13 novembro 2006

Os Altos Graus

Os Altos Graus integrados por Obreiros da GLLP/GLRP e por estas reconhecidos, oferecem meios de aprofundamento espiritual específicos de cada Rito, no prosseguimento harmonioso do trabalho em Loja que continuará a ser a base onde assentará a vida maçónica.

O muito que lhes deve a Maçonaria Regular advém em larga medida do perfeito entendimento que tem existido, assente no respeito mútuo, entre a GLLP/GLRP e cada uma das estruturas representativas dos Altos Graus. A unanimidades de posições, nomeadamente quando do relacionamento com potências estrangeiras, muito tem contribuído para que a Maçonaria Regular Portuguesa goze da imagem de rigor e de coesão que tanto a prestigia. As diferenças pontuais com que interpretam as formas que a cultura maçónica assume não traduzem contradições mas propostas de enriquecimento, tendo plena justificação a aprendizagem levada a cabo por Obreiros que, trabalhando em diferentes Altos Graus, contrastam versões e interpretações que mais não são do que perspectivas de uma mesma obra, belamente dramatizada.

Não tem sido esquecido que os caminho percorridos oferecem maiores e mais embelezadas formas de progressão mas não podem substituir a solidez do tronco donde brotam nem as raízes implantadas na sociedade, uma e outras oferecidas pelas RR...LL... azuis.

Justifica bem uma referência o facto de que os estudos aprofundados feitos nos Altos Graus, com rigor e exigência cientifica, muito podem contribuir para que sejam desmitificados muitos livros, documentos e filmes, hoje tanto na moda, nos quais, despudoradamente, são tratados de forma oportunista temas que merecem o nosso respeito.

(Excerto do artigo "A actualidade da Maçonaria", da autoria do Mui Respeitável Grão Mestre da Grande Loja Legal de Portugal /GLRP, Alberto Trovão do Rosário, originalmente publicado em "O Aprendiz", Revista da Grande Loja Legal de Portugal / GLRP - Nova Série, Ano 6, n.º 25; este é o sétimo de nove excertos que serão aqui publicados; o anterior foi publicado em 9/11/2006, sob o título "As Respeitáveis Lojas"; o próximo terá o título "A Grande Loja Legal de Portugal / GLRP").

Rui Bandeira

10 novembro 2006

Do Verão de S. Martinho à doação de sanguezinho


Ele aí está, indiferente às propaladas alterações climáticas, o Verão de S. Martinho! Hoje, em Lisboa, o céu é azul, a cidade brilha com a luminosidade que lhe é característica, a temperatura é amena. As previsões meteorológicas indicam que assim continuará a ser amanhã, 11 de Novembro, o dia de S. Martinho. As chuvas torrenciais e as inundações são já recordação de há alguns dias, daqui por uns tempos vai voltar a chover e o frio vai aparecer, mas, por agora, todo o portuga que se preza levanta o rosto em direcção ao Sol e goza, deliciado, esta pausa na invernia que o Povo de há muito crismou de Verão de S. Martinho.

É curioso como efectivamente, na maior parte dos anos, há, por volta de 11 de Novembro uma melhoria, por vezes acentuada, do tempo. Não é, realmente, só impressão decorrente de este ano o tempo estar bom agora. Há factos e datas que nos marcam e eu, pessoalmente, sempre prestei muita atenção ao S. Martinho, porque foi num dia de S. Martinho, era eu ainda criança de escola primária, que o meu pai teve um grave acidente de trabalho. Desde então, sempre tive especial atenção a esta data, ao dito Verão de S. Martinho e venho, ao longo de mais de quatro dezenas de anos , efectivamente verificando que existe, no nosso país, uma melhoria de tempo por estes dias do ano e que os anos em que tal não sucede são excepções.

Para mim, portanto, confirma-se a justeza da sabedoria popular quando fala - e não é de agora, é de gerações que se perdem na bruma do tempo... - no Verão de S. Martinho.

