27 fevereiro 2008

"Fiz das tripas coração"

É doente?
Ou convalescente?
Vai ser operado?
E está assustado?
Então porque espera?
Quem espera desespera!
Aprenda a sorrir!
Meia cura é o rir!
Aprenda com o autor
Que é médico e doutor!
E que ensina com humor
A ultrapassar a dor!

Este texto bem-disposto chama a atenção no convite que recebi para o lançamento do novo livro de MIGUEL ROZA, com o sugestivo título Fiz das tripas coração, publicado pelas edições São Rozas.

O lançamento do livro ocorrerá na próxima sexta-feira, dia 29 de Fevereiro (um dia especial: o autor garante, com certeza absoluta, que não ocorrerá outro lançamento de qualquer outro livro, por ele ou por qualquer outro autor, no dia 29 de Fevereiro, nos próximos três anos...), pelas 18 h 30m, no Grémio Literário, sito na Rua Ivens, n.º 37, ao Chiado, em Lisboa.

O Grémio Literário não dispõe de estacionamento privativo, mas o convite assegura que existem vários parques de estacionamento próximos. Ironia em todos os pormenores...

O livro será apresentado pelo Dr. Luís Lourenço, presidente da SOPEAM (Sociedade Portuguesa de Escritores e Artistas Médicos).

Este livro, a exemplo do anterior volume de narrativas do autor, De médico e de louco tomos temos um pouco, constitui mais uma pérola demonstrativa da arte de bem escrever e do bom humor, ironia e bonomia de MIGUEL ROZA.

Reservar o fim de tarde de sexta-feira para dar um saltinho até ao Grémio Literário e obter um exemplar do livro é uma óptima maneira de garantir um fim de semana bem disposto, com uma leitura agradável!

Rui Bandeira

26 fevereiro 2008

O trabalho do Companheiro


O trabalho do Companheiro é, simultaneamente, a continuação do trabalho do Aprendiz e a realização de uma tarefa diferente.

O Aprendiz trabalha no seu aperfeiçoamento e simultaneamente procura conhecer e reconhecer uma significativa quantidade de símbolos e descortinar o seu significado. O Aprendiz trabalha e aperfeiçoa o espírito. Ao Aprendiz pede-se que abstraia das lhanezas do mundo e da vida e que procure subir aos altos planos do Espiritual, do Ético. O Aprendiz recorda que o Homem não é só carne, não é simples animal sobrevivendo no terceiro planeta à roda de uma obscura estrela na ponta de uma das milhares de galáxias existentes no imenso Universo. O Aprendiz relembra, interioriza, que o Homem é também espírito e que esse é o lado nobre da sua natureza. E cultiva esse lado.

O Companheiro, sem esquecer tudo isso, continuando a trabalhar nesse sentido, deve voltar de novo a sua atenção para a sua Humanidade, para a sua natureza de Homem.

Depois de ter trabalhado exclusivamente concentrado na elevação e aperfeiçoamento espiritual, enquanto Aprendiz, ao Companheiro pede-se que, sem abandonar esse trabalho que aprendeu a fazer, regresse a este mundo, que reassente os pés na Terra, que volte a dirigir o seu interesse, a sua curiosidade, a sua vontade de aprender e de evoluir também para os aspectos do Homem e das Ciências e das Artes.

Um Homem completo não desenvolve apenas as suas aptidões espirituais. Porventura isso fará de quem opte por esse caminho um místico de excelência. Mas o objectivo do caminho e do método maçónicos não é o misticismo, não é a obtenção de epifanias. O objectivo do caminho e do método maçónicos é o desenvolvimento integral e harmonioso do Homem. O seu aperfeiçoamento não deve, pois, ser exclusivamente espiritual, antes este deve ser integrado no conjunto das capacidades humanas. Espírito e Razão, duas faces da moeda que é o Homem. Ambas devem ser integral e harmoniosamente desenvolvidas.

Nos dias de hoje, em que o Materialismo impera, o desenvolvimento do lado espiritual do Homem impõe-se. Mas também se impõe que se não abandone o lado material, científico, terra a terra, que constitui, continua a constituir e sempre constituirá parte da natureza humana.

O trabalho do Companheiro é, pois, depois do trabalho focado no espiritual, e sem o abandonar, regressar e focar-se de novo também nos aspectos "comezinhos" do Homem e do Conhecimento.

