21 março 2007

NATIONAL GEOGRAPHIC - 3

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National Geographic - 2

Li com atenção o texto de JPSerúbal a propósito do documentário "Dentro da Maçonaria" que o canal National Geographic transmitiu no passado Domingo e retransmitiu na madrugada de segunda-feira. Li também interessadamente os comentários que tal texto suscitou, genericamente concordando com a postura de crítica e de lamento de que tal documentário não tenha sido mais esclarecedor e, sobretudo, menos sensacionalista.

Manifesto-me contra a corrente, pois a minha opinião diverge das que foram expostas. E, como é apanágio dos maçons, exprimo serenamente a minha opinião divergente, sem prejuízo do integral respeito pelas que já foram apresentadas.

Penso que as críticas expostas por JPSetúbal e que mereceram a concordância de o marreta, escriba e o profano (a patbr não viu ainda o documentário) sofrem de um duplo erro de perspectiva: resultam da análise de (1) quem é maçon ou, não o sendo, se interessa pela Maçonaria e dela conhece os elementos essenciais) e (2) de quem viu o documentário na perspectiva europeia.

Se procurarmos - tanto quanto tal seja possível - despirmo-nos destas perspectivas e, pelo contrário, atendermos a que o documentário foi produzido por quem está de fora da Maçonaria, destinado a ser visto essencialmente por quem está de fora dela (daí, aliás, o título "Dentro da Maçonaria", que só é apelativo para quem está "de fora" e tem curiosidade em saber como é "cá dentro"), foi pensado e realizado por quem vive , é oriundo e tem a cultura da América do Norte (e aqui incluo os Estados Unidos e o Canadá - o México é de outra galáxia...) e destinado a ser visto por quem vive e tem os traços culturais americanos e canadianos, facilmente concluiremos que, dentro da perspectiva de quem o fez e para quem foi feito, o documentário procura e consegue desmistificar algumas das teorias da conspiração envolvendo a Maçonaria e procura e consegue repôr alguma verdade sobre o que é e quais são os objectivos desta.

Atentemos no seguinte: o americano médio, de uma pequena povoação do Ohio ou do Wisconsin, ou o canadiano isolado nos confins do Yukon, qualquer deles bombardeado desde há dezenas de anos por uma imprensa que faz os tablóides britânicos parecerem meninos de coro e por dezenas de canais televisivos que fazem da TVI e da TV Record expoentes máximos da suma qualidade televisiva, provavelmente as únicas coisas que ouviram falar da Maçonaria é que é um grupo esquisito de gente que faz coisas secretas, de forma secreta, em locais secretos - e se tudo isto é secreto é porque não deve ser boa coisa, porque se fosse faziam-no às claras... - e que só se ouve falar dela em ligação a escândalos ou crimes: a morte esquisita do Papa dos católicos, a morte de um tipo rico pendurado, com tijolos nos bolsos, a morte de um desgraçado a tiro durante um ritual maçónico. Enfim, tudo coisas tenebrosas, que bem fazem emparceirar estes maçons com a Máfia, os adoradores do Diabo e os conspiradores do assassínio de Kennedy (e, vai-se a ver, se calhar, eles também estão metidos nisso...).

Se tivermos esta noção, percebemos então que um documentário que se limitasse a revelar um pouco dos nossos princípios, das nossas práticas, dos nossos propósitos teria como resultado que, logo no primeiro intervalo (e, na televisão americana, os intervalos são de dez em dez minutos - isso é, aliás, claramente visível na estrutura do documentário, organizado em blocos de dez minutos), o povão, farto dessas intelectualices bacocas e sem interesse nenhum, rapava do telecomando e mudava para o reality show mais próximo...

Para ser visto (e, para não ser visto, só filma o Manoel de Oliveira...), o documentário tinha de ter algum sensacionalismo. Procurou, assim, prender o público com a análise das teses que implicavam a Maçonaria nas mortes de João Paulo I, do banqueiro do Banco Ambrosiano e do candidato morto em cerimínia maçónica. É sensacionalismo? É! Seria possível ser feito de outra maneira e ser visto pelo público a que se dirigia? Não! (Agora, pareço o Ricardo Araújo Pereira a imitar o Prof. Marcelo...)

