser interpretada e vivida de diversas maneiras. Nós é que colocamos os pontos. E isso faz toda a diferença. Pontue
corretamente sua vida, para não dar margem a erros de interpretação.


Quantos mal-entendidos proporcionamos por termos descurado pontuar devidamente as nossas ideias? E, no entanto, somos nós que somos responsáveis por deixar claro o que pensamos! Se os outros interpretarem mal o que dissemos, o erro foi nosso, não deles. Cabe-nos a nós garantir que as nossas intenções são bem percebidas.

Quando chegamos a um novo local, quando nos integramos num novo grupo, devemos ter em consideração a forma como esse grupo comunica entre si, o significado que atribui a expressões e comportamentos. Nem sempre é o mesmo a que estamos habituados. Nem sempre é fácil discernir. E somos nós que temos de nos adaptar ao ambiente, não é este que se adapta a nós...

Por isso, assisada é a postura da Maçonaria quando exige que os novos que entram na Loja e na Obediência sigam um período alargado de silêncio. Para que observem, além do mais, a forma e os códigos de comunicação praticados pelo grupo. para que tenham tempo de os identificar e saibam utilizá-los. Para que, quando falarem, não haja erros (ou haja o mínimo possível de erros) na interpretação do que se quis dizer e do que se pensa e é.

É certo que só em reunião formal vigora esta regra do silêncio. Mas avisado andará o neófito se também fora de reunião se resguardar, se ouvir mais do que falar, se corresponder mais do que sugerir. Terá tempo de se adaptar e não correrá o risco de ser mal interpretado, de a sua postura ou as suas ações serem tidas pelo que não são. A ânsia de se mostrar útil é compreensível, mas pode ser mal interpretada, como desejo de se destacar, de reconhecimento. E isso pode conduzir a mal-entendidos que dificultem o pretendido: uma boa integração. Afinal de contas, dar tempo ao tempo é essencial para que o recém-chegado conheça o grupo, mas também para que o grupo conheça o recém-chegado. E atrás de tempo, tempo vem...

Por outro lado, quando já estamos num grupo e acolhemos um novo elemento, devemos redobrar a nossa tolerância e evitar primeiros juízos, baseados em impressões que podem ser enganadoras. Os códigos de conduta a que estamos habituados ainda não foram apreendidos pelo recém-chegado. A vontade deste de se integrar bem e depressa pode dar-nos falsa impressão de gosto por protagonismo, afinal inexistente. Somos nós , os que acolhemos, quem tem de evitar juízos precipitados. e, no fundo, os responsáveis pela harmoniosa integração do recém-chegado. Se essa falhar, não foi ele quem falhou, fomos nós!

Portanto, pontuemos sempre a nossa vida, as nossas ações e as nossas palavras para não sermos mal interpretados. E tenhamos cautela na apreciação das palavras e ações dos outros, particularmente daqueles que ainda não conhecemos bem, para evitar interpretá-las mal e cometer injustiças.

Rui Bandeira

30 outubro 2008

Deísmo, teísmo, ateísmo

Em peças anteriores, procurei chegar às definições de deísmo e teísmo, resultando, por contraste, também a de ateísmo. Hoje, pretendo relacionar estes conceitos.

Recordemos primeiro as definições que se utilizarão, para que se saiba sempre do que se está a falar:

Deísmo - posição filosófica que pretende enfrentar a questão da existência de Deus, através da razão, em lugar dos elementos comuns das religiões teístas tais como a "revelação divina", os dogmas e a tradição.

Teísmo - posição que resulta da crença na existência de Deus através da fé, designadamente por via da crença na Revelação em textos sagrados e ou nas profecias de portadores de mensagens tidas como oriundas da Divindade.

Ateísmo - posição que postula a inexistência de Deus.

Em termos de oposição polarizada, ateísmo opõe-se a teísmo e deísmo. Quem postula a inexistência de Deus insanavelmente se opõe a quem postula a sua existência, seja pela fé, seja pela razão.

Entre teísmo e deísmo não existe uma relação de género - espécie, segundo o qual aquele contém este e este é uma das modalidades daquele.

Partilhando um elemento fundamental - a crença em Deus - teísmo e deísmo não são opostos entre si. Também não se relacionam em termos de um conter o outro. São, no entanto, conceitos manifestamente diferentes. Como se relacionam então entre si? E algumas destas posições partilha algo com o ateísmo? O quê?

Na minha opinião, existe uma relação de derivação, de acrescento, de evolução. A questão coloca-se entre crença (fé) e razão. Entre acreditar para além de ou sem evidência e acreditar em resultado de evidência. Entre instinto e raciocínio.

Quer em termos de Humanidade, quer em termos individuais, o instinto é um elemento básico de sobrevivência. Há muitas coisas que fazemos porque estamos geneticamente programados para o fazer. Não se pensa nisso.

Desde os primórdios dos tempos que a Humanidade se confrontou com o mistério da existência do Universo e da Vida. E não o consegue decifrar. Se hoje a Ciência nos esclarece sobre a forma como a Vida evoluiu e evolui, se nos fornece uma teoria sobre como evoluiu o Universo, desde o que se costuma designar por Big Bang, ainda não nos consegue elucidar sobre a Força que causou esse Big Bang e, portanto, esclarecer-nos como de nada se fez tudo. Relativamente à origem do Universo, hoje a ciência pode dizer-nos, com razoável acerto, o que e o quando, mas não consegue (ainda?) elucidar-nos sobre o como e muito menos sequer arranhar o porquê nem o para quê...

No entanto, este mistério primordial sempre preocupou e estimulou a curiosidade da Humanidade. Que, não podendo saber, inventou e acreditou, mas também especulou, analisou e racionalmente concluiu. Uns que não existia Divindade, porque nenhuma prova da sua existência descortinam. Outros concluindo que o próprio problema é a prova da existência de algo superior, de uma Força Criadora, em suma, de Deus.

Deísmo e ateísmo partilham entre si a Razão. Só que, pela Razão, chegam a conclusões opostas...

Deísmo e teísmo partilham entre si a Crença. Só que o teísmo prescinde da Razão para obter a Crença e aquele obtém esta em resultado daquela.

Deístas e ateus utilizam o mesmo meio de se transportarem, mas chegam a destinos diferentes.

Deístas e teístas usam diferentes meios para viajarem, mas chegam ao mesmo destino.

O teísta crê e, porque crê, racionaliza essa crença.

O deísta usa a razão e chega à crença.

Historicamente, ouso dizê-lo, primeiro a Humanidade, as sociedades, os indivíduos foram teístas. Depois, alguns dos indivíduos, partes das sociedades e da Humanidade, evoluíram para o deísmo, não se conformando em acreditar, procurando e obtendo fundamento racional para a crença.

Embora em termos lógicos, para o deísta a razão preceda a fé, em termos cronológicos, a fé precedeu a razão.

Daí a minha afirmação de que o deísmo é uma evolução do teísmo. Daí que, na minha maneira de ver, não exista uma oposição entre teísmo e deísmo, mas uma evolução de teísmo para deísmo.

No teísmo existe fé. No deísmo existe fé e razão. Aquela criando a necessidade da intervenção desta. Esta fundamentando a existência daquela.

É com base nestas considerações que, finalmente, poderei chegar onde, desde o princípio queria chegar: procurar definir e relacionar entre si Maçonaria Deísta e Maçonaria Teísta, sem esquecer que existem também aqueles que se reclamam de integrarem uma Maçonaria que não será nem deísta, nem teísta, nem ateia, antes a reclamam de ser universal (ou liberal). Mas isso ficará para um próximo escrito.

Rui Bandeira

29 outubro 2008

Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 - Base XVI


BASE XVI

DO HÍFEN NAS FORMAÇÕES POR PREFIXAÇÃO, RECOMPOSIÇÃO E SUFIXAÇÃO

1º) Nas formações com prefixos (como, por exemplo: ante-, anti-, circum-, co-, contra-, entre-, extra-, hiper-, infra-, intra-, pós-, pré-, pró-, sobre-, sub-, super-, supra-, ultra-, etc.) e em formações por recomposição, isto é, com elementos não autónomos ou falsos prefixos, de origem grega e latina (tais como: aero-, agro-, arqui-, auto-, hio-, eletro-, geo-, hidro-, inter-, macro-, maxi-, micro-, mini-, multi-, neo-, pan-, pluri-, proto-, pseudo-, retro-, semi-, tele-, etc.), só se emprega o hífen nos seguintes casos:

a) Nas formações em que o segundo elemento começa por h: anti-higiénico/anti-higiênico, circum-hospitalar, co-herdeiro, contra-harmónico/contra-harmônico, extra-humano, pré-história, sub-hepático, super-homem, ultra-hiperbólico; arqui-hipérbole, eletro-higrómetro, geo-história, neo-helénico/neo-helênico, pan-helenismo, semi-hospitalar.

Obs.: Não se usa, no entanto, o hífen em formações que contêm em geral os prefixos des- e in- e nas quais o segundo elemento perdeu o h inicial: desumano, desumidificar, inábil, inumano, etc.

b) Nas formações em que o prefixo ou pseudoprefixo termina na mesma vogal com que se inicia o segundo elemento: anti-ibérico, contra-almirante, infra-axilar, supra-auricular; arqui-irmandade, auto-observação, eletro-ótica, micro-onda, semi-interno. Obs.: Nas formações com o prefixo co-, este aglutina-se em geral com o segundo elemento mesmo quando iniciado por o: coobrigação, coocupante, coordenar, cooperação, cooperar, etc.

c) Nas formações com os prefixos circum- e pan-, quando o segundo elemento começa por vogal, m ou n (além de h, caso já considerado atrás na alínea a): circum-escolar, circum-murado, circum-navegação; pan-africano, pan-mágico, pan-negritude.

d) Nas formações com os prefixos hiper-, inter- e super-, quando combinados com elementos iniciados por r: hiper-requintado, inter-resistente, super-revista.

e) Nas formações com os prefixos ex- (com o sentido de estado anterior ou cessamento), sota-, soto-, vice- e vizo-: ex-almirante, ex-diretor, ex-hospedeira, ex-presidente, ex-primeiro-ministro, ex-rei; sota-piloto, soto-mestre, vice-presidente, vice-reitor, vizo-rei.

f) Nas formações com os prefixos tónicos/tônicos acentuados graficamente pós-, pré- e pró-, quando o segundo elemento tem vida à parte (ao contrário do que acontece com as correspondentes formas átonas que se aglutinam com o elemento seguinte): pós-graduação, pós-tónico/pós-tônicos (mas pospor); pré-escolar, pré-natal (mas prever); pró-africano, pró-europeu (mas promover).