O Aprendiz trabalha na descoberta do Grande Arquitecto, do seu lugar na Vida e no Mundo, no vislumbrar do Plano da Criação e em tudo o que o faça subir acima das comezinhas coisas terrenas. O trabalho do Companheiro é regressar a essas coisas terrenas. Porque só assim o maçon será um Homem completo.

O trabalho do Companheiro vem assim reequilibrar o maçon.

Num texto da Cristandade, conta-se como Cristo certa vez acentuou, a propósito da moeda romana e do que se lhe perguntava sobre ela, que se devia dar a Deus o que é de Deus e a César o que é de César. Acentuou e chamou a atenção para a dicotomia entre o material e o espiritual.

Pois bem, o Maçon deve ter presente que é simultaneamente de Deus e de César. Não lhe cabe desenvolver e aperfeiçoar apenas o seu lado espiritual. Também a sua natureza racional, material, o seu espírito científico e ou artístico devem, por igual, merecer a sua atenção.

A Maçonaria não visa tornar homens bons em místicos. Visa tornar homens bons em homens melhores. Deve, portanto, atender à integralidade do Homem, dos seus conhecimentos e realizações.

O trabalho do Companheiro é essencialmente um regresso. Um regresso ao Homem, às Ciências e às Artes. Mas um regresso que não prescinde, que não abandona, que traz na bagagem, tudo o que obteve e aprendeu e viu e intuiu no seu percurso de Aprendiz. Não substitui aquele por um novo. Acrescenta àquele percurso mais uma nova exigência.

Em termos simples, o Aprendiz estuda o Grande Arquitecto, o Companheiro prossegue os estudos, voltando a sua atenção para o Homem. Aquele concentrou-se no Criador. Este recentra-se na Criatura, suas características e realizações.

Espiritual e material. Criador e criatura. Deus e o Homem. O Desconhecido e o comezinho. As etéreas alturas e o terra a terra. Dualidade que é essencial para o maçon. Porque só assim é verdadeiramente completo! Porque mesmo a mais livre ave não pode sempre voar. Também tem que regressar à Terra e nela pousar. E, para isso, tem de conhecê-la, saber onde pode estar segura, onde estão os perigos, como faz , onde se abriga, onde cria os seus filhotes. Céu e Terra.

O trabalho do Companheiro é regressar ao estudo do Homem, das suas Ciências e das suas Artes. Sem deixar de continuar a aperfeiçoar o seu lado espiritual. Assim se completa! Assim se faz!

Rui Bandeira

25 fevereiro 2008

A Passagem


Chama-se Passagem à Cerimónia pela qual o Aprendiz adquire o estatuto de Companheiro, conferindo-se-lhe o segundo grau da Arte Real.

Tal como a Iniciação, a Passagem é um rito... disso mesmo: de passagem. Tal como aquela, tem os três tempos de um rito de passagem: de onde vens, o que és, para onde vais.

Mas, ao contrário da Iniciação, a cerimónia de Passagem deixa quase sempre no nóvel Companheiro um travo de desapontamento, uma sensação de que o que ocorreu foi menos do que o que o esperava.

Efectivamente, a Cerimónia de Passagem é muito mais simples e sóbria do que a Iniciação. Se pensarmos bem, deve sê-lo! A Iniciação marca a entrada num novo mundo, marca a transição da vida profana para a vivência maçónica. A Passagem assinala apenas o dobrar de uma etapa. Uma marca que, tendo o valor de assinalar um progresso, uma melhoria, um crescimento, no entanto o maçon que dela beneficia já deverá começar a perceber que é só uma pequena parte do muito caminho que ainda tem para percorrer, se quiser efectivamente atingir a plenitude das suas capacidades.

E, para que o maçon que passa de Aprendiz a Companheiro não tenha dúvidas nem ilusões sobre o pouco que andou e o muito que lhe falta percorrer... vai começar por se desiludir com a espartana Cerimónia de Passagem!

Não é só por esta razão que a Cerimónia de passagem é tão simples. Porque ela é propositadamente simples, curta e sem enfeites!

A Cerimónia de Passagem não marca apenas uma mudança de estatuto, de grau, de Aprendiz para Companheiro.

