04 julho 2008

Os três conselhos

Como venho fazendo à sexta-feira, deixo aqui mais uma historieta, de autor que desconheço, que circula no correio electrónico. Já a recebi várias vezes, pelo que presumo que seja conhecida da maior parte dos leitores. O que não é razão para deixar de a publicar aqui. Estas historietas de entrada de fim de semana destinam-se a ser pontos de partida para reflexão. O que importa é que a reflexão aconteça e cada um tire alguma lição dela e proveito da mesma, para sua melhoria pessoal, conhecesse ou não a história.

Um casal de jovens recém-casados era muito pobre e vivia de favores numa quinta do interior. Um dia, cansado de tanta pobreza e falta de perspectivas, o marido disse para a sua amada esposa:


- Querida, vou emigrar, vou viajar para bem longe, encontrar um emprego e trabalhar até ter condições para voltar e dar-te uma vida mais digna e confortável. Não sei quanto tempo vou ficar longe, só peço uma coisa, que me esperes e enquanto eu estiver fora, sejas FIEL a mim, pois eu serei fiel a ti.


Assim sendo, o jovem saiu. Andou muitos dias a pé, até que encontrou um lavrador que precisava de alguém que o ajudasse na sua propriedade.


O jovem chegou e ofereceu-se para trabalhar, tendo sido aceite. Pediu para fazer um pacto com o patrão, o que também foi aceite. O pacto foi o seguinte:


- Deixe-me trabalhar pelo tempo que eu quiser e quando eu achar que devo ir, o senhor dispensa-me das minhas obrigações
. EU NÃO QUERO RECEBER O MEU SALÁRIO. Peço que o senhor o aplique em depósitos que rendam alguma coisa até ao dia em que eu for embora. No dia em que eu sair, o senhor dá-me o dinheiro e eu sigo o meu caminho.

Tudo ficou combinado. Aquele jovem trabalhou DURANTE VINTE ANOS, sem férias e sem descanso. Depois de vinte anos chegou para o patrão e disse:


- Patrão, quero o meu dinheiro, pois vou voltar para a minha casa.
O patrão então respondeu-lhe:

- Tudo bem, afinal fizemos um pacto e vou cumpri-lo, só que antes quero fazer-te uma proposta. Eu dou-te o teu dinheiro e vais-te embora, ou DOU-TE TRÊS CONSELHOS e não te dou o dinheiro e vais-te embora. Se eu te der o dinheiro , não te dou os conselhos, se eu te der os conselhos, não te dou o dinheiro. Vai para o seu quarto, pensa e depois dá-me a resposta".

Ele pensou durante dois dias. Trabalhara duramente pelo dinheiro. Mas, ao longo daquele tempo, aprendera que o patrão era um homem prudente e, justo e sábio, que não lhe iria propor nada que o prejudicasse. Decidiu-se, procurou o patrão e disse-lhe:

- QUERO OS TRÊS CONSELHOS.


O patrão novamente frisou:


- Se te der os conselhos, não te dou o dinheiro.


E o empregado respondeu:


- Quero os conselhos.


O patrão então deu-lhe os conselhos:


1. NUNCA TOMES ATALHOS NA TUA VIDA. Caminhos mais curtos e desconhecidos podem custar a tua vida.


2. NUNCA SEJAS CURIOSO PARA AQUILO QUE É MAU, pois a curiosidade para o mal pode ser mortal.


3. NUNCA TOMES DECISÕES EM MOMENTOS DE ÓDIO OU DE DOR, pois podes arrepender-te e ser tarde demais.

Depois de dar os conselhos, o patrão disse ao seu já ex-empregado:

- AQUI TENS TRÊS PÃES. Estes dois são para comeres durante a viagem e este terceiro é para comeres com a tua esposa quando chegares a casa.


O homem então, seguiu seu caminho de volta, depois de vinte anos longe de casa e da esposa que ele tanto amava.


Depois do primeiro dia de viagem, encontrou um outro viajante, que o cumprimentou e lhe perguntou:


- Para onde vai?


