12 janeiro 2011

Origem e primórdios do Rito Escocês Antigo e Aceite - Introdução

O Rito Escocês Antigo e Aceite é hoje um dos mais praticados ritos maçónicos no Mundo. Milhares e milhares de maçons o executam. Os seus ensinamentos são objeto de reflexão. As suas cerimónias tocaram e tocam o coração dos que neste rito trabalham. Embora com as normais variantes locais, é hoje um rito estabilizado, em que cada um, independentemente da sua língua ou da especificidade nacional, em qualquer parte do mundo o reconhece e facilmente se integra na sua execução. No entanto, poucos conhecem a sua origem e as vicissitudes dos seus primórdios - no fundo, aquilo que fez deste rito o que ele é hoje.

Nos Estados Unidos - apenas com a residual exceção de meia dúzia de "lojas vermelhas" na Louisiana - o Rito Escocês Antigo e Aceite não é praticado nos três graus simbólicos (Aprendiz, Companheiro e Mestre), existindo apenas como Sistema de Altos Graus, os chamados graus filosóficos. Na Europa, na América Latina e um pouco por todo o resto do Mundo, porém, o Rito Escocês Antigo e Aceite é trabalhado nos três primeiros graus (graus simbólicos) em Lojas agrupadas em Grandes Lojas ou Grandes Orientes, dedicados apenas ao trabalho nos "graus da Ordem" (Cratf degrees), os ditos três primeiros graus, ou graus simbólicos, de Aprendiz, Companheiro e Mestre, e nos restantes graus em Lojas, Capítulos ou Conselhos de Altos Graus ou graus filosóficos, normalmente sob a égide de Supremos Conselhos do Rito.

Que originou esta diferença?

E porque é que o Rito é Escocês? Terá sido por ter sido criado na Escócia? Terá - como algumas lendárias teses ciclicamente ressurgidas defendem - alguma coisa a ver com a mítica e escocesa Rosslyn Chapel e os não menos míticos Cavaleiros Templários alegadamente fugidos para aquele País, na sequência da destruição da Ordem do Templo pelas atuações conjugadas de Filipe IV, dito o Belo, mas certamente não de caráter, e do Papa Clemente V, que de clemente bem pouco teve?

E porque é que é Antigo? Porque existe desde tempos imemoriais, evoluindo em linha direta desde os tempos dos Mistérios egípcios, passando pelos geómetras gregos, pelos Cruzados e desembocando nos humildes canteiros europeus, pelo ramo popular, e nos orgulhosos Cavaleiros, pela via nobiliárquica? Ou simplesmente será Antigo por oposição a algo que era considerado Moderno?

E porquê Aceite? Em contraposição a algo que o não era? Ou tem esta designação algo a ver com os cavalheiros que, não sendo trabalhadores do ofício da construção em pedra foram aceites nas Lojas reguladoras do dito ofício?

E é tal Rito uma criação de alguém determinado, designadamente o também mítico Cavaleiro Andrew Michael Ramsay, ou simplesmente Chevalier Ramsay, ou resulta de contribuições dispersas?

Foi propositadamente estruturado e organizado? Ou é o resultado, o que sobreviveu, de uma confusa proliferação de ritos e graus?

Cada cabeça, sua sentença! Muitas lendas, bastantes interpretações ad hoc e considerações que na realidade no sei veras, embora nos atraiam por serem bene trovatas por aí pululam relativamente ao REAA.

Não sou historiador. Não estou por isso capacitado para dar uma versão cientificamente fundada dos factos que deram origem ao rito. Mas, sendo um leitor compulsivo e voraz e tendo-me habituado a pensar pela minha cabeça, penso poder dar uma opinião não demasiadamente infundamentada de como realmente apareceu e se estruturou o rito, procurando destrinçar factos de lendas, sucessos de especulações, acontecimentos de ficções.

E, por falar em factos, estabeleça-se já o primeiro: o Rito Escocês Antigo e Aceite estruturou-se ao longo do século XVIII e fixou-se na sua forma muito semelhante à atual no início do século XIX.

Como e em que circunstâncias, é o que começarei a tentar explicar a partir do próximo texto.

Rui Bandeira

6 comentários:

Vendado disse...

Caro Rui Bandeira,

Nestes últimos tempos tenho vindo a ler sobre Maçonaria e uma das coisas que me faz alguma confusão é precisamente sobre os Ritos. Leio várias vezes que todos (os Ritos) vão dar ao mesmo lugar; já ouvi dizer que os Ritos eram irrelevantes para o Maçon porque só provocam uma mudança de materiais expostos em Loja, bem como o contrário deste ultimo conceito. Tenho certezas que esta cadeia de tópicos irá esclarecer-me muito a respeito!
Aguardarei ansioso pelos próximos posts a respeito do REAA.
Obrigado.

Abraço

Jocelino Neto disse...

Há muito anseio por uma luz certa (em meio a lampejos) sobre o assunto. Agradeço, Mestre Rui, a oportunidade.

Abraços Fraternos!

Rui Bandeira disse...

@ Vendado:

Um rito é um conjunto sistemático de cerimónias. Para a execução de cada uma delas segue-se um ritual, ou seja, um conjunto ordenado de palavras e gestos.

O objetivo da Maçonaria é o aperfeiçoamento individual do maçom. Os ritos são formas organizadas de, utilizando mensagens simbólicas e vivenciadas,auxiliar esse processo.

Tal como se pode ir a Roma por diversos caminhos, também se pode percorrer a via do aperfeiçoamento através de diversos ritos.

@ Jocelino:

Espero que esta série de txtos lhe seja esclarecedora.

Jorge disse...

Caro Rui, é notável o vosso trabalho. Obrigado pela partilha! As vossa pranchas deveriam ser obrigatóriamente lidas em L:.. Que a mão não vos doa, o templo está cada vez mais belo, e perfeito!

Abçs.
Jorge

Rui Bandeira disse...

@ Jorge:

Muito obrigado pelas suas palavras.
Aqui procuramos esclarecer, informar, dar a nossa opinião, em benefício de quem o pretnda.

Só uma pequena nota: em Maçonaria, as únicas obrigações são as que cada um aceita, toma ou estabelece para si próprio.

O resto... são devoções...

Um abraço!

Jorge disse...

Obrigado Rui. Deveria ter dito, "por decreto". Da minha parte, faço questão de partilhar e pôr à discussão com todos os I:.s da minha L:..(L.N. nª 21)as as vossas magníficas pranchas.
Sempre "devoto", e leitor compulsivo.
Abraço.
Jorge