18 outubro 2007

O décimo terceiro Venerável Mestre

António P. foi o décimo terceiro Venerável Mestre da loja Mestre Affonso Domingues. Exerceu o ofício de Setembro de 2002 a Setembro de 2003.

António P., um homem corpulento e afável, não tem o dom da palavra. Como muito boa gente, não consegue transmitir devidamente o seu pensamento quando fala em público. Ainda houve quem desmerecesse dele por isso. No entanto, ninguém ligou a quem tentou formular reservas a António P. por causa disso. António P. podia não ser o melhor dos oradores, mas sempre foi e é um excelente conversador, daqueles que transmite o seu pensamento e as suas emoções tanto pela palavra como pela postura, pelo gesto, pelo sorriso. Talvez seja por isso mesmo, por o seu registo de comunicação ser mais intimista, com uma afabilidade muito própria, que António P. não é bom orador. Decididamente, não foi talhado para "falar às massas", antes para conversar com os amigos.

António P. fora já oficial do meu Quadro, quando foi a minha vez de ocupar a Cadeira de Salomão. Então, escolhera-o para Editor, um ofício até então inexistente e que não voltou a haver, até agora. A sua função era a de preparar a publicação dos trabalhos produzidos pelos obreiros da Loja Mestre Affonso Domingues. Na ocasião, António P. começou pelo princípio, isto é, por começar a localizar e reunir os trabalhos, tarefa que não teve oportunidade de terminar.

Entretanto, nos anos seguintes foi chamado ao exercício de outros ofícios em Loja. Foi 2.º Vigilante do Quadro de Oficiais do mandato de João D. P. e 1.º Vigilante no Veneralato de José M..

Quando chegou a sua vez de ocupar a Cadeira de Salomão, a Loja vivia já o período de estabilidade confortável em que, felizmente, ainda permanece. Nenhuns problemas especiais existiam e nenhuns problemas foram criados. António P. prosseguiu tranquilamente a gestão dos destinos da Loja. Sob a sua batuta, esta prosseguiu os seus normais trabalhos.

Mas António P. não se limitou a assegurar a rotina. No exercício do seu mandato, retomou aquilo que não lhe fora possível concluir, anos antes. Prosseguiu, então, a tarefa de recolha dos trabalhos dos obreiros da loja Mestre Affonso Domingues e concluiu essa tarefa, até ao tempo do seu mandato, recolhendo tudo o que era possível recolher.

Mas entretanto as coisas evoluíram. Neste início de século XXI, três anos são uma eternidade, mil e um dias e noites mudam muita coisa. O que, em 1999/2000 se projectava editar tradicionalmente, um livro, uma brochura, em 2002/2003 já integrava um paradigma que não era já o único. A entrada acelerada nas Novas Tecnologias aconselhavam a ter tudo preparado para as diferentes hipóteses de publicação. O livro não é já a única hipótese. Publicar um conjunto de textos já não implica necessariamente o suporte em papel. Também não o exclui... Mas um conjunto de textos pode agora ser publicado e estar disponível através da Rede Mundial de Computadores, a Internet.

Portanto, António P. não se limitou a reunir os trabalhos. Passou-os a todos para suporte digital. Graças a ele, muitos trabalhos, quase todos, elaborados ao longo dos anos pelos obreiros da Loja Mestre Affonso Domingues, estão disponíveis em suporte informático, aptos para serem publicados, quer digitalmente, quer em suporte de papel.

Este trabalho precioso certamente vai facilitar grandemente a tarefa do actual Arquivista e do actual responsável pelo sítio na Rede da Loja Mestre Afonso Domingues, bem como aos que lhes sucederem nas funções.

Como e quando (e se...) será publicado o que os obreiros da Loja Mestre Affonso Domingues produziram é assunto que ainda está a ser ponderado. Mas uma coisa temos já certa. Os trabalhos estão preservados e digitalizados. Os muitos golpes de malhete e cinzel efectuados pelos obreiros da Loja Mestre Affonso Domingues no desbastar das suas pedras brutas estão registados e guardados. Para que quem nos siga possa, se quiser, consultá-los, lê-los, aprender com eles, criticá-los, discordar ou concordar, ou, simplesmente, satisfazer a sua curiosidade. E como é interessante rememorar trabalhos feitos anos atrás por jovens aprendizes que hoje são Mestres experientes e até já ex-Veneráveis...

