22 dezembro 2007

A Ratoeira... global

Meus Queridos Amigos, estou na época de procurar historinhas para os meus Netos.
"Natal/Marketing oblige" !
E encontrei uma historinha para os grandes, verdadeira fábula para os Grandões..., principalmente para os Grandões !

Aqui vai a Fábula da "ratoeira":



Preocupadíssimo, o rato viu que o dono da fazenda havia comprado uma ratoeira: estava decidido a matá-lo!
Começou a alertar todos os outros animais:
- Cuidado com a ratoeira! Cuidado com a ratoeira!
A galinha, ouvindo os gritos, pediu que ficasse calado:
- Meu caro rato, sei que isso é um problema para você, mas não me afectará de maneira nenhuma – portanto não faça tanto escândalo!
O rato foi conversar com o porco, que se sentiu incomodado por ser interrompido no seu sono.
- Há uma ratoeira na casa!

- Entendo a sua preocupação, e estou solidário consigo – respondeu o porco. – Portanto, garanto que você estará presente nas minhas preces esta noite; não posso fazer nada além disso.
Mais solitário que nunca, o rato foi pedir ajuda à vaca.

- Meu caro rato, e o que eu tenho a ver com isso? Você já viu alguma vez uma vaca ser morta por uma ratoeira?

Vendo que não conseguia a solidariedade de ninguém, o rato voltou até a casa da fazenda, escondeu-se no seu buraco, e passou a noite inteira acordado, com medo que lhe acontecesse uma tragédia. Durante a madrugada, ouviu-se um barulho: a ratoeira acabava de pegar alguma coisa!
A mulher do fazendeiro desceu para ver se o rato tinha sido morto. Como estava escuro, não percebeu que a armadilha tinha prendido apenas a cauda de uma serpente venenosa: quando se aproximou, foi mordida.
O fazendeiro, escutando os gritos da mulher, acordou e levou-a imediatamente ao hospital. Ela foi tratada como devia, e voltou para casa. Mas continuava com febre. Sabendo que não existe melhor remédio para os doentes que uma boa canja, o fazendeiro matou a galinha.
A mulher começou a recuperar, e como os dois eram muito queridos na região, os vizinhos vieram visitá-los. Agradecido por tal demonstração de carinho, o fazendeiro matou o porco para poder servir os seus amigos. Finalmente, a mulher recuperou, mas os custos com o tratamento foram muito altos.

O fazendeiro enviou a sua vaca ao matadouro, e usou o dinheiro arrecadado com a venda da carne para pagar todas as despesas.
O rato assistiu àquilo tudo, sempre pensando:
Bem que eu avisei. Não teria sido muito melhor se a galinha, o porco e a vaca tivessem entendido que o problema de um de nós coloca todo mundo em risco?”
Claro que não é original meu, não ! Veio por mail e foi mandada por uma amiga de longa data.
Um beijinho para Ela, que até é capaz de ser nossa leitora.
JPSetúbal

21 dezembro 2007

Arrumar de casa

Os comentários ao texto Interstício levam-me a alterar o que tinha programado para hoje. Uma espécie de "arrumar de casa" antes de me ausentar...

O simple aureole perguntou:

"a dispensa de interstícios é rara (...) e só por razões muito fortes deve ocorrer."
Razões "muito fortes" de que tipo? Tipo "vamos lá elevar o tipo depressa, que ele tem uma doença terminal"? Ou do tipo "ele anda aqui a pisar ovos, passem-no lá senão leva seca"?
Imagino que serão mais do primeiro tipo (quando haja uma manifesta falta de tempo disponível para que o percurso decorra da forma prevista) do que do segundo... Pode saber-se?

A dispensa de interstício é, em todas as Obediências Maçónicas, uma prerrogativa do Grão-Mestre, em regra muito parcimoniosamente usada. Não posso nem devo, é óbvio, pretender "ditar" as condições em que os Grão-Mestres utilizam essa prerrogativa. Mas, relativamente às duas possibilidades apresentadas pelo simple aureole, eu diria que, se algum dia fosse Grão-Mestre (intervalo para gargalhadas...), o meu critério seria que... em nenhumas delas!