Mas, se repararmos bem, resultou dessa análise a inequívoca conclusão de que a morte de João Paulo I se deveu a causas naturais e que, se conspiração tivesse havido, o lógico é que ocorresse no interior dos altos interesses da Igreja Católica, não da Maçonaria. Resulta dessa análise evidente a conclusão de que o banqueiro pendurado em Londres foi assassinado pela Máfia, prejudicada pelas malfeitorias financeiras feitas pelo Banco Ambrosiano, que os tijolos nos bolsos mais não foram do que uma canhestra tentativa de desviar a atenção para a Maçonaria (e canhetra, porque, ao menos, o inculto do mafioso podia ter posto pedras, brutas ou cúbicas, tanto fazia, e não tijolos...) e que a P2 de maçonaria tinha o aspecto, mas nada mais era do que um antro de conjurados de extrema-direita sedentos de Poder (e nós recordamo-nos, mesmo na Europa, as confusões que houve com aquela P2 e a Maçonaria...). E resulta claro que a morte a tiro na cerimónia maçónica (os americanos gostam muito de brincar com armas de fogo...) foi acidental e que, mesmo assim, o causador do acidente, porque condenado por homicídio por negligência, foi expulso da Maçonaria.

Tudo isto foi dito e esclarecido no documentário. Só não vê quem não quiser ver - e não duvido também que os nossos "inimigos de estimação" não viram ou duvidaram de tudo o que excluia a Maçonaria desses episódios...

E, de caminho, ainda conseguiu o documentário, divulgar algo de rituais (rituais americanos, claro...), algo do nosso ideário, algo das nossas posições.

É claro que não é ópera, mas não foi um espectáculo indecente. É claro que não são pérolas, mas será que os destinatários as apreciariam?

Em resumo: se analisarmos a questão deste ponto de vista, o documentário até foi sério e bem feito, atento o público a que se destinava.

Para a patbr e mais quem não viu o documentário: o National Geographic vai retransmiti-lo domingo, 25, às 14 horas.

Rui Bandeira

20 março 2007

A canadiana Internet Lodge of Research

Já dei conta, neste texto, da existência, na Grande Loja Unida de Inglaterra, de uma Loja de investigação denominada Internet Lodge.

Agora, dou-vos conta de uma Loja similar, também de investigação, também vocacionada para a Internet, mas esta integrada na Grande Loja de Alberta, no Canadá: a Internet Lodge of Research, criada em 4 de Março de 2000 e consagrada em 17 de Novembro de 2002.

São seus objectivos:

- Oferecer aos Maçons, especialmente na área de Calgary, um fórum cibernético para a publicação na Rede das suas pranchas de pesquisa. Tais pranchas devem ser aprovadas por uma comissão de publicações e ser digitalizadas no formato “pdf”, quando possível.

- Promover o uso das Novas Tecnologias nas Lojas e pelos maçons e desenvolver programas para ajudar os Maçons a usar estas ferramentas para realçar nas suas Lojas e vidas pessoais. Tais programas devem enfatizar soluções aptas a serem utilizadas por todas as plataformas, para serem utilizáveis por todos.

- Promover uma comunicação entre os Maçons de todo o Mundo, usando a Rede e as variadas tecnologias disponíveis através de sítios, correio electrónico, magazines electrónicos, salas de conversação, grupos de notícias e demais tecnologia que vier a aparecer.

- Promover os princípios da Maçonaria, pela informação exacta, relevante e significativa a fornecer sobre a Fraternidade, seus propósitos e objectivos, seus projectos de solidariedade e seus projectos no ciberespaço e fornecendo atalhos para outros sítios.

- Publicar os registos de suas reuniões formais e de quaisquer outras pranchas de pesquisa maçónica que a sua comissão de publicações recomendar, em formato electrónico.

