O décimo sexto Venerável Mestre
Luís R. D. era já, aquando da sua eleição, um Mestre Maçon com alguma antiguidade. Normalmente, teria sido chamado a dirigir a Loja mais cedo, mas as circunstâncias da vida impediram que assim tivesse ocorrido. Com efeito, na altura em que Luís R. D. normalmente iria começar a assegurar funções de Oficial do Quadro da Loja, não lhe foi possível assegurar quaisquer tarefas. Grave e prolongada doença de sua esposa obrigou-o a dar prioridade ao que era prioritário: assistir a sua companheira na vida, acompanhá-la na sua provação, proporcionar-lhe o conforto que lhe era possível proporcionar-lhe. Todo o maçon sabe, porque a todos é dito logo no dia da sua Iniciação, que os seus deveres perante a sua família preferem às suas tarefas maçónicas. Assim, durante algum tempo, prolongado, Luís R. D. mantinha com a Loja e os seus obreiros apenas contactos esporádicos. Manifestamente que não podia assumir quaisquer responsabilidades em Loja. Depois, Luís R. D. sofreu o golpe da perda de sua companheira. Apesar de saber que esse era o fim inevitável da doença que lha arrebatou, teve de suportar o desgosto dessa perda e superá-la com o luto que tão necessário é para que os vivos deixem seus entes queridos falecidos repousar em paz e possam seguir com suas vidas. Todo este processo a Loja foi acompanhando e ajudando no pouco em que podia ajudar. Até que, a pouco e pouco, as nuvens negras foram-se dissipando, o luto foi fazendo o seu papel e o Luís R. D. voltou a poder estar mais assiduamente junto de seus Irmãos. Aliás, gostamos de pensar que o convívio connosco ajudou o Luís R. D. na superação da perda sofrida.
Alguns anos se passaram, portanto, até que o Mestre Maçon Luís R. D. pudesse assumir ofícios no Quadro da Loja. Quando lhe foi possível dar o seu contributo assíduo, fez todo o percurso que, na Loja Mestre Affonso Domingues, um Mestre Maçon faz até que seus pares formalmente lhe depositam, por eleição, a sua confiança para que, da Cadeira de Salomão, dirija os destinos da Loja.
Tudo isto fez com que Luís R. D. tenha sido, já septuagenário, o elemento da Loja mais idoso a ser eleito Venerável Mestre, até hoje. Este era, aliás, o único motivo de preocupação que pairava nos espíritos dos obreiros da Loja quando, unanimemente, como sempre, elegeram Luís R. D. para exercer o ofício de Venerável Mestre. Embora fosse um "velho rijo" e - sempre! - (muito) bem disposto, todos reconheciam que a passagem do tempo começava a exigir o seu tributo, que a sua saúde e energia, embora ainda invejáveis, já não eram as mesmas de alguns anos atrás. Mas esse era um problema que, se surgisse, teria de ser resolvido pela Loja, como no passado esta tivera que resolver outros.
Surgiu!
A sessão normal de instalação do Venerável Mestre é a sessão que tem lugar no segundo sábado de Setembro. Alguns dias antes, soubemos que Luís R. D. estava doente, incapacitado de ser instalado. E, depois, que necessitaria de uma intervenção cirúrgica. E, seguidamente, que a recuperação, que se esperava breve, tinha tido uma pequena complicação. Com inquietação, fomos acompanhando este episódio de fragilidade do nosso Venerável Mestre eleito.
Entretanto, a ausência forçada do Luís R. D. foi superada com toda a naturalidade: Miguel R. continuou a exercer o ofício, assegurando a condução dos destinos da Loja até que pôde passar o seu encargo ao Venerável Mestre eleito. Sem dramas, sem problemas, com a calma que o caracteriza.
Só em Novembro de 2005 Luís R. D. pôde, finalmente, ser instalado. Embora ainda naturalmente um pouco debilitado, assumiu com determinação a sua função. Estava à porta a confraternização anual de Dezembro da Loja, momento sempre alto no ano, não só pela confraternização em si, mas porque é a altura em que a Loja agradece ao Venerável Mestre que cessou funções e organiza um leilão de objectos doados pelos obreiros para angariação de fundos destinados a serem entregues a uma associação de solidariedade social ou, de preferência, a financiarem a aquisição de algo que seja útil a uma associação de solidariedade social. Embora a Loja tivesse precavido a incapacidade de Luís R. D. e tivesse começado a preparar o evento, foi com alívio e agrado que pudemos deixar as decisões essenciais da organização do evento ao prudente arbítrio do nosso Venerável Mestre finalmente no pleno exercício de funções.
E, se Luís R. D. teve problemas de saúde para iniciar o seu mandato, logo que instalado tal não se notou. Trabalhou rijamente e assegurou modelarmente todas as organizações da Loja no decurso do seu mandato. Acabou, sem dúvida, por ser um dos mais profícuos anos de trabalho da Loja. A recolha de fundos para a associação de solidariedade social seleccionada para a receber (não interessa qual; mas é uma meritória obra de ajuda ao próximo, particularmente dos mais carentes de apoio) foi um êxito. A ajuda prestada à entidade seleccionada foi superior à que os fundos recolhidos normalmente poderiam proporcionar, graças à experiência, sageza e contactos do Luís R. D., que obteve, sobretudo, medicamentos e material de assistência na saúde em condições mais favoráveis. Fizeram-se duas acções de recolha de sangue, algumas acções culturais muito interessantes, um passeio memorável a Figueira de Castelo Rodrigo (conferir aqui e aqui), integrámos novos elementos, com êxito, completámos a formação de novos Mestres, hoje dando o seu contributo activo à Loja, enfim, o nosso mais idoso, até hoje, Venerável Mestre tudo dirigiu, tudo organizou, tudo proporcionou, com energia, com capacidade, com sabedoria.
E sempre com a sua boa disposição, com o seu sorriso alegre. Foi dos Veneráveis Mestres com mandato mais auspicioso. Foi sempre com muito gosto que todos trabalhámos sob a sua direcção.
Ah! É verdade! E foi também no decurso do seu mandato que se iniciou o A Partir Pedra! Este é um bom exemplo da forma de trabalhar do Luís R. D., que deu toda a liberdade aos obreiros para pensarem e lançarem iniciativas e as acarinhou. O A Partir Pedra foi iniciativa individual de alguns Mestres Maçons da Loja Mestre Affonso Domingues. Mas estes nunca refeririam o nome da Loja se não tivessem tido o aval desta, através do seu Venerável Mestre. Luís R. D., com a sua experiência e largura de vistas, logo percebeu que o que se projectava podia ser uma boa resposta, ao nível de uma Loja Maçónica, à necessidade de dissipação da fama de secretismo da Maçonaria, um instrumento de comunicação do nosso século, valioso e com potencialidades. Portanto, apoiou e deu força. Se o não tivesse feito, talvez o A Partir Pedra não tivesse aparecido, ou só tivesse aparecido mais tarde, ou, talvez ainda, fosse diferente. O que de bom o A Partir Pedra porventura tenha, também é obra do Luís R. D.; aquilo que tem de mau é só culpa nossa...
Rui Bandeira