Os graus maçónicos, escrevi-o no texto Interstício e repito-o agora, não constituem nada, não atribuem nada a ninguém, apenas ilustram. Acrescento agora que também não devem ser entendidos como honras ou manifestações de apreço. Para isso há medalhas, diplomas, etc.. Logo, não se justifica que um maçon com doença terminal, só por tal estado, seja dispensado de interstício para lhe ser conferido um grau maçónico. Isso em nada o modifica, em nada o beneficia, nem nesta vida, nem na Grande Viagem. Razões legais e de organização de sociedade justificam que se prevejam casamentos urgentes ou testamentos realizados, por urgência, sem as legais formalidades, na iminência de morte, ou no receio dessa iminência. Mas não vejo que o reencontro com o Grande Arquitecto tenha alguma diferença por se ter ou não o grau de Mestre maçon. Perante Ele todos nós somos imberbes Aprendizes, quaisquer que sejam os graus e qualidades com que mutuamente nos outorgamos...

Também obviamente que não dispensaria de interstício um maçon só por ser lento no seu progresso. Cada um é como cada qual, cada um tem o seu ritmo, só há que aceitar e respeitar as idiossincrasias de cada um. Dobrar as regras vigentes só para evitar que "leve seca" seria ofensivamente desrespeitador do ritmo próprio do visado, quiçá mesmo do seu gosto por ambientes desérticos e calmaria absoluta...

Tanto quanto me apercebo, as dispensas de interstício têm sido concedidas, sempre muito esparsamente, essencialmente por três ordens de razões: protocolares, interesse da Maçonaria ou mérito excepcional. Como exemplo de razão protocolar, assinalo o facto de existir o costume, em algumas Obediências de países em que o regime político vigente é a Monarquia de o Soberano ser o Grão-Mestre ou, pelo menos, de o Grão-Mestre ser um varão da família real. Normalmente, o Monarca ou familiar do Monarca não necessita de cumprir os interstícios para lhe ser conferido o grau de Mestre. Como exemplo de interesse da Maçonaria, aponto a situação de se pretender introduzir a Maçonaria em país onde ela ainda não esteja presente (sim, há poucos, mas ainda há...) . Para constituir uma Loja que possa iniciar novos Maçons são necessários, pelo menos, sete Mestres. Poderá dispensar-se de interstício um ou mais maçons, de forma a que sejam elevados rapidamente ao grau de Mestre e possam completar o elenco de Mestres necessário para assegurar as tarefas de introdução e expansão da maçonaria em determinada zona do globo. Como exemplo de mérito excepcional, indico situações de cientistas ou pensadores ou académicos de alto gabarito e irrepreensível estatuto moral que a Maçonaria se sente honrada em incluir nas suas fileiras e que, pelo seu excepcional valor, considera deverem receber tão rapidamente quanto possível o grau de Mestre.

Outras situações porventura haverá que sejam consideradas justificativas da aplicação excepcional da dispensa de interstício. Aos Grão-Mestres cabe decidir, caso a caso. E um princípio essencial da maçonaria é a da plena soberania do Grão-Mestre. É para isso que ele é leito e recebe a confiança de todos os maçons.

Quanto aos simpático comentário do nuno_r, secundado pelo simple do "curso pré-maçónico", a minha ideia e o que busco com a minha escrita neste blogue é essencialmente desmistificar o mito da Maçonaria sociedade secreta e do misterioso segredo maçónico, base de muitos ataques, desconfianças e temores relativamente à Maçonaria. E a melhor maneira de o fazer é falar de Maçonaria natural e abertamente num espaço aberto! Os maçons por tradição utilizam termos e expressões que não são usuais na vida comum? Pois então, mostre-se o significado que os maçons dão a esses termos e expressões e tente-se explicar como, porquê e para quê se usam. Os maçons afirmam-se terem e prosseguirem determinados princípios? Pois então afirmemo-los e expliquemo-los e pratiquemo-los (e alertemos para que os maçons não são perfeitos e, por vezes, alguns também os violam...).

Neste espaço, paulatinamente tenciono, enquanto tiver capacidade, saúde e disponibilidade para tal, escrever sobre tudo o que diz respeito à Maçonaria. Já aqui expliquei e, se necessário, voltarei a explicar, que não há nenhum segredo maçónico, para além daquilo que cada maçon consegue entrever e apreender pelo seu trabalho e que, por natureza, é incapaz de ser transmitido ou explicado a outrem. As únicas coisas que aqui não divulgarei são os sinais, palavras e toques de reconhecimento de cada grau, as Cerimónias de Iniciação, Passagem e Elevação e o conteúdo concreto de sessão maçónica em que tenha participado. Mas não por secretismo ou porque se tenha algo a esconder.