A Passagem assinala sobretudo um novo estilo e objectivo de trabalho. Não uma mudança, porque o maçon não deve deixar de efectuar o trabalho que aprendeu a fazer enquanto Aprendiz para passar a fazer o tipo de trabalho do Companheiro. Não isso. Um maçon deve ser Aprendiz toda a sua vida maçónica. A Passagem assinala que, para além do trabalho que o maçon faz enquanto Aprendiz, deve, a partir de então, passar a executar também um novo tipo de trabalho.

A Passagem não é uma promoção. É um entregar de novas responsabilidades, a acrescer às que já se cumprem.

A Passagem não se destina, portanto, a impressionar, a marcar. A Passagem, pelo contrário, destina-se a enfatizar que o trabalho do maçon é sóbrio e persistente e cada vez mais profundo e variado. A Passagem não é uma festa. É apenas a entrega de um certificado de aptidão. A Passagem não é uma entrada na Mansão do Conhecimento Maçónico, é apenas a abertura de mais uma porta e o acesso de mais uma sala, para que o maçon, que anteriormente trabalhava apenas na sala dos Aprendizes... passe agora a trabalhar também na oficina dos Companheiros.

A Passagem deixará no maçon um travo levemente amargo da desilusão. Mas é para isso que serve. Para que o maçon perca as últimas ilusões que, sobre a Maçonaria, ainda guarde do seu passado de profano e confirme que o seu caminho é de trabalho. Mais trabalho.

Eu senti essa desilusão na minha Passagem a Companheiro. Eu, que já assisti e participei em dezenas de Cerimónias de Passagem, já vi dezenas de trejeitos de desilusão nas faces e nos olhos dos meus Irmãos. A alguns a desilusão é tanta e tão pesada que, mansamente, discretamente, se vão ausentando e decidem abandonar o caminho que os demais continuam a percorrer. Não é grave! Nem todos os Aprendizes chegam a Companheiros. Nem todos os Companheiros ascendem a Mestres. E seguramente que nem todos os Mestres virão a exercer o ofício de Venerável Mestre. É assim a realidade! Para alguns, o peso do trabalho é superior ao que se sentem com capacidade de suportar e arreiam. Também na Maçonaria a selecção é natural... Cada um percorre o seu caminho ate onde pode. Mesmo os que decidem parar a meio, já percorreram, pelo menos, uma parte do caminho. Esse ganho já é deles e ninguém lhes tira.

Não é por sadismo ou por inconsciência que se sujeita o maçon à desilusão, que se arrisca a sua desistência. É porque é necessário que essa etapa seja vivida. O novo trabalho que se acrescenta parecerá, para muitos, inútil e desnecessário. Mas não é nem uma coisa, nem outra. Porque com ele o maçon vai aprender que, para ser Mestre de si próprio, tem de ser um Homem completo. E que tem de se completar. De crescer e desenvolver-se harmoniosa e equilibradamente em todos os campos. Não apenas num ou em alguns. Sobretudo, não apenas onde e como gosta...

Para começar, tem uma desilusão... Mas, se efectivamente aprendeu bem o que tinha de aprender na coluna dos Aprendizes, cedo, logo, superará essa desilusão; cedo, logo, se lembrará que, em Maçonaria o que parece normalmente é diferente do que é e o que é normalmente é mais do que parece; cedo, logo, esquecerá a desilusão e olhará, atentará, meditará no que, espartana, simplesmente, lhe foi mostrado. E agirá em conformidade. E com isso completar-se-á.

Demorei muitos anos a perceber isto. Andei muito tempo a dizer e a escrever que o grau de Companheiro estava mal acabado, que era desinteressante, que era uma perda de tempo, enfim, uma quantidade de disparates que os mais antigos fizeram o favor de estoicamente suportar, sem me tirarem a possibilidade de descobrir por mim próprio como eram tão desajustados!

O ciclo reproduz-se com cada maçon que persiste! Desilude-se, interroga-se, observa, trabalha, evolui e... um dia percebe que era assim mesmo que tinha de ser e de fazer. Quando, finalmente, estiver pronto para perceber.

A cada novo Companheiro eu dedico três desejos: que cumpra o ciclo que eu e muitos outros antes de mim cumpriram e ainda muitos mais cumprirão depois dele; que, um dia, perceba, como eu percebi; que não necessite de tanto tempo como eu necessitei!

Rui Bandeira

22 fevereiro 2008

O doce aroma do café

Mais um texto, da autoria original de R. P. Arturo Vargas, que recebi por correio electrónico e que adaptei para aqui publicar, pois parece-me ser mais uma boa alegoria, demonstrativa de princípios e posturas de vida que devemos ter.

