Variações sobre e=mc2
O simple elaborou um comentário ao textoMAÇONARIA E AMBIENTE: e=mc2 que merece ser puxado para o corpo principal do blogue, quer pelo seu interesse intrínseco, quer por suscitar várias questões. É algo longo e, com as considerações que o comentário me suscita, vai resultar num texto maior do que o habitual, mas acho que vale a pena ler.
O Rui, como nos tem habituado, começou bem e acabou melhor. De facto, estamos em plena fase de transição de uma forma de energia (o petróleo) para outra (sabe-se lá qual...) e temos que ser cautelosos com o rumo que tomarmos. Pelo meio, contudo, o Rui vacilou um bocadinho - não é a sua área, e não tem obrigação de a dominar com precisão. Vou tentar, já que o Rui abordou o assunto - que, reconheça-se, não é nada simples - aclarar um ou outro ponto.
Como descobriu Lavoisier, "nada se cria, nada se perde, tudo se transforma". Contrariamente ao que parece empiricamente, na combustão não há transformação de matéria em energia; o que há é libertação de energia por se passar de matéria de um estado "mais energético" para um outro "menos energético". Mas o que é que isso quer dizer? Queimar algo é como que deixar cair um peso de uma certa altura; a queda do peso liberta energia (que pode ser usada para gerar movimento, por exemplo) mas o peso não se transforma em energia; continua a pesar e a ser feito precisamente do mesmo. Para voltar a colocar o peso na posição inicial temos que dispender energia - pelo menos tanta, mas normalmente mais, do que aquela que ganhámos ao deixá-lo cair.
Do mesmo modo, a lenha, o carvão ou o petróleo (mais energéticos) decompõem-se em cinza, em água e em CO2 (menos energéticos), e pelo caminho libertam a energia que consubstancia a diferença entre os dois estados. Se pegarmos numa semente, água, cinza e CO2 podemos reverter o processo, fazendo uma árvore outra vez - desde que forneçamos energia, concretamente energia solar. Essa energia permitirá elevar, de novo, o potencial energético. A matéria envolvida é, contudo, sempre a mesma; é sempre a mesma quantidade de oxigénio, carbono e hidrogénio; esses átomos não são criados nem destruídos, antes se recombinando sob a forma de substâncias diferentes. Podemos, por isso, dizer sem errar que a lenha, o carvão e o petróleo têm energia solar acumulada. Os combustíveis fósseis e a biomassa (lenha, carvão vegetal e afins) apenas "devolvem" a energia que as plantas que lhes deram origem receberam do Sol.
Já Einstein foi um pouco além de Lavoisier: descobriu que a matéria pode, de facto, ser destruída, e que essa destruição liberta uma enorme quantidade de energia (e daí vem a famosa equaçãozinha referida pelo Rui). É esse o princípio de funcionamento dos reactores nucleares: pega-se numa pequena quantidade de matéria instável e, nas condições propícias, parte desta transforma-se em energia; no processo, a matéria desaparece. É, de resto, esse o processo que se dá no interior do Sol, que é um enorme reactor nuclear. Curiosamente, até aqui Lavoisier tinha alguma razão: podemos, desde que disponhamos de uma colossal quantidade de energia, criar matéria a partir do nada - bom, do nada, não: a partir da energia que fornecemos.
Os combustíveis fósseis, o vento (fruto das diferenças causadas pelas diferenças de calor na Terra aquecida pelo Sol), as centrais hidro-eléctricas (baseadas no ciclo da água, de que faz parte a evaporação causada pelo calor do Sol), são formas indirectas de energia solar. O Sol é, incontornavelmente, a fonte de energia a que, de uma forma ou de outra, mais vezes recorremos. Já uma que nada parece ter que ver com o Sol é a proveniente de centrais nucleares. Na verdade não temos grande alternativa: ou usamos, directamente, a energia de uma central nuclear pequena e feita por nós - com o problema da escassez de recursos naturais e da poluição dos resíduos resultantes do processo - ou usamos, de forma mais ou menos indirecta, a energia que emana dessa enorme central nuclear que é o Sol. Há ainda a energia geo-térmica, mas é ainda pouco explorada. Quem sabe...