Reza a lenda que S. Martinho, garboso cavaleiro, certo dia tempestuoso, de grossa chuva e vento gélido, deparou com um pobre desgraçado que, meio morto de frio, apenas dispunha de rotos farrapos para se cobrir e que o Santo, com a sua espada, cortou a sua capa ao meio e deu ao desafortunado metade dela para que se pudesse aquecer, reservando para si a outra metade, para poder, ele também, arrostar com a intempérie e com o frio. Feito isto, o milagre aconteceu: em reconhecimento do acto de misericórdia e solidariedade do Santo, o Omnipotente de imediato fez cessar a tempestade, afastou o vento e as nuvens e o Sol brilhou, aquecendo aquelas paragens e, especialmente, impedindo que o Santo, agora só com metade da capa, sofresse com a fúria dos elementos.

E, em homenagem àquele acto de solidariedade, desde então, no dia que viria ser dedicado a S. Martinho, a Divina Providência se encarregaria de agraciar, não sei se a Humanidade toda, se só os que vivem neste cantinho, com uma melhoria de tempo, popularmente reconhecida como o Verão de S. Martinho.

O dia de S. Martinho é, então, uma data que alude à solidariedade humana.

Melhor dia não haverá, então, para manifestar essa solidariedade com um gesto simples e alguns minutos do nosso tempo: IR DAR SANGUE!

Não se esqueçam: amanhã, dia de S. Martinho, aproveitem o bom tempo para, durante a manhã, ir ao Instituto Português do Sangue, no Parque da Saúde, Av. do Brasil, Lisboa, dar sangue, no âmbito da acção organizada pelo Grupo de Dadores de Sangue Mestre Affonso Domingues. Até as castanhas e o vinho novo ou a água pé vos vão saber melhor!

Todos ganham!

(O desenho que ilustra este texto é da autoria de Ana Patrícia Gonçalves Barbosa, que, em 10 de Novembro de 2004, frequentava o 3.º ano de escolaridade na EB 1 de Campo, Campo do Gerês, Terras do Bouro. Uma ternurinha, só possível de descobrir e apreciar, porque, em boa hora, e no âmbito do programa "Internet na Escola Básica Inicial", aquela Escola Básica tem um interessante sítio na Rede. Abençoado choque tecnológico...)

Rui Bandeira

09 novembro 2006

As Respeitáveis Lojas


As Respeitáveis Lojas são a célula donde brota a vida maçónica. Não há em Maçonaria estrutura mais determinante, mais padronizadora de saberes e de comportamentos. É na Loja que se aprende, é na Loja que se convive, é na Loja que nos assumimos, é na Loja que podemos, se para tanto o nosso engenho e a nossa arte o permitirem, transformar quem somos em quem queremos ser.

Respeitando os mesmos princípios que os restantes Irmãos, percebemos que lhes devemos oferecer, todos os dias, no Templo e fora do Templo, a nossa fraternidade; que o nosso pobre egoísmo ficou, com as nossa pobres vaidades, esquecido fora da Loja, numa atitude que – e há que o acentuar vivamente – não é só fruto da cultura, como da inteligência, como da maturidade que alguns percebem, como da inteligência, como da maturidade que alguns percebem que não é desprendimento pela vida mas amor à vida e ao que ela encerra de mais nobre e mais digno.

Tudo isto pode ser percebido, sentido e interiorizado em Loja pelo estudo que vivamente se aconselha dos nossos rituais e dos muitos textos que nos podem enriquecer mas serão sempre limitados os resultados se não houver um esforço de superação consciente e persistente.

Não são as Lojas estruturas isoladas. Mau sinal seria se proporcionassem a fraternidade entre os Obreiros de cada uma e não a fomentassem entre os Obreiros que trabalham em diferentes Lojas. Esse risco nem sempre é ultrapassado por Lojas que, embora trabalhando muito bem, se esquecem de que o Movimento Maçónico, (o Mundo Maçónico, a Família Maçónica) não é um arquipélago constituído por ilhas que ignoram a vida das restantes mas é um todo cuja eficácia é resultante do somatório dos trabalhos dos seus membros.

Os Regulamentos existentes, quer o da GLLP/GLRP que os das RR...LL..., corolários daquele, não são mais de um conjunto de normas que servem de referência para o trabalho concreto mas que devem ser sempre vistos como uma emanação dos nossos princípios e dos nossos “Landmarks”.

