Conflito de Religiões
CCB, 25 de Junho de 2006
Intervenção no tema:
O Conflito de Religiões
Como pode a Maçonaria, no seu Universalismo e Tolerância, contribuir para o Amor, a Fraternidade e a Paz entre os Homens, no respeito de cada um pelo seu Deus e pelo Deus dos outros?
No mote para esta sessão aparecem algumas noções que, na minha opinião, merecem ser clarificadas e com isso tentarei expressar a minha opinião enquanto Homem de fé Judaica.
O conflito de religiões é na minha perspectiva um falso problema. É certo que a fé é usada como argumento para o conflito, mas a fé não está no centro do problema. Não pelo menos nos tempos que correm.
Os conflitos em nome de Deus, têm sempre como motivo fundamental questões económicas, sociais, demográficas e politicas. Muito pouco de religião.
No entanto o Marketing é tudo. Quem daria a primeira página a um conflito que não se arvore como em Nome de Deus. Quem conseguiria levar para frente de batalha homens sem os motivar em Nome de Deus.
Difícil aceitar, para nós verdadeiros crentes, que pseudo Crentes manipulem o conceito de Deus para prosseguirem os seus objectivos comezinhos e terrenos.
A segunda noção é “Seu Deus e o Deus dos outros”. Deixando de lado outras fés que não as comummente chamadas Monoteístas, então esta afirmação não faz sentido.
As 3 religiões do Livro, Judaísmo, Cristianismo e Islamismo, quando se referem a Deus referem-se claramente a UM e Único Deus, o mesmo.
Isto leva-nos a que uma ofensa ao “Deus dos outros” seja uma ofensa ao nosso próprio Deus, pois Ele é Um e Único, pelo que o não respeito do “Deus dos outros” é uma falta de respeito ao “seu Deus”.
A terceira noção presente é a Tolerância. A tolerância tão apregoada pela Maçonaria, é em minha opinião, um conceito perigoso.
Perigoso por duas razões essenciais:
Não é paritário ; Não é mensurável.
Tolerar alguém, ou algo é uma relação de superioridade para com esse alguém ou esse algo. Numa relação de Tolerância há o Tolerante e o Tolerado, é certo que cada qual pode ser as duas coisas simultaneamente, mas o mais normal é cada um de nós aplicar o conceito de tolerância quando a coisa não correu conforme o esperado.
Não é mensurável, pois não é possível definir até onde se deve ou se pode ser Tolerante. E como dizia Fernando Teixeira “ o limite da tolerância é a estupidez “.
Temos então que:
Não havendo Conflito de Religiões mas sim Conflitos por outras causas.
Havendo apenas UM e Único Deus.
Sendo a tolerância um conceito perigoso
O tema aparentemente fica vazio. Mas apenas aparentemente.
No meio de tudo está o Homem.
O Homem é o factor decisivo. Decisivo porque tem a mais poderosa dádiva Divina - O Livre Arbítrio.
O homem tem a possibilidade de Amar ou Odiar, de respeitar ou desrespeitar, de pacificar ou guerrear, de ser fraterno ou inimigo.
O Homem essa criatura perfeita dentro da Imperfeição.
É com os homens que teremos que resolver as nossas diferenças, e com eles que teremos que avançar para a solução dos conflitos.
O respeito pelos outros, essencialmente pela diferença é a chave da questão.
E Então que pode a Maçonaria fazer.
A Maçonaria pretende ser e têm sido uma escola. Usando uma via iniciática que de Per Si não serve para nada pois se for interpretada Strictu sensu é mais um ritual e nem sequer consegue substituir o religioso.
No entanto a interpretação desse ritual, conjuntamente com a Acção na Sociedade e não apenas com uma caridade aqui ou outra ali, mas com intervenção politica e social, coerente e fundamentada, pode permitir aos homens Maçons fazerem progredir a sociedade.
Ao contrário do que se prega pelas lojas da nossa obediência, a Maçonaria não é apolítica. O que não permite é que em sessão ritual se discuta politica.
Mas na intervenção na sociedade as Grandes Lojas têm que ser parceiros políticos.
Parceiros políticos, não quer dizer apoiar o partido A ou B ou o candidato X, mas sim pensar a politica, acercar-se dos meios políticos e apresentar a Maçonaria como uma Ferramenta de Prossecução de fins.
E temos que nos meter em todos os assuntos?
É claro que não, mas temos que ter uma palavra em muitas áreas da política, eventualmente começando pela política social, criando estruturas de apoio ou redes de contactos.
É também evidente que em assuntos de politica internacional as Grandes Lojas devem trocar entre elas as informações relevantes para que o seu contributo para o mundo em que vivemos seja tido em conta pelos respectivos Governantes locais.
Termino com dois exemplos:
Um de acção politica e um outro sobre o primado do homem
Em 1839 / 1840 surge um problema na Síria em que membros de uma confissão religiosa são acusados de assassinar “ritualmente” um sacerdote jesuíta e o seu acólito.
O problema internacionaliza-se e a França e a Inglaterra, potências dominantes na altura tomam o assunto em mãos, enviando para resolver o problema os Sr. Adolphe Cremieux e Sir Moses Montefiore.
Estes dois emissários eram ilustres Maçons no seu tempo, sendo que Montefiore era Embaixador e Cremieux chegou a ser Ministro de França.
E eles com a sabedoria dos Maçons resolveram o problema evitando assim uma crise internacional.
Quanto ao primado do Homem, há uns dias atrás o Papa Bento XVI em visita a Auschwitz – Birkenau perguntou “Onde estava Deus nestes dias?”
O Rabino Henry Sobel de São Paulo no Brasil escreveu então o seguinte:
“Antes de perguntarmos "onde está Deus", cabe-nos formular a outra pergunta: "Onde está o homem?" O que está fazendo o homem com o mundo que Deus lhe deu?”
Concluindo com a seguinte resposta:
“Com todo o respeito, permito-me responder ao Sumo Pontífice: Deus estava onde sempre esteve, esperando que os homens assumissem o seu dever.”
A Maçonaria como organização de Homens Livres e de Bons Costumes tem um poder imenso na prossecução dos desígnios da PAZ, AMOR e RESPEITO dos Homens pelos Homens e consequentemente dos Homens por Deus.
Assim nos ajude o Grande Arquitecto do Universo