Podem ser membros desta Loja os Mestres Maçons de qualquer Loja da Grande Loja de Alberta.

No sítio desta Loja, podemos encontrar, além de pranchas (Maçonaria e Tecnologia, O Esquadro, o Compasso e o Computador e O impacto do motor a vapor na Maçonaria são exemplos de títulos de pranchas ali disponibilizadas em .pdf), um muito completo serviço de indicação de atalhos para sítios de interesse maçónico, mas não só. De uma forma geral, o sitio está muito orientado para a interactividade com os seus visitantes.

Vale a pena visitar.

Rui Bandeira

19 março 2007

National Geographic


O excelente canal televisivo que é o National Geographic transmitiu ontem à noite um programa de 2 horas sobre a Maçonaria, intitulado “Dentro da Maçonaria”.
Foi anunciado com alguma insistência e, confesso, que mantive uma expectativa muito grande sobre o conteúdo espectável.
Tenho para mim que os Maçons só têm a ganhar com a desmistificação da sua actividade e objectivos, tornando claro a todo o mundo quais os seus fins, porque existem e porque mantém a discrição das suas actividades.
Neste sentido ia a minha expectativa.

A Maçonaria não é constituída por um bando de malfeitores, egoístas, organizados em bando de interesses próprios, auto-protegendo-se em ambiente de ilegalidades.
A Maçonaria é constituída por homens de boa vontade, sujeitos por juramento à obediência à lei da Nação, trabalhando e procurando em conjunto o melhoramento da sociedade em que se inserem.

Igualdade, Fraternidade, Solidariedade são as ideias-chave dos Maçons, que devem praticar e viver dentro e fora do Templo, em ambiente maçónico ou profano, devendo constituir-se em exemplo para os demais que com eles convivem.
Isso é a Maçonaria e assim são os Maçons, mau grado as dúvidas, calúnias e acusações que parte grande da sociedade ainda faz à organização maçónica.
Por ignorância uns, por maldade outros, por interesses inconfessáveis outros ainda.
Parece-me incompreensível e estúpido, mas os maçons têm os seus “inimigos de estimação”, sempre originários em ideologias que ao longo da história têm querido controlar o Homem, no seu sentir e no seu viver.
Foi assim com todas as ditaduras, que tentaram banir a Maçonaria da face da terra, foi e é assim com a Igreja de Roma responsável ao longo de séculos por morticínios em massa de maçons, só porque, na sua verticalidade e na certeza da obediência a um juramento que fazem voluntariamente, nunca condescenderam com a subserviência a que os quiseram obrigar.

Ora o documentário que o National Geographic passou não resolveu nenhuma das dúvidas que se punham e põem a quem quer saber o que é a Maçonaria ou a quem ainda tem medo dos maçons.
É facto que se trata de um documento afirmativo quanto às virtudes maçónicas, mas também é verdade que toda a história roda à volta de dois crimes horrendos, por “coincidência” ambos relacionados com a Igreja Católica, no mais próximo que pode ser dos interesses em jogo em redor do Papa.
Num caso envolvendo as traficâncias do Banco Ambrosiano (banco do Vaticano), e noutro caso envolvendo mesmo a morte do Papa (João Paulo I).
Em qualquer dos casos se afirma que a Maçonaria não teve nada a ver com estes crimes, mas ambos os casos mostrados e comentados num documentário sobre a Maçonaria, “Dentro da Maçonaria”.
Claro que as perguntas ficam no ar, infelizmente e como de costume, nem todas.
Assim, não vi qualquer referência a uma figura mais do que parda, da vida do Banco Ambrosiano, que foi condenado pelos tribunais italianos e depois protegido pelo Papa e retirado para o Vaticano de onde nunca mais saiu com vida, o Monsenhor Marcinkus.
É estranho que com uma história tão insistentemente falada ao longo do documentário, não tivesse havido qualquer referência a essa figura negra da administração do banco.
A outra questão que foi esquecida refere-se à morte de João Paulo I, Papa por 33 dias, Agosto de 1978.
Oficialmente foi “enfarte de miocárdio” (sem autópsia), nas entrelinhas ficam várias interrogações sobre o interesse da Maçonaria em se ver livre de um Papa honesto, que sabia o que tinha dentro de casa e estava disposto a pôr ordem na traficância, suborno, chantagem, que o Presidente do Banco (Paul Marcinkus) e o Cardeal Jean Villot cobriam, com outros, através da chamada “loja P2”.
Esta “loja P2” começou por ser, realmente, uma loja do Grande Oriente de Itália, mas muito antes destes acontecimentos, em 1976, já a loja abatera colunas e os seus membros haviam sido expulsos da ordem, justamente por renegarem com os seus actos o juramento de honestidade, fraternidade e solidariedade que fizeram quando aceitaram fazer a iniciação maçónica, acabando por se tornar uma filial da Máfia italiana, com ligações aos piores aspectos que a política pode ter.
E isto, lamentavelmente, não fica nada claro no filme.
É assim a modos que uma espécie de filme “Dentro da Maçonaria”, mas só por fora !

