Instrução em Maçonaria - III
“Estou suficientemente instruído” é, estou certo disso, o
que muitos pensam quando chega a altura de estarem em crer que é o momento de
passar de grau ou de ocupar uma função. E quando assim pensam abrandam o estudo
e a respectiva auto instrução.
É, eventualmente, mais recorrente o pensamento nos Mestres,
porque acham que como já podem falar, usar da palavra para dizer coisas estão
num patamar em que o conhecimento adicional é acessório e que logo deve passar
para segundo o terceiro plano.
Provavelmente também terei pensado assim, nos idos de 1992
quando atingi o grau de Mestre Maçon e pensei que tinha chegado. Na verdade
acabara de partir, de iniciar a grande viagem da Maçonaria, aquela que só
termina no momento de passar ao Oriente Eterno.
Não percebi isso imediatamente. Demorei a perceber que nessa
viagem é necessário reequacionar os fundamentos, reler o lido e voltar a ler
novamente. Pensar nas origens, no que levou a que esta ou aquela forma de fazer
aparecesse.
Questionar o que era feito, descartar opções, relembrar uma
lição de um professor que quando lhe apresentei um método alternativo para
resolver um problema, me disse: “ sim dessa maneira consegue reduzir o número
de passos e tornar mais rápida a resolução, até chegar ao ponto em que tem que
tomar uma decisão e verifica que não tem alternativas. Na verdade o seu método
é a forma mais rápida de chegar à asneira. Mas gostei do esforço” .
Hoje em dia fico com a sensação que alguns dos meus pares,
acham que lhes assiste a capacidade de modificar, “embelezar”, suprimir,
substituir partes ou formas de desempenho ritual.
Acham apenas porque lhes parece, e acabam por ser como eu
perante o meu professor, consegui um método que me fazia chegar mais
rapidamente à asneira.
Estudar, eventualmente desconstruindo o que está à nossa
frente, não quer necessariamente dizer que podemos construir novamente à nossa
imagem e semelhança, deixando de fora umas peças e pondo outras em substituição
ou acrescento.
Há que saber perceber as fontes e com essa percepção o
reconstruir, primeiro tal qual estava, permite-nos o entendimento do porquê da
concepção original.
Apenas e só esse conhecimento, resultante do nosso trabalho
faz com que se aprenda o que outros antes nós fizeram e porque o fizeram.
Mais tarde poderemos eventualmente congeminar outras hipóteses,
e tratar de validá-las. E se houver sucesso nesse processo, então juntar o que
conseguimos criar ao conhecimento já existente é uma obrigação.
Uma boa forma de auto instrução é o conhecimento do ritual.
Não o conhecimento maquinal do mesmo, sabendo-o de cor e salteado tipo recitação
na escola, mas o conhecimento do que ele significa e pretende significar. O que
nos diz, para quem está dirigido, como é que isso acontece.
Mas não chega! Há que vivenciar o ritual, executá-lo
sentindo-o. E assim surgiu a ideia de uma nova forma de instrução transmitida.
Porque evidentemente que o conhecimento não pode ser uma
coisa proprietária de alguns, apesar de haver quem assim pense e pretenda
implementar a ditadura do conhecimento – só eu é que sei, não ensino a ninguém,
e logo não podem passar sem mim – constituindo-se em homens providenciais.
E essa nova forma de instrução assenta no proporcionar a
quem ainda não pode executar o ritual e assim vivencia-lo de forma mais plena.
Assim foi criada a figura do “ Sombra” e que não é mais que pôr um aprendiz ou
companheiro a mimetizar o que o Mestre de Cerimónias
faz durante uma sessão.
A assim se conclui mais uma etapa na instrução em Maçonaria.
José Ruah
PS: este pequeno
texto sem nada de especial vai dedicado ao Rui Bandeira.