Reintegração do Companheiro (III)
Diligência para efectuar os novos trabalhos que lhe são pedidos, sem deixar de efectuar os trabalhos que aprendeu necessários enquanto Aprendiz. Diligência para conjugar o estudo do que está em cima com o do que está em baixo. Diligência para progressivamente se libertar da orientação que lhe é proporcionada e começar caminhando por seus próprios passos, seguindo seu próprio rumo, perscrutando seu próprio horizonte. Afinal de contas, um Companheiro vem de Aprendiz... e vai para Mestre!
Disponibilidade para efectuar tarefas em Loja e fora de Loja, quer rituais, quer na organização e execução de tarefas integradas nos objectivos e eventos a que o grupo se dedica. Na Loja Mestre Affonso Domingues, é comum aproveitar as oportunidades que surgem para atribuir a um ou dois Companheiros, funções rituais de menor exigência, em sessões mais calmas. Pode designar-se um Companheiro para assegurar o ofício de Guarda Interno numa sessão, ou atribuir-lhe o exercício da função de Experto em sessão em que não ocorra nenhuma Iniciação, ou ainda confiar-se-lhe um dia a tarefa de fazer circular o Saco das Propostas e o Tronco da Viúva. Tudo tarefas que os Mestres sabem serem de fácil execução... depois de se terem executado. O Companheiro de agora vai ser Mestre daqui a uns tempos. Como Mestre, vai ser designado para exercer ofícios. Deve, portanto, ser-lhe dada a possibilidade de sentir o peso dos objectos cujo uso faz parte das funções de Guarda Interno ou de Experto, de executar movimentação em Loja, de assumir, ainda que por breves momentos, responsabilidades em Loja. Não é nada do outro mundo, mas serve para desinibir, para treinar, também para incentivar. Também fora de sessão o Companheiro pode e deve mostrar a sua disponibilidade perante o grupo, colaborando nas organizações da Loja. Na Loja mestre Affonso Domingues, por rotina, quando se designa um grupo de Irmãos para organizar um qualquer evento, assegurar uma qualquer tarefa, inclui-se sempre nesse grupo, pelo menos, um Companheiro. Finalmente, disponibilidade para partilhar o que sabe e o que aprende com seus Irmãos Aprendizes, com os demais Companheiros e com os Mestres que, sendo-o, não são - nem por sombras... - omniscientes. O Companheiro trabalha no concreto, nas artes, nas ciências, em tudo o que respeita ao Homem. Muitas vezes, é um profundo conhecedor da sua área de actividade ou de estudo. O Companheiro já não é só Aprendiz, nem é ainda Mestre. Mas, estando a meio caminho, deve ter a noção de que já não se dedica apenas a receber e a estudar; também, naquilo que sabe, pode já transmitir, ajudar, dar. Enquanto Aprendiz, recebe do grupo; sendo Companheiro, continua a receber, mas também já algo pode dar.
Finalmente, pede-se ao Companheiro independência. Independência de pensamento, que deve ser crítico. Independência enquanto postura. Independência na execução das orientações recebidas. O Companheiro está numa fase de transição. Já não se limita a aprender a fazer. Já faz. Embora ainda deva executar os planos traçados pelos Mestres, a forma como procede a essa execução já deve ser dele, ao seu jeito, segundo as suas próprias capacidades e escolhas.
O grau de Companheiro é também um grau de transição. De assunção de novas responsabilidades, de utilização das capacidades adquiridas. Embora ainda sob a direcção dos Mestres, o Companheiro vai ganhando progressiva autonomia, vai alargando o seu olhar de si para o grupo e as suas necessidades e capacidades e potencialidades. E vai começando a analisar. O Companheiro está aprendendo a ser Mestre. De si próprio e em conjunção com os demais. Está em busca do objectivo de se poder legitimamente considerar um homem pleno, conhecendo todos os seus atributos e capacidades físicos, mentais, morais e espirituais.
Está, no fundo, a prosseguir normalmente o seu caminho. Aquele que todos os maçons percorrem, cada um chegando ao destino a que chegar.
Rui Bandeira