02 março 2007

ANTIGOS DEVERES: Da gestão do trabalho na Irmandade


O quinto tema dos Antigos Deveres respeita à forma como se deve organizar e processar o labor numa Loja Maçónica. Também aqui é evidente que se trata de normas fixadas desde o tempo Operativo, regulando efectivamente o exercício do múnus profissional dos construtores em pedra. Tais princípios são adaptados e seguidos, feita a transição para a Maçonaria Especulativa, para o trabalho simbólico da construção do Templo interior do maçon.

Todos os maçons trabalharão honestamente nos dias úteis para que possam viver honradamente nos dias santos; e observar-se-á o tempo prescrito pela lei da terra ou confirmado pelo costume.

O mais apto dos companheiros será escolhido ou nomeado mestre ou inspector do trabalho do Senhor; e será chamado mestre por aqueles que trabalham sob ele. Os obreiros devem evitar toda a linguagem grosseira e não se tratar por nomes descorteses, mas sim por irmão ou companheiro; e devem comportar-se com urbanidade dentro e fora da loja.

O mestre, conhecendo-se a si mesmo capaz de destreza, empreenderá o trabalho do Senhor tão razoavelmente quanto possível e utilizará fielmente os materiais como se seus fossem; não dará a irmão ou aprendiz maiores salários dos que ele, realmente, possa merecer.

Tanto o mestre como os obreiros, recebendo os seus salários com exactidão, serão fiéis ao Senhor e terminarão o trabalho honestamente, quer ele seja à tarefa quer ao dia; não converterão em tarefa o trabalho que costume ser ao dia.

Ninguém terá inveja da prosperidade de um irmão, nem o suplantará, nem o porá fora do trabalho se ele for capaz de o terminar; porque nenhum homem pode terminar o trabalho de um outro com o mesmo proveito para o Senhor a menos que esteja completamente familiarizado com os desenhos e planos daquele que o começou.

Quando um companheiro for escolhido como vigilante do trabalho sob o mestre, será leal tanto para com o mestre como para com os companheiros, vigiando zelosamente o trabalho na ausência do mestre, para proveito do Senhor; e os seus irmãos obedecer-lhe-ão.

Todos os obreiros empregados receberão o salário em sossego, sem murmurar nem se amotinar, e não abandonarão o mestre até o trabalho estar concluído.

Cada irmão mais jovem será instruído no trabalho, para se evitar que estrague os materiais por falta de conhecimento e para aumentar e continuar o amor fraternal.

Todas as ferramentas usadas no trabalho serão aprovadas pela Grande Loja.

Nenhum outro trabalhador será empregado no trabalho próprio da Maçonaria; nem os pedreiros-livres trabalharão com aqueles que não forem livres, salvo necessidade urgente; nem ensinarão trabalhadores e obreiros não aceites como ensinariam um irmão ou um companheiro.

Estas são normas de regulação de actividade profissional que, pela sua ponderação e acerto, passaram a ser encaradas e seguidas como normas de vida e colaboração entre os maçons dos tempos modernos. Não é preciso inventar nada, basta ser justo e tentar chegar tão próximo da perfeição quanto possível... Nada mais se precisa de exigir a um homem livre e de bons costumes!

Rui Bandeira l

01 março 2007

ANTIGOS DEVERES: Dos Mestres, Vigilantes, Companheiros e Aprendizes


O quarto tema dos Antigos Deveres respeita directamente aos obreiros, nos seus diversos graus e qualidades:

Toda a promoção entre maçons é baseada apenas no valor real e no mérito pessoal, a fim de que os senhores possam ser bem servidos, os irmãos não expostos à vergonha e a arte real não seja desprezada. Portanto, nenhum mestre nem vigilante é escolhido por antiguidade, mas pelo seu mérito. Torna-se impossível descrever estas coisas por escrito, e cada irmão deve ocupar o seu lugar e aprendê-las na maneira própria desta Fraternidade. Fiquem apenas sabendo os candidatos que nenhum mestre deve tomar aprendiz a menos que tenha ocupação bastante para ele e a menos que se trate de um jovem perfeito, sem mutilação nem defeito no corpo que o torne incapaz de aprender a arte, de servir o senhor do seu mestre, e de ser feito irmão e depois companheiro em tempo devido, mesmo após ter servido o número de anos consoante requeira o costume do país; e que ele provenha de pais honestos; de maneira que, quando qualificado para tal, possa ter a honra de ser vigilante, depois mestre da loja, grande vigilante e, por fim, grão-mestre de todas as lojas, conforme ao seu mérito.
Nenhum irmão pode ser vigilante sem ter passado pelo grau de companheiro; nem mestre sem ter actuado como vigilante; nem grande-vigilante sem ter sido mestre de loja; nem grão-mestre a menos que tenha sido companheiro antes da eleição, e que seja de nascimento nobre ou gentleman da melhor classe ou intelectual eminente ou arquitecto competente ou outro artista saído de pais honestos e de grande mérito singular na opinião das lojas. E para melhor, mais fácil e mais honroso desempenho do cargo, o grão-mestre tem o poder de escolher o seu próprio grão-mestre substituto, que deve ser ou deve ter sido mestre de uma loja particular e que tem o privilégio de fazer tudo aquilo que o grão-mestre, seu principal, pode fazer, a menos que o dito principal esteja presente ou interponha a sua autoridade por carta.
Estes dirigentes e governadores, supremos e subordinados, da antiga loja, devem ser obedecidos nos seus postos respectivos por todos os irmãos, de acordo com os velhos preceitos e regulamentos, com toda a humildade, reverência, amor e diligência.

Este texto mostra claramente que os Antigos Deveres remontam à fase operativa da Maçonaria, isto é, em que se regulavam as regras aplicáveis aos obreiros da arte da construção em pedra. Repare-se que, então, a entrada na Arte se fazia pela porta do Aprendizado, desde que se tratasse de "um jovem perfeito, sem mutilação nem defeito no corpo que o torne incapaz de aprender a arte, de servir o senhor do seu mestre"; provando as suas capacidades, podia então ser "feito irmão" - o que inculca que nem todos os Aprendizes logravam obter tal estatuto -, "depois companheiro em tempo devido, mesmo após ter servido o número de anos consoante requeira o costume do país", depois, "quando qualificado para tal, possa ter a honra de ser vigilante" e finalmente "mestre de loja". Trata-se de uma estrutura de enquadramento da aprendizagem e progresão na profissão de construtor em pedra.

É de notar que já na época operativa se regulava mais do que a mera oficina de construção, antes se prevendo a organização e funcionamento de uma vera associação profissional. Assim se compreende a menção a "grande vigilante" e "grão-mestre" e seu substituto.

Estas regras foram, recorde-se, incluídas nas Constituições de Anderson, que asseguraram a transição da Maçonaria Operativa para a Maçonaria Especulativa, estabelendo as bases da Maçonaria Regular, tal como ela é hoje entendida em todo o Mundo.

Rui Bandeira

28 fevereiro 2007

O Segredo em Maçonaria

Sobre este assunto já foi escrito um post pelo Rui Bandeira, mas como é assunto muito vasto retomo-o agora publicando uma adaptação de um trabalho (prancha) que apresentei há alguns meses em sessão ritual da Loja Affonso Domingues.

Comecemos pela minha definição de Segredo.

“ Segredo é aquela coisa que se diz baixinho a uma pessoa de cada vez “ precedido da instrução de “ Isto é segredo não podes contar a ninguém “.

E é verdade, nunca contei um segredo a ninguém, foi sempre a Alguém!!!

Sobre este tema devem já ter sido escritos pelos menos uma prancha e um capítulo (seguramente pequeno) de um livro. O que me deixa uma certa latitude para elucubrar sobre o tema.

Confesso que não li nem essa prancha nem esse capítulo, por isso apresto-me a produzir um inédito qualquer.

Penso que temos que separar planos e assim o vou fazer. Imaginem em quantos planos? Pois claro 3 (deve haver uma razão qualquer para isso mas é seguramente Segredo!)

Temos então em meu entender:

O Segredo Maçónico

O Segredo dos Maçons

O Segredo Intimo


O Segredo Maçónico no seu mais puro significado esotérico, é o Indizível. É algo que se perdeu e que se procura, e que por ter sido o Segredo de UM (e ele não dizia baixinho a alguém) e se ter perdido se manteve mesmo como Segredo.
Este é um tema que pela sua natureza me deixa pouca latitude para falar pelo que manterei segredo daquilo que sei.

Ao manter segredo daquilo que sei passo para o segundo plano.

O Segredo dos Maçons. Este é constituído por tudo o que nos é transmitido pelos nossos mestres no que a assuntos rituais diz respeito.
Em cada juramento é referido e repetida a promessa de sigilo sobre tudo o que nos for transmitido.
Este Segredo assume importância na diferenciação entre os vários graus.

