23 setembro 2008

Deísmo - I


Quando se fala em deísmo ou deísta, é necessário estar-se ciente de que o nosso interlocutor ou os nossos ouvintes ou leitores utilizam tais palavras com o mesmo significado que nós lhes damos. Com efeito, há grande probabilidade de duas ou mais pessoas utilizarem estas mesmas palavras com significados mais ou menos diferentes. Daqui à confusão e à incapacidade de entendimento da real posição que se está a procurar transmitir vai um passo muito curto... Facilmente demonstro esta minha afirmação.

Se recorrermos à edição em inglês da Wikipedia, verificamos que a noção de deísmo (deism) que ali se transmite é a seguinte (tradução livre minha):

Deísmo é a crença teísta que existe um Deus Supremo e que criou o Universo físico, mas que não intervém no seu normal funcionamento.

Porém, reorrendo em seguida à edição em francês da Wikipedia, verificamos que a noção ali dada de deísmo (déisme), surpreendentemente, é a oposta da versão inglesa (de novo tradução livre minha):

O deísmo, do latim deus, é uma crença ou doutrina que afirma a existência de um Deus e a sua influência no Universo, quer quanto à sua criação, quer quanto ao seu funcionamento.

É fácil ver como é possível estabelecer-se a confusão entre duas pessoas que usam a mesma noção, com significados opostos consoante verificam uma fonte em inglês ou em francês!

Mas não fiquemos por aqui e consultemos agora a Wikipedia em português. Eis a noção de deísmo que ali se encontra:

O deísmo pretende enfrentar a questão da existência de Deus, através da razão, em lugar dos elementos comuns das religiões teístas tais como a "revelação divina", os dogmas e a tradição.

Agora, aparentemente é que a confusão se tornou absoluta: em inglês, diz-se branco, em francês diz-se preto e em português... não se fala de cor, olha-se para a forma...

Aparentemente...

É fácil estabelecer-se a confusão ao utilizar estes conceitos, porque as suas definições nas três fontes são imperfeitas. Quando nos limitamos a consultar a fonte e não a efetivamente verificá-la e a analisar a sua pertinência, origem da afirmação e motivo dela, é fácil passar a utilizar noções imperfeitamente definidas e vê-las confrontadas com outras noções, também padecendo do mesmo defeito, que divergem da que obtivemos. Daí à confusão, à extrema dificuldade de entendimento, à desarmonia, o passinho é realmente muito pequeno, repito...

Então, o que é afinal o Deísmo? Qual das definições está correta, se é que alguma o está? Vou agora aumentar a confusão: na minha opinião, nenhuma delas está incorreta! Nem as aparentemente opostas! Cada uma delas, lida e analisada com cuidado, mostra uma faceta do conceito. O que estão é - todas!- deficientemente formuladas. Adianto, desde já, que, no meu entendimento, das três a que se aproxima mais do conceito correto é a definição em português, que privilegia o seu cerne: o que é importante no conceito de deísmo não é se o Criador intervém ou não no normal funcionamento do Universo. O que interessa nele, o seu cerne, o seu traço verdadeiramente distintivo, é o que afirma a definição portuguesa: o deísmo enfrenta a questão da existência de Deus através da Razão. Para além disto, está-se a extrair corolários que, se não devidamente justificados, induzem em erro.

Reanalizemos a versão inglesa da Wikipedia. Prossegue esclarecendo (de novo tradução livre minha): Relaciona-se com uma filosofia e um movimento religiosos que afirmam que é através da Razão que se apreende a existência e natureza de Deus (cá está!). Não toma posição em relação ao que Deus possa fazer fora do Universo. Isto em contraste com o fideísmo, que se encontra em muitas formas dos ensinamentos cristãos, islâmicos e judaicos, que defendem que a religião se baseia na Revelação nas Sagradas Escrituras ou nos testemunhos de outros, tanto quanto no raciocínio.
Os Deístas tipicamente rejeitam a maior parte (sublinhado meu) dos eventos sobrenaturais (profecias, milagres) e tendem a assentar em que Deus não intervém nos assuntos da vida humana nem nas leis naturais do Universo. O que as religiões organizadas veem como revelação divina e escrituras sagradas, a maior parte (outra vez sublinhado meu) dos deístas vê como interpretações humanas, mais do que como fontes autorizadas (da vontade de Deus). Os Deístas acreditam que a maior oferta que Deus deu à Humanidade não é a religião, mas a capacidade de raciocinar.