Seria desejável que a "nova fonte de energia" que substitua o petróleo fosse o menos poluente possível. Contudo, procurar o mais barato, através da "lei do menor esforço", sempre foi um grande motor de desenvolvimento, e poderá impedir que isso aconteça. O que irá, no fim, determinar a escolha será, estritamente, o factor económico. É possível que a próxima fonte seja, por exemplo, a energia nuclear. O petróleo é o mais usado porque, até agora, tem sido barato. Ao aumentar a escassez não diminuindo a procura, ensina a Economia que o preço sobe - o que tem acontecido. A partir de certo ponto, será mais barato produzir energia a partir de qualquer outra coisa; nesse ponto, a procura de petróleo declinará - como declinou a procura de locomotivas a carvão - mas não antes. Pretender que o mais barato seja o melhor e o menos poluente... bom... isso é já wishful thinking... pode ser que sim, mas pode ser que não.
Subscrevo o voto que faz o Rui: saibamos escolher bem. É que o tal "aquecimento global", longe de ser o fim da Terra, seria não obstante, e como bem o diz o Rui, o fim do mundo tal como o conhecemos. Ao mesmo tempo que levaria ao florescimento de uma infinidade de espécies que achariam o clima quente mais propício - como as nossas amigas melgas - levaria, eventualmente, à extinção (ou forte declínio) de muitas espécies - nomeadamente da nossa. E, com o devido respeito pelas melgas, prefiro que estas sucumbam e deixem a Terra para os nossos filhos.
Genericamente, concordo com o que o simple escreveu. Mas tenho pontuais discordâncias, pelo que julgo ser ajustado complementar com duas observações e um desenvolvimento explicativo.
A primeira observação é que, no comentário do simple, noto uma confusão entre os conceitos de "peso" e de "massa". O peso é a força gravitacional sofrida por um corpo na vizinhança de um planeta ou outro grande corpo. Também pode ser definido como a medida da aceleração que um corpo exerce sobre outro, através da força gravitacional (definições retiradas da wikipedia).Massa é uma grandeza fundamental da física, que, antigamente,correspondia à ideia intuitiva de "quantidade de matéria existente em um corpo" (idem). Um objecto tem uma determinada massa e um específico peso. A confusão entre os dois conceitos é frequente e resulta de, para a medição de ambos, ser utilizada a mesma unidade de medida, o quilograma. Daqui decorre que o peso é energia, enquanto que a massa é matéria. E é esta precisamente a relação estabelecida na célebre equação de Einstein! Daí ser importante distinguir os dois conceitos. E, nesta parte, entendo que o raciocínio exposto pelo simple está viciado.
A segunda observação, que de alguma forma decorre da primeira é que, quando simple afirma que é possível ocorrer a reversão da decomposição da lenha, carvão, petróleo em cinza, água, CO2, mediante o fornecimento de energia, nomeadamente a solar, para além de não ser exacto (para "recriar" a árvore não bastam as suas cinzas, é necessária uma semente...), deixa de lado um outro indispensável elemento estrutural: o TEMPO.
O tempo, que varia desde os anos que demora a nova árvore a crescer até atingir o porte da anterior, aos milhares de anos que demora o processo de transformação da madeira em carvão, até aos milhões de anos necessários para a criação de petróleo. E precisamente o busílis da questão, quando, nos dias de hoje se reflecte sobre a questão energética, está no TEMPO, mais precisamente na rapidez com que a Humanidade consome o que demorou milhares ou milhões de anos a ser criado e a falta de tempo que começamos a antever para mudarmos o nosso paradigma energético para um outro que seja ambiental e planetariamente sustentável.
O desenvolvimento explicativo é que, na sua (valiosa) contribuição, escapou ao simple que a minha utilização da equação einsteiniana só podia ser realizada figurativamente e como tal apreendida. Com efeito, o raciocínio lógico-científico permite facilmente concluir que não é possível extrair correctamente da dita equação a conclusão que eu extraí no texto...