Mas assume maior relevância quando se trata de revelar ou não revelar nomes. Não nos é permitido revelar nomes dos nossos Irmãos sem estarmos a coberto. Isto quer dizer que do lado de fora do Templo e face a profanos os Irmãos não têm nome, ou se têm não podem ser referenciados como Irmãos. O melhor exemplo que encontro para vos ilustrar é este Blog feito por Mestres desta Loja. Nele há “blogueiros” com pseudónimos sendo que os gestores do Blog sabem quem eles são mas têm o cuidado de publicamente os tratarem pelo pseudónimo.

E chegamos ao segredo Intimo.

À nossa decisão de revelar ao Mundo que somos ou não somos Maçons. Esta é uma decisão individual e a revelação não constitui uma quebra do Segredo, mas sim o assumir publicamente de uma qualidade.
Este processo de aparecimento público, puramente individual, tem vários níveis. Desde o Simples alfinete de lapela (PIN) que é em si pouco revelador, até ao assinar textos enquanto Maçon ou aparecer publicamente em representação da Loja ou da Grande Loja.


Escrever sobre o Segredo Maçónico, para mim que não sou um esotérico é de facto um pouco complicado por isso tentei, de uma forma ligeira, deixar aqui apenas uns pensamentos não muito profundos, mas que permitam a cada um de vós progredir na procura, se esse for o vosso desejo.

O verdadeiro segredo da Maçonaria é tão somente tornar melhores homens Bons.

O resto é Segredo.
JoseSR

ANTIGOS DEVERES: Das Lojas

O terceiro tema dos Antigos Devers é dedicado às Lojas:

Uma Loja é o local onde se reúnem e trabalham maçons. Portanto, toda a assembleia ou sociedade de maçons, devidamente organizada, é chamada loja, devendo todo o irmão pertencer a uma e estar sujeito ao seu regulamento e aos regulamentos gerais. Uma loja é particular ou geral e será melhor entendida pela sua frequência e pelos regulamentos da loja geral ou Grande Loja, adiante apensos. Nos tempos antigos, nenhum mestre nem companheiro se podia ausentar dela, especialmente quando avisado para comparecer, sem incorrer em severa censura, a menos que parecesse ao mestre e aos vigilantes que a pura necessidade o impedira.
As pessoas admitidas como membros de uma loja devem ser homens bons e leais, nascidos livres e de idade madura e discreta, nem escravos, nem mulheres, nem homens imorais ou escandalosos, mas de boa reputação.

Note-se como desde os tempos da Maçonaria Operativa já estavam definidos os critérios de admissão de maçons a uma Loja, correspondendo ao que, nos dias de hoje, é definido como "homens livres e de bons costumes". Em termos de evolução, nos tempos presentes o antigo requisito da "idade madura" corresponde agora à maioridade, altura a partir do qual pode ser considerada a candidatura de um profano à Iniciação. No entanto, não basta ser maior, é necessário possuir uma maturidade que possibilite o interesse pelo aperfeiçoamento espiritual. A "idade madura" dos tempos de antanho é hoje avaliada em termos de desenvolvimento pessoal e não tanto em termos cronológicos.

Rui Bandeira

27 fevereiro 2007

" Ele há coisas ..... "

Nao podia deixar de vir aqui contar uma curiosidade.

Há dias atrás um Irmão, membro de uma loja da GLLP/GLRP, que eu nao conheço pessoalmente, ligou-me e pediu-me que encontrasse quem fizesse ou que fizesse eu um palestra sobre um tema determinado, numa escola secundaria de Lisboa, pois tinha recebido um pedido dessa escola.

Procurei quem fizesse, mas nao consegui encontrar. Para nao deixar o Irmão sem resposta, telefonei e disse-lhe que embora nao fosse a minha especialidade que faria a palestra.

Ontem recebo uma chamada de um senhor que se indentificou como professor e que me contactou por indicação do tal Irmão. Simpaticamente deu-me mais dados sobre o que era pretendido, bem como sobre as datas que lhe davam jeito etc.

Até aqui nada de especial, mas quando lhe perguntei qual era a escola a resposta foi :

Escola Secundaria AFONSO DOMINGUES, em Marvila.

Ora e apenas para relembrar, a minha ( nossa dos escritores deste blog) Loja, a de origem e Unica é a Loja Mestre Affonso Domingues.

como diria o saudoso Fernando Pessa - " E esta hein !!!!"