Uma filha queixou-se ao seu pai da sua vida e de como tudo estava difícil para ela. Já não sabia o que fazer. Estava cansada de lutar, sem obter resultados. Apetecia-lhe desistir. Parecia que, mal resolvia um problema, logo outro lhe aparecia, numa sucessão sem fim e sem descanso.

O pai, cozinheiro de alta cozinha em restaurante de luxo, levou-a até à cozinha do restaurante onde trabalhava. Ali, encheu três panelas com água e colocou cada uma delas sobre lume alto. Na primeira, colocou ainda cenouras. Na segunda, deitou ovos. E, na terceira, despejou café em pó. Sem dizer uma palavra, deixou que tudo fervesse.

Cerca de vinte minutos depois, apagou o lume. Retirou as cenouras da primeira panela e colocou-as num prato. Retirou os ovos da segunda panela e colocou-os num recipiente. Finalmente, com uma concha, retirou o café e colocou-o numa tigela.

Virando-se para a filha, perguntou-lhe o que via.

- Cenouras, ovos e café - respondeu ela.

O pai pediu-lhe para se aproximar e experimentar as cenouras. Ela assim fez e reparou que as cenouras, cozidas, estavam macias. O pai disse-lhe então para pegar num ovo e descascá-lo. Ela assim fez e verificou que o ovo endurecera com a fervura. Finalmente, o pai disse-lhe que bebesse um pouco de café. Ela assim fez, sorrindo ao notar o seu aroma delicioso.

Mas a filha estava confusa e perguntou ao pai onde queria ele chegar.

Então o pai explicou-lhe que os três diferentes géneros tinham sido submetidos à mesma adversidade: água a ferver. Mas tinham reagido de maneira diferente.

A cenoura entrara na água, forte, firme e dura. Mas depois de submetida aos efeitos da água fervente, amolecera e tornara-se frágil.

Já os ovos eram frágeis quando entraram na água, com o seu interior líquido apenas protegido por uma fina casca. Mas, depois de terem sido fervidos na água, o seu interior endurecera.

Porém, o pó de café era incomparável: uma vez colocado na água a ferver...
mudara a água!!!

As pessoas, em face da adversidade, podem comportar-se como estes três elementos. Uns, como a cenoura, podem parecer fortes mas, submetidos à adversidade e à dor, murcham, tornam-se frágeis e perdem a sua força. Outros, como o ovo, começam com o coração maleável e o espírito fluido mas, submetidos às adversidades da vida, tornam-se duros e inflexíveis. A sua casca exterior parece a mesma, mas estão mais amargos e obstinados, com o coração e o espírito inflexíveis.

Finalmente, há aqueles que são como o pó de café. Este muda a água fervente, o elemento que lhe causa dor. Quando a água chega ao ponto máximo da sua fervura, o café atinge o máximo do seu aroma e sabor.

Procura, minha filha, ser como o café, que, quando as coisas se tornam difíceis, consigas reagir de forma positiva, tornando-te cada vez melhor, sem te deixares vencer pelas circunstâncias, e fazendo com que tudo à tua volta se torne cada vez melhor!

Uma boa lição de vida, para nós seguirmos e para ensinarmos aos nossos filhos!

Rui Bandeira

21 fevereiro 2008

Museu virtual Aristides de Sousa Mendes

Meus Caros, este é apenas um adicional ao post do Rui de dia 15 p.p.

A Figura exemplar de Aristides de Sousa Mendes começa a aparecer, para conhecimento dos portugueses e orgulho de Portugal.
Infelizmente continuam a acontecer eventos da maior relevância nacional que passam..., pura e simplesmente passam !
Talvez se perceba porque de facto A.S.Mendes apenas salvou milhares de vidas, e se estudarmos bem a Sua existência constataremos que não foi jogador de futebol, nem bancário vigarista, nem nada dessas coisas importantes.

A casa de A.S.Mendes, em Cabanas de Viriato, está na ruína.

