Os comentários ao texto
Interstício levam-me a alterar o que tinha programado para hoje. Uma espécie de "arrumar de casa" antes de me ausentar...
O
simple aureole perguntou:
"a dispensa de interstícios é rara (...) e só por razões muito fortes deve ocorrer."Razões "muito fortes" de que tipo? Tipo "vamos lá elevar o tipo depressa, que ele tem uma doença terminal"? Ou do tipo "ele anda aqui a pisar ovos, passem-no lá senão leva seca"?Imagino que serão mais do primeiro tipo (quando haja uma manifesta falta de tempo disponível para que o percurso decorra da forma prevista) do que do segundo... Pode saber-se?
A dispensa de interstício é, em todas as Obediências Maçónicas, uma prerrogativa do Grão-Mestre, em regra muito parcimoniosamente usada. Não posso nem devo, é óbvio, pretender "ditar" as condições em que os Grão-Mestres utilizam essa prerrogativa. Mas, relativamente às duas possibilidades apresentadas pelo
simple aureole, eu diria que, se algum dia fosse Grão-Mestre (intervalo para gargalhadas...), o meu critério seria que... em nenhumas delas!
Os graus maçónicos, escrevi-o no texto
Interstício e repito-o agora, não constituem nada, não atribuem nada a ninguém, apenas ilustram. Acrescento agora que também não devem ser entendidos como honras ou manifestações de apreço. Para isso há medalhas, diplomas, etc.. Logo, não se justifica que um maçon com doença terminal, só por tal estado, seja dispensado de interstício para lhe ser conferido um grau maçónico. Isso em nada o modifica, em nada o beneficia, nem nesta vida, nem na Grande Viagem. Razões legais e de organização de sociedade justificam que se prevejam casamentos urgentes ou testamentos realizados, por urgência, sem as legais formalidades, na iminência de morte, ou no receio dessa iminência. Mas não vejo que o reencontro com o Grande Arquitecto tenha alguma diferença por se ter ou não o grau de Mestre maçon. Perante Ele todos nós somos imberbes Aprendizes, quaisquer que sejam os graus e qualidades com que mutuamente nos outorgamos...
Também obviamente que não dispensaria de interstício um maçon só por ser lento no seu progresso. Cada um é como cada qual, cada um tem o seu ritmo, só há que aceitar e respeitar as idiossincrasias de cada um. Dobrar as regras vigentes só para evitar que "leve seca" seria ofensivamente desrespeitador do ritmo próprio do visado, quiçá mesmo do seu gosto por ambientes desérticos e calmaria absoluta...
Tanto quanto me apercebo, as dispensas de interstício têm sido concedidas, sempre muito esparsamente, essencialmente por três ordens de razões: protocolares, interesse da Maçonaria ou mérito excepcional. Como exemplo de razão protocolar, assinalo o facto de existir o costume, em algumas Obediências de países em que o regime político vigente é a Monarquia de o Soberano ser o Grão-Mestre ou, pelo menos, de o Grão-Mestre ser um varão da família real. Normalmente, o Monarca ou familiar do Monarca não necessita de cumprir os interstícios para lhe ser conferido o grau de Mestre. Como exemplo de interesse da Maçonaria, aponto a situação de se pretender introduzir a Maçonaria em país onde ela ainda não esteja presente (sim, há poucos, mas ainda há...) . Para constituir uma Loja que possa iniciar novos Maçons são necessários, pelo menos, sete Mestres. Poderá dispensar-se de interstício um ou mais maçons, de forma a que sejam elevados rapidamente ao grau de Mestre e possam completar o elenco de Mestres necessário para assegurar as tarefas de introdução e expansão da maçonaria em determinada zona do globo. Como exemplo de mérito excepcional, indico situações de cientistas ou pensadores ou académicos de alto gabarito e irrepreensível estatuto moral que a Maçonaria se sente honrada em incluir nas suas fileiras e que, pelo seu excepcional valor, considera deverem receber tão rapidamente quanto possível o grau de Mestre.
