25 maio 2011

Maçonaria e Filosofia Pitagórica - o CINCO

A partir do ponto do UM e da linha do DOIS emergiu a superfície do triângulo regular do TRÊS e depois o volume da pirâmide quadrangular, de base quadrada, do QUATRO. Com a pêntade, acima representada, os pitagóricos representaram o CINCO. O CINCO não é representado por uma forma geométrica regular clássica, antes por uma forma complexa (uma estrela de cinco pontas inscrita num pentágono regular, por sua vez inscrito num círculo, o qual está inscrito na vesica piscis). A representação gráfica do CINCO abandona a sequência lógica que verificámos anteriormente. Do ponto nasceu a reta, desta a superfície e desta o volume. Mas a pêntade, ou pentagrama estrelado, não parte de nenhum ponto central, nem da reta da díade ou do triângulo da tríade e muito menos da pirâmide da tétrade. A pêntade quebra com a sequência lógica. No entanto, olhando para o símbolo, temos uma sensação de harmonia, de que este símbolo evolui logicamente dos anteriores, embora nos escape essa lógica...

A resposta a esta perplexidade encontra-se se não esquecermos e tivermos presente que os pitagóricos encaram os números como a essência de tudo o que existe. O UM (a mónade, o ponto) é a essência do Princípio Criador; o DOIS (a díade, a linha) é a essência da atividade concretizadora do Princípio Criador; o TRÊS (a tríade, o triângulo regular, a superfície) a essência do resultado da união do Principio Criador e da sua atividade, a Criação; o QUATRO (a tétrade, o quadrado, o volume da pirâmide quadrangular de base quadrada) é a essência do resultado do ato da Criação, o Universo. O CINCO (a pêntade, o pentagrama estrelado) é a essência de quê? Basta pensarmos um pouco para vermos claramente a sequência lógica, o que se segue: a Vida!

A Vida é complexa, ilógica, imprevisível; no entanto, profundamente lógica e harmónica. É bela como o pentagrama estrelado, complexa como a sua emergência geométrica, livre, nascendo fora dos cânones antecedentes, singularmente harmónica como a imagem da pêntade.

O CINCO pitagórico simboliza a VIDA, passo seguinte após a Criação do Universo.

Na Natureza, o pentagrama estrelado aparece por toda a parte: repare-se na estrela-do-mar; na disposição das sementes no interior de uma maçã. O valor CINCO aparece também com frequência na Natureza, desde as simples cinco pétalas de uma flor à quantidade de dedos que temos em cada mão e em cada pé e ao número dos nossos sentidos.

Na Antiguidade, a pêntade era reverenciada e a sua construção geométrica mantida secreta (o hábito do secretismo vem de longe...). Os pitagóricos usaram a pêntade como um sinal secreto para se reconhecerem uns aos outros (onde é que eu também já vi isto...?). A construção desta forma geométrica foi mantida secreta e oralmente transmitida muito depois de a Escola Pitagórica ter desaparecido: as guildas de artesãos que usavam o seu simbolismo nas catedrais góticas não escreviam acerca dela. O método de construção do pentagrama estrelado só veio a ser publicamente revelado a artistas e filósofos pelo professor de Leonardo da Vinci, Luca Pacioli, no seu livro Divina proportione.

A Maçonaria herdou diretamente esta simbologia da pêntade e aplica-a particularmente no grau de Companheiro, o tempo em que o maçom se deve especialmente dedicar ao estudo da Natureza e sua leis, de tudo o que é construído, de tudo o que o homem aprendeu. Em Maçonaria, o CINCO é assim associado ao Companheiro maçom.

Fonte:

O Código Secreto, Priya Hemenway, ed. Evergreen, 2010.

Rui Bandeira

4 comentários:

Nuno Raimundo disse...

Boas...

O Pentagrama sempre foi um simbolo de energia positiva, que veio a ser degenerado no principio do sec. XX por correntes satanicas da Igreja de Anton LaVey. A partir dessa época tudo o que é associado ao Pentagrama passou a ser negativo, tal como o que se passou com a cruz gamada ou suástica.
Devido a essa utilização abusiva de forma negativa, se "estragou" um dos simbolos mais belos da Geometria, cujo significado simbólico nos envolve.
TAF

Jocelino Neto disse...

Caro Nuno,

O que vem a ser corrente satanica? Onde ocorre a degeneração? Como se dá esta "utilização abusiva de forma negativa"?

Obviamente por não compreender, com efeito, me vem a tese de que tais conceitos são possíveis projeções da sombra (evoco o referencial junguiano).

O que me diz? Aliás, o que me dizem?

:-)

Abraços Fraternos.

À Glória do Grande Arquiteto!

Nuno Raimundo disse...

Boas Jocelino,

Quanto a Jung, pouco ou nada sei. Alias a Psicologia não é ed todo a minha área.
Quanto às correntes satanicas e possiveis origens, como o tema do post não é esse, e como estou em "casa alheia" e tal comentário seria enorme, e assim sendo, seria imprucedente e indelicado da minha parte; prefiro sugir ao Jocelino uma rápida search no Google, procurando por "Anton LaVey". Que o meu amigo facilmente retirará a dúvida ;)

Abraços

Jocelino Neto disse...

Caro Nuno,

Preliminarmente ao envio de meus questionamentos já havia realizado a pesquisa que sugere. Porém o assunto é polêmico e recheado de controvérsias.

Objetivando colher opiniões "sensatas" trouxe a vossa consideração tais dúvidas, que apesar de não serem parte do tema principal, surgiram de forma tão espontânea quanto teus apontamentos.

Percebo ainda que surge a oportunidade em desmistificar a associação nociva (em minha profana opinião) que grande parte da coletividade ainda realiza entre a "escola" de Lavey e a Maçonaria, tendo o pentagrama como este possível elemento de conexão.

Fica a sugestão.

Abraços Fraternos.

À Glória do Grande Arquiteto!