Quanto ao conteúdo das Cerimónias, já o expliquei em relação à Iniciação e essa explicação é válida para as restantes: são cerimónias destinadas a serem vividas e a marcar quem por elas passa. E muito desse efeito resulta da surpresa, do desconhecimento prévio do seu conteúdo. Divulgá-las, descrevê-las, seria empobrecer as experiências de quem por elas passar no futuro. Não serei eu quem cometerá tal dislate.

Quanto aos sinais, palavras e toques e conteúdo concreto de reuniões maçónicas, a razão é muito mais prosaica: segundo a antiga Tradição, jurei não as divulgar. É uma simples questão de honra cumprir esse compromisso. Não importa que os sinais, palavras e toques estejam publicados em diversos sítios e que qualquer um, com um mínimo de diligência, inteligência e persistência possa conhecê-los. O compromisso é meu, eu honro-o. Porque assim o impõe a minha Honra. Nada mais! E a esmagadora maioria, praticamente a totalidade, dos maçons de todo o mundo faz o mesmo, pelas mesmas razões. Dos outros, não reza a História nem a nossa Memória...

Ao nuno_r e ao simple, dois estimados leitores e comentadores (às vezes, emocionalmente tenho a impressão que estou escrevendo apenas para vós dois, embora racionalmente a média diária de quase 150 visitantes diferentes do último ano me mostre o contrário...) e a todos os outros que fazem o favor de me ler, desejo, de todo o coração, Festas Felizes e que tenham um 2008 melhor que 2007 e pior que 2009.

Faço agora uma pausa de alguns dias. Só voltarei a publicar textos aqui a partir de 3 de Janeiro. Não porque esteja cansado, mas porque esta época será só reservada para a família e passada em local sem meios técnicos de publicação de textos. Mas tenciono aproveitar para ir preparando uns textos...

Rui Bandeira

20 dezembro 2007

A um Irmão Colombiano

Durante grande parte do ano passado tivemos connosco um Irmão colombiano que cá esteve por motivos profissionais e que quis, durante esse período, integrar os trabalhos da RLMAD.
Chegado o momento certo o R.Lopez teve de regressar à Colômbia, onde a continuidade da vida o chamava.
Está longe fisicamente mas não deixa a Cadeia de União que várias vezes integrou na Mestre Affonso Domingues.
Era sempre com um gozo especial que nos encontrávamos e discorríamos sobre os assuntos mais diversos, ele a querer saber tudo o que era possível sobre Portugal que admira enormemente, como Povo e como Nação que trabalhou ao longo dos séculos pela reunião de povos e culturas.
Pois o nosso querido Irmão R.Lopez, em comemoração da época solsticial que estamos viver, enviou-nos um poema.
Não me cabe tecer outro comentário para além de confessar que este texto me bateu bem fundo no sentir da Fraternidade que perseguimos e da União que mantemos.
A autoria deste poema é de um Mestre Maçon, também colombiano, e aqui o deixo para Vossa apreciação, como homenagem saudosa ao nosso Irmão R.Sanchez que connosco trabalhou.

Brindis Solsticial

Hoy quiero brindar por mis hermanos,
los masones de manos enlazadas,
hombres libres, de costumbres rectas,
obreros del compás y de la escuadra.
Esos hermanos que siempre toleraron
mis errores, mis defectos y mis faltas,
y me mostraron el sendero iluminado
de la verdad, la virtud y la templanza.
Que me brindaron apoyo en mi tristeza
y le infundieron fuerza a mi esperanza,
y que en momentos de duda me alentaron
a seguir construyendo mi mañana.
Eslabones del fraterno gremio
de acacias, espigas y granadas,
hermanos de quien vive en infortunio
y de quien busca paz para su alma.
Compañeros solidarios de mis luchas,
defensores sinceros de mi causa.
Hermanos que me dieron su ternura
con una espontaneidad que no se engaña.
Para todos abierta está mi casa,
y mi lumbre encendida que los llama.
Esos hermanos de todos los momentos
son los que llevo prendidos en el alma.
Alzo mi copa también por los caídos,
los que emprendieron su viaje a la montaña
buscando un sitial en el Oriente
por donde sale el sol cada mañana.
Al hacerlo evoco al Gran Arquitecto
a cuya gloria trabajo con mi llana,
puliendo las aristas de la piedra
en la cantera del corazón y de mi alma.
En esta fecha del invernal solsticio
cuando todo es sombras, soledad y calma,
escudriño al interior de mis recuerdos
y encuentro voces, abrazos y miradas.
Veo a mis Hermanos, siempre atentos,
a responderme cuando mi clamor los llama.
Por ellos brindo con fe, con alegría
con un sentimiento que a todos los abraza.
"Salud, Fuerza, Unión", son mis deseos
al apurar este vino en mi garganta,
la misma que ofrecí aquella noche
cuando presté mis juramentos en el Ara.
G.V.H., M:.M:.
.
Meu Irmão, muito obrigado !
JPSetúbal