2º) Não se emprega, pois, o hífen:

a) Nas formações em que o prefixo ou falso prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por r ou s, devendo estas consoantes duplicar-se, prática aliás já generalizada em palavras deste tipo pertencentes aos domínios científico e técnico. Assim: antirreligioso, antissemita, contrarregra, contrassenha, cosseno, extrarregular, infrassom, minissaia, tal como hiorritmo, hiossatélite. eletrossiderurgia, microssistema, microrradiografia.

b) Nas formações em que o prefixo ou pseudoprefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por vogal diferente, prática esta em geral já adotada também para os termos técnicos e científicos. Assim: antiaéreo, coeducaçao. extraescolar, aeroespacial, autoestrada, autoaprendizagem, agroindustrial, hidroelétrico, plurianual.

3º) Nas formações por sufixação apenas se emprega o hífen nos vocábulos terminados por sufixos de origem tupi-guarani que representam formas adjetivas, como açu, guaçu e mirim, quando o primeiro elemento acaba em vogal acentuada graficamente ou quando a pronúncia exige a distinção gráfica dos dois elementos: amoré-guaçu, anajá-mirim, andá-açu, capim-açu, Ceará-Mirim.


Como se verifica pela leitura desta Base e da anterior, o uso do hífen na escrita do português é bem mais complexo do que parece. E ainda falta uma terceira Base para esgotar o assunto...

A melhor forma de diminuir o número de erros é procurar memorizar as exceções do artigo 1.º (atenção, por exemplo, a que se escreve micro-ondas e não microondas, como por aí tenho visto...) e aplicar a regra do artigo 2.º, que constitui a grande alteração.

Façamos, pois um esforço de autoaprendizagem e habituemo-nos à minissaia (bem mais agradável, normalmente, do que a maxissaia...), indignemo-nos com o antissemita e passemos a circular pela autoestrada.

Rui Bandeira

28 outubro 2008

A decisão


Duas dezenas de homens numa sala fechada. Ambiente de concentração. Decisões a tomar. O projeto, já anteriormente decidido, já estava em andamento. Mas havia que acertar as regras do seu funcionamento. Era altura de decidir sobre essas regras. O que tinha sido proposto já todos sabiam. Noventa por cento concordava com tudo ou, pelo menos, não tinha objeções essenciais em relação ao projeto que se ia discutir. Dez por cento concordava com noventa por cento do projeto. Mas esses dez por cento tinha discordâncias quanto aos restantes dez por cento da proposta...

Parecia que não seria difícil resolver. A esmagadora maioria concordava e mesmo os que tinham discordâncias era em relação a uma ínfima parte do que se discutia.

Mas aqueles homens eram todos homens que pensavam pela sua cabeça. Privilegiavam a razão. Sabiam que nem sempre ser o maior número implica ter-se razão. Apreciavam o debate, a discussão, o sopesar de argumentos.

O debate começou. Os argumentos foram apresentados. Depois reforçados. Seguidamente esgrimidos. Um que outro, aqui e ali, mostrava entusiasmo na defesa do seu pensamento. Entusiasmo para um lado, entusiasmo para o outro, aquecia o debate entre 90 % e 10 % em relação a 10 % de discordância no meio de 90 % de concordância. Como se afinal metade pensasse branco e a outra metade apontasse negro.

Quando tão poucos discordam de tantos em relação a tão pouco, a discordância pode confundir-se com teimosia, quiçá obstinação. Quando tantos veem tão poucos a discordar em tão pouco, pode surgir a tentação de usar a força do número, a imposição da maioria. Afinal, democracia também é isso, o seguir da opção da maioria...

Mas um dos discordantes fundamentava que a sua discordância era de princípio, que até concordava com a solução, não admitia era que fosse estipulado que era obrigatória. Se assim fosse, sentiria violada a sua liberdade. Os noventa por cento consideravam que era um preciosismo, um excesso de sensibilidade. Mas pensaram de novo. Se havia quem sentisse que algo intoleravelmente feria a sua liberdade, resolver o problema era o mínimo que tinham a fazer. E, conversa daqui, puxa dacolá, tesourada à esquerda, ponto e linha à direita, lá se achou maneira de deixar claro que a regra era fazer assim, mas quem em cada momento em concreto se opusesse podia exigir assado. Ficou a regra e ficou salvaguardada a liberdade de cada um.

Depois, outro dos discordantes mostrava o seu desconforto em relação a outro ponto, à forma como se apresentava algo. Parecia a muitos um excesso de zelo, um receio demasiado, uma prudência excessiva. Mas, bem vistas as coisas, para quê arrastar um para algo que lhe parecia uma imprudência? A quase todos parecia que era prudência excessiva. Mas para quê impor ao prudente o desconforto do que ele considerava imprudência? De novo, todos pensaram melhor. E concluíram que, se o prudente não devia travar todos os demais, também todos os demais deviam atender ao temor deste. Ficou assim decidido que se avançaria de determinada maneira, mas que, especificamente em relação a quem achasse melhor que se fizesse de mais cautelosa forma, assim se procederia. E assim nem ninguém era travado, nem ninguém seguia a velocidade que considerava louca...

Já só faltava um detalhe, quase que só uma palavra. Mas aí uns achavam que sim e outros que não. Aos que achavam que sim, parecia-lhes que avançar sem algo não valia a pena. Os que achavam que não, esses entendiam que o algo era mesmo para não avançar. Aqui parecia não haver consenso possível, saída airosa, exceção exequível. Era sim ou não. Noventa por cento discordava de dez por cento quanto a meio por cento. Mas esse meio por cento constituía uma discordância insanável.

O consenso busca-se, mas não é um princípio sagrado. Sempre que é possível, deve obter-se consenso, mas, quando não é, decide a maioria. Esta a ideia que bailava na cabeça de todos. A votação estava iminente. A discussão já cansava. Eis então que voz respeitada, até então silenciosa, lembra que as mudanças não são aceites por todos ao mesmo tempo, que os novos hábitos são seguidos com maior dificuldade por uns do que por outros. E sugere que se dê tempo ao tempo. Para que quem receia tenha tempo e possibilidade de se habituar. E quiçá dissipar os seus receios. E de novo todos pensam melhor. E concluem que não há mal nenhum em só tomar a definitiva decisão, em relação ao último ponto em que não havia consenso, tempos mais tarde. Que entretanto se praticaria uma versão limitada e experimental do que muitos queriam e alguns rejeitavam, para se ver os resultados. E depois, mais tarde, se veria se as objeções permaneciam.

E assim se decidiu. E todos os homens saíram da sala fechada. E foram recuperar do esforço de tanto debater e discutir tomando em conjunto uma refeição. E, assim fazendo, de mil coisas conversaram. Menos do que tinham debatido. Isso já não era preciso. E já não havia noventa por cento nem dez por cento nem meio por cento. Eram todos. Como sempre foram. Como há muito tinham aprendido a ser, em mútuo e inabalável respeito mútuo. Porque um é tão importante como todos e todos têm a importância que cada um ao conjunto dá.

Chamam a estes homens maçons. Os que estão de fora temem a sua união. Eles constroem-na, acarinham-na, fabricam-na, dia a dia, momento a momento. Também quando discordam. Sobretudo quando discordam!

Rui Bandeira

27 outubro 2008

Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 - Base XV


BASE XV

DO HÍFEN EM COMPOSTOS, LOCUÇÕES E ENCADEAMENTOS VOCABULARES

1º) Emprega-se o hífen nas palavras compostas por justaposição que não contêm formas de ligação e cujos elementos, de natureza nominal, adjetival, numeral ou verbal, constituem uma unidade sintagmática e semântica e mantêm acento próprio, podendo dar-se o caso de o primeiro elemento estar reduzido: ano-luz, arcebispo-bispo, arco-íris, decreto-lei, és-sueste, médico-cirurgião, rainha-cláudia, tenente-coronel, tio-avô, turma-piloto; alcaide-mor, amor-perfeito, guarda-noturno, mato-grossense, norte-americano, porto-alegrense, sul-africano; afro-asiático, afro-luso-brasileiro, azul-escuro, luso-brasileiro, primeiro-ministro, primeiro-sargento, primo-infeção, segunda-feira; conta-gotas, finca-pé, guarda-chuva.

Obs.: Certos compostos, em relação aos quais se perdeu, em certa medida, a noção de composição, grafam-se aglutinadamente: girassol, madressilva, mandachuva, pontapé, paraquedas, paraquedista, etc.

2º) Emprega-se o hífen nos topónimos/topônimos compostos, iniciados pelos adjetivos grã, grão ou por forma verbal ou cujos elementos estejam ligados por artigo: Grã-Bretanha, Grão-Pará; Abre-Campo; Passa-Quatro, Quebra-Costas, Quebra-Dentes, Traga-Mouros, Trinca-Fortes; Albergaria-a-Velha, Baía de Todos-os-Santos, Entre-os-Rios, Montemor-o-Novo, Trás-os-Montes.

Obs.: Os outros topónimos/topônimos compostos escrevem-se com os elementos separados, sem hífen: América do Sul, Belo Horizonte, Cabo Verde, Castelo Branco, Freixo de Espada à Cinta, etc. O topónimo/topônimo Guiné-Bissau é, contudo, uma exceção consagrada pelo uso.

