Os Landmarks da Maçonaria Regular: a Regra em 12 pontos
Em
inglês, "Land" significa "terra" e "mark"
traduz-se por "marca", "alvo". "Landmark" é,
assim, a marca, o sinal, na terra, e, mais especificamente, os sinais colocados
nos terrenos para assinalar a sua delimitação em relação aos terrenos vizinhos.
Em suma, "landmark" é, em português, o marco, no sentido de marco
delimitador de terreno.
Fazendo
a transposição para a Ordem Maçónica, Landmarks são, correspondentemente, os
princípios delimitadores da Maçonaria, isto é, os princípios que têm em
absoluto de ser intransigentemente seguidos para que se possa considerar
estar-se perante Maçonaria Regular.
Ou
seja, os Landmarks são o conjunto de princípios definidores do que é Maçonaria.
Só se pode verdadeiramente considerar maçom quem, tendo sido regularmente
iniciado, seja reconhecido como tal pelos outros maçons e observe os princípios
definidores da Maçonaria constantes dos Landmarks.
Porque
definidores do que é Maçonaria Regular, os Landmarks fixados são imutáveis.
Porém,
existe um problema: não existe uma lista “oficial” de Landmarks comum a todo o
mundo maçónico! São conhecidas várias listas de Landmarks, elaboradas por
maçons estudiosos e ilustres, mas… por muito estudiosos e ilustres que foram,
nenhum tinha mandato específico para fazer essa definição!
Há
listas de Landmarks elaboradas por Albert G. Mackey (25) , George Oliver (31), J.
G. Findel (9), Albert Pike (5), H. G. Grant (54), A. S. Mac Bride (12), Robert
Morris (17), John W. Simons (15), Luke A. Lockwood (19), Henrique Lecerff (29).
Estas
listas de Landmarks, repito, não vinculam senão os seus autores e espelham,
além dos seus conhecimentos, também os seus preconceitos e os das suas épocas.
É célebre, por exemplo, o Landmark 18 de Mackey que, além de afirmar a
masculinidade da Maçonaria, impõe que nem escravo nem aleijado possa ser
admitido maçom. Perante o evidente preconceito de Mackey, fruto da época e
ambiente em que vivia, modernamente faz-se uma interpretação “habilidosa” do
Landmark e postula-se que o maçom deve ser “livre de vícios” e não deve ser
“aleijado de caráter”. Mas, meus caros, não foi isso que Mackey quis dizer e
disse: Mackey escreveu que “os candidatos à Iniciação devem ser “isentos de
defeitos ou mutilações, livres de nascimento e maiores”. Manifestamente que se
referia a defeitos e mutilações físicas, não morais. Evidentemente que, para
ele, ser “livre de nascimento” não tinha nada a ver com ser nascido livre de
vícios (pois todos nascemos sem vícios – quem os tem, adquire-os mais tarde),
antes se referia a não ter nascido escravo. Repare-se que nem sequer os
escravos libertos, segundo Mackey, podiam ser maçons… Percebe-se talvez assim
porque é que algumas Grandes Lojas do Sul dos EUA, ainda eivadas de muito
racismo, continuam a defender que Prince Hall não foi validamente iniciado
maçom, pois o homem foi escravo liberto…
Nos
tempos de hoje, com a evolução de mentalidade que (felizmente) houve no último
século, esta postura preconceituosa não pode ser admitida. Daí a interpretação
“habilidosa” a que me referi. Mas, se os Landmarks são imutáveis, então tem
igualmente de o ser a sua interpretação! Logo, não há que interpretar
habilidosamente o Landmark 18 de Mackey. Há que, pura e simplesmente afirmar,
alto e bom som e de cabeça levantada, que aquilo não é Landmark nenhum, e ponto
final!
Algumas
Grandes Lojas optaram por criar listas de Landmarks próprias. É o caso, por
exemplo, das Grandes Lojas de New Jersey (10), do Tennessee (os 15 de John W.
Simons), do Connecticut (os 19 de Luke A. Lockwood), do Minnesota (26), do
Massachussets (8), do Kentucky (os 54 de H. G. Grant) e a Grande Loja Ocidental
de Colômbia (20).
Na
Europa, a Grande Loja Nacional Francesa codificou o que designou de “Regra em
12 pontos”, pela qual definiu o que se contém dentro do conceito de Maçonaria
Regular – ou seja, definiu os seus Landmarks da Maçonaria Regular (http://www.glnf.fr/fr/Regle-en-douze-points-franc-maconnerie-238).
Que
tem isso de diferente ou especial, uma vez que, como acima referi, várias
outras Grandes Lojas fizeram o mesmo? A diferença – de que o tempo se
encarregará de nos mostrar a sua real relevância – é que, enquanto cada uma das
Grandes Lojas da América que fixaram Landmarks o fizeram por si e sem
preocupações de alinhamento ou partilha com as demais, a iniciativa da GLNF tem
conduzido a um movimento de expansão da Regra dos 12 Pontos, de aceitação desta
codificação de Landmarks por outras Obediências.
A
Grande Loja Legal de Portugal/GLRP adotou também a Regra em 12 Pontos (https://www.gllp.pt/index.php/as-doze-regras-da-maconaria-regular). A Grande Loja de Espanha assim o fez também (http://gle.org/la-regla-en-12-puntos/). Mas o movimento não é só europeu. Várias Grandes
Lojas africanas de países de expressão francesa também adotaram a Regra em 12
pontos, designadamente a Grande Loja Nacional Togolesa (http://glnt.tg/
e aí ir a Les principes fondamentaux/ La règle en 12 points). Também a Grande
Loja de Moçambique adotou a Regra em 12 pontos (a GL de Moçambique não tem
ainda sítio na Internet; têm de acreditar na minha palavra…).
A
Regra em 12 pontos, verdadeiros Landmarks da Maçonaria Regular, vai sendo
progressivamente adotada por Obediências Regulares da Europa e de África. É
tempo de a divulgar junto dos Irmãos da América Latina – talvez no âmbito da
Confederação Maçónica Interamericana.
Rui Bandeira
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