Não há, e é importante que tal seja plenamente assumido e entendido, uma estrutura maçónica inspirada em estruturas ou códigos profanos, tenham eles origem cultural, política ou social. Como não há uma hierarquia dependente da decoração dos aventais; a decoração dos aventais, salvo no tocante à que caracteriza o grau de cada Obreiro é um indicativo de responsabilidades assumidas durante um período de tempo, e nunca um objectivo que permite a satisfação de vaidades puramente profanas. Cada nova responsabilidade assumida em Loja, inclusive no seu Quadro de Oficiais tem de ser encarada como estímulo para um maior aperfeiçoamento como acontece, ainda com maior exigência, quando da iniciação da passagem a Companheiro e da elevação a Mestre. Pela mesma ordem de razão não são toleráveis os falsos argumentos freudianos que alijam responsabilidades que são claramente das RR...LL... para outras estruturas da GLLP/GLRP.

Daqui a estupefacção que sentimos por vezes quando somos confrontados com a ideia, nascida da ignorância, de que “as RR...LL... devem cumprir o programa da Grande Loja”.

Como é de todos sabido são promovidas, em especial desde há poucos anos, diversas iniciativas de que podem participar Irmãos de todos as Lojas, nomeadamente no âmbito cultural. Mas estas participações são sugeridas, nunca impostas, e têm a intenção de enriquecer a formação dos Obreiros não se pretendendo, bem pelo contrário, desmotivar a acção das Lojas, que deverá partir sempre da sensibilidade, das circunstâncias e da capacidade de trabalho e de organização de cada R...L... na convicção que todos temos de que esta é fonte criadora do livre pensamento. E este, aberto à vida e à verdade, pesquisa, investiga, estuda, respeitando os que sabem mais mas procurando sempre caminhos próprios.

Aos Órgãos da Grande Loja compete coordenar, estimular e se necessário intervir se os nossos documentos fundamentais não estiverem a ser respeitados; para além do cumprimento das atribuições que lhe estão naturalmente cometidas. Também lhes compete colaborar na criação de melhores condições de trabalho como vem sucedendo no tocante à consagração de novos Templos; e catalizar apoios favorecendo, por exemplo, o levantamento de colunas ou reinício da actividade de várias RR...LL.... Como se percebe, é bem preferível seguir este caminho de verdade do que criar novas RR...LL... só com a intenção de nos vangloriarmos com o seu número.

Tem sido bem visível o aumento do grau de exigência das RR...LL..., nomeadamente no que diz respeito ao rigoroso cumprimento dos rituais. Por aí teremos de prosseguir, como terá de continuar a ser prestado apoio pela RR...LL... com maior número de obreiros e maior dinamismo às suas Irmãs. Também por este caminho de entreajudas se tornará mais límpida a diferença entre o fundamental e o acessório; o grau de exigência seguido em cada R...L... é testemunho da forma como sabem encarar duas virtudes que não nos cansamos de apontar: a dignidade e a verdade. São virtudes visadas no mundo profano que nós, numa Ordem Iniciática, que respeita valores espirituais, por maior força de razão deveremos, sempre respeitar.

(Excerto do artigo "A actualidade da Maçonaria", da autoria do Mui Respeitável Grão Mestre da Grande Loja Legal de Portugal /GLRP, Alberto Trovão do Rosário, originalmente publicado em "O Aprendiz", Revista da Grande Loja Legal de Portugal / GLRP - Nova Série, Ano 6, n.º 25; este é o sexto de nove excertos que serão aqui publicados; o anterior foi publicado em 7/11/2006, sob o título "Obreiros"; o próximo terá o título "Os Altos Graus").

Rui Bandeira

08 novembro 2006

Salpicando Poesia

Amanhã, dia 9 de Novembro, no Grémio Literário, na Rua Ivens (ao Chiado), em Lisboa, pelas 18 h 30 m, o Dr. Miguel Roza (de pé, na fotografia, proferindo uma palestra a convite do Elos Clube de Lisboa) procede ao lançamento do seu novo livro, Salpicando Poesia.

