O silêncio do Companheiro
O Companheiro continua ainda sujeito à regra do silêncio. Não intervém em Loja, salvo quando é dispensado do dever de silêncio para apresentar uma prancha.
Em relação aos Aprendizes, já no texto O silêncio do Aprendiz procurei explicar a razão de tal determinação e as vantagens que a mesma traz para o Aprendiz. As mesmas razões valem para o Companheiro. Embora num estádio mais avançado, o Companheiro encontra-se ainda num processo de evolução, de formação. O silêncio permite-lhe a necessária concentração. A desnecessidade de intervir liberta-o para mais bem se focar no seu trabalho. E mais rapidamente estará pronto para a Elevação a Mestre.
Um Companheiro já não é um Aprendiz e por isso efectua já um trabalho diferente. E percebe que não é já tão proximamente acompanhado. A sua autonomia na Arte Real vai-se criando, a sua evolução vai depender cada vez mais de si mesmo e cada vez menos do auxílio dos Mestres. Sente-se cada vez mais próximo destes, cada vez mais como estes. E assim deve ser. O objectivo é que cada maçon seja Mestre de si mesmo, por si mesmo, com as suas próprias forças e capacidades.
Mas um Companheiro não é ainda um Mestre. Ainda tem um caminho a percorrer. Cada vez se sente mais seguro nesse caminho, mas ainda tem de o fazer. Por isso, ainda não tem a prerrogativa, dos Mestres, do uso da palavra em sessão.
O silêncio do Companheiro vai-se-lhe tornando progressivamente mais penoso. Porque se vai sentindo mais capaz. Porque, em cada sessão vai cada vez mais sentindo que teria algo de útil a dizer, a contribuir. Mas a penosidade é um preço que normalmente se tem de pagar para atingir o que vale a pena!
Também para a Loja cada vez é mais penoso o silêncio do Companheiro. Dia a dia, todos vão sentindo a sua evolução. Dia a dia, todos vão notando que teriam algo a ganhar com a contribuição deste Irmão. Dia a dia vêem o maçon iluminar-se e o profano de antanho esmaecer. Dia a dia anseiam pelo dia em que finalmente ouvirão o maçon em Loja. Mas esse é o preço que o grupo deve pagar para ter mais um elemento válido e que cooperará no aperfeiçoamento de todos e de cada um.
O Companheiro e a Loja vão sentindo que aquele cada vez soletra menos e lê e escreve melhor. Mas um e outra esperam pacientemente pelo momento em que a voz se erguerá lendo com a perfeição que humanamente seja possível atingir. Porque um e outra não desejam, não buscam menos do que isso!
O silêncio do Companheiro é uma ajuda no início desta fase, um desconforto a meio, um fardo no final. Todos o percebemos. E quando vemos esse fardo a pesar, sabemos que a hora está a chegar, que a crisálida vai muito brevemente metamorfosear-se. E a Elevação acontece naturalmente.
O silêncio do Companheiro é a sua preparação para a sua Elevação a Mestre. Para que, quando tiver direito a usar da palavra, já saiba quando se deve calar! Para que entenda perfeitamente o valor da Palavra e a valia do Silêncio. Então estará pronto!
Rui Bandeira
Em relação aos Aprendizes, já no texto O silêncio do Aprendiz procurei explicar a razão de tal determinação e as vantagens que a mesma traz para o Aprendiz. As mesmas razões valem para o Companheiro. Embora num estádio mais avançado, o Companheiro encontra-se ainda num processo de evolução, de formação. O silêncio permite-lhe a necessária concentração. A desnecessidade de intervir liberta-o para mais bem se focar no seu trabalho. E mais rapidamente estará pronto para a Elevação a Mestre.
Um Companheiro já não é um Aprendiz e por isso efectua já um trabalho diferente. E percebe que não é já tão proximamente acompanhado. A sua autonomia na Arte Real vai-se criando, a sua evolução vai depender cada vez mais de si mesmo e cada vez menos do auxílio dos Mestres. Sente-se cada vez mais próximo destes, cada vez mais como estes. E assim deve ser. O objectivo é que cada maçon seja Mestre de si mesmo, por si mesmo, com as suas próprias forças e capacidades.
Mas um Companheiro não é ainda um Mestre. Ainda tem um caminho a percorrer. Cada vez se sente mais seguro nesse caminho, mas ainda tem de o fazer. Por isso, ainda não tem a prerrogativa, dos Mestres, do uso da palavra em sessão.
O silêncio do Companheiro vai-se-lhe tornando progressivamente mais penoso. Porque se vai sentindo mais capaz. Porque, em cada sessão vai cada vez mais sentindo que teria algo de útil a dizer, a contribuir. Mas a penosidade é um preço que normalmente se tem de pagar para atingir o que vale a pena!
