Scolari
Ora eu aqui de novo, aproveitando a inter-actividade aqui do sítio, proponho-me discorrer, profanamente, embora com certa intenção não profana, apelando a valores que se ensinam quando ainda só sabemos soletrar.
De caminho dou nota do comentário feito por uma cunhada a propósito do meu artigo “Grandes Portugueses II”, a quem agradeço as palavras que me dirigiu e me alertaram para a necessidade de esclarecer, aquilo que não soube transmitir.
Quando referia que as figuras históricas presentes na “final” do concurso televisivo eram iniciados, obviamente não me referia à Maçonaria Especulativa, aquela onde hoje somos humildes obreiros, mas também aludi à distinção que Fernando Pessoa fazia entre Ordem Maçónica e Maçonaria (especulativa). A primeira refere-se a um sistema tributário de valores esotéricos e profanos que não carecem de uma iniciação formal e ritualística, ancestral, e nessa medida, ser adequado admitir que um iniciado, numa ordem esotérica poder ser aceite como Maçon. Era o caso de todos os nomes referidos naquele artigo, porque todos iniciados.
Bom mas o tema de hoje está na berra. De uma forma vernácula nunca o ditado “passar de bestial a besta” vem tão a propósito, como o caso do momento do Scolari.
Para começo de conversa devo dizer que quando a Federação Portuguesa de Futebol contratou o Scolari eu não aceitava muito bem a necessidade de ir buscar um estrangeiro quando existiam tantos treinadores Portugueses de elevado calibri. Recordava-me de um que me fez chorar lágrimas de orgulho e alegria – o Carlos Queiroz – campeão do mundo de sub-21 duas vezes, lembrava-me do Manuel Fernandes que é só treinador com mais títulos internacionais, etc.
O Scolari vem do Estado Brasileiro do Rio Grande do Sul, onde tenho amizades pessoais com políticos de relevo, e genericamente tenho gratas recordações das duas vezes que o visitem, ali tendo aprendido muitas coisas no domínio da administração municipal e marketing politico. Portanto tenho sempre um especial carinho pelo Rio Grande do Sul. Mas nem isso aplacava a minha resistência ao facto de uma selecção nacional dever ter na sua liderança um Português.
Porém, já há muito que aprendi, a custo, porque me custa constatá-lo, que ser Português é muito mais do que aqui em solo pátrio ter nascido. Ser Português é um estado de alma, de espírito, é no fundo vestir a camisola incondicionalmente.
A nossa história está recheada de episódios com portugueses que renegando o seu sangue, optaram pela trincheira castelhana. Até o nosso Nobel parece ter optado por essa via.
Nutro um especial desprezo por todos os Portugueses que se colocam nessa posição. Assim como nutro um especial apreço por quem aqui não tendo nascido, se sentem portugueses e agem com tal. Esses têm nas veias o ser Português. Foi esse o caso do Scolari. Foi isso que me levou a mudar de ideias.
Este homem chega a Portugal, e qual Fénix, renascida das cinzas, levanta o moral dos Portugueses, inflama o espírito da portugalidade, torna-se num ser Bestial, e nós todos com ele.
Um acto irreflectido, censurável, vergonhoso, e, aparentemente, sem desculpa foi praticado por este ser Bestial. Exige-se a um ser Bestial que não se sinta ofendido de, em castelhano alguém, lhe diz “hijo de putana”, e outras do género. Reage como qualquer um com sangue a correr nas veias reagiria. Já lá dizem na terra dos meus Pais (transmontanos) que quem não se sente não é filho de boa gente.
A retratação no dia seguinte na “grande entrevista” parece-me sincera. O homem que antes se exaltara foi humilhado, pela opinião pública imediata. Mas agora humilha-se pelo que será exaltado. Ao cabo e ao resto é um exemplo de quem errando, emenda o caminho.
Afinal melhor do que quem nunca errou, é aquele que tendo errado se emendou. O primeiro provavelmente não terá sido tentado por factores desviantes. O segundo tendo sido tentado ultrapassa a tentação. Combate os seus vicíos e exalta as suas virtudes. Isto é evoluiu. Sendo bom e de bons costumes e tornou-se melhor.
Scolari sendo bestial, comete um erro, mas arrependeu-se. Aprendamos algo com isto.
O Grande artífice do Universo (como Camões Lhe chamava) pega-nos ao colo quando erramos, quando precisamos, quando fraquejamos.
Afinal é nessa altura que precisamos de ser acarinhados. Quanto ao Scolari, o homem errou, retratou-se. Façamos como qualquer centurião de uma legião romana faria perante um ataque, porque agora surgem de todos os lados, e gritemos “formação em diamante” (esta era a voz de comando para formar uma espécie de concha defensiva com os longos escudos dos soldados que os protegia das setas inimigas, e de qualquer artefacto móvel que se lhes dirigissem de qualquer direcção.
Quando se trava uma “guerra” (em sentido figurado) – qualificação para o Europeu – nunca se deve mudar o General, sob pena de, ao fazê-lo se perder todas as batalhas seguintes (e são 4). Isso seria uma estupidez.
Bem hajam
Templuum Petrus