Ele respondeu:


- Vou para um lugar muito distante que fica a mais de vinte dias de caminhada por essa estrada.


E disse-lhe o nome da sua terra. O viajante disse-lhe então:


- Homem, este caminho é muito longo, eu conheço um atalho e você chega em poucos dias.


E indicou-lho.

O homem, contente, começou a seguir pelo atalho, quando se lembrou do primeiro conselho. Então voltou e seguiu o caminho normal.

Dias depois, soube que o atalho levava a uma emboscada. Quem o seguisse, em determinado ponto era assaltado, roubado e morto.


Depois de alguns dias de viagem, cansado ao extremo, achou pensão à beira da estrada, onde podia hospedar-se.


Pagou a diária e, depois de tomar um banho, deitou-se para dormir.

De madrugada, acordou assustado com um grito estarrecedor. Levantou-se de um salto só e dirigiu-se à porta para ir até o local do grito.Quando ia abrir a porta, lembrou-se do segundo conselho. Voltou, deitou- se e dormiu.

Ao amanhecer, depois de tomar o pequeno almoço, o dono da hospedaria perguntou-lhe se ele não tinha ouvido um grito e ele disse que tinha ouvido.

- E não ficou curioso?

Ele disse que não.

Então o dono da hospedaria respondeu-lhe:

- VOCÊ É O PRIMEIRO HÓSPEDE A SAIR DAQUI VIVO, pois meu filho tem crises de loucura, grita durante a noite e quando o hóspede sai, mata-o e enterra-o no quintal.

O homem prosseguiu na sua longa jornada, ansioso por chegar a casa. Depois de muitos dias e noites de caminhada,

Já ao entardecer, viu entre as árvores o fumo que saía da chaminé da sua casinha, andou e logo viu entre os arbustos a silhueta de sua esposa. Estava anoitecendo, mas ele pôde ver que ela não estava só. Andou mais um pouco e viu que ela tinha JUNTO A SI um homem a quem carinhosamente acariciava os cabelos. Quando viu aquela cena, o seu coração encheu-se de ódio e amargura e decidiu-se a correr de encontro aos dois e a matá-los sem dó nem piedade.

Respirou fundo e preparou-se para seguir o seu impulso, quando se lembrou do terceiro conselho.

Então parou, reflectiu e decidiu dormir aquela noite ali mesmo e no dia seguinte tomar uma decisão. Ao amanhecer, já com a cabeça fria, disse para si mesmo:

- NÃO VOU MATAR A MINHA MULHER NEM O SEU AMANTE. Vou voltar para o meu patrão e pedir que ele me aceite de volta. Só que antes, quero dizer à minha mulher que eu cumpri a minha palavra e sempre LHE FUI FIEL.

Dirigiu-se à porta da casa e bateu. Quando a mulher abriu a porta e o reconheceu, atirou-se-lhe ao pescoço e abraçou-o afectuosamente. Ele tentou afastá-la, mas não conseguiu. Então, com as lágrimas nos olhos, disse-lhe:

- Eu fui-te fiel e tu traíste-me...

Ela, espantada, respondeu-lhe:

- Como? Eu nunca te trai, esperei durante estes vinte anos.

Ele então perguntou-lhe:

- E aquele homem que estavas acariciando ontem ao entardecer?

Ela disse-lhe então:

- AQUELE HOMEM É NOSSO FILHO. Quando te foste embora, descobri que estava grávida. Hoje ele está com vinte anos de idade.

Então o marido entrou, conheceu, abraçou o filho e contou-lhes toda a sua história, enquanto a esposa preparava o pequeno almoço.

Sentaram-se para comer juntos o último pão que o patrão do homem lhe tinha dado. O regressado partiu o pão e, ao abri-lo, encontrou todo o seu dinheiro, o pagamento por seus vinte anos de dedicação.

