18 outubro 2025

A Voz e o Silêncio



Na semana passada, aqui neste rectângulo à beira mar plantado, fomos novamente chamados às urnas, mas para agora eleger os 308 presidentes de câmara e também os 3091 presidentes de junta de fréguesia. Foi mais um momento em que cada um de nós teve a liberdade para poder exercer o direito de escolher quem o representa, não apenas um partido, mas, tantas vezes, uma pessoa. Nas autárquicas, essa escolha ganha uma dimensão mais humana e próxima, vota-se em quem se conhece, em quem caminha nas mesmas ruas, em quem partilha as mesmas preocupações, talvez aqui não se olhe tanto aos partidos mas sim às pessoas, àqueles que podem fazer diferente. É aqui que a democracia mostra o seu rosto mais autêntico, o da confiança pessoal e da responsabilidade partilhada.

Votar é um ato de liberdade. E a liberdade não se impõe, exerce-se. Não temos o dever ou a obrigação de ir votar, temos o direito e o não votar, ou votar branco é uma expressão tão válida da nossa liberdade do que escolher algum dos nomes no boletim de voto. Penso assim que o voto é o reflexo de uma nossa escolha interior: podemos falar, podemos calar, mas o essencial é que o façamos em consciência. O silêncio pode ser nobre quando é escolha e reflexão, mas torna-se perigoso quando é imposto, sugerido ou disfarçado de consenso.

Num mundo verdadeiramente livre, o voto é sempre uma escolha legítima, venha de onde vier. Votar na extrema esquerda ou na extrema direita é tão democrático quanto votar nas esquerdas, nas direitas ou nos centros, ditos tradicionais ou auto intitulados de verdadeiros defensores da democracia.  Não é pela direção do voto, que se mede a democracia,  mas sim pela liberdade com que ele é dado. E é essa liberdade que importa proteger, mesmo quando nos custa ouvir certas vozes, porque o direito de falar é inseparável do direito de discordar.

Vivemos tempos em que a censura já não precisa de decretos, surge disfarçada de moralidade ou de correcção, muitas vezes nascida das melhores intenções, mas com o mesmo resultado. O silenciamento de quem pensa diferente. A cultura Woke actual, que se julga “desperta” tende, por vezes, a adormecer a pluralidade. e quando todos têm medo de dizer o que pensam, onde o politicamente correcto vence o nosso próprio entender de correcto, a liberdade torna-se apenas um símbolo vazio.

A censura, venha de onde vier, até mesmo não intencional, corrói primeiro o espaço onde nasce e depois tudo o que toca. Por isso, mesmo dentro dos lugares onde o silêncio é símbolo e método, é preciso recordar que ele nunca pode ser imposição. O silêncio que constrói é o que prepara a palavra, não o que a proíbe.

Cada vez que entramos numa urna, tal como cada vez que entramos num templo, somos chamados a escolher entre a voz e o silêncio. E talvez o verdadeiro equilíbrio esteja em saber quando falar e quando o não fazer seria trair a própria Luz que nos guia.

Porque a voz livre é sempre mais forte do que o silêncio imposto.

João B  M∴M∴

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