Como se vê, também na versão em inglês da Wikipedia, no conceito de deísmo o enfoque está afinal na apreensão da existência de Deus através da Razão; a questão da atividade ou não de Deus no Universo após a sua criação é um corolário extraído por muitos (não por todos) deístas - acrescento eu que devido a dois muito respeitáveis motivos: o primeiro será que, se através da Razão se apreende a noção do Criador, perfeito por natureza, que perfeitamente criou o Universo, então não precisa, e seria errado e contraproducente, voltar a intervir (mexer no que é perfeito só pode piorar, nunca melhorar, por definição; e o Ser Perfeito nunca cometeria esse erro); o segundo, pela contraposição à noção teísta da apreensão de Deus através da Fé, que faz ver como milagres (intervenções divinas) o que a Razão vê apenas como incapacidade sua em perceber, ou ausência de conhecimento suficiente para entender, a lei natural originariamente criada por Deus que motiva o evento supostamente milagroso: o milagre não será, assim, uma ação pontual divina, antes um sucesso decorrente das Leis Naturais fixadas aquando da Criação, só que (ainda) não explicável pela Razão, devido ao desconhecimento da globalidade dessas Leis Naturais. Em suma, Deus não intervém após a Criação, porque não há necessidade que intervenha, dado que esta é uma Obra Perfeita e tudo se resolve e é resolúvel através das Leis Naturais perfeitas e perfeitamente determinadas.

Insisto: o cerne da noção de deísmo está na apreensão do conceito de Deus através da Razão. O resto são corolários que alguns, talvez a maior parte, dos deístas extraem da afirmação inicial. Não se vincule a definição ao corolário - até porque, estando este porventura errado, tal não significará que a asserção que o originou também o esteja: pode o corolário simplesmente ter sido mal extraído!

Este texto já vai longo. No próximo, procurarei analisar a noção de deísmo transmitido pela versão francesa da Wikipedia e demonstrar como a aparentemente contraditória definição nela existente não é, afinal, tão contraditória como isso.

Mas, entretanto, retenhamos então que a noção mais correta, aquela que devemos utilizar, para evitar confusões, de Deísmo respeita, simplesmente à apreensão do conceito do divino pela Razão.

Rui Bandeira

22 setembro 2008

Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 - Base VII

BASE VII

DOS DITONGOS

1º) Os ditongos orais, que tanto podem ser tónicos/tônicos como átonos, distribuem-se por dois grupos gráficos principais, conforme o segundo elemento do ditongo é representado por i ou u: ai, ei, éi, ui; au, eu, éu, iu, ou: braçais, caixote, deveis, eirado, farnéis (mas farneizinhos), goivo, goivan, lencóis (mas lençoizinhos), tafuis, uivar, cacau, cacaueiro, deu, endeusar, ilhéu (mas ilheuzito), mediu, passou, regougar.

Obs.: Admitem-se, todavia, excecionalmente, à parte destes dois grupos, os ditongos grafados ae (= âi ou ai) e ao (âu ou au): o primeiro, representado nos antropónimos/antropônimos Caetano e Caetana, assim como nos respetivos derivados e compostos (caetaninha, são-caetano, etc.); o segundo, representado nas combinações da preposição a com as formas masculinas do artigo ou pronome demonstrativo o, ou seja, ao e aos.

2º) Cumpre fixar, a propósito dos ditongos orais, os seguintes preceitos particulares:

a) É o ditongo grafado ui, e não a sequência vocálica grafada ue, que se emprega nas formas de 2ª e 3ª pessoas do singular do presente do indicativo e igualmente na da 2ª pessoa do singular do imperativo dos verbos em -Um: constituis, influi, retribui. Harmonizam-se, portanto, essas formas com todos os casos de ditongo grafado ui de sílaba final ou fim de palavra (azuis, fui, Guardafui, Rui, etc.); e ficam assim em paralelo gráfico-fonético com as formas de 2ª e 3ª pessoas do singular do presente do indicativo e de 2ª pessoa do singular do imperativo dos verbos em -air e em -oer: atrais, cai, sai; móis, remói, sói.

b) É o ditongo grafado ui que representa sempre, em palavras de origem latina, a união de um ii a um i átono seguinte. Não divergem, portanto, formas como fluido de formas como gratuito. E isso não impede que nos derivados de formas daquele tipo as vogais grafadas ii e i se separem: fluídico,fluidez (u-i).

c) Além dos ditongos orais propriamente ditos, os quais são todos decrescentes, admite-se, como é sabido, a existência de ditongos crescentes. Podem considerar-se no número deles as seqüências vocálicas pós-tónicas/pós-tônicas, tais as que se representam graficamente por ea, co, ia, ie, lo, oa, ua, ue, uo: áurea, áureo, calúnia, espécie, exímio, mágoa, míngua, ténue/tênue, tríduo.