A historieta é longa, rebuscada e nem sempre totalmente lógica. De que viveu a mulher e o filho que lhe nasceu, ao longo daqueles vinte anos, se já com o seu marido a vida era tão difícil? Porque o viajante ensina um atalho que é tão perigoso (a não ser que fizesse parte do bando de assaltantes)? Porque o dono da hospedaria não procurou tratamento para o seu louco e perigoso filho e continuava aceitando hóspedes, sabendo que iriam ser mortos? E afinal o justo e sábio patrão mentiu... Deu ao seu empregado os três conselhos e o dinheiro... Mas o que importa é que os três conselhos, esses, são válidos e devem ser por nós lembrados. Porventura nos serão úteis também a nós.

Diz o povo que quem vai por atalhos mete-se em trabalhos. Pode-se pensar que o atalho "queima etapas" e faz-nos chegar mais rápido. Nem sempre isso é verdade. E, por outro lado, alguma razão haverá para o caminho seguir a via que segue e não a do atalho...

Muitas vezes somos curiosos, queremos saber de coisas que não nos dizem respeito e que nada de bom nos acrescentará...

Outras vezes, agimos por impulso, dominados pela ira, e fatalmente nos arrependemos depois...

Lembremo-nos, pois, sempre destes três conselhos. Talvez um dia nos felicitemos por o ter feito...

Rui Bandeira

03 julho 2008

Dialéctica

Às vezes perguntam-me como consigo arranjar tantas coisas para escrever no blogue. Normalmente, sorrio e respondo que lá se vai conseguindo qualquer coisa - o que é uma maneira de não responder... Pensando nisso, decidi que o melhor sítio para esclarecer coisas acerca deste blogue é... este blogue! Vou então procurar dar resposta a essa questão.

Em boa verdade, a pergunta não está correcta. Se pensarmos bem, eu escrevo sempre sobre a mesma meia dúzia de coisas, o mesmo punhado de ideias (aquelas poucas que consigo alinhavar...). O que consigo é escrever sobre a mesma meia dúzia de ideias... de uma imensidão de maneiras diferentes! Isto é, bem espremidinho este blogue, aqui diz-se sempre as mesmas coisas - e nem sequer são muitas. O que se vai fazendo é enroupar a mesma ideia com colecções de formas diferentes. Em resumo: não me considero um criador de ideias; apenas, e quando muito, um costureirinho de roupagens para as poucas que consegui alinhar. Presentemente, estou apresentando a colecção de Primavera - Verão de 2008...

É claro que tenho um plano geral sobre a evolução e apresentação dos textos que espero publicar. No fundo, é como se estivesse escrevendo o que eu penso que seja a Maçonaria... em fascículos, em pílulas, em bocadinhos. Porém, talvez por ser retorcido ou simplesmente por apreciar a variedade e abominar a monotonia, cada textozinho é um bocadinho do puzzle total, que apresento fora de ordem. O aspecto global está na minha cabeça. Mas não o quero, pelo menos por agora, nem pelos tempos mais próximos, mostrar a quem me lê, pela simples razão de que espero que este espaço seja apreciado como espaço de informação e de consulta por quem se interessa pelo tema da Maçonaria e que os interessados aqui voltem com alguma regularidade. Afinal de contas, não escrevo para meu deleite pessoal. Gosto que leiam aquilo que escrevo e, se possível, o apreciem. Este espaço é um blogue, não um livro. Num livro, é suposto apresentar-se a tese que se propõe ao leitor segundo uma certa ordem. Um blogue, pelo contrário, é um espaço dedicado a textos não demasiadamente grandes, tanto quanto possível apontando claramente a ideia que se tem sobre o que se está escrevendo, frequentemente actualizado com novos textos, acrescentos, comentários, respostas, etc.. É um espaço em que a dialéctica deve imperar, se for bem trabalhado por quem o edita e bem correspondido por quem o lê. E assim, nessa dialéctica, se constrói um blogue, se junta um acervo de textos e de ideias e de diferentes apresentações de ideias, que se deixa à disposição de quem o quiser ler e explorar. Aqui, já vamos em mais de dois anos de acumulação...