É pena ter sido assim.
Entendo que foi perdida uma boa oportunidade de clarificar muita coisa, ainda que alguma tenha sido mostrado e esclarecido, nomeadamente a concepção deísta da Maçonaria.
Pelo menos isso ficou claro, tal como foi interessante a explicação sobre a parte ritual representativa da morte de Hiram Abif.

Outro pormenor que convém esclarecer tem a ver com a parte do ritual em que é apontada uma pistola ao candidato a maçon disparando balas fingidas, numa das provas pelo qual o candidato a Maçon tem que passar na sua iniciação.
No documentário mostra-se uma dessas provas em que o candidato acaba morto por um erro terrível que fez com que a pistola usada tivesse balas a sério.
O ritual de Iniciação que seguimos e que é parte do Rito Escocês Antigo e Aceite não utiliza qualquer prova na qual se disparem pistolas ou seja que arma for, nem a brincar e muito menos a sério.É impensável que uma situação destas possa acontecer na Maçonaria Regular de Portugal.


JPSetúbal


Harry Houdini

Quando se pensa em ilusionista, o nome que classicamente logo ocorre é o de Houdini, o grande mestre do escapismo, a sua imagem de marca.

Harry Houdini, de seu verdadeiro nome Ehrich Weiss, nasceu em Budapeste em 24/3/1874 e morreu em Detroit em 31/10/1926, com 52 anos, portanto. Ficou famoso pela sua habilidade em se libertar de algemas, mas também de correntes e cadeados, dentro de caixas, dentro de tanques fechados, dentro e fora de água.

O que é menos conhecido é que Houdini foi maçon, iniciado na Loja Santa Cecília, N.º. 568, de New York, em 17 de Julho de 1923, passado a Companheiro em 31 de Julho e elevado a Mestre em 21 de Agosto seguintes.

Em Outubro de 1926, morreu, de forma estúpida. Após apresentar um espectáculo para uma platéia de estudantes em Montreal, no Canadá, enquanto ainda exibia o "super tórax", um dos estudantes, pugilista amador, invadiu os bastidores e, sem dar tempo para que Houdini preparasse os músculos, golpeou-lhe o abdómen com dois socos. Os violentos golpes romperam-lhe o apêndice, e seis dias depois, morreu num hospital de Detroit.

As exéquias maçónicas em honra de Houdini tiveram lugar em 4 de Novembro de 1926, em New York.


Rui Bandeira

16 março 2007

À volta do Marquês

O nosso visitante O Profano, frequente autor de pertinentes comentários a textos publicados neste blogue, interroga-se, a propósito do texto de ontem:

Sempre ouvi dizer que o Marquês de Pombal teria sido iniciado na "Arte Real" aquando da sua estadia em Viena. Será essa informação que tenho, incorrecta?

A única resposta acertada para esta questão é: "Não sei!"