3º) Os ditongos nasais, que na sua maioria tanto podem ser tónicos/tônicos como átonos, pertencem graficamente a dois tipos fundamentais: ditongos representados por vogal com til e semivogal; ditongos representados por uma vogal seguida da consoante nasal m. Eis a indicação de uns e outros:

a) Os ditongos representados por vogal com til e semivogal são quatro, considerando-se apenas a língua padrão contemporânea: ãe (usado em vocábulos oxítonos e derivados), ãi (usado em vocábulos anoxítonos e derivados), ão e õe. Exemplos: cães, Guimarães, mãe, mãezinha; cãibas, cãibeiro, cãibra, zãibo; mão, mãozinha, não, quão, sótão, sotãozinho, tão; Camões, orações, oraçõezinhas, põe, repões. Ao lado de tais ditongos pode, por exemplo, colocar-se o ditongo üi; mas este, embora se exemplifique numa forma popular como rüi = ruim, representa-se sem o til nas formas muito e mui, por obediência à tradiçăo.

b) Os ditongos representados por uma vogal seguida da consoante nasal m são dois: am e em. Divergem, porém, nos seus empregos:

i) am (sempre átono) só se emprega em flexões verbais: amam, deviam, escreveram, puseram;

ii) em (tónico/tônico ou átono) emprega-se em palavras de categorias morfológicas diversas, incluindo flexões verbais, e pode apresentar variantes gráficas determinadas pela posição, pela acentuação ou, simultaneamente, pela posição e pela acentuação: bem, Bembom, Bemposta, cem, devem, nem, quem, sem, tem, virgem; Bencanta, Benfeito, Benfica, benquisto, bens, enfim, enquanto, homenzarrão, homenzinho, nuvenzinha, tens, virgens, amém (variação do ámen), armazém, convém, mantém, ninguém, porém, Santarém, também; convêm, mantêm, têm (3ªs pessoas do plural); armazéns, desdéns, convéns, reténs; Belenzada, vintenzinho.


As previsões desta Base em nada alteram a norma de escrita vinda do antecedente.

De notar que os linguistas, na redação do Acordo chegam ao pormenor de indicar uma palavra, de uso popular, tão excecional, mas mesmo tão excecional... que os teclados atuais nem sequer estão programados para a escrever. Com efeito, o ditongo "ui" escreve-se sempre sem til, exceto num caso: na forma popular de ruim, em que o "m" final é substituído por um til sobre o "u". O problema é que os teclados em uso não prevêm a colocação de um til sobre a letra "u"... Daí que tivesse optado por colocar lá um trema (¨) a fazer de (~) til, apesar de o uso do trema, como iremos ver ao tratarmos de uma outra Base, mais adiante, desaparecer da língua portuguesa, exceto em palavras derivadas de nomes próprios estrangeiros que o utilizam. Mas tive de optar por um mal menor: afinal de contas, não me apetecia que, por ausência de sinal gráfico, uma forma popular de "ruim" ficasse grafada... rui. Eu sei que sou uma peça em aperfeiçoamento, mas também não exageremos...

Descodificando alguns termos técnicos:

Ditongo é o nome que se dá à combinação de um som vocálico com um som semivocálico emitidos num só esforço de voz. O ditongo diferencia-se do hiato pelo facto de este último ser constituído por duas vogais e ser pronunciado em sílabas diferentes. Quando a semivogal antecede a vogal denomina-se ditongo crescente. Os ditongos podem ser denominados ditongos nasais, se a vogal que contiverem for uma vogal nasal
(informação obtida aqui).

Tónico: respeitante a sílaba tónica, aquela em que recai a maior intensidade de som da palavra.

Átono: respeitante a sílaba que não é tónica.

Antropónimo: nome de pessoa.


Rui Bandeira

21 setembro 2008

O Templo de Salomão


Um poema escrito por um Aprendiz - vale a pena ler

Esculpido foi aquele templo
No tempo de Salomão.
Como que pedra cúbica sobre pedra cúbica,
Cada pedra, cada ponta,
Aponta-me um novo mundo:
– O Templo de Salomão!

Oh! Como são belas as colunas... Ícones da maçonaria!
A fraternidade universal
Da beleza, da força e da sabedoria.
Romãs, acácias e labirintos,
Mágicos modelos templários.
Todos os nossos instintos,
enigmas
Dogmas de Zoroastro
Antigos e novos calendários.

Harmónicos e eternos rosa-cruzes,
Misteriosos, entrelaçados.
Todas as raças do mundo
Em uma só igualdade.

Herdeiros de Alexandria
Livro da lei:
Velho e Novo testamento
Palavras de Salomão
– Façam de mim o teu instrumento.