Essa possibilidade temo-la hoje e tê-la-ão os que virão depois de nós, em muito graças ao trabalho do António P., um maçon que não foi nem é um bom orador, mas mostrou ser um excelente trabalhador e um Venerável Mestre que deixou obra feita.

Rui Bandeira

17 outubro 2007

"Estados Maçónicos da América" - 2

Afinal consegui ver o documentário. E gostei. É um documentário sério, bem feito e, sobretudo, com rigor factual. Com efeito, tanto quanto me pude aperceber, todos os factos ali mencionados são rigorosamente verdadeiros. Quanto à sua interpretação ou aos comentários em relação a eles produzidos, posso concordar ou discordar, achar que está certa ou errada, mas impõe-se reconhecer que a postura dos autores do documentário é equilibrada e sensata.

É certo que lá vieram à baila os símbolos maçónicos da nota de dólar e o projecto urbanístico de Washington e ainda o caso Morgan. Mas tudo isso veio a propósito, foi devidamente enquadrado e inserido num relato cronológico da instauração e evolução da Maçonaria em solo americano, feito com uma louvável objectividade jornalística.

Não lograram fugir à tentação de formular questões sensacionalistas e de verbalizar suspeitas sem fundamento? Não, não lograram. Mas o documentário é feito por quem está de fora da Maçonaria e para quem está de fora da Maçonaria. É natural que, por desconhecimento, tenham sido formuladas. É natural que quem está de fora se interrogue sobre o que realmente é a Maçonaria e sobre a razão da sua fama de secretismo. Se tal não nos agrada, somos nós, maçons, que temos de fazer alguma coisa em relação a isso, não quem está de fora e se interroga a nosso respeito.

É a nós, maçons, que cabe a tarefa de desmistificar a nossa fama de secretismo, elucidando sobre os nossos princípios, os nossos objectivos e sobre o nosso método. E também esclarecendo as razões porque não gostamos de divulgar as poucas coisas que não divulgamos. Há tempos, publiquei, aqui no A Partir Pedra, um texto em que, a propósito da Cerimónia de Iniciação, julgo ter esclarecido, de forma entendível por toda a gente, porque não divulgamos como é essa cerimónia. Qualquer pessoa de boa fé entende a lógica da razão apresentada e, assim, não alimenta suspeitas infundadas. Se assim nós, maçons, procedermos, se colocarmos à disposição do conhecimento público tudo aquilo que não é matéria reservada nossa e se, em relação a esta, dissermos claramente que é reservada e apresentarmos a razão por que o é, de forma clara e compreensível, faremos mais pelo derrubar dos preconceitos contra a Maçonaria do que com mil polémicas com os histéricos das teorias a conspiração...

O documentário em causa apresentou factos objectivamente verdadeiros. Efectuou análises sensatas e especulações compreensíveis. Referenciou, mais do que uma vez, a irrazoabilidade das teorias da conspiração e das posições anti-maçónicas dos fundamentalistas religiosos. Formulou perguntas que é natural que quem está de fora formule. É, em resumo, um trabalho sério e de qualidade. Se e quando o canal Infinito o retransmitir, ou o transmitir noutros pontos do globo, recomendo que seja visto por quem tem interesse pela Maçonaria.

Rui Bandeira

16 outubro 2007

15001 blogues aderem ao Dia de Acção pelo Ambiente

O anúncio da entrega do Prémio Nobel da Paz a um americano só se explica pelas razões que acompanham essa decisão.
De facto a grande maioria das expectativas estiveram bem longe deste premiado, mas é preciso reparar atentamente no americano que foi premiado e as razões aduzidas.
Não se trata de um americano qualquer, mas de um homem que tem feito da defesa do ambiente uma cruzada (bem paga, mas cruzada !) de esclarecimento pela necessidade de protecção do ambiente, percorrendo o mundo (esteve em Portugal há poucos meses) ensinando, divulgando o que está mal e e apontando a maneira de fazer bem.
É claro que todas as questões relacionadas com o ambiente têm a ver com todos nós, com a manutenção da vida terrestre (pelo menos no formato que conhecemos e em que existimos) e com o futuro dessa mesma vida, qualquer que seja o modelo que se considere.
Também é claro que esta decisão não é completamente inocente, sabemos que os Estados Unidos estão em plena corrida eleitoral, que a administração americana actual se está nas tintas para a saúde ambiental do planeta e que a arma do ambiente, quando usada a preceito, rende votos.

