08 janeiro 2008

Prancha

Na Antiguidade, a especialização era muito menor. O Mestre Construtor era uma mistura de arquitecto, mestre de obras, engenheiro, paisagista, decorador de interiores, canteiro, escultor, metalúrgico, enfim, parte daquilo que as nossas mulheres ainda hoje pretendem que nós sejamos lá em casa...

Na Idade Média e no Renascimento, as corporações de construtores em pedra também tinham estruturas (Lojas) dirigidas por Mestres construtores, que exerciam as funções de arquitecto, engenheiro e director de obra, além de assegurar também as de gestor e formador.

Como hoje, a construção de uma edificação que ultrapassasse a rusticidade implicava a prévia laboração de um mais ou menos complexo e detalhado projecto. O desenho desse projecto era, na falta de papel, executado em material durável, transportável, leve, que se transportava enrolado e que se consultava estendido sobre e preso a uma prancha de madeira. Mesmo a própria acção de desenhar o projecto era efectuada com o suporte do desenho colocado sobre e preso a uma prancha. Ali se desenhavam os planos da obra, ou, utilizando a linguagem da época, se traçavam os planos. E a prancha sobre a qual os planos eram traçados era denominada, naturalmente, a prancha de traçar.

A prancha de traçar era, pois, um indispensável instrumento do Mestre Construtor e o símbolo da sua actividade. Era o Mestre quem traçava, não os restantes operários da construção, pelo que a prancha de traçar era o instrumento do Mestre. Sempre que era preciso detalhar qualquer aspecto da obra, desenvolver qualquer solução, o Mestre ia à prancha traçar o trabalho.

A língua evolui. Uma mera questão de tempo mediou a passagem entre a expressão “ir à prancha” (traçar um projecto, desenhar um detalhe) e “fazer uma prancha”. E, quando se faz uma prancha, então a “prancha” é o trabalho feito.

A Maçonaria Especulativa herdou e desenvolveu as tradições vindas da Maçonaria Operativa, das Corporações de Construtores. Assim, na Maçonaria Especulativa o instrumento próprio do Mestre Maçon é a prancha de traçar. E o trabalho que o Mestre maçon executa e apresenta em Loja é uma “prancha traçada”. Abreviadamente, uma “prancha”.

Mas, embora sejam os Mestres quem tem a obrigação de zelar pela formação de todos os obreiros (incluindo a dos outros Mestres e a deles próprios, pois um Mestre maçon deve considerar-se um eterno aprendiz), não são só os Mestres quem apresentam trabalhos em Loja. Companheiros e Aprendizes também o fazem, como demonstração dos seus progressos na Arte Real. Todo o trabalho apresentado em Loja se denomina uma prancha. E é irrelevante para essa denominação a natureza do trabalho: pode ser um texto ou uma obra de arte, uma música ou uma peça em pedra. O que importa é que se trate de um trabalho de um maçon para maçons, que se destine a testemunhar ou a colaborar no aperfeiçoamento individual ou colectivo.

Pode ser sobre matéria de exposição ou interpretação simbólica, pode ser uma reflexão filosófica, uma manifestação artística, uma exposição científica ou uma mera divulgação factual. Feita por maçon para maçons e apresentada em Loja é uma prancha.

Rui Bandeira

07 janeiro 2008

Variações sobre e=mc2

O simple elaborou um comentário ao textoMAÇONARIA E AMBIENTE: e=mc2 que merece ser puxado para o corpo principal do blogue, quer pelo seu interesse intrínseco, quer por suscitar várias questões. É algo longo e, com as considerações que o comentário me suscita, vai resultar num texto maior do que o habitual, mas acho que vale a pena ler.

O Rui, como nos tem habituado, começou bem e acabou melhor. De facto, estamos em plena fase de transição de uma forma de energia (o petróleo) para outra (sabe-se lá qual...) e temos que ser cautelosos com o rumo que tomarmos. Pelo meio, contudo, o Rui vacilou um bocadinho - não é a sua área, e não tem obrigação de a dominar com precisão. Vou tentar, já que o Rui abordou o assunto - que, reconheça-se, não é nada simples - aclarar um ou outro ponto.