Ao contrário do que aparenta, a famosa equação de Einstein não é constituída por três variáveis, mas apenas por DUAS variáveis (e=energia; m=massa) e UMA constante. A medida de c não é variável. É fixa e determinada. O valor de c (velocidade da luz no vazio) é de 299792458 metros por segundo. Porque se popularizou a fórmula como e=mc2? Porque, obviamente, é muito mais simples de fixar, e logo, muito mais apelativa, do que se se utilizasse e = m x (299792458 m/s)2...
Ora, sendo c uma constante determinada, não é lógica nem matematicamente correcto efectuar a modificação que, após a referência à dita fórmula, eu fiz no texto MAÇONARIA E AMBIENTE: e=mc2 : passar do conceito de "velocidade da luz no vazio" para o conceito de "velocidade" (sem mais), daí para "medida de movimento" e daqui para "movimento", no espaço de três frases. Ao fazê-lo, passei a, como dizia a minha professora da escola primária, somar bananas com laranjas...
Mas, se não podia, porque o fiz? Para malevolamente enganar aqueles que me lêem, em geral, e o simple, em particular? Claro que não! O texto deve ser entendido figurativamente e não precisamente. Pensava eu que facilmente seria assim entendido. Pelo comentário do simple apercebo-me que o objectivo do texto ficou mais escondido do que eu pensava. Aproveito, então, para clarificar.
Relacionar Maçonaria e Ambiente é um pouco como efectuar a quadratura do círculo - o que, como se sabe, ainda ninguém, até hoje, conseguiu, mais uma vez porque a área de um quadrado é certa e medida com certeza (lado vezes lado) e a área do círculo só pode ser medida por aproximação, porque depende de um factor, o pi, que é um número irracional, isto é, que não tem um valor preciso, apenas um valor aproximado, pois para a ele se chegar são necessárias aproximações através de séries infinitas de somas. A transcendência de pi estabelece a impossibilidade de se resolver o problema da quadratura do círculo: é impossível construir, somente com uma régua e um compasso, um quadrado cuja área seja rigorosamente igual à área de uma determinada circunferência (dados retirados, de novo, da Wikipedia), ou, com maior precisão, a área circunscrita por uma determinada circunferência. A Maçonaria é uma filosofia e uma ética de vida adquiridas através de um método específico. O Ambiente é uma envolvente da vida de cujas complexidade e fragilidade só agora começamos a tomar consciência.
Por outro lado, como acertadamente pontuou o simple, eu não sou, de forma alguma, um conhecedor profundo das questões do ambiente, nem sequer da Ciência, pura ou aplicada. A minha formação é a das Humanidades. A minha profissão é a de Advogado. Sou, digamos assim, um especialista em ideias gerais, alguém que sabe um pouco de tudo e a fundo de nada, excepto talvez da aridez dos artigos, alíneas e parágrafos dos diplomas legais cá da terra... Não tenho, assim, a pretensão, de "debitar postas de pescada" sobre o tema do Ambiente e sua Conservação. Decidido a escrever sobre ele, optei por procurar relacioná-lo, na medida do possível, com a Maçonaria, ou melhor, com o papel que a Maçonaria e os maçons podem ter na indispensável empreitada da Humanidade na Conservação do Ambiente. Ao fazê-lo, opto pela abordagem que é mais confortável aos maçons: a especulação, o livre pensamento, até mesmo a utopia.