Miguel Roza já anteriormente publicara uma bem humorada colectânea de narrativas, De médico e de louco de tudo um pouco e um livro a propósito de Fernando Pessoa, Encontro Magick: Fernando Pessoa / Aleister Crowley, com os quais partilhou com os leitores a sua experiência em dois aspectos distintos da sua vida: a sua carreira profissional de médico e o seu parentesco com Fernando Pessoa, de quem é sobrinho.

Agora lança um livro de poesia. Publicado por um sobrinho do maior expoente da Poesia portuguesa do século XX, só pode provocar interessada expectativa.

Por mim, tenciono estar amanhã no Grémio Literário! Não perderá o seu tempo quem como eu fizer.

Rui Bandeira

07 novembro 2006

Obreiros


A Grande Loja é o reflexo de que as Lojas são e tem o que as Lojas lhe dão. E as Lojas são o que os seus Obreiros forem e têm o que os seus Obreiros lhes derem, em fraternidade, em solidariedade, em trabalho, em valorização cultural, em vontade de servir e na sua permanente luta pela superação.

Os obreiros são diariamente desafiados por si próprios a serem e agirem na qualidade de maçons: de homens honrados com uma iniciação, que lhes conferiu responsabilidades novas que os impele a lutarem contra os pobres e redutores hábitos profanos, os quais, instintivamente os conduziriam sempre, rotineira e mecanicamente, por uma senda de cinzentos e responsáveis comodismos.

Os maçons sentem, com plena naturalidade, que só poderão prosseguir, ou seja, valorizar-se espiritualmente, se aprenderem a cultivar as expressões mais nobres do respeito pelos outros e por si próprios.

E, com a mesma naturalidade, aceitarão os aumentos de salário que são atestados que comprovam aumento de conhecimento e de capacidade para assumirem maiores responsabilidades, sem caírem no logro profano de se envaidecerem com avanços que são, unicamente, simbólicos, na convicção de que todos, exactamente todos, estão conscientes da sua ignorância..

Por isso, é com constrangimento e tristeza que assistem à exibição de decorações ou ao enunciado de cargos, e de graus, que patenteiam mediocridades que ferem os ideais maçónicos.

Os Obreiros sabem bem que, independentemente das circunstâncias históricas, culturais e sociais de cada tempo, a Maçonaria deve ser discreta; passou o muito longo período em que fomos forçados a ser secretos mas, de acordo com o atrás dito, importa-nos, sempre, muito, o ser e nada o parecer.

Por estes, e por muitos outros motivos conhecidos dos maçons, a criteriosa selecção dos candidatos a Obreiros da Ordem deverá sempre ter em consideração que pretendemos que os iniciados sejam homens de bem, independentemente do estrato a que pertençam no mundo profano. Ainda devo acrescentar, para maior clarificação que, se não devemos impedir a entrada no Templo de um operário também, não devemos impedir a entrada de um ministro. O critério é outro e bem outro.

A formação dos Obreiros, à qual se podem em diversos casos apontar lacunas, é como sabemos, da responsabilidade de toda a Loja, em especial do Venerável Mestre, do 1º e do 2º Vigilantes.

Tarefa bem difícil, de todas a que melhor traduz a luta pela transformação da pedra bruta em pedra polida, encerra um imenso desafio: os maçons são filhos e foram moldados pela sociedade que eles querem transformar através da sua própria transformação.

Será, a este respeito muito em breve editado pela GLLP/GLRP um livro elaborado pela R...L... Pisani Burnay onde a nossa Ordem Maçónica Regular e os seus objectivos são levados ao conhecimento dos iniciados.

Para que a valorização se torne possível, é necessário que o maçon seja persistente, seja paciente, saiba suportar a incompreensão e a intolerância dos outros. E seja capaz, o que se reveste também de grandes dificuldades, de encarar, com isenção, o significado que deve atribuir à tolerância.

