Oração de um Mestre a outros Mestres - II
Novos Mestres:
Eis-vos finalmente na Câmara do Meio. Eis-vos
merecidamente revestidos da plenitude de todos os direitos de Mestres Maçons.
Eis-vos igualmente onerados com a totalidade dos deveres de Mestres Maçons.
Estais
na Câmara do Meio iguais entre iguais. Cada um de vós não é menos, não vale
menos, do que eu ou qualquer outro Mestre Maçom presente nesta sala – quaisquer
que sejam os ofícios por alguns exercidos, quaisquer que sejam as dignidades a
alguns outorgadas. Cada um de vós não é mais do que eu ou qualquer outro Mestre
Maçom presente nesta sala – quaisquer que sejam os vossos méritos, os vossos
títulos académicos ou posições profanas. Cada um de vós é exatamente igual a
mim e a qualquer outro Mestre Maçom presente nesta sala – iguais entre iguais
na nossa comum pequenez perante o Grande Arquiteto do Universo, perante a nossa
comum ignorância do sentido da vida e da existência, perante o nosso comum
desejo de ser melhor, saber mais, fazer bem, viver plenamente.
Tendes
exatamente os mesmos direitos que cada um dos outros Mestres Maçons presentes
nesta sala – e que, afinal, se resumem ao direito de transmitir aos demais as
opiniões e os entendimentos de cada um, ao direito de cooperar na tomada das
deliberações que hajam de ser tomadas e ao direito de participar
organizadamente na administração da Loja.
Recaem
sobre vós exatamente os mesmos deveres que recaem sobre cada um dos outros
Mestres Maçons presentes nesta sala – todos os deveres inerentes a um homem de
honra e de bons costumes, fiel à sua palavra e aos seus compromissos, mais os
deveres resultantes do nosso comum compromisso de nos aperfeiçoarmos
permanentemente, acrescidos da especial responsabilidade assumida pelos Mestres
Maçons: a partir de agora, não sois responsáveis apenas por vós próprios e
pela vossa própria melhoria; a partir de agora sois responsáveis também por
todos os Aprendizes e Companheiros desta Loja. Responsáveis por os auxiliar na
sua jornada, responsáveis pela preparação e evolução de cada um como todos nós
nos responsabilizámos pela vossa preparação e evolução. Responsáveis por iguais
que um dia também acederão a esta Câmara do Meio no exato mesmo estatuto de que
agora vós, como todos os demais Mestres Maçons presentes nesta sala, dispondes.
Compreendeis
agora, se não vos tínheis já apercebido antes, que a dureza dos Mestres na
apreciação dos vossos trabalhos não era vã exigência, estulto apoucamento ou
deslocada manifestação de inexistente superioridade. A nossa meticulosidade no
apontar dos mais ínfimos detalhes negativos dos vossos trabalhos, tantas vezes
mostrando-os piores e mais significativos do que realmente eram, o nosso hábito
de temperar os quantas vezes parcos elogios ao resultado do vosso esforço com a
referência ao que podia ser melhor, não se destinaram nunca a desmerecer do
vosso trabalho ou alardear inexistentes superioridades. Foram, como tudo o que
ritualmente em Loja se processou ao longo de todo o tempo da vossa formação,
simples meios, ferramentas, de vos incutir algo que deveis considerar absolutamente
inerente à condição de Mestre Maçom: uma absoluta e permanente exigência da
melhor qualidade possível em tudo o que somos e fazemos, uma absoluta aspiração
à maior aproximação que nos for possível da perfeição.
O
vosso percurso teve de ser longo e duro, porque culmina na vossa presente
situação de iguais entre iguais, com a inerente consequência de que o direito
de vos julgar e de julgar as vossas ações passou a ser em primeiro lugar
atribuído aos mais severos dos julgadores: vós próprios! A nossa aparente
severidade nunca foi, pois, mais do que mera preparação para a mais rigorosa
severidade na vossa apreciação e na apreciação dos vossos atos, a indeclinável
e inabalável severidade que um homem de bem, livre e de bons costumes,
devidamente preparado e completamente consciente de si próprio deve devotar à
sua autoapreciação, como meio de ser e tornar-se sempre, dia a dia, momento a
momento, melhor, cada vez melhor, cada vez um poucochinho menos
longe da inatingível meta da perfeição.
De
vós a Loja pede sempre o mesmo: aquilo que cada um de vós, em cada momento,
puder dar. Cada um de vós retirará e receberá da Loja sempre o que lhe aprouver
do que a Loja tem. E todos sabemos que a Loja só tem aquilo que nós lhe dermos,
pelo que, quanto mais todos lhe dermos, mais poderemos tirar.
Meus
Irmãos Mestres Maçons, hoje festejai. A partir de amanhã reiniciai o vosso
trabalho, reempunhai as vossas ferramentas, senhores do vosso trabalho, do
vosso caminho, da vossa criação. Confiamos todos em que, como até aqui, sereis
dignos de vós próprios e das vossas ferramentas até ao momento em que
finalmente vos autorizardes a vós mesmos a pousá-las, quando verificardes ter
chegado a vossa meia-noite.
Rui Bandeira