e=mc2, neste contexto, foi, para além de um título jeitoso, um pretexto. Um pretexto, para, figurativamente, procurar enfatizar a necessidade de substituir o consumo de combustíveis fósseis por energias renováveis, ou seja, substituir a produção de energia através da massa pela sua obtenção através do movimento. Daí a imediata referência à energia eólica (resultante do movimento do ar) e à energia das ondas (resultante do movimento do mar), a que se pode acrescentar a energia hídrica (resultante do movimento gerado pela passagem da água de um rio nos artefactos geradores de electricidade). Em termos de utopia, vou ainda mais longe. E foi por isso que me lembrei de Einstein e da sua conhecida equação: há forças, formas de energia, no Universo, que a Humanidade ainda não aprendeu a utilizar e - talvez - nem sequer tenha ainda concebido ser possível utilizar. Mas são forças imensas, é uma incomensurável energia, ao pé das quais a energia solar faz figura de vela em palco iluminado por potentes projectores. Pensemos na Força Magnética (da Terra, do Sol, de todos os Corpos Celestes, do Universo). Consideremos a Força da Gravidade, tão poderosa que gere a maravilhosa dança de todos os Corpos Celestes de todo o Universo. Domesticar e utilizar essas energias é impossível? Sonhar com essa possibilidade é utopia inatingível? Será... Tão inatingível como, há apenas dois séculos, o Homem imaginar voar, ir do Continente Europeu ao Americano em poucas horas, ou pôr pé e bandeira na Lua... Tão impossível como conceber a fácil cura da Peste Negra, antes de se terem descoberto os antibióticos...
Poupar é, obviamente, necessário. Reciclar é, evidentemente, indispensável. Mas não chegam. O problema energético só se resolve com a descoberta de novos meios de dominar, aplicar, conservar e transportar as infinitas energias que o Criador colocou no Universo e que à Humanidade cabe aprender a aproveitar.
Para dizer a todos que há que poupar e há que reciclar, já há para aí muita gente, muitas organizações, até alguns fundamentalistas do Ambiente...
Mas para o resto, o indispensável, o que falta fazer, há ainda muito trabalho pela frente, muita imaginação que tem de trabalhar, muita investigação que tem de acontecer. Mas é também preciso convocar as forças e as vontades e os meios para fazer esse trabalho, puxar pela imaginação, efectuar a investigação. É aí que, a meu ver, a Maçonaria pode ser útil: no convocar da Utopia, no congregar para, pouco a pouco, transformar a utopia em realidade. Como quando, há mais de duzentos anos, a maçonaria gritava Liberdade quando havia opressão, clamava Igualdade, quando havia estratificação social, pregava Fraternidade quando havia apenas egoísmo, praticava Tolerância, quando havia fundamentalismo religioso. E como continua hoje a fazer, quando, onde e como é preciso.
Para mim, e=mc2 é bem mais do que uma mera equação que Einstein deixou ao Mundo: é o símbolo do Visionário. Foi com essa dimensão simbólica que a congreguei e a ela apelei naquele texto. E agora o expliquei. Façam o favor de ir reler esse texto à luz desta explicação e vejam lá se agora não vos faz mais sentido...
Rui Bandeira
O Rui, como nos tem habituado, começou bem e acabou melhor. De facto, estamos em plena fase de transição de uma forma de energia (o petróleo) para outra (sabe-se lá qual...) e temos que ser cautelosos com o rumo que tomarmos. Pelo meio, contudo, o Rui vacilou um bocadinho - não é a sua área, e não tem obrigação de a dominar com precisão. Vou tentar, já que o Rui abordou o assunto - que, reconheça-se, não é nada simples - aclarar um ou outro ponto.
Como descobriu Lavoisier, "nada se cria, nada se perde, tudo se transforma". Contrariamente ao que parece empiricamente, na combustão não há transformação de matéria em energia; o que há é libertação de energia por se passar de matéria de um estado "mais energético" para um outro "menos energético". Mas o que é que isso quer dizer? Queimar algo é como que deixar cair um peso de uma certa altura; a queda do peso liberta energia (que pode ser usada para gerar movimento, por exemplo) mas o peso não se transforma em energia; continua a pesar e a ser feito precisamente do mesmo. Para voltar a colocar o peso na posição inicial temos que dispender energia - pelo menos tanta, mas normalmente mais, do que aquela que ganhámos ao deixá-lo cair.