Efectivamente, como menciona o nosso comentador, é comum referir-se que o Marquês de Pombal teria sido iniciado maçon em Viena. No meu texto de ontem, consignei que "existem efectivamente indícios de que terá sido iniciado maçon. A época, as viagens, as ligações pessoais e o sentido de modernidade autorizam essa ideia" e aludi a um livro publicado por José Braga Gonçalves em que, de uma forma propositadamente romanceada mas indubitavelmente pormenorizada, se elencam alguns desses indícios.

Porém, a minha posição é que, com o que actualmente se sabe, apenas se pode dizer que é possível que o Marquês tenha sido maçon, mas não mais do que isso. Ou seja, existem importantes indícios... mas não há certeza!

Nesta questão da afirmação de quem foi o não maçon, sigo o critério de rigor que foi instituído pela Loja Quatuor Coronati, isto é, só dando como certo o que esteja indubitavelmente provado, seja por documentos, seja por declarações relevantes dos próprios, seja por testemunhos credíveis de maçons da época que com o visado tenham directamente privado.

No caso do Marquês, não se conhece inequívoca declaração sua de ter sido maçon - e tal não é de admirar: não nos esqueçamos que, naquela época, ainda funcionava em Portugal a "prestimosa" instituição que dava pelo nome de Santa Inquisição e que uma das suas tarefas era precisamente descobrir e aplicar o "santo correctivo" aos maçons...; aliás, é conhecido o caso do inglês de origem suíça John Coustos que, em 1743, fundou e dirigiu em Lisboa uma Loja Maçónica, tendo sido rapidamente preso e torturado, por nove vezes no espaço de dois meses, pelos Santos Inquisidores... Também, pela mesma razão, não se conhecem declarações de maçons da época que, tendo pessoalmente conhecido o Marquês, informassem da sua filiação na Ordem. Quanto a documentos, dificilmente se encontrará algo de relevante em Portugal, já que, devido às perseguições da Inquisição, a última coisa que os maçons de então, em Portugal, faziam era registar assuntos da Maçonaria em documentos, que poderiam facilmente cair nas mãos de algum denunciante ou, mesmo, de um Santo Inquisidor. Resta a hipótese de vir a ser localizado ou estudado algum documento austríaco, que venha a fornecer a prova inequívoca de que agora se não dispõe - e não sabemos se alguma vez dela se disporá.

É por isso que eu digo que é possível que o Marquês tenha sido maçon, iniciado em Viena - mas não afirmo que, com toda a certeza, o foi.

Ainda em comentário ao texto de ontem, "Fernando Pessoa" comentou que pensou que Aristides Sousa Mendes e Álvaro Cunhal tivessem tido alguma ligação à Maçonaria.

Quanto ao último, basta recordar que se afirmava ateu para se verificar que nunca poderia ter sido maçon regular; quanto à maçonaria liberal, lembremo-nos que postula ideais políticos e democráticos claramente incompatíveis com a ideologia assumidamente por ele professada e orgulhosamente defendida.

Quanto ao primeiro, recordemo-nos que era cônsul ao tempo da 2.ª Guerra Mundial e que, então, desde a entrada em vigor da lei de Salazar que proibiu as "associações secretas", já existia a regra de que todo o funcionário público, para o ser, tinha de emitir uma declaração por sua honra de que não era comunista nem membro de "sociedades secretas"; o meio diplomático de então era muito pequeno e, como hoje continua a ser, muito fechado; enquanto esteve na carreira, dificilmente poderia ter actividade maçónica sem ser detectado - e nada consta a esse respeito; depois de demitido e perseguido pelo regime de Salazar, tendo uma família numerosa para sustentar, teve de dedicar a sua vida à luta pela subsistência tão digna quanto possível; as coisas do espírito e do aperfeiçoamento pessoal não fizeram então, certamente, parte das suas preocupações prioritárias... Mas reafirmo que qualquer maçon se sentiria honrado em poder tratá-lo por Irmão e que, indubitavelmente, pode e deve ser reconhecido como um "maçon sem avental".