Ali, ele e Sua Mulher Angelina receberam e alimentaram grande parte dos exilados cujas vidas haviam sido salvas pelos vistos consulares passados por ASM à revelia das ordens de Salazar.
Desta vez o Presidente Cavaco Silva tem razão, há outras prioridades à frente do campeonato do mundo de futebol.
A exposição (virtual) está dividida em três corredores: da Guerra, da Fuga e da Liberdade.
Nestes corredores são apresentados documentos/filmes pertencentes a arquivos tais como a Shoah Fundation, o Museu do Holocausto e Cinemateca Portuguesa.
O primeiro corredor dá conta dos factos históricos que antecedem a II Guerra Mundial bem como o seu início.
O segundo corredor narra a fuga de milhares de refugiados, alguns dos quais vêem o seu caminho cruzar-se com Aristides Sousa Mendes.
No último são apresentadas imagens da chegada de refugiados a Portugal, da sua estada e da sua partida rumo a novos destinos.
Em cada corredor há a hipótese de percorrer o filme em capítulos (link ao fundo, do lado esquerdo).
Noutra parte do museu, a base conhecimento, é possível consultar centenas de documentos, fotografias e alguns testemunhos orais de refugiados, na maioria salvos por Sousa Mendes.
O site, para além de muito informativo, está construído duma forma brilhante e parece-me que é fruto duma iniciativa pessoal (Margarida Dantas) depois apoiada pelo Ministério da Cultura.
Não custa nada percorrer este excelente museu, pois é só carregar em http://mvasm.sapo.pt/


J.P.Setúbal

20 fevereiro 2008

Colóquio Mozart e a Matemática



Sábado, dia 23 de Fevereiro, 15h30

Será que já na sua primeira composição, aos 5 anos, Mozart se socorreu da Matemática para escrever música? Qual a relação entre uma peça de Mozart e um vitral? E será que o número 3 tem um significado especial na Flauta Mágica? No próximo Sábado, dia 23 de Fevereiro, às 15h30, assista no Pavilhão do Conhecimento - Ciência Viva a mais um colóquio sobre A Matemática das Coisas e descubra a relação entre Mozart e a Matemática. A entrada é gratuita. Carlota Simões, docente do Departamento de Matemática da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, irá mostrar a presença da Matemática na obra do criador das Bodas de Fígaro e um grupo de alunos da Escola de Música do Conservatório Nacional tocará alguns trechos da Flauta Mágica. E para provar que na obra de Mozart tudo é possível, duas alunas de violino do Conservatório de Música de Coimbra vão tocar a mesma peça de forma bem diferente: uma lendo a partitura de cima para baixo, outra lendo a mesma pauta de pernas para o ar. Até Maio, venha descobrir, através de palestras conjuntas de matemáticos e profissionais de outras áreas, de que forma a Matemática se revela em coisas tão distintas como os jogos de azar, as histórias para crianças, ou o bem e o mal. O ciclo de colóquios A Matemática das Coisas é uma iniciativa conjunta do Pavilhão do Conhecimento - Ciência Viva e da Sociedade Portuguesa de Matemática. Programa completo em http://www.pavconhecimento.pt/ e http://www.spm.pt/

Transcrevo esta notícia recebida do Pavilhão do Conhecimento porque a considero verdadeiramente interessante.

Por mim, lá estarei, salvo "acidente de percurso" inesperado.

JPSetúbal

19 fevereiro 2008

O salário do maçon

A Maçonaria Operativa, como estrutura de regulação do acesso e prática da actividade profissional de construtor em pedra, regulava igualmente as formas de pagamento e os montantes dos salários dos seus associados.

Também na Maçonaria Especulativa os maçons recebem o seu salário. Simplesmente, como tudo na Maçonaria Especulativa, o salário que o obreiro recebe é simbólico.

O obreiro trabalha em Loja. Em quê? No seu aperfeiçoamento, na busca dos conhecimentos, das lições, dos exemplos, das práticas que dele farão uma pessoa melhor. Nesse trabalho tem de identificar e interpretar símbolos, atribuindo-lhes o seu significado pessoal, similar ou não ao que os seus Irmãos, ou alguns dos seus Irmãos, ou um particular Irmão, lhes atribuem. O trabalho do obreiro em Loja insere-se e une-se ao trabalho que os demais obreiros efectuam, constituindo o conjunto um acervo de estudos, actividades, interpretações, princípios desenvolvidos, que tem mais virtualidades como um todo do que a mera soma dos contributos individuais.