Se, como disse, devemos suportar, e em muitos casos compreender, a intolerância alheia, sempre oriunda da ignorância e da insegurança, não podemos usar da mesma bitola quando olhamos para nós e para os nossos Irmãos. O grau de exigência deve ser muito maior; não ignoremos que a quase totalidade dos problemas com que nos defrontamos são criados por nós próprios. Porque somos discretos, nos associamos e interagimos local, nacional e internacionalmente, muitos nos olham como um descuidado veículo para quem tem ambições pessoais sejam de carácter profissional ou envolvam necessidades de afirmação e de nós se quer servir.

E, quando surgirem dúvidas relativamente às proporções da nossa tolerância para com os que nos antagonizem, lembremo-nos que só uma atitude devemos tomar, consentânea com a cultura que nos especifica: não insultar quem nos insulta, não guerrear com quem guerreou, muito menos no Templo, mostrando que somos capazes de travar o diálogo e que partimos para este sempre mostrando que queremos ouvir os outros e, o que muito reforça moralmente a nossa posição, que estamos disponíveis para melhorarmos os nossos conhecimentos pela aceitação dos argumentos alheios se estes se mostrarem mais sólidos.

Porque a beleza da nossa cultura nasce do facto de estarmos mais interessados em aprender do que em ensinar, com a coragem intelectual de quem quer ter opinião fundada numa opinião livre e consciente.

(Excerto do artigo "A actualidade da Maçonaria", da autoria do Mui Respeitável Grão Mestre da Grande Loja Legal de Portugal /GLRP, Alberto Trovão do Rosário, originalmente publicado em "O Aprendiz", Revista da Grande Loja Legal de Portugal / GLRP - Nova Série, Ano 6, n.º 25; este é o quinto de nove excertos que serão aqui publicados; o anterior foi publicado em 6/11/2006, sob o título "Maçonaria e Maçonarias"; o próximo terá o título "As Respeitáveis Lojas").

Rui Bandeira

06 novembro 2006

Maçonaria e Maçonarias


Quer no mundo profano quer por vezes no próprio seio da Maçonaria surgem algumas perplexidades, criadas pela auto anunciada existência de grupos que se consideram maçons e que vão, num ou noutro ponto, dando origem a confusões de diversa índole.

Há que, a este propósito reflectir um pouco, no respeito pela nossa cultura, pelos nossos princípios e por quanto representamos.

De dois pontos devemos partir: por um lado, não nos considerarmos detentores da verdade única e sermos tolerantes, por outro, devemos ser rigorosos e exigentes.

Por outras palavras: devemos respeitar todos os que de boa fé, respeitam os mesmo princípios que nós e não devemos nem podemos respeitar os que, sem pudor, se aproveitam do nome da Maçonaria, erguido laboriosa e persistentemente por muitos ao longo de séculos, colocando-o ao serviço de ridículas vaidades pessoais ou de desígnios menos claros.

Em linhas gerais, há em Portugal, duas grandes Ordens Iniciáticas Maçónicas: o Grande Oriente Lusitano e a Grande Loja Legal de Portugal/GLRP.

Como é sabido, ainda que por vezes, tal seja escamoteado, o mundo maçónico, em 1877, afastou da sua convivência o Grande Oriente de França por este pretender seguir por uma via que, por ser ateia, antagonizava os próprios Landmarks da Maçonaria. O facto da principal corrente maçónica portuguesa de então ter secundado a atitude do GOF fez com que tanto um como outro fossem a partir de então – até hoje – considerados irregulares.

Só no decurso da década de oitenta, na esteira da abertura introduzida em 1974 pelo movimento de 25 de Abril, se intensificaram os esforços que levariam ao restabelecimento da Maçonaria Regular em Portugal, que culminariam com a consagração da Grande Loja Regular de Portugal em 1991.

Hoje, a Maçonaria Regular Internacional, que se estima representar bem mais de noventa por cento de toda a Maçonaria Internacional, reconhece a GLLP/GLRP como lídima, e única representante da Regularidade em Portugal.

Como em muitos outros períodos, os interesses individuais, e até, naturais diferenças de opinião e de postura, deram origem a algumas secessões; destas a que deixou cicatrizes mais fundas foi a da chamada “Casa do Sino” tendo permanecido na facção então criada diversos Obreiros iniciados entre nós, vários dos quais já regressaram ao nosso convívio.