3º) Emprega-se o hífen nas palavras compostas que designam espécies botânicas e zoológicas, estejam ou não ligadas por preposição ou qualquer outro elemento: abóbora-menina, couve-flor, erva-doce, feijão-verde; benção-de-deus, erva-do-chá, ervilha-de-cheiro, fava-de-santo-inâcio, bem-me-quer (nome de planta que também se dá à margarida e ao malmequer); andorinha-grande, cobra-capelo, formiga-branca; andorinha-do-mar, cobra-d’água, lesma-de-conchinha; bem-te-vi (nome de um pássaro).

4º) Emprega-se o hífen nos compostos com os advérbios bem e mal, quando estes formam com o elemento que se lhes segue uma unidade sintagmática e semântica e tal elemento começa por vogal ou h. No entanto, o advérbio bem, ao contrário de mal, pode não se aglutinar com palavras começadas por consoante. Eis alguns exemplos das várias situações: bem-aventurado, bem-estar, bem-humorado; mal-afortunado, mal-estar, mal-humorado; bem-criado (cf. malcriado), bem-ditoso (cf. malditoso), bem-falante (cf malfalante), bem-mandado (cf. malmandado). bem-nascido (cf. malnascido) , bem-soante (cf. malsoante), bem-visto (cf. malvisto).

Obs.: Em muitos compostos, o advérbio bem aparece aglutinado com o segundo elemento, quer este tenha ou não vida à parte: benfazejo, benfeito, benfeitor, benquerença, etc.

5º) Emprega-se o hífen nos compostos com os elementos além, aquém, recém e sem: além-Atlântico, além-mar, além-fronteiras; aquém-fiar, aquém-Pireneus; recém-casado, recém-nascido; sem-cerimônia, sem-número, sem-vergonha.

6º) Nas locuções de qualquer tipo, sejam elas substantivas, adjetivas, pronominais, adverbiais, prepositivas ou conjuncionais, não se emprega em geral o hífen, salvo algumas exceções já consagradas pelo uso (como é o caso de água-de-colónia, arco-da-velha, cor-de-rosa, mais-que-perfeito, pé-de-meia, ao deus-dará, à queima-roupa). Sirvam, pois, de exemplo de emprego sem hífen as seguintes locuções:

a) Substantivas: cão de guarda, fim de semana, sala de jantar;

b) Adjetivas: cor de açafrão, cor de café com leite, cor de vinho;

c) Pronominais: cada um, ele próprio, nós mesmos, quem quer que seja;

d) Adverbiais: à parte (note-se o substantivo aparte), à vontade, de mais (locução que se contrapõe a de menos; note-se demais, advérbio, conjunção, etc.), depois de amanhã, em cima, por isso;

e) Prepositivas: abaixo de, acerca de, acima de, a fim de, a par de, à parte de, apesar de, aquando de, debaixo de, enquanto a, por baixo de, por cima de, quanto a;

f) Conjuncionais: afim de que, ao passo que, contanto que, logo que, por conseguinte, visto que.

7º) Emprega-se o hífen para ligar duas ou mais palavras que ocasionalmente se combinam, formando, não propriamente vocábulos, mas encadeamentos vocabulares (tipo: a divisa Liberdade-Igualdade-Fraternidade, a ponte Rio-Niterói, o percurso Lisboa-Coimbra-Porto, a ligação Angola-Moçambique, e bem assim nas combinações históricas ou ocasionais de topónimos/topônimos (tipo: Áustria-Hungria, Alsácia-Lorena, Angola-Brasil, Tóquio-Rio de Janeiro, etc.).


O uso do hífen é matéria tão complexa que ocupa três Bases do Acordo Ortográfico - estas e as duas seguintes. As regras agora fixadas, sendo complexas, constituem, no entanto, uma razoável simplificação em relação ao antecedente. Francisco Álvaro Gomes, na sua obra O Acordo Ortográfico, Edições Flumen, Porto Editora, 2008, elucida que a Base XXIX do Acordo Ortográfico de 1945 fixou, nada mais, nada menos, do que 99 critérios para o uso do hífen! Leram bem: 99!

Esta Base não prevê mudanças em relação ao antecedente. Iremos ver que não é assim nas Bases seguintes.

Rui Bandeira

24 outubro 2008

As nove respostas do sábio

Recebi há tempos uma mensagem de correio eletrónico com uma apresentação dedicada ao filósofo grego Tales de Mileto e à sua sabedoria. Não sei se a situação descrita existiu ou se se trata de uma situação imaginada e que a sabedoria atribuída a Tales de Mileto é afinal devida a desconhecido autor da história... Seja como for, seja real ou putativa a sabedoria atribuída a Tales, não deixa de ser sabedoria. E bem avisado anda aquele que lhe der atenção! Como de costume, o texto abaixo publicado foi editado por mim, tendo-lhe sido introduzidas alterações que tive por adequadas.

Tales de Mileto foi um filósofo grego, fundador da Escola Jónica, considerado como um dos 7 sábios da Grécia Antiga.

Matemático, astrónomo e um grande pensador, Tales de Mileto viajou para o Egito, onde realizou estudos e entrou em contato com os mistérios da religião egípcia. Ali realizou uma façanha incrível, para a época: o seu talento matemático era tão pouco comum, que conseguiu estabelecer com precisão a altura das pirâmides, apenas medindo a sombra que projetavam. Terá sido o primeiro a dar una explicação lógica,para a ocorrência dos eclipses. Aliás, é-lhe atribuída a previsão de um eclipse do Sol, no ano de 585 A.C.. Foi o primeiro a sustentar que a Lua brilhava pelo reflexo do Sol e determinou o número exato de dias de um ano. Destacou-se principalmente pelos seus trabalhos em filosofia e matemática. Nesta última ciência, são-lhe atribuídas as primeiras demonstrações de teoremas geométricos, mediante o raciocínio lógico. Foi por estes trabalhos que foi considerado o pai da Geometria.

Para provar que o seu conhecimento tinha utilidade prática, afirmou que num determinado ano, a colheita de azeitonas seria excecional e arrendou a maioria das refinarias de azeite de Mileto. Com esta manobra ganhou uma boa quantia, somente com o propósito de fazer calar os que diziam que a filosofia era um capricho dos ociosos.

Eis então a história.

Um sofista aproximou-se de Tales de Mileto e tentou confundi-lo com as perguntas mais difíceis de que foi capaz. Mas o sábio de Mileto estava a altura da prova, porque respondeu a todas as perguntas sem a menor vacilação, e com a maior exatidão.

1 – O que é mais antigo?

R.– DEUS, porque sempre existiu.

2 – O que é mais belo?

R.– O UNIVERSO, porque é a obra de Deus.

3 – Qual é a maior de todas as coisas?

R.– O ESPAÇO, porque contém tudo do Criador.

4 – O que é mais constante?

R.– A ESPERANÇA, porque permanece no homem, mesmo depois de ter perdido tudo.

5 – Qual é a melhor de todas as coisas?

R.– A VIRTUDE, porque sem ela não existiria nada de bom.

6 – Qual é a coisa mais rápida de todas?

R.– O PENSAMENTO, porque em menos de um minuto, nos permite voar até aos confins do Universo.

7 – Qual é a mais forte de todas as coisas?

R.– A NECESSIDADE, porque é com ela que o homem enfrenta todos os perigos da vida.

8 – O que é o mais fácil de tudo?

R.– Dar CONSELHOS.

Quando chegou a nona pergunta, este sábio deu uma resposta quiçá não entendida por seu mundano interlocutor. A pergunta foi esta:

9 – O que é o mais difícil ?

E o Sábio de Mileto replicou:

Conhecer-se a si mesmo.

Qualquer destas resposta é tão válida e tão sábia hoje como no tempo de Tales de Mileto. E, mesmo sendo a tarefa mais difícil, bem avisado anda aquele que procura, antes e acima de tudo, conhecer-se a si mesmo...

Rui Bandeira

23 outubro 2008

Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 - Base XIV


BASE XIV

DO TREMA


O trema, sinal de diérese, é inteiramente suprimido em palavras portuguesas ou aportuguesadas. Nem sequer se emprega na poesia, mesmo que haja separação de duas vogais que normalmente formam ditongo: saudade, e não saüdade, ainda que tetrassílabo; saudar, e não saüdar, ainda que trissílabo; etc. Em virtude desta supressão, abstrai-se de sinal especial, quer para distinguir, em sílaba átona, um i ou um u de uma vogal da sílaba anterior, quer para distinguir, também em sílaba átona, um i ou um u de um ditongo precedente, quer para distinguir, em sílaba tónica/tônica ou átona, o u de gu ou de qu de um e ou i seguintes: arruinar, constituiria, depoimento, esmiuçar, faiscar, faulhar, oleicultura, paraibano, reunião; abaiucado, auiqui, caiuá, cauixi, piauiense; aguentar, anguiforme, arguir, bilíngue (ou bilingue), lingueta, linguista, linguístico; cinquenta, equestre, frequentar, tranquilo, ubiquidade.

Obs.: Conserva-se, no entanto, o trema, de acordo com a Base I, 3º, em palavras derivadas de nomes próprios estrangeiros: hübneriano, de Hübner, mülleriano, de Müller, etc.

Em Portugal, já há muitos anos que o trema tinha sido suprimido. Só agora, com o Acordo Ortográfico recentemente entrado em vigor, idêntica supressão ocorre no Brasil.

Tal como alguns intelectuais em Portugal se pronunciaram contra o Acordo Ortográfico, defendendo a manutenção da prioridade à etimologia sobre a fonética, também no Brasil alguns ilustres manifestaram discordância. Um dos polos desta, no Brasil foi precisamente a supressão do trema. João Ubaldo Ribeiro, grande escritor, apreciado em ambos os lados do Atlântico, chegou a clamar: Devolvam-me os meus tremas!

Em Portugal, os opositores do Acordo, sobretudo referindo a supressão das consoantes não pronunciadas, clamaram que este era uma cedência à norma de escrita brasileira. Porventura no Brasil alguns entenderão que a supressão do trema é uma cedência brasileira à norma de escrita lusa. Nem sequer discuto se, em qualquer caso, há ou não cedências. Mesmo que haja, não vejo qual o problema. Um Acordo é isso mesmo: cedências mútuas em relação às posições iniciais de forma a que se atinja uma posição conjunta.