Como descobriu Lavoisier, "nada se cria, nada se perde, tudo se transforma". Contrariamente ao que parece empiricamente, na combustão não há transformação de matéria em energia; o que há é libertação de energia por se passar de matéria de um estado "mais energético" para um outro "menos energético". Mas o que é que isso quer dizer? Queimar algo é como que deixar cair um peso de uma certa altura; a queda do peso liberta energia (que pode ser usada para gerar movimento, por exemplo) mas o peso não se transforma em energia; continua a pesar e a ser feito precisamente do mesmo. Para voltar a colocar o peso na posição inicial temos que dispender energia - pelo menos tanta, mas normalmente mais, do que aquela que ganhámos ao deixá-lo cair.

Do mesmo modo, a lenha, o carvão ou o petróleo (mais energéticos) decompõem-se em cinza, em água e em CO2 (menos energéticos), e pelo caminho libertam a energia que consubstancia a diferença entre os dois estados. Se pegarmos numa semente, água, cinza e CO2 podemos reverter o processo, fazendo uma árvore outra vez - desde que forneçamos energia, concretamente energia solar. Essa energia permitirá elevar, de novo, o potencial energético. A matéria envolvida é, contudo, sempre a mesma; é sempre a mesma quantidade de oxigénio, carbono e hidrogénio; esses átomos não são criados nem destruídos, antes se recombinando sob a forma de substâncias diferentes. Podemos, por isso, dizer sem errar que a lenha, o carvão e o petróleo têm energia solar acumulada. Os combustíveis fósseis e a biomassa (lenha, carvão vegetal e afins) apenas "devolvem" a energia que as plantas que lhes deram origem receberam do Sol.

Já Einstein foi um pouco além de Lavoisier: descobriu que a matéria pode, de facto, ser destruída, e que essa destruição liberta uma enorme quantidade de energia (e daí vem a famosa equaçãozinha referida pelo Rui). É esse o princípio de funcionamento dos reactores nucleares: pega-se numa pequena quantidade de matéria instável e, nas condições propícias, parte desta transforma-se em energia; no processo, a matéria desaparece. É, de resto, esse o processo que se dá no interior do Sol, que é um enorme reactor nuclear. Curiosamente, até aqui Lavoisier tinha alguma razão: podemos, desde que disponhamos de uma colossal quantidade de energia, criar matéria a partir do nada - bom, do nada, não: a partir da energia que fornecemos.

Os combustíveis fósseis, o vento (fruto das diferenças causadas pelas diferenças de calor na Terra aquecida pelo Sol), as centrais hidro-eléctricas (baseadas no ciclo da água, de que faz parte a evaporação causada pelo calor do Sol), são formas indirectas de energia solar. O Sol é, incontornavelmente, a fonte de energia a que, de uma forma ou de outra, mais vezes recorremos. Já uma que nada parece ter que ver com o Sol é a proveniente de centrais nucleares. Na verdade não temos grande alternativa: ou usamos, directamente, a energia de uma central nuclear pequena e feita por nós - com o problema da escassez de recursos naturais e da poluição dos resíduos resultantes do processo - ou usamos, de forma mais ou menos indirecta, a energia que emana dessa enorme central nuclear que é o Sol. Há ainda a energia geo-térmica, mas é ainda pouco explorada. Quem sabe...