Também para a Loja cada vez é mais penoso o silêncio do Companheiro. Dia a dia, todos vão sentindo a sua evolução. Dia a dia, todos vão notando que teriam algo a ganhar com a contribuição deste Irmão. Dia a dia vêem o maçon iluminar-se e o profano de antanho esmaecer. Dia a dia anseiam pelo dia em que finalmente ouvirão o maçon em Loja. Mas esse é o preço que o grupo deve pagar para ter mais um elemento válido e que cooperará no aperfeiçoamento de todos e de cada um.
O Companheiro e a Loja vão sentindo que aquele cada vez soletra menos e lê e escreve melhor. Mas um e outra esperam pacientemente pelo momento em que a voz se erguerá lendo com a perfeição que humanamente seja possível atingir. Porque um e outra não desejam, não buscam menos do que isso!
O silêncio do Companheiro é uma ajuda no início desta fase, um desconforto a meio, um fardo no final. Todos o percebemos. E quando vemos esse fardo a pesar, sabemos que a hora está a chegar, que a crisálida vai muito brevemente metamorfosear-se. E a Elevação acontece naturalmente.
O silêncio do Companheiro é a sua preparação para a sua Elevação a Mestre. Para que, quando tiver direito a usar da palavra, já saiba quando se deve calar! Para que entenda perfeitamente o valor da Palavra e a valia do Silêncio. Então estará pronto!
Rui Bandeira
12 comentários:
Surgiu-me, quanto a este assunto, uma dúvida, baseada em factos que me foram contados. Sucedeu discutir-se em loja uma questão que tinha que ver com um contrato. O único advogado presente, que teria informação importante a dar, manteve-se em silêncio por não ser Mestre.
Não estava em causa este dar a sua opinião, mas tão-somente transmitir informação factual e estritamente técnico-jurídica. Por esta não ser conhecida por quem podia falar, a decisão tomada foi objectivamente má.
Após o encerramento dos trabalhos lá passou a informação. Contudo, a decisão estava já tomada.
Como deve fazer-se num caso destes?
Um abraço,
Simple Aureole
Eu nao intendo tudo o asunto do que escreve, mas parece que o nivel tem que ser ja alto para ganhar esses intengimentos. O ar fica menos oxegenado e os movimentos mais finos nas alturas.
@ simple:
Como advogado, devo dizer que a opinião com essa certeza só pode ter surgido porque havia apenas um advogado presente. Se lá estivessem dois, haveria certamente três opiniões diferentes: a de um, a do outro e aquela a que ambos chegariam - e possivelmente nenhuma delas seria aceite pelo Juiz...!!!
Mais a sério: no meu entendimento, uma sessão ritual de Loja não é propriamente o tempo, o modo e o lugar mais adequados para se discutir um contrato... Esse é um assunto eminentemente profano e que, por regra, deve ser deixado à porta do Templo.
Mas, se se entendeu por bem discutir um contrato em sessão ritual de Loja, então, nas circunstâncias descritas, o Companheiro advogado com "informação factual e estritamente técnico-jurídica" para dar, podia, em voz baixa, dar conta desse facto a um Mestre (o silêncio do Companheiro de que se fala no texto não é absoluto: o Companheiro não se dirige em sessão ritual à Loja, mas não tem nenhuma mordaça na boca...). O Mestre informado, se o entendesse adequado, informaria desse facto o Venerável Mestre. e este, tendo em atenção a específica capacidade profissional do Companheiro, se achasse efectivamente útil receber, naquele momento, a informação que o Companheiro desejava prestar, tinha ao seu alcance um meio fácil para o fazer: suspendia os trabalhos, passando a Loja a recreio. Não se estando então, por via dessa suspensão, em sessão ritual, o Companheiro podia dirigir-se aos presentes e dar as informações que entendia necessárias. Após isso, o Venerável Mestre retomava os trabalhos em sessão ritual, anunciando que os trabalhos retomavam força e vigor, e o Companheiro retomava o seu dever de silêncio.
Assim não tendo ocorrido, a decisão tomada, se foi assim tão objectivamente e se tal se verificou logo em seguida à reunião, não tinha necessariamente que ser implementada. O Venerável Mestre poderia decidir suspender a sua execução até nova reunião de Loja em que esta pudesse reanalisar a questão, à luz da informação anteriormente não considerada. Ou podia, mesmo, assumir a responsabilidade de não executar a decisão tomada e agir em função da nova informação, dando posteriormente disso conhecimento formal à Loja. Para isso é que ele é Venerável Mestre e tem a confiança da Loja!