Tal como em Portugal rapidamente se perceberá que as consoantes não pronunciadas não fazem falta nenhuma, também no Brasil não demorará muito a perder-se a nostalgia do trema, que um dia será lembrado como um exotismo semelhante ao ph que em tempos estava na pharmácia... E o trema vai passar a ser apenas coisa de alemão!

Rui Bandeira

22 outubro 2008

Hoje a música é...


Ele passa dias e dias que parece que não aparece.

Mas - como ele diz! - nunca anda longe.

Só escreve quando lhe apetece e está livre de bloqueios criativos.

Agora iniciou um novo projeto profissional e anda (ainda) mais ocupado.

Ultimamente deu-lhe para nos dar música - na Loja Mestre Affonso Domingues e aqui no blogue.

Ele é o José Ruah.

E hoje, 22 de Outubro, é o seu aniversário!

Portanto, hoje a música é outra!

Vá lá, cantem comigo: "Parabéns a você...".

Rui Bandeira

21 outubro 2008

A Festa dos Herois



Disse o Zé Ruah há 2 posts atrás que uma imagem vale mais do que mil palavras.

Sábias palavras de alguém, que ele lembrou e eu aproveito agora como balanço para Vos trazer alguns dos nossos herois, como dizia o outro, dos verdadeiros, dos bons...

Na 6ª feira passada o Presidente da República veio (escrevo veio naturalmente porque estou cá!) a Odivelas prestar homenagem à seleção nacional de parolímpicos que representou Portugal em Pequim, brilhantemente, sem terem sono pela manhã, nem complexos, nem nervosinho miudo.

E trouxeram 7 medalhas, sete (bonito número) !


Não são as medalhas que são importantes ?
Claro que são.
É ver o orgulho transbordante com que as mostram e as acariciam.
Não há palavras...

Mas é um grupo fabuloso ! A alegria é contagiante. Ninguém consegue ficar indiferente. Alguns já não se encontravam há algum tempo e a alegria natural juntou-se à emoção do reencontro.

Foi uma tarde linda, das que vale mesmo a pena viver e ver.

Tenho um filme feito que Vos trarei para aqui logo que esteja editado. Por agora ficam algumas fotos do encontro.














































Até breve com o filme !
JPSetúbal

20 outubro 2008

Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 - Base XIII


BASE XIII

DA SUPRESSÃO DOS ACENTOS EM PALAVRAS DERIVADAS

1º) Nos advérbios em -mente, derivados de adjetivos com acento agudo ou circunflexo, estes são suprimidos: avidamente (de ávido), debilmente (de débil), facilmente (de fácil), habilmente (de hábil), ingenuamente (de ingênuo), lucidamente (de lúcido), mamente (de má), somente (de só), unicamente (de único), etc.; candidamente (de cândido), cortesmente (de cortês), dinamicamente (de dinâmico), espontaneamente (de espontâneo), portuguesmente (de português), romanticamente (de romântico).

2º) Nas palavras derivadas que contêm sufixos iniciados por z e cujas formas de base apresentam vogal tónica/tônica com acento agudo ou circunflexo, estes são suprimidos: aneizinhos (de anéis), avozinha (de avó), bebezito (de bebé), cafezada (de café), chepeuzinho (de chapéu), chazeiro (de chá), heroizito (de herói), ilheuzito (de ilhéu), mazinha (de má), orfãozinho (de órfão), vintenzito (de vintém), etc.; avozinho (de avô), bençãozinha (de bênção), lampadazita (de lâmpada), pessegozito (de pêssego).

As regras decorrentes desta Base já se encontram em vigor em Portugal desde 1973 e no Brasil desde 1971. Aqueles que já escreviam na altura recordar-se-ão, certamente, como muitos diziam que nunca se haveriam de habituar à alteração de regras, que iam continuar a escrever como se tinham habituado a escrever e não se iam preocupar com essas "modernices", etc.. Pouco mais de trinta anos depois, ninguém já acentua as palavras em causa nesta Base... Nem os recalcitrantes dessa época! Talvez seja um indicador do que vai suceder com o Acordo Ortográfico de 1990...

As pessoas habituam-se a determinadas regras e temem, rejeitam, desagrada-lhes, mudanças. Escrever palavras diferentemente do que sempre se escreveu obriga a uma atenção, a um esforço, que muitos bem dispensariam. Ler palavras escritas diferentemente do que estávamos habituados a ler também nos causa inicialmente um desconforto, uma sensação de que algo não está bem. Mas, como escreveu Fernando Pessoa, quando criou uma frase publicitária para a Coca-Cola, primeiro estranha-se, depois entranha-se.

Tal como em Portugal com a transição do Escudo para o Euro e no Brasil com a transição entre as várias moedas ali sucessivamente usadas (Cruzeiro, Cruzado, Real), daqui a algum tempo não se estranhará as mudanças do Acordo Ortográfico de 1990, que recentemente entrou em vigor. Teremos o nosso período de estranheza e... depois as mudanças entranhar-se-ão!

Rui Bandeira

17 outubro 2008

A ajuda

Dizem que uma imagem vale por mil palavras.

E um encadeado de imagens e de sons num filme, por quantas palavras vale?

Hoje não vos trago um texto como base de reflexão. Hoje trago-vos um filme.

A situação é a seguinte:

Uma menina de 13 anos ganhou um prémio e foi cantar o hino nacional dos Estados Unidos nu jogo da NBA, liga de basquetebol profissional daquele país. Vinte mil pessoas no pavilhão, ela afinadinha. Então o braço tremeu, ela engasga-se e esquece-se da letra...Una branca !!!


Treze anos. Sozinha, ali no meio... O público, estupefacto, ameaça uma vaia. De repente, Mo Cheeks, técnico dos Portland Trail Blazers, aparece ao seu lado e começa a cantar, incentivando-a a ela e ao público. E a menina recupera e reganha confiança e acaba de cantar o hino, com força e vigor. E o público, que esteve a ponto de vaiar, acompanhou e aplaudiu. Bonita cena! Mas só porque alguém soube intervir acertadamente na hora adequada! Só porque alguém foi solidário e agiu, em vez de ficar apenas a ver!


Note-se: só o técnico é que tomou a iniciativa de ajudar, enquanto os demais só observavam estupefactos...

Ele demonstrou o que é ser verdadeiramente líder. Mostrou como uma atitude de liderança e solidariedade, no momento exato, pode fazer a diferença para ajudar um ser humano e mudar a história do jogo da vida.

E, assim, para mim mostrou que também sabe intervir quando necessário para ajudar os seus jogadores a mudar o rumo de um jogo. Se eu fosse dirigente de um clube de basquetebol, este era o técnico que eu procuraria contratar para a minha equipa. Não basta saber de técnicas e de táticas. Saber ser líder, saber ser solidário, saber atuar na hora certa, no momento exato, são as qualidades que muitas vezes fazem a diferença.

Espero que os Portland Trail Blazers tenham ganho este jogo! Ganharam, pelo menos, mais um adepto!

E nós? Estamos no mundo para ajudar ou para vaiar? Para assistir passiva e placidamente à queda dos outros, ou para intervir e ajudar quem precisa de ajuda, no momento em que ela é necessária?

Pensem nisso enquanto veem o filme!



Rui Bandeira

16 outubro 2008

Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 - Base XII


BASE XII

DO EMPREGO DO ACENTO GRAVE

1º) Emprega-se o acento grave:

a) Na contração da preposição a com as formas femininas do artigo ou pronome demonstrativo o: à (de a+a), às (de a+as);

b) Na contração da preposição a com os demonstrativos aquele, aquela, aqueles, aquelas e aquilo ou ainda da mesma preposição com os compostos aqueloutro e suas flexões: àquele(s), àquela(s), àquilo; àqueloutro(s), àqueloutra(s).

Esta Base, simples, curta e de fácil compreensão, consagra o uso do acento grave como se vem fazendo desde há já algum tempo, em ambos os lados do Atlântico.

Uma das dificuldades de quem está a aprender a escrita do português ou tem apenas conhecimentos básicos sobre a língua é, por vezes, distinguir, na escrita, à de (terceira pessoa do singular do presente do indicativo do verbo haver). Sendo a pronúncia de ambas as palavras idêntica, por vezes algumas pessoas hesitam quanto à forma de exprimir graficamente uma delas. Eis um método simples e rápido de desfazer a dúvida: substituir mentalmente na frase a palavra que se tem dúvida se é à ou por existe. Se a frase continuar a fazer sentido, então está-se perante a flexão verbal do verbo haver e deve escrever-se ; se a frase não fizer sentido, então está-se usando a contração da preposição com o artigo ou pronome e deve escrever-se à.

Não tem propriamente a ver com o Acordo Ortográfico, mas recordar este pequeno truque pode ajudar-nos a superar uma dúvida repentina...