Outras situações porventura haverá que sejam consideradas justificativas da aplicação excepcional da dispensa de interstício. Aos Grão-Mestres cabe decidir, caso a caso. E um princípio essencial da maçonaria é a da plena soberania do Grão-Mestre. É para isso que ele é leito e recebe a confiança de todos os maçons.
Quanto aos simpático comentário do
nuno_r, secundado pelo
simple do "curso pré-maçónico", a minha ideia e o que busco com a minha escrita neste blogue é essencialmente desmistificar o mito da Maçonaria sociedade secreta e do misterioso segredo maçónico, base de muitos ataques, desconfianças e temores relativamente à Maçonaria. E a melhor maneira de o fazer é falar de Maçonaria natural e abertamente num espaço aberto! Os maçons por tradição utilizam termos e expressões que não são usuais na vida comum? Pois então, mostre-se o significado que os maçons dão a esses termos e expressões e tente-se explicar como, porquê e para quê se usam. Os maçons afirmam-se terem e prosseguirem determinados princípios? Pois então afirmemo-los e expliquemo-los e pratiquemo-los (e alertemos para que os maçons não são perfeitos e, por vezes, alguns também os violam...).
Neste espaço, paulatinamente tenciono, enquanto tiver capacidade, saúde e disponibilidade para tal, escrever sobre tudo o que diz respeito à Maçonaria. Já aqui expliquei e, se necessário, voltarei a explicar, que não há nenhum segredo maçónico, para além daquilo que cada maçon consegue entrever e apreender pelo seu trabalho e que, por natureza, é incapaz de ser transmitido ou explicado a outrem. As únicas coisas que aqui não divulgarei são os sinais, palavras e toques de reconhecimento de cada grau, as Cerimónias de Iniciação, Passagem e Elevação e o conteúdo concreto de sessão maçónica em que tenha participado. Mas não por secretismo ou porque se tenha algo a esconder.
Quanto ao conteúdo das Cerimónias, já o expliquei em relação à Iniciação e essa explicação é válida para as restantes: são cerimónias destinadas a serem vividas e a marcar quem por elas passa. E muito desse efeito resulta da surpresa, do desconhecimento prévio do seu conteúdo. Divulgá-las, descrevê-las, seria empobrecer as experiências de quem por elas passar no futuro. Não serei eu quem cometerá tal dislate.
Quanto aos sinais, palavras e toques e conteúdo concreto de reuniões maçónicas, a razão é muito mais prosaica: segundo a antiga Tradição, jurei não as divulgar. É uma simples questão de honra cumprir esse compromisso. Não importa que os sinais, palavras e toques estejam publicados em diversos sítios e que qualquer um, com um mínimo de diligência, inteligência e persistência possa conhecê-los. O compromisso é meu, eu honro-o. Porque assim o impõe a minha Honra. Nada mais! E a esmagadora maioria, praticamente a totalidade, dos maçons de todo o mundo faz o mesmo, pelas mesmas razões. Dos outros, não reza a História nem a nossa Memória...
Ao
nuno_r e ao
simple, dois estimados leitores e comentadores (às vezes, emocionalmente tenho a impressão que estou escrevendo apenas para vós dois, embora racionalmente a média diária de quase 150 visitantes diferentes do último ano me mostre o contrário...) e a todos os outros que fazem o favor de me ler, desejo, de todo o coração, Festas Felizes e que tenham um 2008 melhor que 2007 e pior que 2009.
Faço agora uma pausa de alguns dias. Só voltarei a publicar textos aqui a partir de 3 de Janeiro. Não porque esteja cansado, mas porque esta época será só reservada para a família e passada em local sem meios técnicos de publicação de textos. Mas tenciono aproveitar para ir preparando uns textos...
Rui Bandeira