Do mesmo modo, a lenha, o carvão ou o petróleo (mais energéticos) decompõem-se em cinza, em água e em CO2 (menos energéticos), e pelo caminho libertam a energia que consubstancia a diferença entre os dois estados. Se pegarmos numa semente, água, cinza e CO2 podemos reverter o processo, fazendo uma árvore outra vez - desde que forneçamos energia, concretamente energia solar. Essa energia permitirá elevar, de novo, o potencial energético. A matéria envolvida é, contudo, sempre a mesma; é sempre a mesma quantidade de oxigénio, carbono e hidrogénio; esses átomos não são criados nem destruídos, antes se recombinando sob a forma de substâncias diferentes. Podemos, por isso, dizer sem errar que a lenha, o carvão e o petróleo têm energia solar acumulada. Os combustíveis fósseis e a biomassa (lenha, carvão vegetal e afins) apenas "devolvem" a energia que as plantas que lhes deram origem receberam do Sol.
Já Einstein foi um pouco além de Lavoisier: descobriu que a matéria pode, de facto, ser destruída, e que essa destruição liberta uma enorme quantidade de energia (e daí vem a famosa equaçãozinha referida pelo Rui). É esse o princípio de funcionamento dos reactores nucleares: pega-se numa pequena quantidade de matéria instável e, nas condições propícias, parte desta transforma-se em energia; no processo, a matéria desaparece. É, de resto, esse o processo que se dá no interior do Sol, que é um enorme reactor nuclear. Curiosamente, até aqui Lavoisier tinha alguma razão: podemos, desde que disponhamos de uma colossal quantidade de energia, criar matéria a partir do nada - bom, do nada, não: a partir da energia que fornecemos.
Os combustíveis fósseis, o vento (fruto das diferenças causadas pelas diferenças de calor na Terra aquecida pelo Sol), as centrais hidro-eléctricas (baseadas no ciclo da água, de que faz parte a evaporação causada pelo calor do Sol), são formas indirectas de energia solar. O Sol é, incontornavelmente, a fonte de energia a que, de uma forma ou de outra, mais vezes recorremos. Já uma que nada parece ter que ver com o Sol é a proveniente de centrais nucleares. Na verdade não temos grande alternativa: ou usamos, directamente, a energia de uma central nuclear pequena e feita por nós - com o problema da escassez de recursos naturais e da poluição dos resíduos resultantes do processo - ou usamos, de forma mais ou menos indirecta, a energia que emana dessa enorme central nuclear que é o Sol. Há ainda a energia geo-térmica, mas é ainda pouco explorada. Quem sabe...
Seria desejável que a "nova fonte de energia" que substitua o petróleo fosse o menos poluente possível. Contudo, procurar o mais barato, através da "lei do menor esforço", sempre foi um grande motor de desenvolvimento, e poderá impedir que isso aconteça. O que irá, no fim, determinar a escolha será, estritamente, o factor económico. É possível que a próxima fonte seja, por exemplo, a energia nuclear. O petróleo é o mais usado porque, até agora, tem sido barato. Ao aumentar a escassez não diminuindo a procura, ensina a Economia que o preço sobe - o que tem acontecido. A partir de certo ponto, será mais barato produzir energia a partir de qualquer outra coisa; nesse ponto, a procura de petróleo declinará - como declinou a procura de locomotivas a carvão - mas não antes. Pretender que o mais barato seja o melhor e o menos poluente... bom... isso é já wishful thinking... pode ser que sim, mas pode ser que não.
Subscrevo o voto que faz o Rui: saibamos escolher bem. É que o tal "aquecimento global", longe de ser o fim da Terra, seria não obstante, e como bem o diz o Rui, o fim do mundo tal como o conhecemos. Ao mesmo tempo que levaria ao florescimento de uma infinidade de espécies que achariam o clima quente mais propício - como as nossas amigas melgas - levaria, eventualmente, à extinção (ou forte declínio) de muitas espécies - nomeadamente da nossa. E, com o devido respeito pelas melgas, prefiro que estas sucumbam e deixem a Terra para os nossos filhos.