Interstício

Interstício quer dizer solução de continuidade, o intervalo entre duas superfícies da mesma ou diferente natureza.

A Maçonaria utiliza a expressão em termos de tempo. Interstício é o intervalo de tempo que deve decorrer entre dois factos. Designadamente , interstício é o intervalo de tempo que deve decorrer entre a Iniciação do Aprendiz e a sua Passagem a Companheiro e também o tempo que se impõe decorra entre essa Passagem e a Elevação do Companheiro a Mestre.

O interstício é uma regra que admite excepção: o Grão-Mestre pode dele dispensar um obreiro e passá-lo ou elevá-lo de grau sem o decurso do tempo regulamentar ou tradicionalmente observado. No limite, a Iniciação, Passagem e Elevação podem ocorrer no mesmo dia. Mas a dispensa de interstícios é rara – deve ser verdadeiramente excepcional – e só por razões muito fortes deve ocorrer.

Assim sucede genericamente na Maçonaria Europeia. Já a Maçonaria norte-americana é muito menos exigente neste aspecto, sendo corrente a prática de conferir os três graus da Maçonaria Azul num único dia. Esta é aliás, uma consequência e também uma causa das diferenças entre as práticas e as tradições maçónicas em ambas as latitudes. Mas impõe-se observar que algumas franjas da Maçonaria norte-americana, designadamente nas Lojas que se consideram de Observância Tradicional, se aproximam, neste como noutros aspectos, da prática europeia.

A razão de ser do interstício é intuitiva: há que dar tempo para o obreiro evoluir, para obter e trabalhar os ensinamentos, as noções, transmitidas no grau a que acede, antes de passar ao grau imediato. Em Maçonaria busca-se o aperfeiçoamento e este não é, nem instantâneo (instantâneo é o pudim...), nem automático. Depende de um propósito, de um esforço, de uma prática consciente e perseverante. É um processo. E, como processo que é, tem fases, tem uma evolução que se sucede ao longo de uma lógica e de um tempo. Por isso, em Maçonaria não se tem pressa. O tempo de maturação, o tempo de amadurecimento, a própria expectativa, são essenciais para um harmonioso desenvolvimento individual.

Os graus e qualidades maçónicos não constituem nada, apenas ilustram, representam, emulam a realidade do Ser e do Dever Ser. Não se tem mais qualidades por se ser maçon (embora se deva ter qualidades para o ser...). Há muito profano com mais valor e maior desenvolvimento espiritual e pessoal do que muitos maçons, ainda que de altos graus e qualidades. Para esses os maçons até criaram uma expressão: maçon sem avental. Mas procura-se ilustrar com a qualidade de maçon a tendência para a excelência, a busca do aperfeiçoamento. O Mestre maçon não é, por decreto ou natureza, necessariamente melhor ou mais perfeito do que o Companheiro ou o Aprendiz. Mas com os graus a maçonaria ilustra um Caminho, um Processo, para a melhoria de cada um. Há por aí muito Aprendiz que é mais Mestre de si próprio que muito Mestre de avental com borlas ou dourados. Mas o mero facto de ter de fazer a normal evolução de Aprendiz para Companheiro e de Companheiro para Mestre potencia o que já é bom, faz do bom melhor, do melhor, óptimo e do óptimo excelente.

Assim, em Maçonaria consideramos profícuo e valioso que o profano que pediu para ser maçon aguarde, espere, anseie, pela sua Iniciação. E que o Aprendiz tenha de o ser durante o tempo estipulado e tenha de demonstrar expressamente estar pronto para passar ao grau seguinte, por muito evidente que essa preparação seja aos olhos de todos; e o mesmo para o Companheiro passar a Mestre; e idem para o Mestre começar a ver serem-lhe confiados ofícios; e também para o Oficial progredir na tácita hierarquia de ofícios e um dia chegar a Venerável Mestre.