Seria desejável que a "nova fonte de energia" que substitua o petróleo fosse o menos poluente possível. Contudo, procurar o mais barato, através da "lei do menor esforço", sempre foi um grande motor de desenvolvimento, e poderá impedir que isso aconteça. O que irá, no fim, determinar a escolha será, estritamente, o factor económico. É possível que a próxima fonte seja, por exemplo, a energia nuclear. O petróleo é o mais usado porque, até agora, tem sido barato. Ao aumentar a escassez não diminuindo a procura, ensina a Economia que o preço sobe - o que tem acontecido. A partir de certo ponto, será mais barato produzir energia a partir de qualquer outra coisa; nesse ponto, a procura de petróleo declinará - como declinou a procura de locomotivas a carvão - mas não antes. Pretender que o mais barato seja o melhor e o menos poluente... bom... isso é já wishful thinking... pode ser que sim, mas pode ser que não.

Subscrevo o voto que faz o Rui: saibamos escolher bem. É que o tal "aquecimento global", longe de ser o fim da Terra, seria não obstante, e como bem o diz o Rui, o fim do mundo tal como o conhecemos. Ao mesmo tempo que levaria ao florescimento de uma infinidade de espécies que achariam o clima quente mais propício - como as nossas amigas melgas - levaria, eventualmente, à extinção (ou forte declínio) de muitas espécies - nomeadamente da nossa. E, com o devido respeito pelas melgas, prefiro que estas sucumbam e deixem a Terra para os nossos filhos.

Genericamente, concordo com o que o simple escreveu. Mas tenho pontuais discordâncias, pelo que julgo ser ajustado complementar com duas observações e um desenvolvimento explicativo.

A primeira observação é que, no comentário do simple, noto uma confusão entre os conceitos de "peso" e de "massa". O peso é a força gravitacional sofrida por um corpo na vizinhança de um planeta ou outro grande corpo. Também pode ser definido como a medida da aceleração que um corpo exerce sobre outro, através da força gravitacional (definições retiradas da wikipedia).Massa é uma grandeza fundamental da física, que, antigamente,correspondia à ideia intuitiva de "quantidade de matéria existente em um corpo" (idem). Um objecto tem uma determinada massa e um específico peso. A confusão entre os dois conceitos é frequente e resulta de, para a medição de ambos, ser utilizada a mesma unidade de medida, o quilograma. Daqui decorre que o peso é energia, enquanto que a massa é matéria. E é esta precisamente a relação estabelecida na célebre equação de Einstein! Daí ser importante distinguir os dois conceitos. E, nesta parte, entendo que o raciocínio exposto pelo simple está viciado.

A segunda observação, que de alguma forma decorre da primeira é que, quando simple afirma que é possível ocorrer a reversão da decomposição da lenha, carvão, petróleo em cinza, água, CO2, mediante o fornecimento de energia, nomeadamente a solar, para além de não ser exacto (para "recriar" a árvore não bastam as suas cinzas, é necessária uma semente...), deixa de lado um outro indispensável elemento estrutural: o TEMPO.

O tempo, que varia desde os anos que demora a nova árvore a crescer até atingir o porte da anterior, aos milhares de anos que demora o processo de transformação da madeira em carvão, até aos milhões de anos necessários para a criação de petróleo. E precisamente o busílis da questão, quando, nos dias de hoje se reflecte sobre a questão energética, está no TEMPO, mais precisamente na rapidez com que a Humanidade consome o que demorou milhares ou milhões de anos a ser criado e a falta de tempo que começamos a antever para mudarmos o nosso paradigma energético para um outro que seja ambiental e planetariamente sustentável.

O desenvolvimento explicativo é que, na sua (valiosa) contribuição, escapou ao simple que a minha utilização da equação einsteiniana só podia ser realizada figurativamente e como tal apreendida. Com efeito, o raciocínio lógico-científico permite facilmente concluir que não é possível extrair correctamente da dita equação a conclusão que eu extraí no texto...

Ao contrário do que aparenta, a famosa equação de Einstein não é constituída por três variáveis, mas apenas por DUAS variáveis (e=energia; m=massa) e UMA constante. A medida de c não é variável. É fixa e determinada. O valor de c (velocidade da luz no vazio) é de 299792458 metros por segundo. Porque se popularizou a fórmula como e=mc2? Porque, obviamente, é muito mais simples de fixar, e logo, muito mais apelativa, do que se se utilizasse e = m x (299792458 m/s)2...

