Maçonaria e Poder (VII)
Em cada povoação, a Loja maçónica integrava a rede social ali existente, fazia parte da vida da comunidade. Cedo começou a perfilar-se o que viria a ser uma importante caraterística da Maçonaria americana: a sua vertente filantrópica. Em termos espirituais muito influenciados pelo puritanismo, para a mentalidade americana é muito importante o conceito de charity (que, no meu entendimento, mais corretamente se traduz por filantropia do que pelo aparentemente mais direto termo caridade). A Loja maçónica local foi naturalmente um espaço e uma estrutura adequados para o exercício do dever de filantropia.
A importância dada pela Maçonaria americana à filantropia, elevando-a a polo essencial da sua atividade, distingue-a da Maçonaria continental europeia, em que a filantropia é uma vertente presente, mas não atinge o nível de essencialidade da sua congénere americana.
A Maçonaria americana criou e sustenta grandes hospitais (gerais, pediátricos, ortopédicos, de assistência a grandes queimados, etc.), o que, como se calcula, implica a reunião e disponibilização de grandes quantidades de fundos financeiros.
Isto implicou a necessidade constante de fluxos financeiros apreciáveis, quer através de donativos, quer através de fundos obtidos pela própria atividade maçónica. Mais do que propriamente as quotas (destinadas ao suporte das despesas das próprias Lojas), importante eram e são os fundos obtidos através do que (algo impropriamente, mas mais facilmente compreensível por todos) poderemos designar por joias: joias de iniciação, de passagem de grau, de acesso e progressão nos Altos Graus.
A atividade filantrópica da Maçonaria americana em grande parte foi e é sustentada por um constante fluxo de novos elementos e de contribuições extraordinárias dos elementos existentes.
Necessário foi - e é - iniciar novos membros em quantidade e assegurar a sua progressão em novos graus como forma de financiar a atividade filantrópica.
Isso levou a uma outra caraterística distintiva da Maçonaria americana, em relação às suas congéneres europeias: a existência de muitas Lojas com várias centenas de membros, mas das quais apenas uns poucos são membros efetivamente ativos.
Nos Estados Unidos, em grande parte ser-se maçom é ser-se inscrito na Maçonaria, fazer uma espécie de "recruta" e a modos que umas "especialidades", atingindo-se o topo dos Altos Graus, ou perto disso, com uma rapidez impensável na Europa (mas pagando as respetivas joias de iniciação e progressão, claro...) e depois ... é assim, mal comparado, como que ser-se sócio da Associação dos Bombeiros da terra: paga-se as quotas anuais e raramente (ou nunca) se vai à Loja. Mas, no entanto, por regra existe o orgulho em ser maçom, expresso em autocolantes colados nos automóveis, no uso do anel de Mestre, ao menos em ocasiões festivas, e na comparência nos regulares eventos de angariação de fundos.
Claro que a Maçonaria americana não tem só esta vertente filantrópica, também compartilha dos princípios e objetivos de formação e aperfeiçoamento dos seus membros que é tónica da Maçonaria mundial - mas esta vertente filantrópica é ali de tal forma importante que influenciou a forma de a sociedade ver e participar na Maçonaria.
A Maçonaria americana, apesar de ter contado com membros ilustres nos Pais Fundadores dos Estados Unidos não tem qualquer intervenção no Poder ou na política federal, não tem influência relevante (que ultrapasse a decorrente de garantir a subsistência de importantes estruturas e instituições de interesse coletivo) a nível estadual e, a nível local, terá apenas a influência que os seus membros individualmente tenham.
A Maçonaria americana e o Poder naquele país são completamente independentes um do outro.
Rui Bandeira