Tempo. Paciência. Evolução. De tudo isto é tributário o conceito de interstício, tal como é aplicado em Maçonaria.

O interstício pode ser directamente fixado, regulamentar ou tradicionalmente, ou resultar indirectamente de outras estipulações. Por exemplo, na Loja Mestre Affonso Domingues consideramos que não é o mero decurso do tempo que habilita um obreiro a aceder ao grau seguinte. Mas reconhecemos que o decurso de um tempo razoável é necessário. Estipulámos, assim, no nosso Regulamento Interno, que o interstício para que um obreiro possa aceder ao grau seguinte seja constituído pela presença a um determinado número de sessões. Com isso, estipulamos que uma certa assiduidade é condição de acesso ao grau seguinte e, como a Loja reúne duas vezes por mês, onze meses por ano, indirectamente fixamos um período de tempo mínimo de permanência no grau. Os nossos Aprendizes, quando passam a Companheiros, merecem-no! E os nossos Companheiros, quando são elevados a Mestres estão em perfeitas condições de garantir a fluente prossecução dos objectivos da Loja, incluindo a formação dos Aprendizes e Companheiros. Nós não temos pressa...

Rui Bandeira

19 dezembro 2007

O trabalho do Aprendiz

O Aprendiz, após a sua Iniciação, não tem apenas de se integrar na Loja. Essa integração, se bem que necessária, é apenas instrumental da sua actividade maçónica.

O Aprendiz, logo na sua Iniciação e imediatamente após a mesma, é confrontado com uma panóplia de símbolos variada, complexa e de grande quantidade. Uma das vertentes importantes do método maçónico é o estudo e conhecimento dos símbolos, o esforço da compreensão e apreensão do seu significado.

Aprender a lidar com a linguagem simbólica, a determinar os significados representados pelos inúmeros símbolos com que a Maçonaria trabalha é, sem dúvida, uma vertente importante dos esforços que são pedidos ao Aprendiz. É uma vertente tão mais importante quanto ninguém deve “ensinar” o significado de qualquer símbolo ao Aprendiz. Quando muito, cada um pode informá-lo do significado que ele dá a um determinado símbolo. Mas nunca poderá legitimamente dizer ao Aprendiz que esse é o significado correcto, que esse é o significado que o Aprendiz deve adoptar. O Aprendiz pode adoptar o significado que o seu interlocutor lhe transmitiu ser a sua interpretação, mas apenas se concordar com ele. Se atribuir acriticamente a um símbolo um significado apenas porque alguém lhe disse entendê-lo assim, está a agir preguiçosamente, não está a trilhar bem o seu caminho.

Não quer isto dizer que o Aprendiz não deva, não possa, atribuir a determinado símbolo o mesmo específico significado que outro ou outros lhe atribuem. Aliás, diversos símbolos são generalizadamente vistos da mesma maneira pela generalidade dos maçons. Mas cada um deve meditar sobre o símbolo, procurar entender o que significa, por ele próprio. Pode – não há mal nenhum nisso! – ouvir a opinião de outros, aperceber-se que significado ou significados outros lhe dão. Ao fazê-lo, está a beneficiar do trabalho anteriormente realizado por seus Irmãos e é também para isso que serve a Maçonaria, é também essa a riqueza do método maçónico. Mas deve, é imperioso que o faça, analisar, reflectir sobre o que lhe é dito, verificar se concorda ou discorda, em quê, em que medida e porquê. e então extrair ele próprio a sua conclusão e adoptá-la como a que entende correcta. Pode ser igual à dos seus Irmãos; pode ser semelhante, mas levemente diferente; ou pode ser muito ou completamente diferente. Não importa! Ninguém lhe dirá, ninguém lhe pode legitimamente dizer, que está errado. É a sua interpretação, a que resultou do seu trabalho, da sua análise, é a interpretação correcta para ele. E tanto basta! E se porventura mais tarde, com nova análise, com os mesmos ou outros ou mais elementos, vier a modificar a sua interpretação, tudo bem também! Isso corresponde a evolução do seu pensamento, que ninguém tem o direito ou legitimidade para contestar!