Bom, mas mesmo depois de tudo isto espremido, continuo a pensar que toda a visibilidade que seja dada a esta questão é ponto a favor da humanidade.
E sendo uma questão que tem a ver com o Homem, é certamente uma questão que tem a ver com os Maçons e a Maçonaria.
São muitos, felizmente, os maçons envolvidos em causas ambientais, na criação e gestão dos parques naturais, onde muitas espécies animais encontram maneira de se salvarem da destruição do seu meio de sobrevivência natural.

No estado actual da humanidade todos somos chamados à protecção da vida e nesse aspecto esta designação para o Nobel da Paz tem um efeito de marketing que é bem vindo.
Não será o mais desinteressado, mas desta vez o fim é capaz de justificar este meio.

Repito a chamada de atenção para as declarações da jovem Severn Suzuki durante a ECO92, Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento.
Repito… não percam.

http://www.youtube.com/watch?v=y80zyIuJz28

E, porque procuramos um mundo perfeito aproveito também para uma notinha um pouco à margem, e se calhar nem tão à margem assim…, e que tem a ver com o estado desgraçado da condução nas estradas portuguesas.
E aí temos outro ponto de contacto com a causa ambiental, porque a reciclagem dos restos dos automóveis não consegue ainda ser completa.

É só uma estorinha para dispor… (como vocês entenderem) :



Era uma vez um homem perfeito que conheceu uma mulher perfeita.

Namoraram e um dia casaram. Formavam um casal perfeito. Numa noite de Natal,
ía o casal perfeito por uma estrada deserta quando viram alguém na berma
pedindo ajuda. Como eram pessoas perfeitas pararam para ajudar.


Essa pessoa era nada menos do que o Pai Natal, cujo trenó estava avariado.
Não querendo deixar milhões de crianças decepcionadas, o casal perfeito
ofereceu-se para ajudá-lo a distribuir os presentes. O bom velhinho entrou
no carro e lá foram eles.
Infelizmente, o carro envolveu-se num acidente e somente um dos três ocupantes sobreviveu.

Pergunta: quem foi o sobrevivente do trágico acidente?
A mulher perfeita o homem perfeito ou o Pai Natal?

(Leia abaixo)

































A mulher perfeita sobreviveu.

Na verdade ela era a única personagem real desta história. Toda a gente sabe
que o Pai Natal e o homem perfeito não existem.


(Se você for mulher pode ficar por aqui, assim toda contente, a piada acaba aqui.
Os homens podem continuar a ler)





















Agora, se o Pai Natal não existe, nem o homem perfeito, fica claro que quem
conduzia era a mulher perfeita, o que explica o acidente.


Se você é mulher e leu até aqui, fica provada mais uma teoria: as mulheres
são muito curiosas e nunca ouvem o que se lhes diz.




A curiosidade é inimiga do ambiente !


JPSetúbal

15 outubro 2007

"Estados Maçónicos da América"

O canal Infinito, incluído no conjunto de canais da grelha básica da TV Cabo, em Portugal, emite amanhã, terça-feira, 16 de Outubro, entre as 20 e as 21 horas, com repetição na madrugada seguinte, entre as 0,30 h e a 1,30 horas, um documentário que anuncia com o curioso título de "Estados Maçónicos da América". Este documentário faz parte de um conjunto de quatro, de produção anunciada como própria do canal, com o título genérico de "Sociedades Secretas".

No texto da promoção do documentário, referencia-se que mais de metade dos fundadores dos Estados Unidos eram maçons - o que é rigorosamente verdade. Aliás, parece indubitável que esses ilustres Irmãos de então em muito influenciaram a consagração dos grandes princípios democráticos que é feita na Constituição dos Estados Unidos, tal como a que já tinha tido lugar de destaque na Declaração de Independência daquele País.

Nesse sentido, o texto de promoção do programa é rigorosamente verdadeiro.

Não ficarei, no entanto, até pelo título escolhido, nada admirado se este documentário mais não for do que a acéfala repetição das teorias da conspiração do costume, de que os maçons dominam o Poder, nos Estados Unidos, e executam um paciente trabalho conducente à instauração de uma Nova Ordem Mundial, obviamente sob o seu domínio... E, provavelmente, lá virá a costumada referência aos símbolos maçónicos na nota de dólar americano ou a mil vezes apresentada "prova" da absoluta e secreta influência dos maçons que é constituída pela organização urbanística de Washington... Enfim, o trivial, que se poderá ler, além de milhentos outros locais, aqui.