Rui Bandeira

15 março 2007

"Os grandes portugueses"

A forma privilegiada de interacção entre os autores do blogue e os visitantes deste é, obviamente a caixa de comentários, pelas possibilidades de diálogo entre uns e outros a propósito de qualquer tema, de qualquer texto, que a mesma propicia. Neste aspecto, já o JoséSR deixou cair, há tempos, num dos seus textos, um pequeno lamento quanto ao reduzido número de comentários que são colocados no blogue. Não é algo que me espante, quer porque, ao contrário dos hábitos anglo-saxões de participação, os nossos hábitos latinos não nos incitam a sair dos respectivos casulos e compartilhar opiniões. Normalmente lemos, gostamos ou não, concordamos ou não, mas raramente achamos que vale a pena dar - ainda por cima publicamente... - a nossa opinião. Acresce que neste blogue optámos por não permitir comentários anónimos, o que obriga aquele que, ocasionalmente, sinta o impulso de comentar um texto, a fazer um registo prévio no serviço de blogues para o poder então fazer, o que, frequentemente, faz extinguir o impulso...

Mas outra forma há de interacção, para quem pretenda opinar ou sugerir algo: o uso dos endereços de correio electrónico dos vários autores de textos, disponíveis nos respectivos perfis (excepto no caso do JPSetúbal; mas, para esse, podem comunicar comigo, que eu depois retransmito para ele...).

Foi o que sucedeu com um dos nossos visitantes, que me enviou uma mensagem de correio electrónico, em que, além do mais, escreveu o seguinte:

"a razão pelo e-mail, prende-se pelo facto de me ter surgido uma ideia/curiosidade, talvez que o Sr. ate possa esclarecer ou ate mesmo escrever no Blog:
Dos dez nomeados no concurso do "Melhor Português"
http://www.rtp.pt/wportal/sites/tv/grandesportugueses/index.php) quantos e quais foram maçons?
Pelo que li no livro de José Braga Gonçalves o Marques de Pombal foi um dos primeiros maçons em Portugal e dos nomeados Fernando Pessoa também tinha alguma ligação com a maçonaria. Mais alguém?"

Esta mensagem resolveu pela alternativa positiva uma dúvida com que me debatia: fazer ou não um texto a propósito deste programa televisivo? Por um lado, estava tentado a fazê-lo, pela temática histórica do programa e pela sua potencialidade de, pela via lúdica da "eleição" do "maior", reinteressar os portugueses pela História; por outro, o desagradável e infantil "campeonato" de cultores de ideologias representadas por dois dos "nomeados" em que publicamente se transformou o programa e a escolha, fez desaparecer instantaneamente o meu interesse pelo programa. Aquilo deixou de ser um programa lúdico-didáctico, passou a ser um banal pretexto para uma pueril pugna entre saudosistas de Salazar e cultores da personalidade de Cunhal, qual pseudo Benfica - Sporting de baixo nível, que nem Cascalheira - Carcavelinhos chega a ser. Enfim, tacanha mediocridade transformou uma ideia que até era interessante em reality show de baixo nível, como todos o são!

Mas se alguns assim estragaram o que indiscutivelmente era uma boa ideia, muitos - felizmente! - continuam fiéis à boa ideia e aproveitam o pretexto do programa para se interessar pela nossa História. É o caso do meu correspondente electrónico, e será o caso de muitos e muitos, e ainda bem! É, assim, com todo o gosto que vou procurar responder à questão colocada: quantos e quais dos dez nomeados no dito concurso foram maçons?

Os dez nomeados são, por ordem cronológica: D. Afonso Henriques, Infante D. Henrique, D. João II, Vasco da Gama, Camões, Marquês de Pombal, Fernando Pessoa, Aristides de Sousa Mendes, Salazar e Cunhal.