Rui Bandeira

15 outubro 2008

Teísmo


Em textos anteriores, mostrei como as versões em inglês, francês e português da Wikipedia apresentavam definições aparentemente diversas e, até, opostas, do conceito de deísmo e como, afinal, vendo-se com mais atenção todas acabavam por confluir na noção de que o deísmo "pretende enfrentar a questão da existência de Deus, através da razão, em lugar dos elementos comuns das religiões teístas tais como a "revelação divina", os dogmas e a tradição".
Esta noção de deísmo parece conter em si, como contraponto, uma noção de teísmo, ou seja, que este enfrenta a questão da existência de Deus através de elementos constantes nas religiões estabelecidas, tais como a Revelação divina, o dogma ou a tradição.
Proponho que não nos fiquemos por aqui e testemos a validade da afirmação utilizando o mesmo método com que atingimos a noção de deísmo.
Na versão em inglês da Wikipedia, define-se teísmo como (tradução livre minha) sendo, no significado mais abrangente, a crença em, pelo menos, uma divindade. Um significado mais restrito exige que a divindade em que se crê seja uma entidade distinta e identificável, assim excluindo do conceito o panteísmo. Outro significado igualmente mais restrito especifica que a divindade ou divindades deve ou devem constituir uma força imanente e ativa no Universo, assim excluindo alguns entendimentos de deísmo (já nos dois artigos sobre a matéria por mim refutados) . O teísmo pode ser dividido em diferentes categorias, como, por exemplo, monoteísmo e politeísmo.
Já na versão em francês da enciclopédia virtual, podemos ler que (ainda tradução livre minha) o teísmo (do grego theos, Deus) é uma crença ou doutrina que afirma a existência de de um Deus ou de deuses e a sua influência no Universo, tanto na sua criação como no seu funcionamento. Segundo o teísmo religioso, a relação do homem com Deus ocorre através de intermediários (a religião). Segundo o teísmo filosófico, Deus rege o Universo diretamente. O teísmo opõe-se ao ateísmo. Entre as formas de teísmo, pode-se referir o panteísmo, o monoteísmo e o politeísmo.
Por fim, atentemos no que vem escrito na versão em português da Wikipedia: Teísmo (do grego Theós, "Deus") é um conceito surgido, no século XVII (por R. Cudworth, 1678), que sustenta a crença em Deus, opondo-se ao ateísmo. Podemos dividir o Teísmo em Monoteísmo (crença em um só Deus), Politeísmo (crença em vários deuses) e Henoteísmo (composta de veneração de um Deus Supremo, mas não nega a existência de outros).
Como vemos, a confusão entre as diferentes versões da Wikipedia permanece. Neste caso, porém, nem a versão em português se salva, pois remete para uma definição de um autor do século XVII, que se revela - como iremos ver - viciada.
Quanto ao que afirma a versão em inglês, começo por fazer notar que a definição de um conceito é a enunciação das suas caraterísticas intrínsecas e distintivas das demais realidades. Não faz, pois, sentido considerar como definição do conceito, o significado geral e os particulares, ou um destes. Há que optar! A versão em inglês da Wikipedia limita-se a dar conta de diversas posições, sem optar em termos de mérito ou acerto. O que faz é despejar várias noções, incompatíveis entre si e, quem quiser, que raciocine, que escolha, que opte, que critique. Ou seja, não fornece propriamente uma definição do conceito, já que não pode constituir definição o que pode ou não pode incluir o panteísmo, o que pode ou não pode incluir o deísmo. As versões "restritas" destinam-se. manifestamente, a excluir algo com que os seus cultores não concordam que integre o conceito.
Para uns panteísmo não é teísmo. O que, se partirmos do princípio que teísmo se opõe a ateísmo, classifica os panteístas como ateus. É uma discussão antiga, mas não é peditório para que aqui se deva dar... Aqui e agora trata-se de verificar o que é teísmo, não de "decretar" se um panteísta é crente ou ateu. Esta singela constatação basta para demonstrar como a conceção "restrita" de teísmo que exclui do conceito o panteísmo está viciada de inversão: foi criada primacialmente para excluir, para considerar ateu o panteísta, não para procurar entender o conceito de teísmo. Não é uma definição - é um preconceito!
Mais grave ainda, em termos lógicos, parece ser a conceção restrita de teísmo que exclui do âmbito do conceito o deísmo (e já em textos anteriores vimos que a distinção teísmo /deísmo através da crença intervenção divina ativa no funcionamento do Universo está incorreta e é uma falácia). É que, se teísmo se opõe a deísmo, qual deles se opõe a ateísmo? Ou opõem-se ambos e então temos dois conceitos opostos mas três conceitos opostos entre si, numa espécie de oposição triangular: teísmo opõe-se a ateísmo; teísmo opõe-se a deísmo; deísmo opõe-se a ateísmo)?. Tanto basta para se verificar um salto lógico (já anteriormente denunciado) no critério "crença num Deus interventivo/ crença num Deus passivo" para definir teísmo e deísmo...
Os conceitos "restritos" oferecidos pela enciclopédia virtual em inglês não são, pois, satisfatórios. Mas também não satisfaz o conceito "abrangente2, que postula ser teísmo a crença em, pelo menos, uma divindade. É que esta definição, bem vistas as coisas, não define completamente. Esclarece-nos que teísmo é diferente de ateísmo, por isso que este pressupõe que este não crê na existência de divindade. Mas, declarando apenas o que declara, inclui no conceito o deísta. Com efeito, o deísta crê em, pelo menos, um Deus... De onde a definição não distingue o conceito de todos os outros. É incompleta. Algo mais há que lhe acrescentar. Sabemos que deísmo e teísmo partilham a crença no Divino. Falta saber em que se diferenciam.
A versão em português da Wikipedia navega nas mesmas águas, não distinguindo teísmo de deísmo.
A versão em francês desta enciclopédia também não ajuda muito! A primeira definição que fornece é exatamente a mesma que forneceu quanto a deísmo. Ou seja, para esta versão, teísmo e deísmo têm exatamente a mesma definição - apesar de serem conceitos diferentes... O disparate prossegue com a distinção entre "teísmo religioso" e "teísmo filosófico", sendo que, aparentemente, aquele considera que Deus intervém através de capatazes e este que Deus, se quer o trabalho feito, tem de o fazer ele próprio... Obviamente que não são distinções destas que nos esclarecem....
Qual então, a meu ver, a definição de teísmo que devemos considerar? Simplesmente a que decorre da sua contraposição (não oposição, note-se...) ao deísmo: Teísmo resulta da crença na existência de Deus através da fé, designadamente resultante da crença na Revelação em textos sagrados e ou nas profecias de portadores de mensagens tidas como oriundas da Divindade.
Neste sentido, as Religiões do Livro (judaísmo, cristianismo e islamismo) pretendem todas que os seus seguidores sejam teístas, isto é, sejam crentes nas Revelações das Escrituras e dos Profetas.
Esta noção é importante para analisarmos a relação entre deísmo e teísmo. Será esse o objeto de um próximo texto.
Rui Bandeira

14 outubro 2008

Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 - Base XI


BASE XI

DA ACENTUAÇÃO GRÁFICA DAS PALAVRAS PROPAROXÍTONAS

1º) Levam acento agudo:

a) As palavras proparoxítonas que apresentam na sílaba tónica/tônica as vogais abertas grafadas a, e, o e ainda i, u ou ditongo oral começado por vogal aberta: árabe, cáustico, Cleópatra, esquálido, exército, hidráulico, líquido, míope, músico, plástico, prosélito, público, rústico, tétrico, último;

b) As chamadas proparoxítonas aparentes, isto é, que apresentam na sílaba tónica/tônica as vogais abertas grafadas a, e, o e ainda i, u ou ditongo oral começado por vogal aberta, e que terminam por seqüências vocálicas pós-tónicas/pós-tônicas praticamente consideradas como ditongos crescentes (-ea, -eo, -ia, -ie, -io, -oa, -ua, -uo, etc.): álea, náusea; etéreo, níveo; enciclopédia, glória; barbárie, série; lírio, prélio; mágoa, nódoa; exígua, língua; exíguo, vácuo.

2º) Levam acento circunflexo:

a) As palavras proparoxítonas que apresentam na sílaba tónica/tônica vogal fechada ou ditongo com a vogal básica fechada: anacreôntico, brêtema, cânfora, cômputo, devêramos (de dever), dinâmico, êmbolo, excêntrico, fôssemos (de ser e ir), Grândola, hermenêutica, lâmpada, lôstrego, lôbrego, nêspera, plêiade, sôfrego, sonâmbulo, trôpego;

b) As chamadas proparoxítonas aparentes, isto é, que apresentam vogais fechadas na sílaba tónica/tônica, e terminam por seqüências vocálicas pós-tónicas/pós-tônicas praticamente consideradas como ditongos crescentes: amêndoa, argênteo, côdea, Islândia, Mântua, serôdio.

3º) Levam acento agudo ou acento circunflexo as palavras proparoxítonas, reais ou aparentes, cujas vogais tónicas/tônicas grafadas e ou o estão em final de sílaba e são seguidas das consoantes nasais grafadas m ou n, conforme o seu timbre é, respetivamente, aberto ou fechado nas pronúncias cultas da língua: académico/acadêmico, anatómico/anatômico, cénico/cênico, cómodo/cômodo, fenómeno/ fenômeno, género/gênero, topónimo/topônimo; Amazónia/Amazônia, António/Antônio, blasfémia/blasfêmia, fémea/fêmea, gémeo/gêmeo, génio/gênio, ténue/tênue.


Esta Base em nada inova relativamente ao praticado, quer em Portugal, quer no Brasil, quer nos demais países lusófonos.

Mantém o critério, que é uma das traves-mestras do Acordo Ortográfico, de prever variantes de acentuação, consoante a pronúncia de vogal seja aberta ou fechada. Em regra, havendo discrepância de pronúncias, verifica-se que em Portugal se pronuncia a vogal tónica aberta, logo, devendo ser acentuada, utiliza-se o acento agudo e que no Brasil se pronuncia a vogal fechada que, se dever ser acentuada, o é com acento circunflexo.

Palavras proparoxítonas são as palavras cuja sílaba tónica é a antepenúltima, também designadas por palavras esdrúxulas.

Esta Base é um exemplo evidente de como o texto do Acordo Ortográfico, na preocupação de ser cientificamente correto e completo, se torna de leitura árida, difícil e complicada. Com efeito, todas as previsões desta Base se podem resumir numa única frase, certamente de mais fácil entendimento do que o indubitavelmente completo, mas complexo, texto nela utilizado:

A
vogal da sílaba tónica/tônica das palavras proparoxítonas (esdrúxulas) é sempre acentuada, com acento agudo ou acento circunflexo, consoante o seu timbre é, respetivamente, aberto ou fechado nas pronúncias cultas da língua.

Bastante mais simples, não é?

Rui Bandeira

13 outubro 2008

Excalibur


Excalibur é o nome da espada do Rei Artur, na saga dos Cavaleiros da Távola Redonda. Excalibur é também o nome da Loja n.º 46 do registo da Grande Loja Legal de Portugal / GLRP.