Se assim for, será pena mas, enfim... os doidinhos das teorias da conspiração também têm direito ao seu tempo de antena... e sempre nos podemos rir um pouco...

Se o documentário, ainda que porventura também apresentando os pontos de vista dos "teóricos da conspiração", também efectuar a crítica desses delírios ou, pelo menos, apresentar também os pontos de vista contrários, então, sim, será um trabalho com algum equilíbrio e merecedor de aplauso.

Em qualquer caso, acho que vale a pena visionar o programa. Eu duvido que possa fazê-lo, mas isso não é razão para aqui não lhe fazer referência. Quem vir o documentário e quiser deixar no A Partir Pedra as suas impressões, o seu juízo, a sua opinião, é bem-vindo para o fazer. A caixa de comentários não existe para outra coisa...

Uma última nota para todos aqueles (e são, com grande alegria nossa, muitos) que acompanham o A Partir Pedra a partir de outros pontos do globo, que não Portugal - mais de metade dos nossos visitantes são do Brasil -: só posso, como é óbvio, divulgar aqui este tipo de informações em relação ao País onde me encontro, pois é em relação a ele que as obtenho. Porém, a prática das cadeias de comunicação internacionais (e, até julgando pela origem de grande parte da sua programação, o Infinito está implantado e emite na América Latina) é a de "rodar" estes documentários pelas várias regiões para onde emitem. É natural, pois, que, se não foi já, este documentário venha, brevemente, a ser emitido em outros pontos do globo. Se assim suceder e se alguém quiser ter o trabalho de me avisar, terei todo o gosto em aqui referenciar a apresentação do programa noutras localizações.

Rui Bandeira

12 outubro 2007

Profanidades


Uma das mais interessantes características de um blogue é a possibilidade que existe de uma profícua interacção entre quem escreve e quem lê, resultante da utilização da caixa de comentários. Essa interacção, se cultivada, permite a quem escreve ter uma melhor noção dos interesses de quem lê, permite a quem comenta, para além de exprimir a sua opinião, inquirir, sugerir, afinal influenciar o que se escreve no blogue. No limite, uma profícua interacção entre autores de textos e comentadores faz de um blogue um espaço comum de interesse intelectual, evoluindo, não apenas ao sabor da vontade do(s) seu(s) autor(es), mas no percurso dos caminhos desbravados, em conjunção, por quem escreve e por quem lê e comenta.

Pessoalmente, sempre que um comentário me estimula o interesse pela referência a qualquer assunto, prefiro, em vez de responder, sucintamente, na própria caixa de comentários, elaborar e publicar um ou mais textos sobre o tema. O que tem a consequência de, por vezes, alterar o rumo da publicação de textos.

Vem isto a propósito de um comentário que nuno_r (que anteriormente se identificava como o profano) produziu relativamente ao texto O maçon e as luvas. Nele, nuno_r escreveu, designadamente:

Já foi abordado em post anterior o Avental e agora as Luvas.
Como estamos a falar de "peças de vestuário", gostava, se possível, saber como faz um Maçon para adquirir estas peças.
É fácil comprá-las no mundo profano ou é a Loja (ou Grande-Loja) que fornece ou as vende aos Maçons?

Antes do mais, é justo referir que o "culpado" (no sentido de ter sido ele o catalisador de tal facto) de ultimamente eu ter escrito dois textos sobre "peças de vestuário" (O maçon e as luvas e O avental do Aprendiz) foi precisamente o nuno_r que, então ainda como o profano, perguntou, num comentário ao texto A integração do Aprendiz (II), a razão porque o Aprendiz usa a aba do seu avental levantada. Essa questão despertou a minha tendência para a associação livre e, da resposta à pergunta, saltei para o avental e deste para as luvas. Hoje, tencionava escrever mais um texto sobre vestuário, mas a nova questão do nuno_r leva-me a mais uma deriva. Assim, o projectado texto sobre vestuário fica para um dia destes e... vamos então às profanidades (em jeito de homenagem ao interesse do nuno_r e, já agora, aproveitando para um titulozito jeitoso...) de onde e como se adquirem luvas e aventais de maçons.

Adquirir luvas brancas é fácil: qualquer boa luvaria ou estabelecimento de peças de vestuário com secção de luvaria as tem disponíveis.