Pode não parecer, mas o arrevesado parágrafo anterior explica de onde vem a inspiração para os textos. Verifico que hoje estou virado para a complicação. Vou então simplificar. A inspiração para os textos que escrevo vem-me por duas vias. A primeira, como que o pano de fundo, é o projecto global que, às pinguinhas, vou escrevendo e que se resume num princípio muito simples: ao contrário do que para aí se proclama, a Maçonaria não tem nada de secreto e tem muito pouco de reservado; não existe, pelo contrário, nenhum inconveniente em divulgar, em colocar à disposição de quem nisso estiver interessado, o que é a Maçonaria, seus princípios, suas práticas, seus métodos, seus hábitos. A segunda surge através da dialéctica com quem me lê e com os demais autores de textos do blogue.

Quanto à primeira fonte de inspiração, estamos conversados. Pouco mais haverá a dizer. Ou, porventura, não me apetece agora nada mais acrescentar.

Quanto à segunda, é, na minha opinião, o que confere brilho, vivacidade, cor, ao blogue. É por aqui que chega o inesperado. É por esta via que surgem as voltas imprevistas, os temas inesperados, as discussões interessantes, os desenvolvimentos propiciados. Se quem escreve um blogue se limitasse a seguir um plano pré-traçado, mais valia, na minha opinião, estar quieto: no mínimo, estar-se-ia perante um blogue monótono e cansativo, por muito interessante ou importante que fosse a mensagem. Há que ter em conta a diferença de suportes: um blogue não é um livro e não se destina a ser lido como um livro. Num livro busca-se o desenvolvimento coerente de uma ou várias ideias; num blogue, se bem vejo, procura-se o texto curto, a informação rápida, a consulta, a sequência. Um livro pode ler-se de seguida; um blogue destina-se a ser visto um bocadinho de cada vez e, quando apetece e se pode, por vezes, alguns bocados por mais algum tempo.

É por isso que dou muita importância, quer aos textos dos outros autores do blogue (que frequentemente me sugerem ideias para outros textos), quer aos comentários e perguntas de quem me lê e se dá ao trabalho de aqui deixar a sua opinião. Muito frequentemente, também, um comentário sugere-me um ou mais textos. Por vezes, não imediatamente publicados. Mas tenho o cuidado de iniciar um novo documento, ou novos documentos, com a ou as ideias propiciadas pelos comentários, para oportunamente serem desenvolvidas, ou simplesmente referidas, seja num texto mais sério, seja num tom mais ligeiro.

Para que tenham a noção, neste momento, tenho em carteira as seguintes ideias, fora do plano de fundo do blogue: um texto que terá talvez o título de Malhetes, em desenvolvimento do tema do exercício do poder na Loja (já não me recordo se em resultado de texto do José Ruah, se de algum comentário surgido sobre outras pinceladas sobre este tema); um texto que se intitulará Deixar os metais à porta do Templo, que resulta de um comentário deixado no blogue, salvo erro do nuno_r, em cuja resposta anunciei que haveria de desenvolver este tema (posso ser atrasado, mas não sou esquecido...); um texto que terá o título Simbolismo: da Loja à vida, que é o texto que resta fazer de um conjunto que anunciei em resposta a um comentário do simple (está muito, muito atrasado, eu sei; mas não me apeteceu ainda fazê-lo; e a experiência há muito que me ensinou que, quando não me apetece escrever algo, é porque esse algo ainda não está maduro e convém deixar o subconsciente acabar de o trabalhar; mas acho que está quase...); um texto sobre Tipos de ritualistas, inspirado em conversas com o José Ruah e num fabuloso texto que ele publicou aqui no blogue (seguramente um dos melhores textos alguma vez aqui publicados); um texto de resposta a um comentário muito recente do simple sobre os marcadores do blogue; e dois textos (um curto, mais ligeirinho e brincalhão; o outro, mais sério) em resultado de uma mensagem privada que recebi de um Companheiro Maçon de São Paulo: o ligeirinho comentará, brincando, uma passagem da sua mensagem que me caiu no goto; o outro tratará o tema Escada em Caracol.

Portanto, caros leitores, este blogue não é só feito pelos autores dos textos aqui publicados; também é feito por quem comenta, seja em aberto, seja em mensagens pessoais. É desta dialéctica que se faz um blogue que se deseja com um mínimo de qualidade. Espero que se vá conseguindo este objectivo.

