AS TRÊS GRANDES LUZES DA MAÇONARIA, A MORAL E A ÉTICA
As três grande luzes da Maçonaria são o Compasso, o Esquadro e o Livro da Lei Sagrada.
É também corrente referir-se que o compasso simboliza a vida correta, pautada
pelos limites da Ética e da Moral. Ou ainda o equilíbrio. Ou a também a
Justiça. Porque o compasso serve para traçar circunferência, delimitando um
espaço interior de tudo o que fica do exterior dela, assim se transpõe para a
noção de que a vida correta é a que se processa dentro do limite fixado pela
Ética e pela Moral. Porque é imprescindível que o compasso seja manuseado com
equilíbrio, a ponta de um braço bem fixada no ponto central da circunferência a
traçar, mas permitindo o movimento giratório do outro braço do instrumento, o
qual deve ser, porém, firmemente seguro para que não aumente ou diminua o seu ângulo
em relação ao braço fixo, sob pena de transformar a pretendida circunferência
numa curva de variada dimensão, torta ou oblonga, assim se transpõe para a
noção de equilíbrio, equilíbrio entre apoio e movimento, entre fixação e
flexibilidade, equilíbrio na adequada força a utilizar com o instrumento.
Porque o círculo contido pela circunferência traçada pelo instrumento se separa
de tudo o que é exterior a ela, assim se transpõe para a Justiça, que separa o
certo do errado, o aceitável do censurável, enfim, o justo do injusto.
Também é muito comum a referência de que o esquadro simboliza a Matéria e o
compasso o Espírito, aquele porque, traçando linhas direitas e mostrando
ângulos retos, nos coloca perante o facilmente percetível e entendível, o
plano, o que, sendo direito, traçando a linha reta, dita o percurso mais curto
entre dois pontos, é mais claro, mais evidente, mais apreensível pelos nossos
sentidos - portanto o que existe materialmente. Por outro lado, o compasso
traça as curvas, desde a simples circunferência ao inacabado (será?) arco de
círculo, mas também compondo formas curvas complexas, como a oval ou a elipse.
É, portanto, o instrumento da subtileza, da complexidade construída, do
mistério em desvendamento. Daí a sua associação ao Espírito, algo que permanece
para muitos ainda misterioso, inefável, obscuro, complexo, mas simultaneamente
essencial, belo, etéreo. A matéria vê-se e associa-se assim à linha direita e
ao ângulo reto do esquadro. O espírito sente-se, intui-se, descobre-se e associa-se
portanto ao instrumento mais complexo, ao que gera e marca as curvas, tantas
vezes obscuras e escondendo o que está para além delas - o compasso.
Cada um pode - deve! - especular livremente sobre o significado que ele próprio
vê nestes símbolos. O esquadro, que traça linhas direitas, paralelas ou
secantes, ângulos retos e perpendiculares, pode por este ser associado à
franqueza de tudo o que é direito e previsível e por aquele à determinação, ao
caminho de linhas direitas, claro, visível, sem desvios. O compasso,
instrumento das curvas, pode por este ser associado à subtileza, ao tato, à
diplomacia, que tantas vezes ligam, compõem e harmonizam pontos de vista à
primeira vista inconciliáveis, nas suas linhas direitas que se afastam ou
correm paralelas, oportunamente ligadas por inesperadas curvas, oportunos
círculos de ligação, improváveis ovais de conciliação; enquanto aquele, é mais
sensível à separação entre o círculo interior da circunferência traçada e tudo
o que lhe está exterior, prefere atentar na noção de discernimento entre um e
outro dos espaços.
E não há, por definição, entendimentos corretos! Cada um adota o entendimento
que ele considera, naquele momento, o mais ajustado e, por definição, é esse o
correto, naquele momento, para aquela pessoa. Tanto basta!
O conjunto do esquadro e do compasso simboliza a Maçonaria, ou seja, o
equilíbrio e a harmonia entre a Matéria e o Espírito, entre o estudo da ciência
e a atenção às vias espirituais, entre o evidente, o científico, o que está à
vista, o que é reto e claro e o que está ainda oculto ou obscuro. O esquadro é
sempre figurado com os braços apontando para cima e o compasso com as pontas
para baixo. Ambas as figuras se opõem, se confrontam: mas ambas as figuras
oferecem à outra a maior abertura dos seus componentes e o interior do seu
espaço. A oposição e o confronto não são assim um campo de batalha, mas um
espaço de cooperação, de harmonização, cada um disponibilizando o seu interior
à influência do outro instrumento. Assim também cada maçom se abre à influência
de seus Irmãos, enquanto que ele próprio, em simultâneo, potencia, com as suas
capacidades, os seus saberes, as suas descobertas, os seus ceticismos, as suas
respostas, mas também as suas perguntas (quiçá mais importantes estas do que
aquelas...) a modificação, a melhoria, de todos os demais.
Quanto ao Volume da Lei Sagrada, este pode ser qualquer dos Livros de qualquer das religiões que acreditem na existência de um Criador, qualquer que seja a conceção que Dele se tenha, mais ou menos interventor no Universo ou mero Princípio Criador catalisador e e definidor do Universo.
O Livro da Lei Sagrada contém em si as normas básicas da atuação e convivência humanas, referencial para a conduta do homem de bem. Em suma, simboliza o conjunto de regras que a Sociedade determina aceitáveis para que a sã convivência entre todos seja possível, ou seja, A Moral inerente à Sociedade e que todos os que a integram devem respeitar e seguir.
Nas sessões de Loja, o Compasso e o Esquadro são colocados SOBRE o Volume da Lei Sagrada. Não porque se entenda que são mais importantes aqueles do que este, mas, pelo contrário, porque o Volume da Lei Sagrada simboliza a base Moral sobre a qual assenta a Ética de cada um.
Esta, a Ética, defini-a já como o conjunto de princípios que norteiam a determinação e utilização dos meios à nossa disposição para atingirmos os fins que nos propomos (cfr. texto in A PARTIR PEDRA: ÉTICA? ÉTICA... ÉTICA! (a-partir-pedra.blogspot.com).
O conjunto de ambos simboliza, assim, também a Ética que, tal como eles assentam no Volume da Lei Sagrada, assenta na Moral sobre que esta se constrói.
Porque a ética sem Moral pode usar esse nome, mas não é verdadeiramente Ética – ou então teríamos que aceitar como tal a “honra dos ladrões”, a dita “ética dos criminosos”. A Ética tem que necessariamente ser individualmente construída respeitando e assentando na Moral da Sociedade em que nos inserimos, pois nenhum homem é uma ilha podendo arrogar-se o direito de definir o seu conjunto de princípios fora da Moral da Sociedade em que se insere.
Rui Bandeira