Ora, sendo c uma constante determinada, não é lógica nem matematicamente correcto efectuar a modificação que, após a referência à dita fórmula, eu fiz no texto MAÇONARIA E AMBIENTE: e=mc2 : passar do conceito de "velocidade da luz no vazio" para o conceito de "velocidade" (sem mais), daí para "medida de movimento" e daqui para "movimento", no espaço de três frases. Ao fazê-lo, passei a, como dizia a minha professora da escola primária, somar bananas com laranjas...

Mas, se não podia, porque o fiz? Para malevolamente enganar aqueles que me lêem, em geral, e o simple, em particular? Claro que não! O texto deve ser entendido figurativamente e não precisamente. Pensava eu que facilmente seria assim entendido. Pelo comentário do simple apercebo-me que o objectivo do texto ficou mais escondido do que eu pensava. Aproveito, então, para clarificar.

Relacionar Maçonaria e Ambiente é um pouco como efectuar a quadratura do círculo - o que, como se sabe, ainda ninguém, até hoje, conseguiu, mais uma vez porque a área de um quadrado é certa e medida com certeza (lado vezes lado) e a área do círculo só pode ser medida por aproximação, porque depende de um factor, o pi, que é um número irracional, isto é, que não tem um valor preciso, apenas um valor aproximado, pois para a ele se chegar são necessárias aproximações através de séries infinitas de somas. A transcendência de pi estabelece a impossibilidade de se resolver o problema da quadratura do círculo: é impossível construir, somente com uma régua e um compasso, um quadrado cuja área seja rigorosamente igual à área de uma determinada circunferência (dados retirados, de novo, da Wikipedia), ou, com maior precisão, a área circunscrita por uma determinada circunferência. A Maçonaria é uma filosofia e uma ética de vida adquiridas através de um método específico. O Ambiente é uma envolvente da vida de cujas complexidade e fragilidade só agora começamos a tomar consciência.

Por outro lado, como acertadamente pontuou o simple, eu não sou, de forma alguma, um conhecedor profundo das questões do ambiente, nem sequer da Ciência, pura ou aplicada. A minha formação é a das Humanidades. A minha profissão é a de Advogado. Sou, digamos assim, um especialista em ideias gerais, alguém que sabe um pouco de tudo e a fundo de nada, excepto talvez da aridez dos artigos, alíneas e parágrafos dos diplomas legais cá da terra... Não tenho, assim, a pretensão, de "debitar postas de pescada" sobre o tema do Ambiente e sua Conservação. Decidido a escrever sobre ele, optei por procurar relacioná-lo, na medida do possível, com a Maçonaria, ou melhor, com o papel que a Maçonaria e os maçons podem ter na indispensável empreitada da Humanidade na Conservação do Ambiente. Ao fazê-lo, opto pela abordagem que é mais confortável aos maçons: a especulação, o livre pensamento, até mesmo a utopia.

e=mc2, neste contexto, foi, para além de um título jeitoso, um pretexto. Um pretexto, para, figurativamente, procurar enfatizar a necessidade de substituir o consumo de combustíveis fósseis por energias renováveis, ou seja, substituir a produção de energia através da massa pela sua obtenção através do movimento. Daí a imediata referência à energia eólica (resultante do movimento do ar) e à energia das ondas (resultante do movimento do mar), a que se pode acrescentar a energia hídrica (resultante do movimento gerado pela passagem da água de um rio nos artefactos geradores de electricidade). Em termos de utopia, vou ainda mais longe. E foi por isso que me lembrei de Einstein e da sua conhecida equação: há forças, formas de energia, no Universo, que a Humanidade ainda não aprendeu a utilizar e - talvez - nem sequer tenha ainda concebido ser possível utilizar. Mas são forças imensas, é uma incomensurável energia, ao pé das quais a energia solar faz figura de vela em palco iluminado por potentes projectores. Pensemos na Força Magnética (da Terra, do Sol, de todos os Corpos Celestes, do Universo). Consideremos a Força da Gravidade, tão poderosa que gere a maravilhosa dança de todos os Corpos Celestes de todo o Universo. Domesticar e utilizar essas energias é impossível? Sonhar com essa possibilidade é utopia inatingível? Será... Tão inatingível como, há apenas dois séculos, o Homem imaginar voar, ir do Continente Europeu ao Americano em poucas horas, ou pôr pé e bandeira na Lua... Tão impossível como conceber a fácil cura da Peste Negra, antes de se terem descoberto os antibióticos...