Rui Bandeira

02 julho 2008

... e do resultado.

Respeitando o tempo, o modo e o lugar necessários para que o objectivo pretendido seja atingido, o maçon logrará atingir o resultado que busca. Que resultado é esse? Que busca o maçon? A que se destina a Maçonaria? Ao mais egoísta e, simultaneamente, altruísta, dos objectivos: o aperfeiçoamento pessoal!

A Maçonaria não respeita a melhorar o Mundo ou o outro. Respeita a melhorar a si mesmo. Cada um, para o fazer, precisa de tempo, precisa de achar o modo a si adequado para tal, precisa de trabalhar no lugar que lhe possibilite atingir seu objectivo.

Ser melhor enquanto pessoa, ser melhor em termos éticos. Mas não só. A interacção com seus Irmãos permite que o maçon seja melhor em aspectos muito práticos, na medida em que burila as suas deficiências.

O maçon deve estudar as artes e ciências - e assim melhora a sua cultura geral e a sua capacidade de agir social e profissionalmente. O maçon aprende, por exemplo, a falar em público - terror de muita gente! - e isso vai constituir porventura importante vantagem no seu desempenho profissional.

O maçon aprende a dar valor à perfeição, a esforçar-se por dela se aproximar tanto quanto possível. E habitua-se a assim agir no seu dia a dia. Consequentemente, faz melhor, é mais cuidadoso, mais pormenorizado, mais atento. Naturalmente que melhorará o seu desempenho.

O maçon aprende a ouvir e a respeitar quem fala. A argumentar segundo a valia dos argumentos e não segundo a pessoa com quem porventura se defronte. Melhora o seu sentido de lógica. E, portanto, está mais bem armado para obter vencimento sempre que necessita de argumentar.

O maçon habitua-se a trabalhar quando é para trabalhar e a confraternizar, quando é hora de confraternizar. Sabe, assim, frutuosamente integrar-se no seu meio social.

O maçon desperta para a Emoção e integra-a com a Razão. É, assim, um homem mais completo.

O maçon habitua-se a interpretar e a lidar com o sentido da Vida e da Morte, da Criação e do Criador, do Universo e do Detalhe. Elabora assim a sua concepção do Universo, da Vida e do seu sentido e do seu próprio lugar na Vida e no Mundo. E, com isso, fica em Paz!

O maçon, com tempo, trabalho a seu modo e no lugar adequado, logra atingir algo que é muito básico e de importância conhecida desde a Antiguidade. No entanto, pelos vistos tão difícil de atingir. Logra atingir um enorme tesouro. CONHECER-SE A SI MESMO. E, ao consegui-lo, tem - então e só então! - as portas do infinito conhecimento abertas de par em par diante de si. Se, como e em que direcção as franqueia, é consigo e só consigo.

O maçon julga sê-lo quando foi iniciado. Depois de muito tempo e trabalho a seu modo, executado no lugar correcto, conclui que só muito depois começa a sê-lo. E que só continua a sê-lo se persistir no trabalho, até à hora em que que for hora de pousar suas ferramentas.

O prémio do maçon é não ter prémio. E entender que dele não precisa. Porque está - estava! - dentro de si desde o início. Ele é que não sabia!

O resultado é - finalmente! - tão só ser verdadeiramente maçon.

Tão simples como isto! E não deve ser mau, já que tantos em tantos lugares persistem fazendo o mesmo por tanto tempo...

Rui Bandeira

01 julho 2008

... do lugar ...

Já falei do tempo e do modo como se faz um maçon. É agora altura de falar do lugar.