Genericamente, concordo com o que o simple escreveu. Mas tenho pontuais discordâncias, pelo que julgo ser ajustado complementar com duas observações e um desenvolvimento explicativo.
A primeira observação é que, no comentário do simple, noto uma confusão entre os conceitos de "peso" e de "massa". O peso é a força gravitacional sofrida por um corpo na vizinhança de um planeta ou outro grande corpo. Também pode ser definido como a medida da aceleração que um corpo exerce sobre outro, através da força gravitacional (definições retiradas da wikipedia).Massa é uma grandeza fundamental da física, que, antigamente,correspondia à ideia intuitiva de "quantidade de matéria existente em um corpo" (idem). Um objecto tem uma determinada massa e um específico peso. A confusão entre os dois conceitos é frequente e resulta de, para a medição de ambos, ser utilizada a mesma unidade de medida, o quilograma. Daqui decorre que o peso é energia, enquanto que a massa é matéria. E é esta precisamente a relação estabelecida na célebre equação de Einstein! Daí ser importante distinguir os dois conceitos. E, nesta parte, entendo que o raciocínio exposto pelo simple está viciado.
A segunda observação, que de alguma forma decorre da primeira é que, quando simple afirma que é possível ocorrer a reversão da decomposição da lenha, carvão, petróleo em cinza, água, CO2, mediante o fornecimento de energia, nomeadamente a solar, para além de não ser exacto (para "recriar" a árvore não bastam as suas cinzas, é necessária uma semente...), deixa de lado um outro indispensável elemento estrutural: o TEMPO.
O tempo, que varia desde os anos que demora a nova árvore a crescer até atingir o porte da anterior, aos milhares de anos que demora o processo de transformação da madeira em carvão, até aos milhões de anos necessários para a criação de petróleo. E precisamente o busílis da questão, quando, nos dias de hoje se reflecte sobre a questão energética, está no TEMPO, mais precisamente na rapidez com que a Humanidade consome o que demorou milhares ou milhões de anos a ser criado e a falta de tempo que começamos a antever para mudarmos o nosso paradigma energético para um outro que seja ambiental e planetariamente sustentável.
O desenvolvimento explicativo é que, na sua (valiosa) contribuição, escapou ao simple que a minha utilização da equação einsteiniana só podia ser realizada figurativamente e como tal apreendida. Com efeito, o raciocínio lógico-científico permite facilmente concluir que não é possível extrair correctamente da dita equação a conclusão que eu extraí no texto...
Ao contrário do que aparenta, a famosa equação de Einstein não é constituída por três variáveis, mas apenas por DUAS variáveis (e=energia; m=massa) e UMA constante. A medida de c não é variável. É fixa e determinada. O valor de c (velocidade da luz no vazio) é de 299792458 metros por segundo. Porque se popularizou a fórmula como e=mc2? Porque, obviamente, é muito mais simples de fixar, e logo, muito mais apelativa, do que se se utilizasse e = m x (299792458 m/s)2...
Ora, sendo c uma constante determinada, não é lógica nem matematicamente correcto efectuar a modificação que, após a referência à dita fórmula, eu fiz no texto MAÇONARIA E AMBIENTE: e=mc2 : passar do conceito de "velocidade da luz no vazio" para o conceito de "velocidade" (sem mais), daí para "medida de movimento" e daqui para "movimento", no espaço de três frases. Ao fazê-lo, passei a, como dizia a minha professora da escola primária, somar bananas com laranjas...
Mas, se não podia, porque o fiz? Para malevolamente enganar aqueles que me lêem, em geral, e o simple, em particular? Claro que não! O texto deve ser entendido figurativamente e não precisamente. Pensava eu que facilmente seria assim entendido. Pelo comentário do simple apercebo-me que o objectivo do texto ficou mais escondido do que eu pensava. Aproveito, então, para clarificar.