Em primeiro lugar, recorde-se que a Maçonaria Especulativa, a Maçonaria tal como a entendemos hoje teve o seu início em princípios do século XVIII. Antes disso, o que existia era o o que designamos por maçonaria operativa, isto é, a organização profissional dos construtores em pedra, que se organizavam em Lojas de trabalho operativo. A construção em pedra abrangia não só a elaboração dos projectos e planos de construção (actividade hoje associada à profissão de arquitecto), como a direcção da execução da mesma (engenheiro), como ainda a execução da obra (pedreiro, canteiro) e a elaboração das peças decorativas (escultor, gravador, pintor). A partir da segunda metade do século XVII, as oficinas de construção, as Lojas, passaram a admitir também elementos estranhos à arte da construção em pedra, mas nela interessados, particularmente nobres e intelectuais, assim iniciando a transição da maçonaria operativa, organização profissional com ética e princípios próprios, para a Maçonaria Especulativa, sistema de aperfeiçoamento ético e espiritual, independentemente da profissão de cada um.

Portanto, anteriormente ao século XVII, a inclusão de alguém na maçonaria só enquanto operativa, e, portanto, só se tratando de alguém que trabalhasse a pedra.

Dos dez nomeados ficam, assim, automaticamente excluídos dessa hipótese cinco: D. Afonso Henriques, Infante D. Henrique, D. João II, Vasco da Gama e Camões. Vejamos então os restantes cinco.

Cunhal é público e notório que não foi maçon. Dedicou-se à luta política, dedicou-se à ideologia que abraçou.

Salazar é também evidente que não foi maçon, antes se opôs à Maçonaria e contra ela usou o seu poder, tendo feito publicar diploma legal proibindo-a.

Aristides de Sousa Mendes podia perfeitamente ter sido maçon. Os seus princípios, a sua ética, os seus actos, qualificavam-no abundantemente para tal. Os maçons sentir-se-iam honrados em tê-lo na sua companhia! Aliás, na GLLP/GLRP existe uma Loja que homenageia a sua memória, a R:. L:. Aristides de Sousa Mendes, n.º 32. Mas não existe qualquer registo de entrada na Ordem Maçónica. Mas sem dúvida que o seu comportamento, a sua postura e os seus ideais permitem que, sem objecções, dele se diga que foi um autêntico "maçon sem avental".

Fernando Pessoa esteve muito ligado ao mundo do esoterismo - o que, aliás, é perceptível na sua obra - e obviamente que teve contactos com a Maçonaria, seus textos e princípios. Defendeu publicamente a Maçonaria, no artigo "As Associações Secretas: Análise Serena e Minuciosa a um Projecto de Lei apresentado ao Parlamento", publicado em 1935 no Diário de Lisboa. Mas nenhuma evidência ou registo existe que permita concluir que alguma vez foi iniciado maçon. Certamente porque não teve interesse em tal. Se o tivesse desejado, não haveria, sem dúvida, dificuldade na sua admissão às provas da Iniciação. Também em relação à sua memória a GLLP/GLRP dedicou e dedica uma Loja, a primeira, a R:. L:. Fernando Pessoa, n.º 1.

Quanto a Sebastião José de Carvalho e Melo, Conde de Oeiras e Marquês de Pombal, existem efectivamente indícios de que terá sido iniciado maçon. A época, as viagens, as ligações pessoais e o sentido de modernidade autorizam essa ideia. José Braga Gonçalves, designadamente no seu livro O maçon de Viena sustenta essa tese com abundância de pormenores, alguns dos quais talvez um pouco forçados (estou a pensar na tese de que os planos da Baixa Pombalina reproduzem a disposição de uma Loja Maçónica: só com algum esforço e alguma dose de boa vontade se pode concluir pela afirmativa). Mas, apesar dos pesares, o conjunto de indícios apontados por Braga Gonçalves é de considerável peso. No entanto, até agora não se encontraram provas irrefutáveis que confirmem essa forte possibilidade. O Marquês de Pombal também é homenageado por uma Loja da GLLP/GLRP, a R:. L:. Marquês de Pombal, n.º 19.

De referir, ainda, que a GLLP/GLRP dedica à memória do Poeta dos Lusíadas a R:. L:. Camões, n.º 15, e à do Navegador a R:. L:. Infante D. Henrique, n.º53.

Rui Bandeira