Poupar é, obviamente, necessário. Reciclar é, evidentemente, indispensável. Mas não chegam. O problema energético só se resolve com a descoberta de novos meios de dominar, aplicar, conservar e transportar as infinitas energias que o Criador colocou no Universo e que à Humanidade cabe aprender a aproveitar.

Para dizer a todos que há que poupar e há que reciclar, já há para aí muita gente, muitas organizações, até alguns fundamentalistas do Ambiente...

Mas para o resto, o indispensável, o que falta fazer, há ainda muito trabalho pela frente, muita imaginação que tem de trabalhar, muita investigação que tem de acontecer. Mas é também preciso convocar as forças e as vontades e os meios para fazer esse trabalho, puxar pela imaginação, efectuar a investigação. É aí que, a meu ver, a Maçonaria pode ser útil: no convocar da Utopia, no congregar para, pouco a pouco, transformar a utopia em realidade. Como quando, há mais de duzentos anos, a maçonaria gritava Liberdade quando havia opressão, clamava Igualdade, quando havia estratificação social, pregava Fraternidade quando havia apenas egoísmo, praticava Tolerância, quando havia fundamentalismo religioso. E como continua hoje a fazer, quando, onde e como é preciso.

Para mim, e=mc2 é bem mais do que uma mera equação que Einstein deixou ao Mundo: é o símbolo do Visionário. Foi com essa dimensão simbólica que a congreguei e a ela apelei naquele texto. E agora o expliquei. Façam o favor de ir reler esse texto à luz desta explicação e vejam lá se agora não vos faz mais sentido...

Rui Bandeira

04 janeiro 2008

Ambiente...

O nosso caríssimo Rui voltou às lides "blogueiras" abordando o tema ambiente e bem como sempre.

A colocação da conservação ambiental face às necessidades energéticas do planeta e ao respectivo consumo mostra a fotografia de uma relação tão terrível quanto real.

Para ajudar a esta "festa" trago para o blog um vídeo da WWF-BRASIL, organização que visa a conservação/salvação do ambiente natural no Brasil (Amazónia, Pantanal,...) espalhando a sua acção pelo resto do mundo com a mesma preocupação, onde a protecção de espécies animais e de ambientes ameaçados o justificam.

O vídeo que junto é um complemento, verdadeiramente directo, ao texto do Rui.

Parece-me que ficam bem, agora para terminar esta achega, 2 apontamentos vindos de origens diferentes, o que também ajuda a perceber que esta preocupação existe nos mais diversos quadrantes do globo, ainda sem consequências muito visíveis mas, com mil diabos, falar-se e discutir-se o problema já é um começo.

GreenPeace –

Quando a última árvore tiver caído, quando o último rio tiver secado, quando o último peixe for pescado,
Vocês vão entender que dinheiro não se come.

Prov. Árabe –

A árvore quando está sendo cortada observa com tristeza que o cabo do machado é de madeira.

Pronto, já só falta... não parar.