Ensinam-me a caminhar ao topo da escadaria
Régua e compasso... Geometria!
Somente corações puros
Progridem na maçonaria.

Oh! Como é fantástico adentrar ao templo:
– É saborear o gozo do crepúsculo de cada manhã,
– É aprender filosofia, arquitectura e sabedoria,
– É ouvir de nossos mestres: “A lenda de Hiram”.

Salomão!
Símbolo máximo da ciência e sabedoria suprema.
Hiram!
Arquitecto, governador da ordem e da justiça.
Assassinato foi sua sentença
Venerado combatente
Sublimes segredos
Relatos e poemas.
Só decifro em Pitágoras
Seus pentagramas e teoremas,

Porque...
Há um olho no céu:
Atravessa-me,
Impulsiona-me
Aperfeiçoa-me... Cada aresta!
Transforma-me... Um fiel irmão!... (prontidão).
Ventanias entre universos
Virtudes, razões, cantos paralelos,
Como se neles sempre existissem:
... Versos!
Transparência,
É a corrente de aprendizes
Despidos do medo
E isentos de profanas insígnias.
Inteligência,
São os companheiros e os mestres
Interligados.
Brilho em Vénus
Raio de sol
Chaves astronómicas e rectilíneas.

Nada é mais belo
Que a verdade.
Busco o princípio,
O começo!
Vasculho origens
Luz e vida,
Sonhos e silêncio.
O mundo é esse,
Assim como o vemos em nossa frente?
Cinzel, malhete, acertos, erros e ilusões?
Ou é o passado que retorna,
Simplesmente?

Não!
Não estamos sonhando,
Não criamos ilusão.

Nós arquitectamos,
Revolucionamos,
Reconstruímos pontes
Dentro de cada coração.
– Reconstruímos juntos:
“O Templo de Salomão”.

Autor: Wlidon Lopes da Silva

19/21 de Setembro


19 de Setembro




Na 6ª feira passada, 19 de Setembro, estive no velhinho "Martinho da Arcada" no jantar comemorativo dos 20 anos da nossa Loja Irmã "Fernando Pessoa".

Como era de esperar a sala estava muito bem composta, fraternalmente ocupada, tendo a noite sido preenchida por 2 sessões, uma de "comeres" e outra de "dizeres", sendo que a segunda seria sempre a mais importante, e foi ! Os "dizeres" por sua vez tiveram 3 intervenientes:

- NNF que contou a história da RLFernando Pessoa, a primeira a surgir na Obediência em que nos integramos e portanto a Nº 1 da Grande Loja Legal de Portugal/GLRP;
- FQ que falou de Fernando Pessoa, da vida dos desassossegos, da obra, dos amores e desamores com a "Ofélinha" e por aí fora...;
- DR que disse alguns poemas de Fernando Pessoa.

A reunião terminou por volta da meia-noite mas, pelo menos para alguns (eu incluido), se durasse a noite toda não se teria perdido nada.

Daqui vão os PARABÉNS da redação do "A-PARTIR-PEDRA" para os nossos Manos em festa.

Mais ano menos ano (mais 2) também nós na Mestre Affonso Domingues comemoraremos os nossos 20 aninhos.

21 de Setembro

Talvez por esta aproximação Pessoana resolvi lembrar na data de hoje, 21 de Setembro, um dos momentos mais extraordinários da poesia, ela toda, universal, transportadora de sentimentos, panfletária de revoltas, o mais possível desassossegada, que Fernando Pessoa nos legou.

Faz hoje anos (45) que um barco grande, teria sido um magnifico navio de cruzeiros se não lhe tivessem adulterado a função, partiu do Tejo direito "às Áfricas", na altura longinquas, misteriosas, desconhecidamente perigosas.

É na recordação dessa partida, desse navio e principalmente de quem lá ia dentro, que copio para aqui as palavras de Fernando Pessoa.
Na época o slogan era algo diferente do actual:

- "Há mar e mar, há ir e não voltar"

Para muitos foi assim !


O Menino da Sua Mãe

No plaino abandonado

Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado
-Duas, de lado a lado-,
Jaz morto, e arrefece.

Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.

Tão jovem! Que jovem era!
(agora que idade tem?)
Filho unico, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino de sua mãe.»

Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.

De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço… deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.

Lá longe, em casa, há a prece:
“Que volte cedo, e bem!”
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto e apodrece
O menino da sua mãe

Fernando Pessoa

Um belo Domingo para todos e preparem a semana que aí vem.
Que seja alegre de muito e bom trabalho.