Uma ou outra vez ouvimos algumas vozes clamar pela unidade de todos os maçons portugueses. Ainda que por detrás da proposta haja muitas intenções sãs, devemos atentar em que:

  • A fusão entre as duas grandes potências maçónicas portuguesas – e só no caso destas tal se poderia conjecturar – seria sempre um acto contra natural. Se uma das Ordens mostrasse – ou mostre – interesse na fusão, reconheceria que abdicava das suas convicções, abjurava os juramentos feitos e, implicitamente, admitia aderir aos princípios pela outra Ordem respeitados; também de forma bem implícita aceitava que se encontrava numa fase de declínio ou de confusão institucional e que desistia das formas de luta que vinha adoptando.

  • Porém, e repetindo o já muitas vezes dito, a nossa coerência e a nossa tolerância, determinam que abramos as portas do nosso Templo aos que estão convictos de que merecem o título nobre de maçons desde que, naturalmente, se apresentem um a um – nunca em grupo – se encontrem nas condições impostas pelos Regulamentos da GLLP/GLRP e sejam aceites no seio de uma R:.L:. Foi esta situação já vivida diversas vezes, devendo acentuar-se que nunca houve qualquer tipo de aliciamento ou convite nascido na nossa Ordem. Tal seria abusivo, condenável e assumiria até formas próximas do não entendimento do que são valores maçónicos.

  • Por maior força de razão, esta atitude vem sendo adoptada, e continuará a sê-lo, para com os elementos dos outros grupos que se auto intitulam maçons.

  • A nossa Ordem não pode agir de outro modo, já que tal se traduziria no não cumprimento dos nossos deveres e , eventualmente, no risco de vermos negado o reconhecimento internacional, a que vimos fazendo jus.

  • As muitas sugestões que chegam às nossas RR:. LL:. para a realização de encontros e reuniões com membros de instituições que actuam em áreas próximas da nossa, mas não são reconhecidas, deve ser encarada, como claramente os Regulamentos o determinam, com toda a prudência e, obviamente, nunca poderão assumir qualquer expressão ritual.

A imprudência suscitada pela nossa tolerância unicamente poderia trazer benefícios aos autores das sugestões, sejam ou não estas formuladas desinteresseiramente.

Numa perspectiva adjacente, devemos recordar que as Ordens Iniciáticas que se reclamam da Regularidade respeitam todas elas, inclusivamente para merecerem, o reconhecimento internacional das suas pares, as mesmas Regras que são consideradas desde há muito imutáveis.

Determinam, entre outras disposições, que “A Maçonaria é uma Ordem, à qual só podem pertencer homens livres e de bons costumes...” e, mais adiante que “Os Maçons só devem admitir nas suas Lojas homens de honra...”.

Não é assim consentida a presença feminina nos Templos nem nos Trabalhos Rituais.

Todavia não deve tal ser entendido como sinal de menor respeito pelas mulheres nem pelas instituições em que se agrupam e que tenham relação cultural com os nossos valores e objectivos, como sucede no tocante à Grande Loja Feminina.

Todas estas questões, como muitas outras relacionadas com a legitima integração dos maçons numa vastíssima família, transportam-nos, naturalmente para um outro plano: o da Maçonaria Internacional, para as suas regras e exigências.

E aqui, bem ao contrário do que por vezes se anuncia, o quadro é mais claro do que poderíamos conjecturar: toda a Maçonaria visa os mesmos objectivos, toda obedece aos mesmo princípios, toda se rege pelas mesmas normas. Não há por parte das potências maçónicas internacionais nem vontade nem legitimidade para intervirem na vida interna das suas Irmãs. Unicamente, e a sabedoria maçónica o determinou, há a possibilidade de aceitarem que se sentem à mesma mesa os que respeitam os mesmos princípios e as formas de os observarem, assim como de rejeitarem, a presença dos restantes.

A aceitação é tanto maior quanto mais se reveste de dignidade; as rasteiras subserviências não são obviamente toleradas neste cenáculo de homens livres que representam outros homens livres.