JPSetúbal

03 janeiro 2008

MAÇONARIA E AMBIENTE: e=mc2

A civilização humana actual baseia-se no consumo de energia. Usa-se energia para produzir. Usa-se energia para transportar. Usa-se energia para consumir. A energia é tão vital para a civilização humana, tal como a entendemos nos tempos actuais, como o ar para uma pessoa.
O problema é que a energia que existe em abundância (por exemplo, a solar) não é fácil de utilizar. Não é fácil pegar num pouco de energia solar e colocá-la dentro do reservatório do nosso automóvel, para a utilizar como combustível... O problema é que a civilização humana tem tendência para se desenvolver sempre através da solução mais fácil. Durante séculos, a necessidade de aquecimento foi suprida com o recurso à queima de madeira, recurso abundante e de fácil obtenção e utilização. Com a descoberta das potencialidades da energia do vapor de água, a obtenção deste fez-se à custa da queima de carvão. Com a descoberta do motor de explosão, a obtenção da energia necessária para movimentar o veículo fez-se à custa da ignição de produtos petrolíferos.
Em suma, ao longo do tempo a obtenção de energia fez-se à custa do consumo de meios naturais relativamente abundantes. Mas este paradigma tem dois custos, que cada vez mais se revelam mais preocupantes e penosos: a extracção de energia de recursos naturais gera resíduos; os recursos, ainda que abundantes, são finitos.
A civilização baseada na obtenção de energia através da queima de carbono (madeira, carvão, petróleo, no fundo são apresentações diferentes da mesma substância: o carbono) deixa como resíduo, além do mais o dióxido de carbono. Este, na medida em que não seja consumido pelas plantas, acumula-se e, segundo parece, gera um efeito de estufa susceptível de conduzir a um aquecimento global potencialmente catastrófico para a civilização humana, tal como ela está organizada.
Por outro lado, o mais eficiente dos recursos fósseis é, consabidamente, finito. Um dia, mais cedo do que mais tarde, não existirá matéria-prima suficiente para a gulodice energética dos nossos tempos.
Parece estar-se perante um problema insolúvel.
Que podemos nós, maçons, fazer para ajudar? O que sabemos fazer: especular, pensar, racionalizar. Bem sabemos que não há soluções mágicas, que a resolução de problemas complexos se obtém por pequenos passos, pelo solucionar paulatino de cada um dos pequenos problemas em que conseguimos dividir o imenso problema de que vamos tendo consciência.
Por mim, proponho que não esqueçamos a ciência pura, a física básica. Proponho que recordemos a equação popularizada por Einstein: e = mc2.
e = energia; m = massa; c = velocidade da luz no vazio.
Portanto, a energia é igual ao produto da massa pelo quadrado da velocidade da luz do vazio. Energia, massa, velocidade, os três termos da equação.
Velocidade é a medida do movimento. A equação pode, assim, ser referenciada aos três termos energia, massa, movimento.
O meio mais comum de obtenção de energia é extraindo-a da massa, isto é, de diversas substâncias, designadamente do carbono. Talvez a solução do problema energético da nossa civilização passe pela obtenção de energia extraindo-a do outro factor ínsito na equação popularizada por Einstein: o movimento.
Afinal de contas, se pensarmos bem, isso é o que está na base de algumas das que nós chamamos energias renováveis. A energia eólica deriva do vento, isto é, do movimento do ar. A energia das marés deriva do movimento do oceano.
Talvez seja tempo de substituir o paradigma da massa pelo do movimento, no que à obtenção de energia respeita. A Ciência e a Técnica têm a palavra. É que, quer queiramos, quer não, não resolvemos o problema do Ambiente sem obter uma razoável resolução do problema da obtenção de energia.
Rui Bandeira

01 janeiro 2008

Poesia... cinética

Numa das primeiras "blogagens" que fiz recorri ao humor do Millôr Fernandes.
Hoje resolvi regressar a este bom Amigo, escondido da escrita há uns anos, para começar o "A Partir Pedra-2008" com boa disposição.

Com desejos que o V. 2008 seja um ano de Alegria.




JPSetúbal

31 dezembro 2007

Balanço... ?