Já para adquirir luvas enfeitadas com o esquadro e o compasso, bem como para adquirir aventais de maçon, a coisa fia mais fino: o mercado de interessados é muito pequeno em Portugal e não se compram luvas e aventais todos os dias, nem sequer todos os anos, e portanto o interesse comercial nesses artefactos tem a mesma dimensão.

Não sei o que se passa noutras estruturas mas, quanto à GLLP/GLRP, esta dispõe de um fornecedor importador de artefactos maçónicos que lhe garante o fornecimento do que é necessário. Qualquer maçon da GLLP/GLRP pode, consequentemente, através da sua Loja ou dirigindo-se directamente aos serviços da GLLP/GLRP, adquirir o que precisa.

Quando alguém é iniciado, a sua Loja fornece-lhe o avental de Aprendiz e as luvas. O custo destes objectos está já integrado na jóia de iniciação que o candidato pagou. Também quando o maçon é passado ao grau de Companheiro e elevado ao grau de Mestre a Loja lhe fornece os respectivos aventais. E também os respectivos custos estão incluídos no pagamento a que o maçon procede aquando desses actos.

Nenhum maçon é, porém, obrigado a adquirir os seus artefactos através da sua Loja ou Grande Loja. Pode adquiri-los onde lhe der jeito ou onde pretenda. E qualquer Loja pode obter os artefactos para disponibilizar aos seus obreiros onde pretender. Não tem qualquer obrigação de os adquirir na Grande Loja ou ao fornecedor desta. Por exemplo, a Loja Mestre Affonso Domingues adquiriu parte dos artefactos que a ela, Loja, pertencem, a um fornecedor no estrangeiro, mediante encomenda efectuada por Internet e os seus obreiros estão também a habituar-se a fazer o mesmo, pois consegue-se artefactos de boa qualidade a preços favoráveis. Normalmente, quando alguém projecta efectuar uma encomenda, inquire se mais alguém quer aproveitar para encomendar e vem tudo ao mesmo tempo. Sempre se poupa nos custos de transporte...

Sítios na Internet dedicados à comercialização de objectos e artefactos maçónicos, há vários. Basta efectuar uma pesquisa num motor de busca. Mas atenção à língua em que se faz a pesquisa... Se for em português, provavelmente aparecem páginas de fornecedores no Brasil (por exemplo, o Triângulo Atelier Maçónico); se pesquisar em francês, muito provavelmente vai deparar com páginas de fornecedores franceses (por exemplo, Arts et Symboles), em inglês, obtém páginas de fornecedores ingleses ou americanos (por exemplo, Central Regalia ou The Freemason Masonic Supplies), etc..

O mercado é grande...

Rui Bandeira

11 outubro 2007

O maçon e as luvas

Em reunião de Loja ou de Grande Loja, os maçons usam sempre luvas brancas. Pode-se dizer que o uso de avental e de luvas brancas é a marca distintiva dos maçons.

Para além da cor, não existem requisitos especiais quanto ao tipo e qualidade de luvas a serem usadas. Podem ser de pele, algodão ou outro tecido. Podem ser completamente brancas ou ter estampado ou bordado algum enfeite. É muito utilizado um modelo de luvas com o desenho do compasso e do esquadro.

Tal como o avental, a origem do uso das luvas deve buscar-se na Maçonaria Operativa. O trabalhador em pedra, em muitas das suas tarefas, necessitava de proteger as mãos dos acidentes ou, mesmo, das normais consequências do manuseamento de materiais duros, rugosos, pesados, com arestas vivas, etc.. O uso de luvas previne pequenos ferimentos, arranhões, abrasões, decorrentes desse manuseamento. Com a transição da Maçonaria Operativa para a Maçonaria Especulativa, manteve-se a tradição do uso de luvas.

Mas se a tradição se manteve, ironicamente o propósito inverteu-se. É que, na Maçonaria Especulativa, o uso de luvas não se destina a proteger as mãos do ambiente, mas, pelo contrário, a proteger o ambiente das mãos. Explicando:

Uma das regras que é frequentemente lembrada aos maçons é a de que estes "devem deixar os metais à porta do Templo", isto é, não devem transportar para o interior da Loja condutas, conflitos, interesses, competições, comportamentos, de natureza profana. Em Loja, nada disso tem lugar.