Ainda que beneficiando da sinergia do grupo, da ajuda do grupo, das contribuições do grupo, o trabalho do maçon é sempre individual e solitário! E também, inegavelmente, difícil. É todo um novo alfabeto que, mais do que aprender, o Aprendiz maçon está a criar e a aprender a criar!

Não é, ainda, porém, esse o principal trabalho do Aprendiz maçon. É um trabalho importante, é sobre ele que deverá, a seu tempo, mostrar a sua evolução, mas ainda assim é apenas um trabalho instrumental.

O verdadeiro trabalho do Aprendiz é, afinal, o de se aperfeiçoar a ele próprio. Incessantemente. Incansavelmente. Interminavelmente. Ou melhor, só terminando no exacto momento em que deixa esta dimensão do Universo e passa ao Oriente Eterno. O verdadeiro trabalho do Aprendiz é trabalhar a sua pedra bruta e dar-lhe, pacientemente, diligentemente, a regular forma cúbica que harmoniosamente se integre na grande construção universal projectada pelo Grande Arquitecto do Universo!

A pedra bruta a aparelhar é ele próprio, as asperezas a retirar são as suas muitas imperfeições, os seus defeitos, os seus deméritos, a forma a trabalhar e a tornar regular e harmoniosa é o seu carácter.

Este trabalho nunca está concluído. Por mais lisa que esteja a sua pedra, por mais regular e harmoniosa que esteja a sua forma, nunca está perfeita, pode e deve sempre aprimorá-la, alisá-la ainda um pouco mais, dar-lhe ainda melhor proporção.

Este trabalho é o verdadeiro, o importante, o essencial trabalho do Aprendiz maçon e é-o para toda a sua vida. É, portanto, também o trabalho do Companheiro e do Mestre maçon. Por isso o Mestre maçon que seja realmente digno dessa qualidade só se pode considerar, ainda e sempre, um Aprendiz e continuar, prosseguir, com perseverança, o sempiterno trabalho de se aperfeiçoar, de trabalhar a pedra bruta, que por muito cúbica que esteja, deverá sempre ver como bruta em relação ao que deve estar, ao que ele pode que esteja, ao que deve aspirar que seja, esperando que, chegada a hora, algum préstimo tenha.

O verdadeiro trabalho do Aprendiz é, tão só, o trabalho de ontem, de hoje e de sempre, do maçon, qualquer que seja o seu grau e qualidade: melhorar. melhorar e, depois disso, melhorar ainda! Tudo o resto é apenas instrumental!

Rui Bandeira

18 dezembro 2007

A Família e o Século XXI


Estes 2 dias tenho estado com um casal amigo que numa espécie de férias saltaram da Madeira para o centro da Europa regressando agora a Lisboa, na volta para a Madeira.
Ele é de origem brasileira, ela de origem beiroa/madeirense, e entre os vários temas que nas nossas conversas sempre saltam com enorme facilidade e fluência um houve que deu origem a um aprofundamento especial.
Falava-se da actualidade da relação homem/mulher, versus casamento, procriação e educação de filhos, constatando-se o divórcio entre a juventude actual e laços da família que nos criou..

Considero tratar-se de uma questão para ser profundamente analisada, criticada e necessitando de uma consciencialização a todos os níveis da sociedade, pelo que trago aqui alguns excertos das várias facetas da questão.

É absolutamente necessário que a discussão do tema se generalize, a fim de que todos tomem consciência de qual a situação, quais as causas e qual a correspondência entre as causas e os efeitos que observamos e dos quais nos queixamos, muitas vezes sem qualquer interesse na procura de uma solução.
Frequentemente apenas por comodismo.
Comodismo relativamente ao trabalho de pensar, comodismo relativamente à procura da solução e à respectiva aplicação prática, se encontrada.

Pertenço à geração que viu nascer a telefonia e depois a televisão, o telefone, o telex, o fax, o telemóvel, a Internet… Tudo isto no tempo de uma geração.
Igualmente vi aparecer o automóvel, o avião, o comboio rápido, os foguetões, a ida à Lua, os passeios fora do globo terrestre.
Numa geração passámos do burro ao foguetão.

Isto é uma revolução tremenda, nos hábitos, nas possibilidades do conhecimento, na diminuição dos tempos de acesso à informação e consequentemente ao mundo.
Hoje assiste-se à guerra em directo, ao vivo e a cores.
Tudo ficou enormemente mais rápido, a necessidade de “ferramentas” para o dia a dia cresceu aceleradamente, descontroladamente.

