Regras Gerais dos Maçons de 1723 - III
O Mestre de cada Loja, ou um de seus Vigilantes, ou algum outro Irmão, por sua ordem, deve manter um livro contendo o regimento interno, os nomes de seus membros, uma lista de todas as Lojas da cidade, a hora e local das suas Sessões, e tudo o que for necessário e deva ser registado.
Esta terceira Regra, este terceiro Antigo Uso e Costume, define o que é uma das caraterísticas essenciais da organização de uma Loja maçónica: o registo escrito do essencial da vida da Loja.
A existência de registos escritos referentes a Lojas operativas remonta aos finais do século XIV (o mais antigo documento conhecido é o manuscrito Regius, também por vezes referido como manuscrito Halliwell). Efetuada a transição para a Maçonaria Especulativa, é rotina assente a elaboração de atas, a manutenção do registo de obreiros, a existência de regulamento interno escrito, etc..
Hoje em dia todas as Lojas têm um responsável específico para assegurar a elaboração e manutenção dos registos da sua atividade, bem como a correspondência da Loja, o Secretário. O Secretário da Loja é, como a maior parte dos oficiais do Quadro (oficiais por exercerem ofícios, tarefas, específicos; não no sentido de detentores de postos de comando), por regra designado pelo Venerável Mestre, pelo período do mandato deste, do seu veneralato, salvo necessidade de substituição.
Não deixa de ser curioso e significativo que uma instituição que é tão acusada pelos seus detratores de secretismo tenha tanto cuidado no registo escrito, e respetiva manutenção, da sua atividade. Claro que os indefetíveis detratores da Maçonaria clamam que esses registos não são públicos, são ciosamente guardados pelos maçons, pelo que isso em nada afeta a real existência do nefando secretismo. Assim não é: os registos da atividade maçónica têm o mesmo estatuto legal que os registos da atividade de uma qualquer banal sociedade filarmónica ou clube recreativo. Estão abertos à consulta dos membros da organização e daqueles que tenham motivo justificado para tal. Só não estão disponíveis para inconsequentes impulsos voyeuristas ... E, no estrito cumprimento da legalidade vigente, estão disponíveis para consulta, leitura, verificação, análise, perícias, tudo o que necessário e legal for, das autoridades competentes - dentro da lei e desde que a lei seja cumprida.
Tal como a documentação privada de qualquer cidadão, conservada na sua casa, não pode ser objeto de devassa sem a emissão por juiz competente do devido mandado de busca, também os maçons não autorizam que os seus documentos sejam vistos ou devassados fora do legal condicionalismo que determine essa consulta. Mas qualquer pessoa que de boa fé esteja percebe que isto nada tem a ver com secretismo, antes respeita à simples e corriqueira tutela da privacidade dos cidadãos que os maçons são.
Os detratores da Maçonaria clamam contra o falado secretismo dela, mas guardam ciosamente para si (e fazem muito bem e têm todo o direito de guardar e é normal que o façam) os seus números de contribuinte, números e extratos das suas contas bancárias, as palavras-passe de acesso à sua banca eletrónica e aos seus clientes de e-mail e a sua correspondência particular... Dois pesos e duas medidas...
Pois bem: que todos fiquem, de uma vez por todas, a saber que, em matéria de registos das suas atividades e dos seus membros, a Maçonaria não é diferente de qualquer sociedade recreativa!
Há cerca de trezentos anos que, rotineiramente, nas Lojas maçónicas de todo o mundo, se elaboram e guardam atas das reuniões, se elaboram e conservam trabalhos apresentados, lidos e discutidos em Loja. Não admira que todo esse enorme acervo documental constitua espólio que é objeto de estudo de historiadores, maçons e profanos, historiadores da História da Maçonaria ou historiadores tout court. Assim é possível conhecer pérolas como a ata da sessão em que ocorreu a iniciação de Wolfgang Amadeus Mozart, mas também quando e para que sessões foram escritas algumas emblemáticas obras do genial compositor.