NOTA EXTRA - Para os nossos visitantes que não conhecem Lisboa, ou conhecem mal, vale uma explicação extra sobre o Martinho da Arcada.
O “Martinho da Arcada” é actualmente um restaurante de Lisboa, situado no antigo “Terreiro do Paço”, hoje Praça do Comércio, a oriente da praça e sob as arcadas que a rodeiam. Bem junto ao Rio Tejo.

Inaugurado em 1782 e situado sob as arcadas da Praça do Comércio, foi um dos cafés mais emblemáticos de Lisboa. Um dos seus mais distintos clientes foi o poeta Fernando Pessoa, que aqui gostava de fazer as suas refeições ou passar longas horas escrevendo. As paredes encontram-se decoradas com fotografias do poeta, a par de bonitos azulejos antigos (transcrição de “lifecooler-Guia de Boa Vida”)

Paiva Setúbal

19 setembro 2008

FAQ sobre Maçonaria


A FAQ (perguntas e respostas) sobre Maçonaria que reproduzo abaixo não é da minha autoria, sendo eu unicamente responsável pela sua adaptação. Naturalmente, são da minha responsabilidade os erros e/ou imprecisões que a minha adaptação possa ter introduzido no texto.

1. O que é a Maçonaria dos nossos dias?

A Maçonaria é uma Ordem Universal formada de homens de todas as raças, credos e nacionalidades, escolhidos pelas suas qualidades morais e intelectuais e reunidos com a finalidade de construírem uma Sociedade Humana, fundada no Amor Fraternal, na esperança de que com amor à Deus, à Pátria, à Família e ao Próximo, com Tolerância, Virtude e Sabedoria e com a constante investigação da Verdade e sob a tríade LIBERDADE, IGUALDADE E FRATERNIDADE, dentro dos princípios da Ordem, da Razão e da Justiça, o mundo alcance a Felicidade Geral e a Paz Universal.

2. A Maçonaria é uma sociedade secreta?

A Maçonaria não é uma sociedade secreta, no sentido tradicional do termo. Uma sociedade secreta é aquela que tem objectivos secretos e oculta a sua existência assim como as datas e locais de suas sessões. O objectivo e propósito da Maçonaria, as suas leis, história e filosofia tem sido divulgados em livros que estão a venda em qualquer livraria. Os únicos segredos que a maçonaria conserva são as cerimónias usadas na admissão de seus membros e os meios usados pelos Maçons para se conhecerem. A Maçonaria é simplesmente discreta.

3. A Maçonaria é uma religião?

A Maçonaria não é uma religião no sentido de ser uma seita, mas é um culto que une homens de bons costumes. A Maçonaria não promove nenhum dogma que deva ser aceito tácicamente por todos, mas inculta nos homens a prática da virtude, não oferecendo panaceias para a redenção de pecados. O seu credo religioso consiste apenas em dois artigos de fé que não foram inventados por homens, mas que se encontram neles instintivamente desde os mais remotos tempos da história: A existência de Deus e a Imortalidade da Alma que tem como corolário a Irmandade dos Homens sob a Paternidade de Deus.

4. A Maçonaria é anti-religiosa?

A Maçonaria não é contra nenhuma religião. Ela ensina e pratica a tolerância, defendendo o direito do homem praticar a religião que entender. A Maçonaria não dogmatiza as particularidades do credo e da religião, mas reconhece os benefícios e a bondade assim como a verdade de todas as religiões, combatendo, ao mesmo tempo, as suas inverdades e o fanatismo.

5. A Maçonaria é ateísta ou meramente agnóstica?

A Maçonaria não é ateísta nem agnóstica. O ateu é aquele que diz não acreditar em Deus enquanto o agnóstico é aquele que não pode afirmar, conscientemente, se Deus existe ou não. Para ser aceite e ingressar na Maçonaria, o candidato deve afirmar a sua crença em Deus, O Grande Arquitecto do Universo.

6. A Maçonaria é um partido político?

A Maçonaria não é um partido político, nem tem partido. Como princípio, a maçonaria apoia o amor à Pátria, o respeito às leis e à Ordem, pugnando pelo aperfeiçoamento das condições humanas. Os maçons são aconselhados a serem cidadãos exemplares e a se afastarem de movimentos cuja tendência seja a de subverter a paz e a ordem da sociedade: São também incentivados a serem cumpridores das ordens e das leis do país em que estejam a viver, sem nunca perder o dever de amar o seu próprio país. A maçonaria promove o conceito de que não pode existir direito sem a correspondente prestação de deveres, nem privilégios sem retribuição, assim como privilégios sem responsabilidade. Os maçons, como tal, não se envolvem em actividades de natureza politíca.