No último dia do ano fica mal haver algum descarado que não faça o “balanço” do ano que termina e não deixe os votos para o ano que começa !
Eu tenho alguma dificuldade neste cerimonial (na verdade tenho dificuldades com todos os cerimoniais…) porque, para mim, todos os dias acabam e começam anos e ainda não percebi porquê, teimosamente, se insiste em lançar os foguetes no dia (noite) 31 de Dezembro.
Porque não a 3 de Janeiro comemorando os 365 dias que começaram a 4 de Janeiro anterior ? ou a 27 de Julho comemorando os mesmos 365 dias iniciados em 28 de Julho anterior ? ou outro dia qualquer comemorando…

Esta lógica seria bem mais simpática, até porque teríamos muito provavelmente a possibilidade de ter foguetes todos os dias, já que cada qual comemoraria o final do ano que lhe desse mais jeito.
Já viram como seria simpático todos os dias ser-mos convidados para um reveillon ?
E todos os dias ter-mos direito a uns copos pagos pelo amigo (artolas…) que comemorava o fim de ano naquele dia ?
Nestas circunstâncias só teríamos que arranjar 365 amigos destes, criteriosamente escolhidos de acordo com a sua própria comemoração para termos festa todos os dias.
Pronto já sei que há aqui um lapso porque nos anos bissextos precisaríamos de 366 amigos…
Pois claro que não esqueci esse pormenor, mas decidi que ficaria esse 366º dia como meu dia de final de ano.
Isto é, teria comes e bebes todos os dias à pala dos amigalhaços e eu só teria de pagar de 4 em 4 anos… Parece-vos mal ? Seria “porreiro pá !”, era só poupança !

Pois fica aqui determinado, utilizando a minha prerrogativa de V:.M:. que a partir de agora festejarei o fim do ano a 29 de Fevereiro.
Se não concordarem façam queixa à ASAE, ou então arranjem maneira de pôr um 29 de Fevereiro todos os anos.
Juro que não fui eu quem roubou os 29 de Fevereiros todos deixando apenas um “tadinho” de 4 em 4 anos.
Quando cá cheguei, e já foi há uma data de anos, já os calendários eram assim.
Quase todos sem 29 de Fevereiro e todos com umas tipas ranhosas para emoldurar e pôr nas paredes da oficina.


Muito bem, vamos então agora ao tal balanço oficial e obrigatório.

Os 365 dias que começaram em 1 de Janeiro passado constituíram mais uma cena da tragédia a que a Terra vem assistindo continuamente.
Tragédia mesmo, porque outra coisa não pode ser chamado ao que se passa entre os homens que povoam o planeta.
A forma como Velhos, Crianças e Doentes são roubados dos seus direitos humanos mais primários com a complacência, quando não com o incentivo, de governantes e dirigentes é, no mínimo, uma tragédia.
Cada vez mais a miséria absoluta convive lado a lado com a riqueza mais obscena !
Como é possível ser assim ? Que organização é esta, montada por homens, dirigida por homens, alimentada por homens, e que se destina finalmente a destruir… homens ?
Como é possível ?

- Acredito no Quinto Império, porque senão o acto de viver era inútil.
Para quê viver se não achássemos que o futuro vai trazer-nos uma solução que cure os problemas das sociedades de hoje ? (Agostinho da Silva)

Então em jeito de balanço fica o desabafo anterior e em jeito de votos para o futuro fica a esperança das palavras do Prof. Agostinho da Silva.

Pessoalmente também penso que:
-Para quê viver, se não for para ajudar a dar algum sentido à humanidade com que fomos bafejados.
E não tenho desfaçatez suficiente para pedir ao Grande Arquitecto que ilumine os homens.
Ele já o fez, o espírito humano sabe bem onde está a luz.
Basta que nos empenhemos em mantê-la acesa em vez de sistematicamente nos esforçarmos para a apagar.
Todos sabemos distinguir o bem e o mal, não há desculpa neste diferendo.