Relacionar Maçonaria e Ambiente é um pouco como efectuar a quadratura do círculo - o que, como se sabe, ainda ninguém, até hoje, conseguiu, mais uma vez porque a área de um quadrado é certa e medida com certeza (lado vezes lado) e a área do círculo só pode ser medida por aproximação, porque depende de um factor, o pi, que é um número irracional, isto é, que não tem um valor preciso, apenas um valor aproximado, pois para a ele se chegar são necessárias aproximações através de séries infinitas de somas. A transcendência de pi estabelece a impossibilidade de se resolver o problema da quadratura do círculo: é impossível construir, somente com uma régua e um compasso, um quadrado cuja área seja rigorosamente igual à área de uma determinada circunferência (dados retirados, de novo, da Wikipedia), ou, com maior precisão, a área circunscrita por uma determinada circunferência. A Maçonaria é uma filosofia e uma ética de vida adquiridas através de um método específico. O Ambiente é uma envolvente da vida de cujas complexidade e fragilidade só agora começamos a tomar consciência.
Por outro lado, como acertadamente pontuou o simple, eu não sou, de forma alguma, um conhecedor profundo das questões do ambiente, nem sequer da Ciência, pura ou aplicada. A minha formação é a das Humanidades. A minha profissão é a de Advogado. Sou, digamos assim, um especialista em ideias gerais, alguém que sabe um pouco de tudo e a fundo de nada, excepto talvez da aridez dos artigos, alíneas e parágrafos dos diplomas legais cá da terra... Não tenho, assim, a pretensão, de "debitar postas de pescada" sobre o tema do Ambiente e sua Conservação. Decidido a escrever sobre ele, optei por procurar relacioná-lo, na medida do possível, com a Maçonaria, ou melhor, com o papel que a Maçonaria e os maçons podem ter na indispensável empreitada da Humanidade na Conservação do Ambiente. Ao fazê-lo, opto pela abordagem que é mais confortável aos maçons: a especulação, o livre pensamento, até mesmo a utopia.
e=mc2, neste contexto, foi, para além de um título jeitoso, um pretexto. Um pretexto, para, figurativamente, procurar enfatizar a necessidade de substituir o consumo de combustíveis fósseis por energias renováveis, ou seja, substituir a produção de energia através da massa pela sua obtenção através do movimento. Daí a imediata referência à energia eólica (resultante do movimento do ar) e à energia das ondas (resultante do movimento do mar), a que se pode acrescentar a energia hídrica (resultante do movimento gerado pela passagem da água de um rio nos artefactos geradores de electricidade). Em termos de utopia, vou ainda mais longe. E foi por isso que me lembrei de Einstein e da sua conhecida equação: há forças, formas de energia, no Universo, que a Humanidade ainda não aprendeu a utilizar e - talvez - nem sequer tenha ainda concebido ser possível utilizar. Mas são forças imensas, é uma incomensurável energia, ao pé das quais a energia solar faz figura de vela em palco iluminado por potentes projectores. Pensemos na Força Magnética (da Terra, do Sol, de todos os Corpos Celestes, do Universo). Consideremos a Força da Gravidade, tão poderosa que gere a maravilhosa dança de todos os Corpos Celestes de todo o Universo. Domesticar e utilizar essas energias é impossível? Sonhar com essa possibilidade é utopia inatingível? Será... Tão inatingível como, há apenas dois séculos, o Homem imaginar voar, ir do Continente Europeu ao Americano em poucas horas, ou pôr pé e bandeira na Lua... Tão impossível como conceber a fácil cura da Peste Negra, antes de se terem descoberto os antibióticos...
Poupar é, obviamente, necessário. Reciclar é, evidentemente, indispensável. Mas não chegam. O problema energético só se resolve com a descoberta de novos meios de dominar, aplicar, conservar e transportar as infinitas energias que o Criador colocou no Universo e que à Humanidade cabe aprender a aproveitar.
Para dizer a todos que há que poupar e há que reciclar, já há para aí muita gente, muitas organizações, até alguns fundamentalistas do Ambiente...