Virtualidades para quem? Para os próprios obreiros. O trabalho maçónico é eminentemente individual, mas colectivamente efectuado. O seu resultado, inserido no conjunto dos esforços e nele amalgamado, está à disposição para apropriação de todos e de cada um. A forma como cada um beneficia é com cada qual. O mesmo obreiro, em cada momento, pode retirar do trabalho que ele e seus Irmãos efectuam lições ou consequências diferentes. Hoje poderá ser uma lição moral, amanhã uma simples lição de vida ou regra de conduta, depois uma ferramenta para uso no seu dia a dia profissional ou de relação social, por vezes apenas (e tanto é...) uma simples sensação de Paz, de Segurança, de Conforto, a mera (mas por tantos tão dificilmente obtida) noção do seu lugar na vida e do significado da sua existência.

Perante a sua Loja, o maçon apresenta para o trabalho a Pedra Bruta que é ele próprio, o seu Carácter, a sua Personalidade, as suas Características, as suas Virtudes, os seus Defeitos, as suas Capacidades, as suas Insuficiências, as suas Potencialidades e o que falta para as transformar em Realidades. Junto de seus Irmãos, trabalha essa Pedra Bruta. Retira-lhe as asperezas. Melhora a sua forma. Determina o local onde deve ser colocada. Dá-lhe cor e atavio. A pouco e pouco, essa Pedra Bruta será cada vez menos Bruta, ganhará forma mais delineada e adequada, tornar-se-á mais útil para a função que está destinada a exercer. A pouco e pouco, tornar-se-á uma Pedra Aparelhada, já com alguma utilidade e capacidade para se inserir no grande Templo da Criação, Parede da Humanidade. Mas ainda será, não já áspera, mas rugosa, não já suja, mas baça.

Será ainda necessário alisá-la e poli-la, de forma a que, a seu tempo, a Pedra Bruta que é o maçon possa vir a ser a muito mais útil e bela Pedra Polida. Mas, ainda então, de pouca utilidade e valia será se não for inserida no local adequado, pela forma asada, para exercer a função destinada. Há que conhecer ou definir os Planos, efectuar e ler o Desenho que nos guie para colocarmos a nossa Pedra, que foi Bruta e que procurámos tão Polida quanto o lográmos que fosse, no lugar correcto, em que será útil e contribuirá para a sustentação, imponência e beleza do Templo em cuja construção se insere.

Cada maçon, à medida que vai trabalhando, vai aprendendo a trabalhar, à medida que melhora, vai aprendendo a melhorar, a medida que aprende, vai aprendendo a aprender. E cada vez mais vê melhor trabalho, mais melhoria, mais larga aprendizagem. À medida que evolui vai aumentando o benefício que retira do trabalho que efectua. Não patrimonial, mas pessoal, intrínseco.

Esse benefício é o salário do maçon, a justa remuneração do seu esforço. Não tem valor de mercado, nem cotação de troca, porque vale muito mais do que uma mercadoria ou um serviço. Tem o valor supremo da Pessoa Humana, que cresce, que se educa, que evolui, que se aprofunda, que se realiza, que se enobrece, que se dignifica. Esse valor vale mais que todo o ouro do Mundo, que todas as riquezas e mordomias de que usufruem os afortunados do planeta. Porque nada vale mais do que um Homem digno, de espinha direita, cabeça lúcida, espírito forte. Aos outros, por mais ricos que sejam, conquistou-os o mundo. Este conquista o mundo, ainda que seja pobre e sem poder. O seu mundo. O que interessa.

O salário do maçon é o que ele retira do bolo comum que resulta do seu trabalho, do seu esforço e dos seus Irmãos. Em conjunto e com o fermento da Fraternidade, esse bolo cresce muito mais do que se lhe pôs, ao ponto de todos poderem retirar mais um pouco do que cada um lá pôs e ainda sobra bolo.

Esse salário não se conta, não se mede, não se pesa, não se avalia. Só o próprio o sente e dele beneficia. Não tem valor facial algum. Tem todo o valor moral e espiritual.

E, porque à medida que o maçon trabalha, aprende, cresce, melhora, de cada vez vai conseguindo retirar um pouco mais, de cada vez vai conseguindo aumentar um pouco seu salário. Imperceptivelmente. Até que um dia os seus Irmãos dão por ela e... oficializam-lhe o aumento de salário! Chamam os maçons aumento de salário à passagem de grau. Mais não é do que o reconhecimento dos progressos feitos.

Rui Bandeira