Parecerá óbvio dizer que, para um maçon se fazer e crescer, o lugar próprio e indispensável é a Loja. Só comparecendo em Loja, só participando nas reuniões desta, o maçon reúne o acervo de informações de que necessita. Note-se que - já muitas vezes aqui o referi - o processo de construção do maçon, do seu templo interior, não é passível de ser ensinado. Tem que ser apreendido pelo próprio e assim por ele aprendido. Através do contacto com seus Irmãos; mediante a execução e progressiva familiarização com o ritual e consequente aquisição, compreensão e interiorização das lições e princípios morais que o mesmo encerra; pela observação dos variados símbolos em que o espaço da Loja é fértil e progressiva compreensão do significado de cada um, individualmente adquirida; com a interiorização de tudo o que o impressiona e consequente transformação pela integração no seu eu do resultado dela; porque o processo de formação de um maçon, mais do que uma aprendizagem clássica, é o resultado de um acumular perceptivo, tão direccionado à Emoção como à Razão.

Mas será porventura menos óbvia a afirmação que inicia o parágrafo anterior, se se atentar que logo a frase seguinte aplica dois sentidos diferentes de Loja: Loja enquanto espaço físico de reunião de maçons, como sinónimo de Templo ou, talvez melhor, do local onde fisicamente as reuniões maçónicas se efectuam; Loja enquanto conjunto de maçons agrupados na unidade básica e essencial da Maçonaria. Direccionada a nossa atenção para esta dicotomia, será possível atentar, então, na menos evidente noção de que o lugar de formação de um maçon é tanto o lugar de reunião dos maçons como o acto de estar entre e com os seus Irmãos. Não apenas por com eles estar; não só por com eles conviver; mas por ser no meio deles e com eles que obtém e afina as ferramentas que moldarão e aperfeiçoarão o seu carácter, permitindo que venha a efectivamente construir-se maçon.

Por outro lado, deve-se ter ainda presente que a Loja espaço físico simboliza todo o Universo (um dia destes desenvolverei este conceito) e a Loja grupo de maçons simboliza a Sociedade que se pretende ideal. Então trabalhar no espaço físico da Loja deve ser tido como símbolo de trabalhar no espaço de todo o Universo. Ou seja, o maçon constrói-se no espaço físico da Loja mas, na medida em que esse espaço físico da Loja simboliza todo o Universo, o maçon em construção deve apreender que essa auto-construção, esse seu aperfeiçoamento, deve ocorrer em todo e qualquer local onde se encontre. E, na medida em que a Loja grupo de maçons simboliza a ideal Sociedade em construção, o maçon constrói-se no contacto e mergulhado no grupo de seus Irmãos mas deve também apreender que essa auto-construção, esse seu aperfeiçoamento, é um esforço e um acto e um desígnio que constantemente deve efectuar, realizar, prosseguir, esteja junto de quem esteja, maçon ou profano.

Concluindo: o trabalho de construção de um maçon começa e decorre necessariamente em Loja e com a Loja. Mas prossegue e afirma-se, também necessariamente, no local e junto de quem a Loja, em ambas as suas noções, simboliza, isto é, em todo e qualquer lugar onde se encontre o maçon, junto de toda e qualquer pessoa com quem o maçon interaja.

Do lugar restrito e a coberto dos profanos para todos os lugares; de entre seus Irmãos, assegurando-se que o são pelos modos de reconhecimento que são próprios dos maçons, para junto de toda e qualquer pessoa, maçon ou profano, justo ou pecador. Porque o lugar onde se faz um maçon é um ponto de partida e logo um percurso. Com um único lugar de chegada, definido por uma hora, a da sua meia-noite. Nesse lugar, do recôndito ao imenso, nesse percurso, o maçon deve prosseguir sempre e incansavelmente seu trabalho de se fazer maçon - sem direito a horas extraordinárias nem a subsídio de deslocação...

Rui Bandeira

30 junho 2008

Solsticio de Verão - Aniversário



Decorreu no passado Sábado a sessão de Grande Loja correspondente ao Solsticio de Verão e consequentemente o aniversário da constituição da Grande Loja.

E vão 17 anos desde a consagração pela Grande Loge Nationale Française, e vão dias bons e dias maus e outros assim assim.

O de sábado foi dia bom. Sala absolutamente cheia estando cerca de 250 Irmãos presentes.