Algumas interrogações levantadas em Ordens estrangeiras, levadas a hesitações quanto ao reconhecimento da GLLP/GLRP, suscitadas pela secessão de 1996, foram respondidas com o uso da única forma que a Maçonaria reconhece nestes casos: com a verdade, a persistência e a discrição.

Os laços que têm sido estabelecidos ou reforçados com as Ordens estrangeiras que podemos e devemos reconhecer são hoje sólidos e traduzem-se em acções nas quais participam não só os seus mais altos representantes como em acções que conduzem a geminações entre RR:.LL:. de países diferentes, desde que, naturalmente, suscitem a concordância dos respectivos Grão-Mestres. Não esqueçamos também a importância de que se reveste a visita que individualmente muitos maçons fazem a RR:.LL:. estrangeiras, para o que devem ser portadores do necessário passaporte maçónico.

Para o reforço destes laços, têm contribuído, e mais contribuirão, com o seu trabalho os Irmãos que são Garantes de Amizade, ou Grandes Representantes junto de ordens estrangeiras irmãs.

(Excerto do artigo "A actualidade da Maçonaria", da autoria do Mui Respeitável Grão Mestre da Grande Loja Legal de Portugal /GLRP, Alberto Trovão do Rosário, originalmente publicado em "O Aprendiz", Revista da Grande Loja Legal de Portugal / GLRP - Nova Série, Ano 6, n.º 25; este é o quarto de nove excertos que serão aqui publicados; o anterior foi publicado em 2/11/2006, sob o título "A Maçonaria hoje"; o próximo terá o título "Obreiros").

Rui Bandeira

03 novembro 2006

O MUSEU DO SILVA




Alguma vez ouviram falar no “Val Pequeno” ?
Pois é um lugar no concelho da Amadora, freguesia de S. Brás, à beira da estrada de ligação Pontinha-Caneças que separa os concelhos de Odivelas para um lado e Amadora para outro.
Val Pequeno calhou do lado da Amadora !
Ora bem... Val Pequeno vem à conversa porque quem segue estrada fora, se mantiver alguma atenção aos letreiros (mais que muitos), verá uma placa surpreendente, indicando o “Museu do Silva” !
Assim tal qual, “Museu do Silva”.

Fui até lá com a dúvida existencial que me acompanha desde que o AJJ se referiu ao Sr. Silva, na expectativa de que, finalmente havia descoberto o Silva...
Não foi assim, não acredito que seja este o tal Silva do AJJ.

O Museu do Silva é um espectacular repositório de recordações de um Casal que tendo nascido em Jales, Trás-os-Montes, trouxe para a grande cidade as recordações de infância e do tempo de trabalho no campo e nas minas, que sendo as suas recordações são simultâneamente parte da história do povo português, profundo como alguém costuma dizer de tudo o que não se refira a Lisboa ou Porto.

Albano Teixeira da Silva tem investido todo o tempo que lhe resta para além do emprego diário para alimentar a arte extraordinária de miniaturista, que “nocturnamente” desenvolve na sua mini-oficina ao canto do museu (50 m2 de arte das miniaturas), construindo as peças, os ambientes, os edifícios que marcaram a sua memória da vida em Jales.
Os moínhos, as máquinas de tratamento do centeio, do algodão, as minas de ouro, a escola onde aprenderam a ler, os animais que ajudaram ao trabalho na terra, fontanários, a igreja, a casa da tia,... os pormenores da vida da aldeia, a que existiu e a que ainda resiste.


Aconselho vivamente a visita.
Vão ver que vale a pena ser recebido pelo artista, Sr. Silva, ou pela esposa, companheira das recordações e da conservação deste museu da vida.
A visita ao museu, que é gratuita, é a única paga que o casal recebe pela disponibilização deste espaço de cultura a quem se lhes apresenta à porta.
Porque de resto tudo corre por conta dos próprios, sem subsídios, sem rendas, sem bilhetes de entrada.

Rua do Casal de Branco, 39
Casal da Mira - S. Brás
Tel. 214 939 330

Sábado e Domingo está aberto todo o dia.
Durante a semana convém marcar.

JPSetúbal