Tal como é possível afirmar, sem sombra de dúvida - porque tal está registado em uma ou mais atas -, que personagens famosos, artistas relevantes, cientistas insignes, foram maçons. Apenas com uma ressalva: os maçons acham que essa divulgação deve ser como a toponímia - não se deve utilizar em relação a quem ainda está vivo...
Fonte:
Constituição de Anderson, 1723, Introdução, Comentário e Notas de Cipriano de Oliveira, Edições Cosmos, 2011, página 137.
9 comentários:
Boas @Rui.
Quando os maçons passam ao Eterno Oriente, essa info é armazenada em alguma sede ou local Proprio?
Ficará no GOL/GLLP/GLRP em suas Bibliotecas ou museus?
Nuno
@ Streetwarrior:
Nuno,
Sim, a Loja regista a ocorrência e o registo fica nos respetivos arquivos. Por sua vez, comunica à Grande Secretaria da Grande Loja o facto, que procede de igual modo.
Por norma, toda a vida maçónica de um maçom, desde o seu início (Iniciação), ao seu percurso (Passagem e Elevação, eventual Instalação)ao seu término fica registada na documentação própria para o efeito.
Daí que os arquivos maçónicos constituam acervo importante para investigação histórica - mormente no que à Maçonaria diz respeito, mas não só (por exemplo, o registo de um obreiro numa Loja de uma certa região permite concluir que determinada pessoa ali viveu ou frequentou essa região, e qual o período em que o fez).
Sem duvida importante para uma melhor interpretação histórica.
Mas...e quem pode aceder a essa informação? Só Maçons?... tirando ocorrencias judiciais que presumo, deverão poder ocorrer sem qualquer entrave.
Tipo...se um historiador pretender realçar a vida de certa pessoa que por acaso também ela era maçon?
Pareceu-me ter lido em algum local que o acesso ao museu do GOL só poderá ser feito por maçons, sai a questão.
Nuno
Não é " sai a questão" mas sim..."dai a questão " .
@ Streetwarruir:
Nuno,
quanto ao GOL e ao seu museu, não lhe sei responder em concreto. Mas não me faz muito sentido que um museu seja de acesso restrito...
O museu e biblioteca da Grande Loja Unida de Inglaterra são de acesso universal. Aliás, eles organizam mesmo visitas guiadas ao Edifício da GLUI, incluindo a visita ao Grande Templo, com capacidade para 2.000 pessoas, e essas visitas têm a particularidade de todos os visitantes se registarem, os maçons num livro e os profanos noutro.
Tanto quanto sei, a prática de acesso a documentos não envolvendo pessoas vivas é de livre acesso a historiadores e acesso a outros interessados mediante eslarecimento da razão do interesse e consideração de ser o mesmo atendível. Só os documentos envolvento pessoas vivas são de acesso reservado unicamente a maçons ou, naturalmente, mediante determinação judicial.
@Streetwarrior,
o Museu do GOL é acessível a qualquer pessoa. Basta aparecer dentro do seu horário de funcionamento. Não sendo maçom aconselho a contato prévio, mas nada o impedirá de o visitar.
Aliás é uma visita interessante.
Boas @Nuno
Eu sinceramnete não recordo bem mas penso que li qualquer coisa no Site do Grémio Lusitano que ou seria a Biblioteca ou o museu que a sua entrada seria restrita.
No entanto, não consigo confirmar agora visto que o Site parecec estar em manutenção.
Obrigado
Nuno
@Streetwarrior,
é possível a qualquer cidadão visitar o museu maçónico do GOL. Basta ligar para lá e informar que pretende o visitar. Sei que é de tarde que ele funciona. E vale bem a cerca de uma hora que leva no máximo a visitar.
Sim, Nuno, tenho curiosidade em visitar o espaço, até pelo gosto que nutro por estes assuntos.
Já o disse várias vezes e não tenho qualquer problema em assumir que algumas das minhas posições se alteraram, não todas...mas algumas.
Obrigado Nuno
Nuno
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