01 setembro 2010

A Cadeia de União


Em todas as reuniões das Lojas que trabalham no Rito Escocês Antigo e Aceite (mas não só neste rito: por exemplo, também no Rito de Schröder) se reserva um momento para que todos os maçons presentes formem a Cadeia de União.

É um dos momentos marcantes da reunião: ao formarem e integrarem a Cadeia de União, os maçons relembram que cada um individualmente faz parte de um Conjunto. Conjunto que é mais forte do que a mera soma das forças individuais, porque a todas estas se agrega a força da união de todos.

A Cadeia de União simboliza e demonstra ainda o princípio fundamental da plena Igualdade dos maçons. Todos os presentes, desde aquele que dirige a Loja ao mais recente Aprendiz se unem, na mesma exata e igual postura, cada um mero elo de uma cadeia. Não há, naquele momento, distinção alguma, não se atende a graus, a funções, a antiguidades. Todos iguais em comunhão!

É um momento de reflexão, de solidariedade, de união, em que cada um sente que contribui para o grupo - mas também sente que beneficia da força comum do grupo.

A Cadeia de União forma-se perto do final dos trabalhos, já depois de finalizados os debates da ordem do dia. Por muito acesos que tenham sido esses debates, por muito díspares que tenham sido as opiniões formuladas, por muito distantes que porventura estivessem as conceções confrontadas, o debate já terminou, a decisão já foi tomada, ora uma bissetriz traçada com as contribuições de todos, ora uma opção que não será a de todos. Mas todos contribuíram, leal e esforçadamente, para a assunção da decisão, contra a qual nenhum militará. Todos se reúnem na cadeia de União, onde não há lugar a desacordos, pontos de vista ou discordâncias: cada um assume a sua função de elo de uma cadeia, igual a todos os outros elos, solidário com todos os outros elos. De muitos, e diferentes, se faz um, o grupo, o conjunto.

A Cadeia de União é a expressão da rara capacidade que os maçons adquirem e praticam: conformar e utilizar a diversidade para o bem e o objetivo comum. Todos são diferentes, todos colocam as suas diferenças em prol do grupo, todos são ali iguais.

A Cadeia de União é a prática sempre repetida, que, em iguais proporções, reforça o elemento "cadeia" (cada um é um elo, uma peça de um conjunto) e "união" (todos juntos, todos em comum, solidários).

A Cadeia de União é uma prática pela qual se forma, reforça e assinala a coesão do grupo. Nos momentos em que o grupo assim se une, desvanecem-se os individuais egos, avulta o coletivo, na busca de uma egrégora fortalecida e fortalecedora. Todos os espíritos se unem no mesmo objetivo, na mesma intenção, na mesma prece, na mesma celebração, seja o que for, mas o mesmo...

A Cadeia de União é um gesto, mas é muito mais do que um gesto. É parte integrante do nosso segredo de maçons, não porque guardemos ciosamente a notícia da sua existência (este texto prova o contrário...), mas porque é realmente impossível explicar a quem nunca participou numa Cadeia de União o efeito, a paz, a comunhão, a força, que produz nos membros de uma Loja assim unidos. É um gesto, mas é muito mais do que um gesto. E o seu significado só é plenamente apreendido por quem nele participa, uma e outra e ainda outra vez e muitas vezes. É um significado que não se ensina. Aprende-se vivendo-o!

Fora de Loja, só se forma Cadeia de União em homenagem fúnebre a maçom que passou para o Oriente Eterno. E aí, então, têm lugar como elos nessa cadeia todos aqueles que se reclamam de ser maçons. Aí não importam reconhecimentos, nem regularidades, nem nada dessas miudezas. Aí, pessoas de boa vontade e com muito em comum homenageiam uma pessoa de boa vontade que nos precedeu no caminho que todos trilharemos.

Rui Bandeira

6 comentários:

Diogo disse...

Caro Rui,

A Cadeia de União é uma forma de comunhão que pode ser observada nas orações de membros de uma igreja, de uma bebedeira de uma companhia militar que acaba de ganhar uma batalha, ou dos cânticos de adeptos de um clube de futebol.

A questão é: o que comunga a Maçonaria? Rituais e símbolos secretos?

Abraço

Rui Bandeira disse...

@ Diogo.

Aparentemente a sua primeira frase pode parecer correta. Mas, se ler bem o texto, poderá compreender que a comunhão gerada na Cadeia de União dos maçons é bem mais profunda do que resultante a bebedeira militar ou do frenesim de adeptos de futebol.

Quanto à comparação com as orações de membros de uma igreja, também existe uma diferença fundamental: é fácil sentir-se unido a quem pensa como nós; não é tão comum tal união entre quem professa convicções religiosas diversas... E esta é uma singularidade a reter.

Quanto à sua pergunta: a Maçonaria comunga de um conjunto de princípios éticos conducentes ao crescimento individual e coletivo dos Homens, em Liberdade, Igualdade e Fraternidade, baseados numa postura privilegiadora da Tolerância, aceitação e integração das diferenças individuais, em prol do enriquecimento coletivo.

Quanto aos "rituais e símbolos secretos" são meros acessórios formais, "roupagem2 que envolve o essencial. Não merecem a importância que - manifestamente - o Diogo, tal a sua obsessão e insistência nestes ponto, lhes dá. Diga-me, Diogo: o que é importante? O Diogo ou a roupa que o Diogo veste? Ou será que o Diogo é daqueles que acha que é o hábito que faz o monge?

Jocelino Neto disse...

O elo não acorrenta. Conforta. Não oprime. Reforça. O Ser individual pulsa por vezes descompassado, mas em seu tempo, harmoniza-se, pois a união desperta a consciência, a integridade. Contempla-se a paz diante a comunhão pelo Espírito.Há parte. Há todo. Há.

Candido disse...

Viva Rui
"A Cadeia de União é uma prática pela qual se forma, reforça e assinala a coesão do grupo."
Caro Rui, não podia estar mais de acordo com esta definição, é isto mesmo! Em qualquer tipo de grupo seja de que natureza for. Reforça o espirito de coesão e motiva o cumprimento da missão. Já o pratiquei na vida profissional para o "goal" em projectos que envolvia a coesão de todos.
Quanto a ser uma forma de comunhão na bebedeira ou comemoração, acho que é também uma cadeia mas sem o mesmo espírito.

"Quanto à comparação com as orações de membros de uma igreja, também existe uma diferença fundamental: é fácil sentir-se unido a quem pensa como nós; não é tão comum tal união entre quem professa convicções religiosas diversas... E esta é uma singularidade a reter."

Sendo a Cadeia de União o contacto físico é reconfortante para os que divergem, pois mesmo assim senten-se próximos e aos menos preparados ou mais fracos que se sentem iguais. É verdade para os mais fortes que lhes trava a arrogância.
É portanto um gesto fundamentalmente de reforço psicologico do grupo pelo contacto fisico. Quem quiser ver pelo lado espritual, também não traz mal ao mundo.
Abraço

Unknown disse...

Felicito por ter aqui quanto a mim, pequeno neste assunto, um excelênte post, teóricamente elucidativo.

Obrigado
VBM

Katia Maria Averaldo Guimarães disse...

Prezado Rui, admiração pela sua postura e pela resposta inquestionável.