Há dias, fiz algo que, por temperamento, opção e condições de vida, muito raramente faço: fui visitar uma outra Loja - precisamente a Excalibur. Normalmente, o meu estilo é mais bicho-do-mato, acantonado na sua toca de que, seguro e confortável, conhece todos os cantos, recantos e esconderijos. No meu caso, e no que respeita à Maçonaria, a minha toca é a Loja Mestre Affonso Domingues. Do seu espaço, por regra só saio em bando, isto é, em grupo com outros elementos, em visitas programadas, agendadas e meticulosamente preparadas. Vamos todos ou bastantes, vai a Loja e eu nela. Não vou sozinho. É assim uma espécie de vou, mas fico... Coisas de bicho-do-mato... Mas, uma vez não são vezes, estava para ali virado e, pronto, apenas acompanhado de mim mesmo resolvi aproveitar uma noite livre e ir visitar outra Loja. E lá fui à Excalibur!

Não foi tão por acaso quanto isso e quanto dou a entender no parágrafo anterior - confesso! Há uns meses tinha sido convidado para lá ir e entendi por bem declinar o convite. Pruridos meus... Na instalação do atual Venerável Mestre da Loja Mestre Affonso Domingues, a Excalibur deu-nos o prazer de estar connosco e de se fazer representar pelo elemento que me tinha dirigido o declinado convite. Mal me viu, atirou à queima-roupa: "Estás-nos a dever uma visita!" E eu lá assobiei para o lado, fingindo que não era nada comigo, mas interiormente remoendo que o atirador da frase me atingira em cheio, que a mim isto de ser devedor é coisa que me deixa com um desconforto moinhento, que não mata nem dói, mas me vai paulatinamente moendo e moendo... Fraquezas... Foi assim que lá decidi tirar as minhas tamanquinhas e lá ir saldar a minha dívida!

Não é por acaso que um dos costumes maçónicos mais apreciados é precisamente o de visitar outras Lojas. Bem o sei, mas a minha bicheza-do-mato e outros condicionalismos vão-me puxando para a raridade de tais cometimentos. O que tem a inegável vantagem de me permitir apreciar superlativamente visita que, lá de muito longe em longe, faço. Afinal de contas, aprecia-se muito mais o que é raro do que o que é corriqueiro, não é? (Façam o favor de reparar na habilidade com que me auto-justifiquei da raridade das minhas visitas, assim a modos que a deixar cair que haverá quem seja um habitué de visitas, mas eu cá sou muito mais requintado, sou um visitante gourmet que faz questão de apreciar o que é raro...).

Chegados a este quinto parágrafo, quem (ainda) me está lendo já vai sendo titilado pelo pensamento de que "hoje este tipo / gajo / fulano (considerar a opção preferida) não ata nem desata e nunca mais avança: já se percebeu que é raro ele ir visitar outras Lojas. Pronto, uma frase chega, e está este ##### (introduzir insulto favorito) para aqui a engonhar para quê?".

Eu explico: a visita à Excalibur deixou-me realmente muito bem disposto e quando eu estou neste estado de boa disposição exaltada fico como vocências podem constatar, dá-me para escrever assim ligeirinho, borboleteando texto fora sem rumo definido, escrevendo apenas pelo prazer de escrever.

A visita à Excalibur foi gloriosa! Conheci gente 5 *****, vi a Loja Excalibur trabalhar umas vezes como a minha Loja, outras fazer diferente dela (esta é uma das riquezas das visitas de maçons a outras Lojas: apreciar as semelhanças e diferenças em relação à sua), estive numa reunião interessante, bem conduzida pelo Venerável Mestre e bem trabalhada pelos Oficiais em exercício, participei num convívio que só se pode adjetivar com justiça se se usar agradável no superlativo.

Sobretudo, tive o grande prazer de ver um grupo coeso, fraterno e dedicado. Não é um grupo muito grande. A Loja Excalibur não é uma Loja com uma grande dimensão. É relativamente recente, passou por uma grande crise, de que ainda está a recuperar. E fiquei muito feliz por ver,
ao vivo e a cores, que está a recuperar muito bem, que os mais antigos da Loja saíram fortalecidos da crise e hoje transpiram confiança e satisfação por o seu esforço começar a dar frutos, e que os mais novos são elementos de apreciável valor que, a seu tempo, pegarão no testemunho e saberão prosseguir a senda de crescimento e de inovação que visivelmente a Excalibur já trilha.

As Lojas são como as pessoas: não se medem aos palmos. E a Excalibur, atesto-o, certifico-o, assino por baixo, ponho lacre e selo em branco, é UMA GRAAAANDE LOJA!!!

Percebem agora porque estou contente como um cachorrinho e me deu para esparvoar em texto ligeirinho e errante. É que não há nada que me ponha melhor do que ver os meus Irmãos bem! E, sabendo como sabia que a Excalibur tinha tido que ultrapassar uma crise e superar dificuldades não negligenciáveis, vê-la pujante, esperançosa, inovadora, só podia deixar-me com esta boa disposição toda!

E, já agora, também ficaram a perceber a sorte que têm em eu ser bicho-do-mato e só muito raramente ir visitar outras Lojas. Já viram o que era se começasse a tornar-se um hábito a boa disposição dar-me para me pôr a usar o teclado em textos como este? Não havia nem ponta de paciência para me aturar! E vocês é que ainda acabavam A Partir Pedra - para ma atirarem à cabeça....

(Bom, hoje não dá; é melhor mesmo parar por aqui, antes que o nível de disparate atinja níveis intoxicantes...!)

AH! GAND'A EXCALIBUR! FIQUEI FÃ! (Até sou capaz de vos voltar a visitar... daqui a uns anos...)

(Raio do teclado! Nunca mais para! Como é que se tiram as pilhas desta coisa? Eu bem disse que a ideia de me darem com a Excalibur na cabeça ia dar mau resultado...)

Rui Bandeira

11 outubro 2008

Se eu soubesse ...



Se algum dia eu soubesse que nunca mais te veria,
Dar-te-ia um abraço mais forte e pediria ao G.'. A.'. D.'. U.'.
Para o guardar para a ressurreição.

Se eu soubesse que seria a última vez que te via
Saindo para sempre do templo, do Ágape,
Dar-te-ia um fortíssimo T.'. F.'. A.'.
E chamar-te-ia para te dar mais um.

Se eu soubesse que seria a última vez que ouvia a tua voz
Na Palavra a Bem da Ordem,
eu gravaria cada movimento e cada palavra,
Para revê-los depois todos os dias.

Se eu soubesse que seria a última vez
Que eu poderia parar mais um ou dois minutos
Para te dizer "meu querido Ir .'. como gosto de ti"
Eu diria, ao invés de deixar que tu presumisses.

Se eu soubesse que hoje seria o último dia
A compartilhar contigo,
tenho certeza de que o sentiria muito mais intensamente
em vez de deixá-lo simplesmente passar.

Sempre acreditamos que haverá o amanhã para corrigir
um descuido e para ter uma segunda chance de acertar.

Será que haverá, sempre, um outro dia
Para expormos os nossos sentimentos?

Haverá sempre uma chance para dizer
"Meu Querido Ir.'., posso fazer alguma coisa por ti"?

O amanhã não é garantido para ninguém,
Sejam para jovens ou mais velhos,
e hoje pode ser a última oportunidade
De abraçarmos aqueles que amamos.

Então, se estamos à espera do amanhã,
Por que não agirmos hoje?

Assim, se o amanhã nunca chegar,
não teremos o arrependimento
De não termos aproveitado
um momento para um sorriso,
para um abraço, uma gentileza,
porque estávamos muito ‘ocupados'
para dar a um Ir.'. o que poderia ser o seu último desejo.

Abracemos hoje aqueles IIr.'.
Que amamos, falemos mais de perto,
se peciso for até nos seus ouvidos,
dizendo-lhes o quanto nos são caros
e que sempre os amaremos.

Encontremos tempo para dizer:

"Desculpa-me"
"Perdoa-me"
"Obrigado"
"Eu perdou-te"
"Eu adoro-te"

Meu Querido Ir.'.
Como tu és importante pra mim!

"Como é bom ter-te como Ir.'. e Amigo"

Adaptado de (autor desconhecido)

10 outubro 2008

O estropiado

Quem costuma visitar este blogue já se apercebeu que, em muitas sextas-feiras, aqui publico pequenas histórias que são pretextos ou pontos de partida para alguma reflexão. São historietas que seleciono de entre as muitas coisas que recebo por correio eletrónico, normalmente de autoria desconhecida e que eu reescrevo à minha maneira. A de hoje é um pouco diferente. Porventura a primeira reação que provocará em quem a ler será de alguma perturbação. Mas convido à leitura da história e depois se verá que caminhos de reflexão ela nos abre.

Esta é a história de um soldado que, finalmente voltava para casa, depois de ter lutado na guerra. Os pais, em sua casa, receberam dele um telefonema:


- Mãe, pai, vou voltar para casa, mas antes quero pedir-lhes um favor. Tenho um amigo que eu gostaria de levar comigo.


- Claro. Nós adoraríamos conhecê-lo também! - responderam os pais.


O filho, porém, continuou:


- Há algo que precisam de saber antes. O meu amigo foi terrivelmente ferido em combate. Pisou uma mina e perdeu um braço e uma perna. O pior é que ele não tem nenhum outro sítio para onde ir.


- Credo!!! Que tragédia, filho! Talvez possamos ajudá-lo a encontrar algum sítio para viver!


- Não, mãe, eu quero que ele possa viver connosco na nossa casa!


- Filho, não vês o que nos estás a pedir? Não tens a noção da gravidade do problema? - interrompeu o pai.


A mãe, concordando com o marido, reforçou:


- Alguém com tantas dificuldades seria um fardo para nós. Temos as nossas próprias vidas e não queremos que uma situação dessas interfira no nosso modo de viver. Acho que deves voltar para casa e esquecer esse rapaz. Ele encontrará uma maneira de viver por si mesmo!


Nesse momento, o filho desligou abruptamente o telefone e nunca mais os pais ouviram uma palavra dele.


Alguns dias depois, os pais receberam um telefonema da polícia, informando que o filho tinha morrido de uma queda de um prédio. A polícia acreditava em suicídio.