O espaço da Loja - e não me refiro apenas ao espaço físico, mas também, e essencialmente, à dimensão espiritual - não deve ser conspurcado com imperfeições de natureza profana. Para que o maçon possa tranquilamente, com a ajuda de seus Irmãos, trabalhar no seu aperfeiçoamento, deve estar inserido num ambiente livre da poluição das imperfeições do dia a dia. O interior do Templo deve, assim, estar livre de metais, por estes se entendendo tudo o que é negativo, imperfeito, inerente às fraquezas humanas.

No entanto, o maçon, se busca aperfeiçoar-se, é porque se reconhece imperfeito. E imperfeito em si mesmo. Por muito que cuide, por muito que faça, embora procure deixar os metais à porta do Templo, alguns inevitavelmente ele transporta para o seu interior, porque ínsitos (ainda, espera-se...) nele mesmo. Então, assim se reconhecendo imperfeito, logo poluidor do ambiente do Templo, logo susceptível de dificultar o aperfeiçoamento de seus Irmãos - quando o objectivo comum é precisamente o inverso... - o maçon simbolicamente protege o ambiente e seus Irmãos de suas imperfeições, usando as luvas. Assim, a sujidade que ainda permanece em suas mãos não conspurca o Templo, os objectos nele existentes, os seus Irmãos.

Ou seja, o maçon em Loja usa luvas brancas, não para se proteger do que, exterior a si, o possa afectar, mas para proteger o ambiente e os demais daquilo que, existente em si, os possa prejudicar.

Este, no meu entendimento, a lição que se pode extrair do simbolismo do uso das luvas pelos maçons em Loja.

Daqui decorre, por exemplo, que, ao contrário da prática social, em que o enluvado se desluva para cumprimentar outrem, os maçons, no interior do Templo saúdam-se sempre com as respectivas luvas postas.

Há, no entanto, três situações correntes em que o maçon em Loja deve retirar uma ou ambas as luvas. Uma, quando manuseia dinheiro, pois, por natureza, o vil metal conspurca - e o seu manuseio em Loja, designadamente quando se reúnem fundos para acções de solidariedade, é um mal necessário - e não deve assim sujar a luva, que deve permanecer limpa; outra, quando o maçon assume compromissos sobre as três Grandes Luzes da Maçonaria - o Volume da Lei Sagrada, o Compasso e o Esquadro -, caso em que apõe a mão nua sobre esses três artefactos, em sinal de que o compromisso é assumido pelo Homem inteiro, com suas qualidades e defeitos, com suas forças e suas imperfeições, confiando em que o contacto entre essas três Grandes Luzes e si próprio redundará no seu aperfeiçoamento, não na perda de qualidades daquelas; a terceira, na Cadeia de União, em que os maçons se dão as mãos, despojadas de luvas, em sinal de união e de comunhão de esforços, juntando-se numa Cadeia em que cada um se reconhece como o elo mais fraco, mas em que todos buscam fortalecer-se, transmitindo-se e unindo todos suas forças e fraquezas, cientes de que as forças de todos combinadas gerarão um poder mais forte do que a mera soma delas e de que as fraquezas de cada um mais eficazmente são combatidas com a ajuda de todos.

Eis porque o maçon usa luvas brancas e eis por que razão pontualmente as não usa.

Rui Bandeira

10 outubro 2007

O duodécimo Venerável Mestre

Eleito, como habitualmente, em Julho, José M. foi o duodécimo Venerável Mestre da Loja Mestre Affonso Domingues, tendo exercido o ofício entre Setembro de 2001 e Setembro de 2002.

José M., oriundo da primeira geração de iniciados, logo no princípio do funcionamento da então GLRP, hoje GLLP/GLRP, era já, na altura em que assumiu o exercício da função, um maçon muito experiente. Desde há vários anos que colaborava activamente com o Grão-Mestrado, particularmente no apoio aos maçons e Lojas no Norte e Nordeste do País. Algumas dessas Lojas tinham contado com a sua activa colaboração nos primeiros tempos da sua existência. Já fora Venerável Mestre de uma Loja no Nordeste Transmontano, pelo menos, antes de assumir idêntica função na Loja Mestre Affonso Domingues.

José M. há vários anos que dispersava o seu esforço por várias Lojas e na estrutura da Grande Loja. Nunca deixou, porém, de integrar o Quadro de Obreiros da Loja Mestre Affonso Domingues e de comparecer às suas reuniões com a assiduidade que a necessidade de atender a várias solicitações lhe permitia.