A GLLP/GLRP foi honrada com a presença de várias potências estrangeiras a saber:

Moldova, Marrocos, Roménia, Itália, França, Espanha, Brasil e a mais importante de todas a Inglaterra. A Grande Loja Unida de Inglaterra fez-se representar pelo seu Pró Grão Mestre o Marquês de Northampton, 2ª figura da hierarquia da UGLE.

A sessão decorreu ligeira e rapidamente, sendo respeitados todos os procedimentos e protocolos.

Mas a melhor noticia foi que o Grão Mestre da GLLP/GLRP o Muito Respeitável Irmão Mário Martin Guia se apresentou de saúde e com toda a sua força e jovialidade, já recuperado das maleitas que lhe atormentaram a saúde nos primeiros meses deste ano.

O Jantar decorreu em ambiente agradável (segundo me disseram que eu não pude estar presente pois obrigações familiares mais importantes assim o determinaram) e de grande fraternidade.

Evidentemente que, e como sempre, a prestimosa colaboração da Milu e da Sandra foi de importância vital para que a logística do evento decorresse sem sobressaltos.

Mais um marco na história da GLLP/GLRP.



José Ruah

Comentario dos Editores - Mapa de Origem de visitantes

Foi retirado por se ter verificado que o site de origem foi infectado por adware e spyware.

No futuro se o site ficar operacional decidiremos se voltamos a instalar ou nao esta funcionalidade.

As nossas desculpas.


A Partir Pedra

27 junho 2008

O anúncio


O poeta brasileiro Olavo Bilac, que viveu entre 1865 e 1918, foi membro fundador da Academia Brasileira de letras. Tal como Pessoa escreveu que a minha Pátria é a língua portuguesa, Olavo Bilac, que foi proclamado no seu tempo o Príncipe dos Poetas Brasileiros, afirmou: A Pátria não é a raça, não é o meio, não é o conjunto dos aparelhos econômicos e políticos: é o idioma criado ou herdado pelo povo.

Autor anónimo atribuiu Olavo Bilac participação na situação que constitui a historieta que hoje serve de pretexto para alguma meditação:

O dono de um pequeno comércio, amigo do grande poeta Olavo Bilac, abordou-o na rua:


- Sr. Bilac, vou vender a minha quinta, que o senhor tão bem conhece. Será que o senhor poderia redigir o anúncio para o jornal?

Olavo Bilac pegou num papel e escreveu:

" Vende-se encantadora propriedade, onde cantam os pássaros ao amanhecer no extenso arvoredo, cortada por cristalinas e marejantes águas de um ribeirão. A casa banhada pelo sol nascente, oferece a sombra tranquila das tardes, na varanda".

Meses depois, topa o poeta com o homem e pergunta-lhe se já tinha vendido a quinta.

- Nem penso mais nisso -disse o homem- quando li o anúncio é que percebi a maravilha que tinha!


Às vezes, não descobrimos as coisas boas que temos connosco e vamos atrás de miragens e falsos tesouros. Valorizemos o que temos, as pessoas que estão ao nosso lado, os nossos amigos, o nosso emprego ou o nosso modo de ganhar a vida
, os conhecimentos que adquirimos, a saúde de que dispomos enquanto dela dispomos, o sorriso dos nossos filhos ou simplesmente das crianças com que privamos. Querer sempre mais ou sempre diferente é meio caminho andado - senão mesmo o caminho completo... - para andarmos perpetuamente insatisfeitos. Não quer isto dizer que se não deva ter objectivos, que devamos renunciar a prossegui-los e a lutar por eles. Ter objectivos, anseios, faz parte da vida e é positivo. Mas a valorização do que se tem, do que se conseguiu é algo que não devemos negligenciar. Além do mais, porque é também uma forma de darmos o devido valor ao trabalho que fizemos e ao esforço que desenvolvemos, ao longo de todo o nosso passado, para termos aquilo que temos, os amigos com que privamos, as boas coisas da vida que atingimos.

Façam o favor de ser felizes!

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Segunda-feira estarei de novo ausente, na defesa do meu brigantino inocente, pelo que não publicarei.

Rui Bandeira