Os pais, angustiados, deslocaram-se à cidade onde o filho se encontrava e foram conduzidos à morgue para identificar o corpo. Reconheceram o seu filho e, para o seu terror e espanto, descobriram algo que desconheciam:

“O FILHO DELES TINHA APENAS UM BRAÇO E UMA PERNA!”


Este é o tipo de situação que não é fácil de analisar nem evidente tirar lição. Os pais amavam o seu filho. Não tinham qualquer ligação com o desconhecido amigo que ele mencionava. Recebê-lo-iam de bom grado... se ele fosse "normal". Mas a perspetiva de ter indefinidamente a viver com eles um estropiado não lhes era agradável. Se fosse o filho quem estivesse nessa situação, não hesitariam em acolhê-lo e prestar-lhe todo o auxílio e assistência que necessitasse e de que fossem capazes. Mas não estavam dispostos a perturbar a sua vida por causa de um estranho e da sua infelicidade. Ele haveria de resolver o problema. Ou o Estado... Ou alguém...


Podemos, em bom rigor, criticar a reação dos pais? Podemos atirar a primeira pedra? Porventura não teríamos nós idêntica reação? Não damos nós absoluta prioridade à nossa família e só na medida em que esta não seja afetada estamos dispostos a auxiliar outrem?


Por seu turno, o filho, estropiado, temendo ser um fardo insuportável para os seus pais, quis testar a reação que teriam perante a perspetiva de verem a sua vida altamente perturbada com a presença de alguém tão incapacitado e a necessidade de o auxiliar. E a confirmação da sua suspeita de que o fardo que ele iria constituir seria demasiado penoso para os seus pais levou-o ao desespero.


Agiram mal os pais? Mas não agiríamos nós também assim? Não diferenciaríamos o nosso filho de um estranho? Não estaríamos nós dispostos a fazer sacrifícios pelo nosso filho que não faríamos por um estranho?


Agiu mal o filho? Mas não agiu ele por amor a seus pais, querendo certificar-se de que não seria um insustentável sacrifício para eles lidar com um filho estropiado?


Em bom rigor, há que reconhecê-lo, quer uns, quer o outro agiram de forma natural. No entanto, o resultado foi trágico!


A lição a extrair - digo eu! - é que não basta agir de forma natural, socialmente aceite. Pessoas de bem devem elevar os padrões de exigência perante as suas próprias escolhas e ações. Porque as escolhas naturais, as que a maior parte das pessoas faria, por vezes não chegam. Se pretendemos ter um elevado sentido ético, temos de entender que a equivalente responsabilidade pelas nossas escolhas também aumenta. Não basta ser normal. Devemos procurar ser melhores do que o normal. Porque só assim podemos tornar a normalidade melhor!


Os pais agiram de uma forma que achamos normal. Mas não agiram bem. É natural que o seu amor pelo filho se sobreponha à indiferença perante um estranho. Mas... deveriam ter indiferença perante um estranho? Em especial, AQUELE putativo estranho? É claro que não podemos, ninguém pode, resolver todos os problemas de todos em todo o mundo! É claro que nos toca mais quem nos está mais próximo e nos preocupamos menos com quem desconhecemos. Mas o facto de ser manifestamente importante para o filho acolher o putativo amigo estropiado deveria alertá-los, sacudir-lhes a indiferença, predispô-los a analisar a melhor forma de ajudar quem era importante para o filho, sem prejudicar a sua família. Na história, era o filho o estropiado. Mas podia ser um amigo que tivesse assim ficado ao salvar o filho... E então haveria uma dívida de gratidão a a pagar...


O erro dos pais foi não prestar atenção ao filho, não dar importância ao que o filho sentia e pretendia, sem se questionarem sobre a razão que estaria subjacente a essa pretensão. O filho não era louco. Alguma razão deveria existir para que ele pretendesse impor um tão pesado fardo à sua família. Recusar liminarmente a possibilidade, sem sequer questionar o porquê, a motivação, foi a receita para o desastre. Os pais amavam o filho, mas não o respeitaram o suficiente para analisar COM ELE os seus motivos e o seu propósito. Se o tivessem feito, se tivessem tido o respeito suficiente pela individualidade do filho, não teriam rejeitado liminarmente a sua pretensão, mostrar-se-iam dispostos a receber, ainda que porventura numa base provisória, o putativo estropiado que tão importante era para o filho e procurariam descortinar as razões que estavam por trás do seu pedido. Se assim tivessem procedido, teriam podido VER essas razões e teriam evitado a tragédia!


Eis portanto uma importante lição que podemos tirar desta história: não basta amar os nossos filhos: temos que também os RESPEITAR. Respeitar o suficiente para não rejeitarmos liminarmente as suas escolhas, as suas pretensões, sem sequer curar de saber os motivos que subjazem a essas escolhas, a esses pedidos. Ter presente esta lição e efetivamente praticá-la pode porventura evitar uma tragédia ou simples consequências desagradáveis, em relação aos que mais amamos.


E uma segunda lição, mais genérica, será: não basta ser bom; há que ser melhor!


A Maçonaria alerta-nos constantemente para isso!


Rui Bandeira

09 outubro 2008

Ser maçon é...

...conciliar o egoísmo com o altruísmo...

Conceitos aparentemente opostos e impossíveis de harmonicamente se justaporem e operarem em simultâneo! No entanto, a natural e intuitiva conciliação entre estes dois opostos integra a essência da condição de maçon.

O maçon deve prosseguir o egoísmo de se aperfeiçoar a si mesmo, como objetivo principal. Não aperfeiçoar os outros, a Sociedade, a Loja ou seus Irmãos. Aperfeiçoar-se a si mesmo: este o verdadeiro e essencial objetivo do maçon. Nesse processo, o maçon descobre que uma ferramenta de inestimável valor é a sua interação com seus Irmãos, com eles e através deles aprendendo, intuindo, tateando, tenteando, reconhecendo e percorrendo o caminho do seu aperfeiçoamento pessoal, aqui largo e prazenteiro, ali rude e pedregoso, acolá estreitamente demarcado, mais adiante dificilmente reconhecível em suas fronteiras. E, egoística mas indispensavelmente, aproveita tudo o que pode - tudo o que deve! - do que seus Irmãos, a sua Loja, a sua Obediência, lhe proporcionam e que se revele útil para o pretendido aperfeiçoamento: uma ideia aqui, um pensamento acolá, uma lição deste, um conselho daquele, desejavelmente o exemplo de muitos, se não todos. Tudo, desde o mais brilhante artefato, ao simples resquício de uma sombra de um leve conhecimento, deve ser avaramente guardado, diligentemente aproveitado, oportunamente utilizado na construção a que cada um incessantemente se deve dedicar: a construção dele próprio, do seu caráter, do espírito livre e puro e capaz de evoluir, de pairar, de avançar para desconhecidos limites até para além do Ilimitado. E assim cada dia vai um pouco mais longe, é um pouco melhor, é, afinal, maçon!

Mas o maçon depressa aprende que, tal como os seus Irmãos são inestimável ferramenta para sua melhoria, assim também ele próprio é, por sua vez, não desprezável ferramenta para a demanda efetuada por cada um de seus Irmãos. Logo intui que, ao tirar, também põe, e é tirando e melhorando que cada vez mais põe para que outros também tirem, e por sua vez melhorem, e reponham, e lhe permitam de novo algo mais retirar, num infindável e frutuoso círculo virtuoso.

Nenhum maçon é maçon sozinho. Só se é plenamente maçon no confronto com seus Irmãos, dando e recebendo e todos assim aproveitando. O todo é, cada vez e cada vez mais, sempre superior à soma das partes. Esta inata cooperação, em que cada um gostosamente contribui para o Outro é condição indispensável para que cada um retire o seu salário da Arca da Loja - e cada vez retire mais e melhor salário.

Portanto, o maçon é altruísta como meio de prosseguir o seu egoísta objetivo de aperfeiçoamento e coloca o resultado em cada momento egoisticamente obtido ao altruísta dispor dos demais.

... viver a vida plenamente e não temer a morte...

Na demanda do Graal de cada maçon, rapidamente cada um se apercebe de que é bem mais do que mera acumulação de ossos e sangue e carne e vísceras, matéria fremente e animada, que um dia se gastará e quedará inanimada. Logo questiona a origem e a razão da existência da Vida e do Universo. E busca o seu significado. E encontra suas respostas, tendo presente e reconhecida a noção do Grande Arquiteto do Universo - do SEU Grande Arquiteto do Universo, seja o que reconhece da religião que pratica, seja o que entrevê através da sua própria Razão, em pessoal teologia, tão válida como qualquer religião instituída. E assim percebe o seu lugar na Vida e no Universo - e alcança a Paz. Paz consigo mesmo, Paz com o sentido da Vida, Paz com a perpétua evolução.

Cada maçon aprende - desejavelmente aprende, mais cedo ou mais tarde! - que a vida física, material, é apenas parte da Vida com V maiúsculo. Que o invólucro que é o nosso corpo, com suas dores e cansaços e doenças e envelhecimento e inexorável fim, é apenas isso, a vasilha que transporta e contém e protege o verdadeiramente valioso conteúdo que cada um de nós realmente TEM (que digo eu? É!), tantas vezes sem o saber, sem sequer o intuir. Conteúdo a que uns chamam alma, outros espírito, outros ainda outra coisa qualquer e que eu gosto de designar pela Centelha Divina que existe em cada um de nós, que é a razão de ser de cada um de nós e que sobrevive para além da materialidade de cada um de nós.

Ao compreender isto, o maçon entende que a vida física é parte do conceito mais abrangente da Vida (com V maiúsculo), como fator indispensável à evolução dessa Vida, por isso que existe, pois, se o não fosse, não teria razão para existir - seja-se criacionista, seja-se evolucionista, é território aprazivelmente neutro e comum a conceção de que o que não tem razão para existir, papel para desempenhar...não existe ou se, por erro ou acaso, existiu, extingue-se... Mas, sendo a vida física apenas parte da Vida (com V maiúsculo), é apenas um episódio, certamente importante, mas só um episódio. E, ao compreender isto, pode viver plenamente e em Paz esse episódio, aquilo a que chamamos a nossa vida, o tempo que nos é concedido entre o nascimento e a morte.