Mal comparado, José M. era, desde há vários anos, como que o "Ministro dos Assuntos Exteriores" da Loja. Devido ao seu intenso contacto com as demais estruturas da Obediência, conhecia e era, já então, praticamente conhecido de toda a gente na organização. Veiculava para a Loja o que se passava nas demais estruturas da Obediência; certamente que transmitia a essas outras estruturas o sentir da Loja Mestre Affonso Domingues.

Internamente, para além de ter exercido, mais formal ou mais esporadicamente, praticamente todos, senão mesmo todos, os outros ofícios em Loja, fora, dois anos antes, o 2.º Vigilante do Quadro de Oficiais do meu Veneralato e fora o 1.º Vigilante do João D. P.. Cumprira, pois, o normal percurso (então apenas restrito aos Vigilantes; agora incluindo mais ofícios) que desembocava na Cadeira de Salomão.

José M. dava, pois, todas as garantias de um sereno e profícuo exercício da função, tanto mais que a sua ascensão ao ofício decorrera com toda a normalidade e seguindo todos os passos certos e aconselháveis. Digamos que as suas "habilitações curriculares" eram perfeitas para a função.

Com todas estas boas fundações, como foi então o edifício do seu Veneralato? Foi... sólido... pacato... eficiente... pacato... suave... pacato... calmo... pacato..., etc.... pacato...

É curioso como, quando as coisas correm bem, quando se processam com normalidade, sem sobressaltos, nos deixam apenas uma difusa lembrança na memória!

O mandato do José M. correu bem, correu normalmente, sem sobressaltos, fazendo-se o trabalho que se tinha de fazer, inquirindo-se quem havia que inquirir, iniciando-se quem havia para iniciar, passando-se a Companheiro quem estava na altura de ser passado a Companheiro, elevando-se a Mestre quem justificava a elevação a Mestre, apresentando-se e assistindo-se à apresentação de pranchas, assegurando-se as iniciativas de solidariedade e de convívio social que a Loja já se habituara a assegurar. Em resumo, normalidade absoluta!

Costuma-se dizer que gente feliz não tem história. Será talvez caso para dizer que Loja feliz não sobressai na nossa memória...

O mandato de José M. integra-se numa sucessão de mandatos em que a Loja, atingida já a sua maturidade, apreciava algo que até então, raramente tivera: a possibilidade de trabalhar numa reparadora rotina!

Este período de aparente ausência de acontecimentos durou alguns anos - e constitui um problema para quem procura registar a memória da Loja... - e, porventura, durará ainda. Mas engana-se quem porventura pense que é um período de calmo repouso, se nada feito. O que se inaugurou com o mandato do José M. foi um período de trabalho calmo, porque organizado, de evolução sem sobressaltos, de construção de subtis laços ligando a Loja aos seus membros e estes entre si, que, paulatinamente, foram criando, o ambiente acolhedor, responsável e agradável que se continua a viver na Loja e que todos esperamos que se continue, indefinidamente, a verificar. A Loja deixou de necessitar de reagir com força, união e determinação aos ventos que por vezes a abanaram; passou a navegar airosamente aproveitando as quase imperceptíveis correntes que a transportam do passado para o futuro.

José M., com toda a sua experiência, foi o Venerável Mestre ideal para iniciar este período de tranquila bonança. Também para se guiar a nau com rumo certo em mar bonançoso é preciso ser hábil e seguro. José M. foi-o: não inventou o que não havia necessidade de ser inventado, mostrou que é possível e desejável e profícuo trabalhar na rotina da Maçonaria e assim também estreitar os laços entre os maçons. Ao assegurar a normalidade com... normalidade, José M. mostrou à Loja que dirigi -la não é ser voluntarista, é assegurar que seja feito o que deve ser feito, quando deve ser feito. O facto de o seu exemplo ter frutificado e de a Loja, desde então, se ter habituado a vogar serenamente no mar calmo do seu trabalho de rotina, constitui o legado que o seu Veneralato deixou à Loja. Em boa hora teve a Loja à sua frente um elemento experiente que não buscou brilhar, mas apenas assegurar serenamente o exercício da sua função, pela forma como, naqueles tempo e lugar, a função devia ser exercida!

Os tempos de calmaria e bonança da idade adulta da Loja, que visivelmente foram sentidos a partir do Veneralato do José M. podem causar dificuldades a quem procura registar a memória da Loja. Mas em tudo o resto são favoráveis e agradáveis!

Rui Bandeira