Quando nos anos de 60 do século passado se estudava a revolução industrial, de facto não sabíamos o que estávamos a estudar nem a dimensão real do fenómeno que alunos e professores procuravam compreender e explicar.

(Um parêntesis para um momento pessoal de recordação a um professor extraordinário que me trouxe discussões profundíssimas sobre o homem e o seu comportamento societário. É a recordação saudosa do meu querido Prof. Adérito Sedas Nunes.)

Esta aceleração descontrolada dos factos da vida diária, a necessidade de dispor de novas e em maior número, ferramentas de defesa para o dia a dia, originou um crescendo de novas necessidades, de facto de novas exigências.
Como as alterações salariais não acompanharam esta aceleração, a situação económica/financeira das famílias ficou com necessidade de responder a situações para as quais os orçamentos familiares não tiveram resposta.
A consequência foi o aumento da participação familiar no esforço produtivo, tentando obter o acréscimo de valor necessário às novas modas e aos novos standards.

Foi assim que a estrutura da família baseada no trabalho externo do homem e interno da mulher, se alterou profundamente.
A mulher teve de sair de casa para trabalhar no exterior, acompanhando o homem nesse esforço, não deixando substituto para as tarefas diárias da casa e do acompanhamento dos filhos.

A mulher como eixo central da família, educadora, aglutinadora dos componentes familiares desapareceu não deixando substituto.
Como até hoje não foi possível encontrar qualquer estrutura de substituição, a sociedade procura uma adaptação à realidade que se tem mostrado bem complexa.

As máquinas são fáceis de substituir. Os sentimentos não, e é de sentimentos que se trata.


JPSetúbal

14 dezembro 2007

O exemplo do burro

Um dia, o burro de um camponês caiu num poço. Não chegou a ferir-se, mas não podia sair dali por conta própria. Por isso, o animal zurrou durante horas, enquanto o camponês pensava em como o poderia ajudar. Finalmente, o camponês tomou uma decisão cruel: concluiu que o burro já estava muito velho e que o poço já estava seco e, de qualquer forma, precisava de ser tapado. Portanto, não valia a pena esforçar-se para tirar o burro de dentro do poço. Pelo contrário, chamou os vizinhos para o ajudarem a enterrar o burro vivo, aterrando, ao mesmo tempo, o poço. Cada um deles pegou numa pá e começou a deitar terra dentro do poço. O asno não tardou a aperceber-se do que lhe estavam a fazer e zurrou desesperadamente.

Porém, para surpresa de todos, o burro acalmou-se , depois de ter levado em cima com algumas pazadas de terra. O camponês olhou para o fundo do poço e surpreendeu-se com o que viu. A cada pazada de terra que caía no seu lombo, o burro sacudia a terra e logo dava um passo sobre essa mesma terra, que caía ao chão. Assim, em pouco tempo, todos viram como o burro conseguiu chegar até à boca do poço, passar por cima da borda e sair dali a trote.

A vida atira-nos muita terra. Todos os tipos de terra. Principalmente se já estivermos dentro de um poço. O segredo para sair do buraco é sacudir a terra com que se leva e dar um passo em cima dela. ada um dos problemas que se nos deparam e que é superado é um degrau que nos conduz para cima. Podemos sair dos mais profundos fossos, se não nos dermos por vencidos: usemos a terra que nos atiram para seguir adiante!

Desta pequena história podemos retirar cinco lições que nos ajudarão a ser felizes:

1.ª - Devemos libertar-nos do ódio e do desespero, que só pioram a nossa situação.

2.ª - Devemos libertar a nossa mente de preocupações exageradas, que só prejudicam o nosso raciocínio.

3.ª - Devemos simplificar a nossa vida, buscando soluções simples para o que só aparentemente é complicado.

4.ª - Devemos dar mais e esperar menos, pois assim não nos desiludiremos.

5.ª - Devemos amar mais e... aceitar a terra que nos atiram, pois ela pode ser uma solução, não um problema!

Adaptação minha de texto de autor desconhecido.
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Nas próximas segunda, terça e, eventualmente, quarta-feira, estarei ausente e sem ligação à Rede, que me permita publicar textos no blogue. Regressarei quarta ou quinta-feira, por alguns dias, antes de fazer uma pausa de Natal e Ano Novo. De qualquer forma, continuem a espreitar o blogue. Há mais autores a escrever aqui...

Rui Bandeira