E, assim compreendendo, está em condições de não temer a morte física, que pode entender como mais uma Iniciação, uma Passagem, uma Elevação a um novo estádio da Vida (com V maiúsculo).

Uma obra do género designado por ficção científica, cujo título há muito esqueci e cujo autor também há muito olvidei, postulava que existia na vida da Humanidade um terrível segredo. Segredo que, algum dia, alguém descobriu e que era que, afinal, toda a Humanidade via o filme ao contrário: aquilo que temos por nascimento é afinal a morte, a degradação para o plano físico de algo mais puro e perfeito, e que aquilo que se tinha por morte é então o verdadeiro nascimento para o próximo passo da evolução da nossa Essência. Essa esquecida obra de esquecido autor será porventura mera e imaginosa caricatura. Mas não vemos nós que em toda a caricatura está, quiçá de modo deformado, o traço da realidade?

Ao entender que vale muito mais do que o seu invólucro material, o maçon aprende a viver plenamente a vida e a não temer a morte.

... viver a Iniciação em todos os dias da sua vida...

O maçon, quando iniciado, recebe lição, noções, princípios, afinal ferramentas que - muitas delas - não entendeu plenamente nessa ocasião. De algumas porventura nem mesmo se apercebeu então. Só mais tarde, revivendo a Iniciação, participando na Iniciação de outros, a pouco e pouco tudo vai entendendo e encaixando. E, fazendo-o, se bem refletir, verá que o que viveu , o que ouviu, o que sentiu, as lições que recebeu naquela ocasião são um guião de vida que deve ter sempre presente.

Se o maçon se comportar sempre de acordo com o que simbolicamente viveu na sua Iniciação, com o que ouviu, com as lições que aí recebeu, será efetivamente um Homem Livre e de Bons Costumes. Se viver de forma conforme com a lição da sua Iniciação, viverá bem, será útil a si próprio, aos outros e à sociedade. Nada mais precisa de fazer. Nada mais lhe é exigível.

No fundo, uma das coisas que é agradável na Maçonaria é a sua desarmante simplicidade: não são precisas grandes invenções, não são necessários etéreos princípios. Para se ser Digno, Justo e, tanto quanto humanamente possível, Perfeito, para aliar a Sabedoria à Força e à Beleza, para viver em Liberdade e em Fraternidade segundo os princípios da Igualdade, só é necessário proceder segundo o que aprendeu na Iniciação. E, chegada a hora, poderá pousar as suas ferramentas em Paz e com a noção do dever cumprido.

... conhecer e praticar os sinais , palavras e toques...


Não há que inventar! Está num texto que o Aprendiz deve conhecer e não se deve nudar o que está bem:

Um maçon é reconhecido pela sua forma de agir, sempre correta e franca (sinais); pela sua linguagem leal e sincera (palavras); por fim, pela solicitude fraterna que manifesta com todos a que se acha ligado pelos laços da solidariedade (toques).

É afinal tão simples ser maçon!

... Ser, simplesmente e verdadeiramente Ser - não Parecer!

O maçon, beneficiando da absorção, na sua personalidade, no seu caráter, na sua prática de vida, dos princípios que recolhe na Loja e na Fraternidade - afinal, dito mais simplesmente, aperfeiçoando-se - só precisa de Ser. Ser como é. Ser aquilo em que se transforma. Fazendo-o, vale a pena ser maçon, o salário está ganho, o objetivo é atingido.

No fim como no princípio, a noção-chave é a de aperfeiçoamento individual. Que se obtém pelo trabalho, pelo esforço, pela dedicação. Que se pratica. Que não se consegue parecer que se obteve!

Inútil é tentar "parecer" maçon. Tarde ou cedo - mais cedo do que mais tarde! - os que efetivamente são maçons reconhecem que quem quer "parecer" sem "ser" não é efetivamente um maçon. Quando muito, poderá ser um profano que passou por uma iniciação, mas não foi verdadeiramente iniciado. E esse pode continuar a tentar "parecer" à vontade. Nenhum verdadeiro maçon se incomodará com isso. Mas nenhum verdadeiro maçon o reconhecerá como tal, até que deixe de tentar Parecer e tente começar a Ser.

Rui Bandeira

08 outubro 2008

Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 - Base X

BASE X

DA ACENTUAÇÃO DAS VOGAIS TÓNICAS/TÔNICAS GRAFADAS I E U DAS PALAVRAS OXÍTONAS E PAROXÍTONAS


1º) As vogais tónicas/tônicas grafadas i e u das palavras oxítonas e paroxítonas levam acento agudo quando antecedidas de uma vogal com que não formam ditongo e desde de que não constituam sílaba com a eventual consoante seguinte, excetuando o caso de s: adaís (pl. de adail), aí, atraí (de atrair), baú, caís (de cair), Esaú, jacuí, Luís, país, etc.; alaúde, amiúde, Araújo, Ataíde, atraíam (de atrair), atraísse (id.) baía, balaústre, cafeína, ciúme, egoísmo, faísca, faúlha, graúdo, influíste (de influir), juízes, Luísa, miúdo, paraíso, raízes, recaída, ruína, saída, sanduíche, etc.

2º) As vogais tónicas/tônicas grafadas i e u das palavras oxítonas e paroxítonas não levam acento agudo quando, antecedidas de vogal com que não formam ditongo, constituem sílaba com a consoante seguinte, como é o caso de nh, l, m, n, r e z: bainha, moinho, rainha; adail, paul, Raul; Aboim, Coimbra, ruim; ainda, constituinte, oriundo, ruins, triunfo; atrair, demiurgo, influir, influirmos; juiz, raiz; etc.


3º) Em conformidade com as regras anteriores leva acento agudo a vogal tónica/tônica grafada i das formas oxítonas terminadas em r dos verbos em -air e -uir, quando estas se combinam com as formas pronominais clíticas -lo(s), -la(s), que levam à assimilação e perda daquele -r: atraí-lo(s,) (de atrair-lo(s)); atraí-lo(s)-ia (de atrair-lo(s)-ia); possuí-la(s) (de possuir-la(s)); possuí-la(s)-ia (de possuir-la(s) -ia).


4º) Prescinde-se do acento agudo nas vogais tónicas/tônicas grafadas i e u das palavras paroxítonas, quando elas estão precedidas de ditongo: baiuca, boiuno, cauila (var. cauira), cheiinho (de cheio), saiinha (de saia).


5º) Levam, porém, acento agudo as vogais tónicas/tônicas grafadas i e u quando, precedidas de ditongo, pertencem a palavras oxítonas e estão em posição final ou seguidas de s: Piauí, teiú, teiús, tuiuiú, tuiuiús.


Obs.: Se, neste caso, a consoante final for diferente de s, tais vogais dispensam o acento agudo: cauim.


6º) Prescinde-se do acento agudo nos ditongos tónicos/tônicos grafados iu e ui, quando precedidos de vogal: distraiu, instruiu, pauis (pl. de paul).


7º) Os verbos arguir e redarguir prescindem do acento agudo na vogal tónica/tônica grafada u nas formas rizotónicas/rizotônicas: arguo, arguis, argui, arguem; argua, arguas, argua, arguam. O verbos do tipo de aguar, apaniguar, apaziguar, apropinquar, averiguar, desaguar, enxaguar, obliquar, delinquir e afins, por oferecerem dois paradigmas, ou têm as formas rizotónicas/rizotônicas igualmente acentuadas no u mas sem marca gráfica (a exemplo de averiguo, averiguas, averigua, averiguam; averigue, averigues, averigue, averiguem; enxaguo, enxaguas, enxagua, enxaguam; enxague, enxagues, enxague, enxaguem, etc.; delinquo, delinquis, delinqui, delinquem; mas delinquimos, delinquis) ou têm as formas rizotónicas/rizotônicas acentuadas fónica/fônica e graficamente nas vogais a ou i radicais (a exemplo de averíguo, averíguas, averígua, averíguam; averígue, averígues, averígue, averíguem; enxáguo, enxáguas, enxágua, enxáguam; enxágue, enxágues, enxágue, enxáguem; delínquo, delínques, delínque, delínquem; delínqua, delínquas, delínqua, delínquam).


Obs.: Em conexão com os casos acima referidos, registe-se que os verbos em -ingir (atingir, cingir, constringir, infringir, tingir, etc.) e os verbos em -inguir sem prolação do u (distinguir, extinguir, etc.) têm grafias absolutamente regulares (atinjo, atinja, atinge, atingimos, etc.; distingo, distinga, distingue, distinguimos, etc.).


Esta Base em nada altera a norma ortográfica antecedente em Portugal. Quanto ao Brasil, por si só também nada altera em relação ao antecedente. Os casos em que desaparece o trema (¨) resultam, não desta Base, mas do dispositivo de uma outra, que adiante será tratada.

Note-se o duplo paradigma previsto no ponto 7.º. Em Portugal, nunca dei conta da utilização de acentuação gráfica nas vogais "a" ou "i" radicais, nos casos indicados. Também não dei conta dessa utilização em textos escritos por quem utiliza a norma brasileira do antecedente. Presumo, pois, que os casos indicados relevam de regionalismos ou arcaísmos, em qualquer caso sem expressão significativa.

De notar ainda que, segundo as regras desta Base, escreve-se Luís e Luísa, porém escreve-se juiz, mas juíza e juízes, tal como se escreve raiz, mas raízes.

Descodificação de alguns termos técnicos:

Palavras oxítonas: palavras agudas, isto é, com o acento tónico na última sílaba.

Palavras paroxítonas: palavras graves, isto é, com o acento tónico na penúltima sílaba.

Clítico - elemento gramatical que mostra um comportamento intermediário entre o de um morfema (a menor unidade gramatical que se pode identificar) e uma palavra. Sintaticamente tem um comportamento mais similar ao de palavras mas fonologicamente é dependente de outras palavras adjacentes.

Forma rizotónica - em que a tónica se situa na raiz da palavra.

Rui Bandeira