Mas para o resto, o indispensável, o que falta fazer, há ainda muito trabalho pela frente, muita imaginação que tem de trabalhar, muita investigação que tem de acontecer. Mas é também preciso convocar as forças e as vontades e os meios para fazer esse trabalho, puxar pela imaginação, efectuar a investigação. É aí que, a meu ver, a Maçonaria pode ser útil: no convocar da Utopia, no congregar para, pouco a pouco, transformar a utopia em realidade. Como quando, há mais de duzentos anos, a maçonaria gritava Liberdade quando havia opressão, clamava Igualdade, quando havia estratificação social, pregava Fraternidade quando havia apenas egoísmo, praticava Tolerância, quando havia fundamentalismo religioso. E como continua hoje a fazer, quando, onde e como é preciso.
Para mim, e=mc2 é bem mais do que uma mera equação que Einstein deixou ao Mundo: é o símbolo do Visionário. Foi com essa dimensão simbólica que a congreguei e a ela apelei naquele texto. E agora o expliquei. Façam o favor de ir reler esse texto à luz desta explicação e vejam lá se agora não vos faz mais sentido...
Rui Bandeira
2 comentários:
É curioso o Rui ter referido a irracionalidade do PI e a possibilidade de este se poder calcular por aproximações sucessivas. Situação idêntica se passou já, mais do que uma vez, aqui no blogue: um começa de um lado, outro começa de outro e, à custa de sucessivas aproximações, acabam por dar por si a uma distância tão pequena que mais aproximação não justifica o esforço.
Tenho tendência para o detalhe, e acabo muitas vezes por não ver a floresta de tal modo me preocupo com os líquenes dos troncos das árvores. Não pude, por isso, deixar de comentar um ou outro ponto que me pareceram passíveis de aperfeiçoamento. Todavia, diz-me o Rui que as imprecisões só o seriam na aparência, e que o que interessava era o sentido figurativo. Li o texto de novo, e creio ter tropeçado no que interessava: "Que podemos nós, maçons, fazer para ajudar? O que sabemos fazer: especular, pensar, racionalizar." Descreve-se, assim, uma metodologia de trabalho: partir de uma ideia e aplicar o que dela se aproveite num contexto distinto. Aqui não interessa a factualidade.
Ao tecer uma ideia válida (a do recurso a energias renováveis) por detrás de uma teia (deliberadamente?) factualmente frágil (talvez incitando a procurar mais fundo?), quando eu esperava uma ideia oculta num segundo sentido por detrás de uma evidência factual ofuscante, o Rui trocou-me as voltas. Depois, ao refutar - e bem! - o que escrevi, surpreendeu-me de guarda baixa, e levei com a cana nos dedos. É para aprender a ler com mais atenção da próxima vez...
Creio que começo a perceber a pouca vontade do Rui em se debruçar sobre este assunto. Ambiente e Maçonaria Regular não são temas nada fáceis de relacionar. A Maçonaria Regular pretende, acima de tudo, promover a mudança ao nível do indivíduo; o ambiente não é passível de ser mudado senão pelo esforço de muitos, e uma solitária formiga em sentido contrário é, mais do que patética, inútil. A Maçonaria não se pauta por critérios de eficácia, quando o Ambiente precisa de eficiência matemática e economicista.
Parece-me que a Maçonaria tem todo o tempo do Mundo, mas o Mundo não tem todo o tempo da Maçonaria... ou não concorda comigo?
Um abraço,
Simple Aureole
P.S.: Diz o dicionário da Porto Editora sobre "peso" (entre outras coisas): "objecto metálico aferido, utilizado como medida, nas pesagens feitas com certos tipos de balança;" Era este o sentido que lhe pretendia dar; podia ter dito "um pacote de massa de letrinhas", ou qualquer outro objecto, que para o efeito seria igual. Não vejo onde possa estar viciado o raciocínio, mas conto com o Rui para me apontar o erro e me dar oportunidade de o corrigir...
@ simple:
"O sonho comanda a vida / e sempre que o Homem sonha / o Mundo pula e avança / como bola colorida / entre as mãos de uma criança"
(Pedra Filosofal - António Gedeão)
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