Esperemos que o próximo ano constitua a recuperação (ou pelo menos o seu início) da Paz na Terra, da distribuição solidária da riqueza, da confraternização entre os Homens finalmente entendidos como iguais.
Que cada um cumpra a sua parte.
Porque aquele objectivo depende do esforço de nós todos. Apenas !

Um ano muito bom para todos.
JPSetúbal

27 dezembro 2007

DESIDERATA

O americano Max Ehrmann nasceu na Terre Haute, na Indiana, em Setembro de 1872, filho de emigrantes alemães.
Idealista e poeta, além de advogado e filósofo, produziu em 1927 um poema a que chamou “Desiderata” que é verdadeiramente uma lição de vida a seguir.

Desiderata é, provavelmente, o “concorrente” mais firme do famosíssimo “If” de Rudyard Kipling.
Porque já anteriormente recorri a ele, por razões muito pessoais e em ocasião particularmente solene para mim, resolvi hoje trazê-lo ao blog, em época de recorrência a sentimentos solidários e tolerantes.

E a vida que defendemos não é isto ?
E o trabalho a que nos dedicamos não tem este sentido ?
O que está aqui não é Maçonaria ?

Claro que é !
E é-o de forma clara e provocante. Sigamos Max Ehrmann e iremos dar, garantidamente, a uma vida mais simples, mais alegre e mais feliz.
É bom rever estes princípios e ensinamentos na época que passa.
E já agora uma revisão de quando em quando também é capaz de fazer bem.

DESIDERATA
Max Ehrmann (1927) advogado e filósofo

Vai suavemente por entre a agitação e a pressa e lembra-te da paz que pode haver no silêncio.
Sem seres subserviente, mantém-te em paz com todos.
Diz a tua verdade calma e claramente e escuta com atenção os outros ainda que menos dotados ou ignorantes, também eles têm a sua história.
Evita as pessoas barulhentas e agressivas pois são mortificações para o espírito.
Não te compares com os outros, podes tornar-te presunçoso ou melancólico pois haverá sempre alguém superior ou inferior a ti.
Alegra-te com os teus projectos tanto como com as tuas realizações.
Ama o teu trabalho, mesmo que ele seja humilde, pois ele é um verdadeiro tesouro na contínua mudança dos tempos.
Sê prudente nos teus negócios pois o mundo está cheio de estultícia mas que isso não te cegue a ponto de não veres a virtude onde ela existe.
Muita gente luta por altos ideais e em toda a parte a vida está cheia de heroísmo.
Sê tu mesmo e sobretudo não simules afeição nem sejas cínico em relação ao amor pois, perante a aridez e o desencanto ele é perene como a relva.
Toma amavelmente os conselhos dos mais velhos e renuncia com graciosidade às ideias loucas da juventude.
Cultiva a fortaleza de espírito para que não sejas apanhado de surpresa nas ciladas inesperadas da vida.
Não te aflijas com perigos imaginários:
muitas vezes o medo é resultado do cansaço e da solidão.
Além de uma disciplina salutar, sê gentil contigo mesmo.
Tu és um filho do Universo e tal como as árvores e as estrelas, tens o direito de o habitar. E quer isto seja ou não claro para ti, o Universo é-te disto revelador.
Mantém-te em paz com Deus, seja qual for o conceito que Dele tiveres.
Mantém-te em paz com a tua alma apesar da ruidosa confusão da vida.
Apesar das suas falsidades, lutas e sonhos desfeitos, o Mundo é ainda maravilhoso.
Sê cuidadoso.
Luta. Luta para seres feliz.

O primeiro verso traz-me a recordação de uma entrevista a que assisti há muito pouco tempo, 2 ou 3 dias, durante a qual José Tolentino Mendonça (Escritor e Padre) disse algo que me ficou... "...os indianos dizem que o silêncio é a linguagem de Deus. Mas é a dos homens também. Nós sabemos ! "
A entrevista teve por tema o "silêncio" e foi um notável pedaço de televisão.
JPSetúbal