7. A Maçonaria é uma sociedade de auxílios mútuos?

A Maçonaria não é uma sociedade de auxílios mútuos, não assegurando uma fonte de rendimentos para qualquer dos seus membros, nem mesmo para os que ocupam cargos. Contudo, a Maçonaria empenha-se em que nenhum de seus membros sofra necessidades ou seja um peso para os outros. O Maçon necessitado é apoiado pelos demais membros da Ordem.

8. A Maçonaria é uma ideologia ou um "ismo"?

A Maçonaria nem é uma ideologia, nem um "ismo". Ela não se envolve com as subtilezas da filosofia política, religiosa ou social. A Maçonaria reconhece que todos os homens tem uma só origem, participam da mesma natureza e tem a mesma esperança e, por conseguinte, devem trabalhar em união para o mesmo objectivo - a felicidade e bem estar da sociedade.

9. Então o que é a Maçonaria?

A Maçonaria é uma organização mundial de homens que, através de formas simbólicas dos antigos construtores de templos, voluntariamente se uniram para o propósito comum de se aperfeiçoarem na sociedade. Admitindo em seu seio, homens de carácter, sem consideração à sua raça, cor ou credo, a Maçonaria esforça-se para constituir uma liga internacional de homens dedicados a viverem em paz, harmonia e afeição fraternal.

10. Qual é a missão da Maçonaria?

A missão da Maçonaria é a de "fazer amigos, aperfeiçoar suas vidas, dedicar-se às boas obras, promover a verdade e reconhecer seus semelhantes como homens e irmãos".

A missão da Maçonaria ainda é a prática das virtudes e da caridade, é confortar os infelizes, não voltar as costas à miséria, restaurar a paz de espírito e a paz aos desamparados e dar novas esperanças aos desesperançados.

11. A Maçonaria obriga a juramentos anti-sociais?

A Maçonaria não obriga nenhum homem a juramentos incompatíveis com sua consciência, com as regras sociais e/ou do estado de direito, bem como da liberdade de pensar.

12. Porque é que a Maçonaria não inicia mulheres?

Tendo evoluído da Maçonaria Operativa que erguia templos no período da construção de catedrais, a Maçonaria adoptou a antiga regulamentação que provia o seguinte: "As pessoas admitidas como membros de uma Loja devem ser homens bons e de princípios virtuosos, nascidos livres, de idade madura, sem vínculos que o privem de pensar livremente, sendo vedada a admissão de mulheres assim como homens de comportamento duvidoso ou imoral.

A regularidade da maçonaria deve-se ao facto de esta se ater aos seus princípios básicos e imutáveis regidos por Landmarks, entre os quais se inclui o que acima se disse.

13. Por que se chama templos aos locais de reunião?

Os lugares onde os maçons se reúnem são designados templos porque, embora não sendo uma religião ou reunindo-se em uma igreja, a Maçonaria preserva religiosamente os direitos de cada indivíduo praticar a religião ou credo de sua preferência, mantendo-se equidistante das diferentes seitas ou credos. A Maçonaria ensina a todos como respeitar e tolerar as diversas religiões dos seus membros.

14. A Maçonaria Universal obedece a uma autoridade máxima?

Nem mesmo num país como os Estados Unidos, composto de 50 Estados e com cerca de 4 milhões de Maçons, a Maçonaria obedece a uma autoridade suprema. A Maçonaria em cada país ou em cada estado de uma Federação é regulada e dirigida por uma Grande Loja independente e soberana. Contudo, a Maçonaria Universal tem um sistema de regularidade, que permite às diversas Organizações Maçónicas reconhecerem-se como tal, desde que respeitem as regras (Landmarks) secularmente estabelecidas.

Adaptado de: "Maçonaria - Sua História, Objectivos e Princípios" - Erwin Seignemartin (28.09.79)

O vento canta!


Esta historieta - que, como habitualmente, recebi por correio eletrónico e de que desconheço quem seja o autor - parece-me particularmente adequada para os dias que vão correndo. Anda tudo ansioso, preocupado, pessimista, ai que até um grande banco americano abriu falência, ui que o petróleo ora baixa, ora sobe outra vez, mas a gasolina e o gasóleo não baixam coisa que se veja (e, se baixarem, ei, cuidado com os gastos de combustível, olhem a poluição e o aquecimento global...). Enfim, por todo o lado, parece que toda a gente só vê perigos e não descortina possibilidades de mudanças positivas. Não é seguramente boa ideia ser um irrazoável otimista; mas também não se ganha nada em ser um embrutecido pessimista, esquecido que as crises servem para nos adaptarmos, abandonar o que está mal ou é ineficiente e passar a adotar o que melhor global e individualmente nos convém. Vamos então à história, que é pequena no tamanho, mas espero que grande na lição.