JoseSR

ANTIGOS DEVERES: Do Poder Político


O segundo tema dos Antigos Deveres respeita ao relacionamento que o maçon deve ter com o Poder Político e respectivas autoridades.

Eis o seu teor:

Um Maçon é sempre um súbdito pacífico, respeitador do poder civil, em qualquer lugar que resida ou trabalhe. Jamais está implicado em conspirações ou conluios contra a paz e a felicidade da nação, nem se há-de rebelar contra a autoridade, porque a guerra, os derramamentos de sangue e as perturbações, têm sido sempre funestas à Maçonaria. Assim, os antigos Reis e Príncipes sempre estiveram dispostos a proteger os membros da corporação posto que sua tranquilidade e fidelidade, que refutavam praticamente as calúnias de seus adversários, realçavam a Honra da Fraternidade, que sempre prosperou em tempos de paz. De modo que, se um Irmão se rebelasse contra o Estado, não deveria ser sustentado em seus actos. Todavia, poderia ser confortado, como um infeliz, e se não for reconhecido culpado de nenhum outro crime, embora a fiel Confraria deva desaprovar sua rebelião para não dar ao governo motivo de descontentamento e para evitar que alimente suspeitas, não se pode excluí-lo da Loja, suas relações com ela permanecendo invioláveis.

A Tradição Maçónica, mantida pela Maçonaria Regular, enfatiza, assim, o respeito da maçonaria e dos Maçons pelo Poder constituído. É no quadro da organização social existente e da Legalidade vigente que a Maçonaria se move e que os maçons se procuram aperfeiçoar e, pelo seu exemplo, contribuir para a melhoria da sociedade. Mas a Maçonaria não tem intervenção directa na Política.

Como sabemos, esta não é a orientação da Maçonaria Liberal, que entende poder e dever intervir politicamente e, mesmo, se necessário, activamente contribuir para mudanças revolucionárias na estrutura do Poder, na linha da orientação assumida pelo Grande Oriente de França na época da Revolução Francesa.

A observância estrita ou o entendimento de que caiu em desuso este Antigo Dever constitui uma das linhas de fractura entre as duas grandes tendências da Maçonaria.

Rui Bandeira

26 fevereiro 2007

ANTIGOS DEVERES: De Deus e da Religião

Já anteriormente, a propósito do Segundo Landmark, aqui referenciei os Antigos Deveres (Ancient Charges), que devem ser respeitados pelos maçons. Tendo sido compilados nas Constituições de Anderson de 1723, estão divididos em seis temas, o primeiro dos quais o respeitante a Deus e à Religião e que é do seguinte teor:

Um Maçon é obrigado, pela sua condição, a obedecer à lei moral. E, se compreende correctamente a Arte, nunca será um ateu estúpido nem um libertino irreligioso. Mas, embora, nos tempos antigos, os maçons fossem obrigados, em cada país, a ser da religião desse país ou nação, qualquer que ela fosse, julga-se agora mais adequado obrigá-los apenas àquela religião na qual todos os homens concordam, deixando a cada um as suas convicções próprias: isto é, a serem homens bons e leais ou homens honrados e honestos, quaisquer que sejam as denominações ou crenças que os possam distinguir. Por consequência, a Maçonaria converte-se no Centro de União e no meio de conciliar uma amizade verdadeira entre pessoas que poderiam permanecer sempre distanciadas.

Desde os tempos da Maçonaria Operativa que este princípio é seguido. Pode, assim, dizer-se que integra o núcleo verdadeiramente essencial do ideário maçónico.

A Maçonaria regular, deísta, costuma fundar a sua recusa de admissão de ateus ou agnósticos, só admitindo quem seja crente num Criador (independentemente da religião professada ou da forma como essa crença é vivida) na frase de que o maçon, se "compreende correctamente a Arte, nunca será um ateu estúpido nem um libertino irreligioso".

A Maçonaria Liberal, que admite ateus e agnósticos, preferirá enfatizar que "um Maçon é obrigado, pela sua condição, a obedecer à lei moral" e que o ideário maçónico apenas obriga os maçons "a serem homens bons e leais ou homens honrados e honestos, quaisquer que sejam as denominações ou crenças que os possam distinguir".

Dois caminhos, dois estilos, uma mesma raiz comum, uma similar exigência de rigor e elevação.

Rui Bandeira