Certa vez uma fábrica de calçado desenvolveu um projeto de exportação de sapatos para a Índia. Enviou, então, dois dos seus melhores consultores a pontos diferentes desse país para realizarem as primeiras
observações do potencial daquele futuro mercado.

Depois de alguns dias de pesquisa, um dos consultores enviou o seguinte fax para a direção da fábrica:

"Cancelem o projeto de exportação de sapatos para a Índia. Aqui ninguém usa sapatos."


Sem saber desse fax, o segundo consultor enviou o seu com os seguintes dizeres:

Tripliquem o projeto da exportação de sapatos para a Índia.
Aqui ninguém usa sapatos... ainda."


MORAL DA HISTÓRIA:

A mesma situação era um tremendo obstáculo para um dos consultores e uma fantástica oportunidade para o outro. Da mesma forma, tudo na vida pode ser visto com enfoques e maneiras diferentes. A sabedoria popular traduz essa situação na seguinte frase:

OS TRISTES ACHAM QUE O VENTO GEME; OS ALEGRES ACHAM QUE O VENTO CANTA.


O mundo é como um espelho que devolve a cada pessoa o reflexo de seus próprios pensamentos.
A maneira como cada um encara a vida faz TODA a diferença.

Crise? Qual crise? Um mundo em fase de mudança, é o que é! Basta-nos estar atentos, navegar aproveitando o vento (e, quando preciso, saber também bolinar...) para chegarmos a bom porto, um pouco melhor do que aquele de onde partimos!

Rui Bandeira

18 setembro 2008

Sobre o Grande Arquiteto do Universo - 2


Há tempos, num seu comentário ao texto Maçons e controvérsia sobre religião, o simple lucidamente fazia notar que, embora aparentemente o José Ruah e eu muitas vezes pareçamos discordar, o que na realidade acontece é que normalmente estamos de acordo, simplesmente analisamos os temas de forma diferente, no fundo cada um olhando para uma das faces da mesma moeda. Tem razão o simple: o nosso pensamento é, no essencial, muito semelhante, a forma como lá chegamos ou como o expressamos é que, muitas vezes, é diferente. Hoje, o simple vai ter mais uma demonstração do acerto da sua apreciação.

No mês passado, o José Ruah escreveu um texto sobre o Grande Arquiteto do Universo, no qual, em síntese e simplificando, esclarece que esta designação constitui uma abstração em que cabe qualquer conceito de Divindade ou Criador. Daí que tenha prosseguido, esclarecendo que a Maçonaria Regular pergunta a quem a ela pretende juntar-se uma pergunta muito simples (Acredita no Grande Arquiteto do Universo?), que pede a mais simples das respostas, a escolha entre a afirmativa e a negativa.

O simple, que está sempre à procura de ir mais fundo, insistiu na concretização do conceito, lembrou que no sítio da Loja Mestre Affonso Domingues se afirma que a Maçonaria Regular é deísta, trouxe à colação um texto sobre Deísmo na edição em língua inglesa da Wikipédia e uma pretensa "teologia" básica da Maçonaria (infeliz escolha de termos...), em jeito de argumento pelo absurdo inquiriu se integraria o conceito de crente no GADU quem acreditasse que a espécie humana tinha sido criada por uma avançada espécie extra-terrestre, entretanto extinta; em resumo, procurou levar o José Ruah a aprofundar a noção de GADU que ele dera. O José Ruah, que não se deixa arrastar para discussões que considera estéreis, cartesiano e direto como sempre, limitou-se a reafirmar que nada mais entendia que se devesse acrescentar à noção que dera e deu o tema por encerrado.

Pelo contrário, eu decidi dar resposta ao "repto" do simple. Mas a introdução a este texto já permite intuir que, se formalmente faço diferente do Ruah, materialmente a resposta é exatamente a mesma: o texto original do Ruah coloca acertadamente a questão e não há, utilmente, maior definição a dar ao conceito, em termos de Maçonaria Regular.

O simple insiste em saber se não é desejável, acertado, concretizar mais o conceito de GADU, em termos de Maçonaria Regular. Mais do que responder-lhe com uma simples negativa, convido o simple a simplificar e, mais do que procurar ensinamentos através do Google, buscar entender por si próprio a razão de ser da amplitude do conceito de GADU que a Maçonaria Regular utiliza.

Deixe o simple de lado a questão do deísmo, até porque, como terá a oportunidade de verificar noutro texto, que oportunamente escreverei sobre o tema, antes de se falar sobre deísmo é necessário verificar que definição do conceito se está a utilizar. Não considere a pretensa "teologia" maçónica, até porque mais tarde espero ter a possibilidade de lhe demonstrar que, não só não há nenhuma "teologia" maçónica, como os princípios apontados no texto correspondem a um particular entendimento cultural, porventura até mais teísta do que deísta, da concepção da maçonaria. Esqueça o seu argumento pelo absurdo, até porque o mesmo nem sequer é relevante: a criação de uma espécie animal num pequeno planeta orbitando à roda de uma insignificante estrela situada na ponta de uma das miríades de galáxias existentes nem sequer merece comparação com a criação do Universo! Tomar aquela por esta seria o mesmo que confundir a primeira frase escrita por uma criança que está aprendendo a escrever com Os Lusíadas...

Quer então o simple, ou qualquer outro que este texto leia, entender a noção de GADU acolhida pela Maçonaria Regular? Não precisa de ler, não precisa de pesquisar. Basta que, numa qualquer noite sem nuvens se desloque a um local pouco iluminado - quanto menos luz, melhor! Aí chegado, ponha-se em posição que lhe seja confortável e... olhe para o alto! Só isso! Olhe, veja, repare nos incontáveis pontos luminosos que verá. Lembre-se que cada um deles é uma estrela - alguns já foram, porque, de tão distantes, a sua luz demora tanto, mas mesmo tanto, a chegar até nós, que já só é o testemunho de algo que, tendo existido, já se extinguiu. Procure abarcar o conceito de milhões de estrelas existentes numa inimaginável imensidão de Espaço e Tempo. E junte-lhes os planetas que à roda delas girarão. E mais os cometas. E... E...

Agora, sempre olhando para o Firmamento, reflita na perfeição do seu funcionamento, na profusão de leis a que chamamos naturais, muitas que dizemos da física, outras de que ainda nem sequer fazemos ideia que existem, na impensável quantidade de forças que se repelem e atraem, se cruzam, entrecruzam, mutuamente se influenciam e que não só mantêm o Universo imenso, ordenado, belo, de que está a ver uma pequena parte, como assim o mantiveram desde há milhões e milhões e milhões (e acrescente ainda milhões...) de anos e que se, como o chefe da aldeia de Astérix acima de tudo teme, o céu não nos cair em cima da cabeça, porventura o manterão assim por incontáveis milhões e milhões e milhões (e acrescente ainda milhões...) de anos. Sinta a Harmonia do Universo, que não é de agora, mas que sempre foi conhecida como assim sendo. Feche os olhos e foque a sua atenção do infinitamente grande para o infinitamente pequeno e procure imaginar a inimaginável quantidade de átomos que se agregam no impensável número de moléculas que formam o estrondosamente grande número de células do seu corpo. Considere ainda a imensidão de átomos que em outros corpos, animados e inanimados, existem... não, não pense no planeta (o número de algarismos que seria necessário para indicar a potência a que teria que ser elevado o número que matematicamente o descrevesse seria superior a todos os algarismos que todos os que viveram desde que a escrita foi criada escreveram...), pense apenas na sua rua - que digo eu? Na sua casa... Do infinitamente pequeno ao infinitamente grande, em todas as dimensões de medida físicas e ainda acrescidas da dimensão temporal. E tudo isto, tudo isto que a pobre mente humana tem dificuldade em conseguir imaginar que seja possível chegar a imaginar, desde há milhões e milhões e milhões (e acrescente ainda milhões...) de anos que existe, que está, que funciona, que é Belo e Imenso e Harmónico e suporta Vida (no nosso pontinho insignificante do Universo e não sabemos se mais onde...). Sempre em posição confortável, olhe, aprecie, medite, relaxe e... sinta a profunda sensação de paz e de felicidade que o leve vislumbre da Perfeição que conseguirá entrever lhe provocam!

E então... só então... coloque a si mesmo uma única pergunta: tudo isto, tudo o que vejo e não vejo, vislumbro e me está escondido, imagino e é para mim inimaginável, este Universo, do infinitamente grande ao infinitamente pequeno, de imensa harmonia existente desde muito antes de haver bicho que conseguisse ter a noção de Tempo... foi criado como?

Se então responder que uma maravilha destas, cuja dimensão e perfeição nos é impossível de imaginar, só pode existir porque foi criada por uma Entidade Suprema, que criou as complexíssimas regras das complexidades que regem o Complexo Universal com tão Perfeita Harmonia, então aí tem a sua resposta: eis o Grande Arquiteto do Universo da Maçonaria Regular. Não importa que forma, que caraterísticas, que singularidades, cada um lhe atribua. É esta noção do Perfeito que Perfeitamente cria a Perfeição que conta... O resto são complicações, próprias da nossa natureza, escusados cinzentos que só servem para esmaecer o brilho intenso da Luz da Perfeição.

Foi isso o que o José Ruah, no seu estilo direto, escreveu...

Rui Bandeira