De qualquer forma, mesmo fora de reunião formal, a nova informação recebida possibilitaria imediata reanálise de todos os obreiros...
Mas - continuo na minha! - o problema só se colocou porque se discutiu assunto profano em sessão ritual!
A talhe de foice: na Loja mestre Affonso Domingues é frequente e normal, quando o Venerável Mestre entende que, em relação a determinado assunto, deve ouvir também os Companheiros e Aprendizes, passar-se a recreio para, informalmente, possibilitar a recolha das opiniões destes, retomando-se depois os trabalhos rituais, de novo só com intervenções dos Mestres.
@ radcliffe:
Thank you for your effort in trying to understand our textes, written in portuguese!
I imagine you use an automatic translator. Unfortunately, these automatic translators can't yet provide acceptable translations. Too much frequently, one doesn't really undesrstand the meaning...
My style must be very hard to an automatic translator, I imagine...
Nevertheless, thank you for your interest and your effortds.
As automatic translators translate deficiently, I'm afraid your comments translated to portuguese are hard to undesrtand... I even had, at least once, to "retranslate " to english to understand what you meant!
So, brother, your comments are always welcome... and they will be even more if you make them directly in English...
Oh! And I find your blog quite interesting also!
All the best, Brother!
@Rui: Estou a perceber. Afinal o bom-senso impera sobre o formalismo - o que me parece bem. Grato pela detalhada explicação.
Contudo, mantém-se-me a questão: se não deve tratar-se de assuntos profanos em sessão ritual, em que contexto e circunstâncias são discutidos os assuntos profanos que decorrem do facto de a Maçonaria existir neste mundo - e ter, consequentemente, que tratar de coisas comezinhas como contratos de arrendamento ou eleições de uma associação?
Um grande abraço,
Simple Aureole
Permitam-me partilhar convosco a minha perspectiva.
O Silêncio do Aprendiz é um exercício de Disciplina.
A sua natureza, a do Aprendiz, não o habilita a fazer uso do Verbo, deve ainda cumprir as suas responsabilidades, transmitidas formalmente em ritual, para que dê mais um passo nesta habilitação.
Não confundir, porém, o Aprendiz com o Obreiro que é Aprendiz.
Aprendiz, neste caso, será o exercício deste papel por parte do Obreiro em Sessão Ritual.
Pelo que assuntos profanos não entram, como justamente foi referido, neste domínio, por muito douto que o Obreiro seja nesses assuntos.
Dentro da “encenação” ritual a aprendizagem pelo Silêncio decorre não da instrução dos Mestres (a viva voz ou pela escrita) ou compreensão intelectual do simbolismo do Silêncio mas do entendimento que brote no Obreiro Aprendiz dessa vivência do Silêncio, não confundir com o “não poder falar”. Será, hipotetiza-se, a primeira vez que estrangula a expressão do que em si é profano. A inevitável reacção de todo o seu corpo mental ( ou, de outra forma, da sua Persona), a esta disciplina, o Silêncio, caso a consiga identificar (isolar) desapaixonadamente, irá já mostra-lhe a dimensão do esforço a que se propôs ao aceitar este Caminho. Quão dificil nos é este Silêncio! Que desafio à nossa soberba!
Bem, mas que Silêncio é este? Não se reduz, como é óbvio, ao apenas não falar em Loja. Terá de ser um Silêncio activo em que interiormente negue o que é profano, não o permitindo tomar parte na Sessão Ritual da qual é personagem ACTIVA. Pelo menos em Sessão deve calar em si os automatismos da vida que acaba de abandonar. Progressivamente, esta disciplina estende-se a todos os domínios da sua vida.
É um Silêncio que representa e é semente de um Silêncio muito mais elevado e, repito, é Activo.
Não aconselho ninguém a aceitar progredir sentindo apenas contrariedade nesta disciplina do Silêncio. É, realmente, o inicio de um Trabalho Interior.
Por outro lado, e ainda decorrente da disciplina que lhe está associado, o Silêncio é, sem dúvida, uma aprendizagem do Segredo.
Obrigado pelo espaço.
Com estima,
Rogério Fonseca.
@rogério fonseca:
Obrigado pela partilha. Nunca tinha visto a questão tratada desta forma ou mostrada deste ângulo. Obrigado!
Um abraço,
Simple Aureole
@ simple:
Os assuntos profanos devem ser tratados fora de sessão ritual de Loja pelos Oficiais da Loja, a quem é deferida competência para tal. Se se pretender ouvir os elementos dsa Loja, enviam-se-lhes mensagens pedindo que se pronunciem ou convoca-se uma reunião profana, ou discute-se o que se tem a discutir depois da sessão ritual. Enfim, oportunidades e meios não faltam...
De notar ainda que a Grande Loja e todas as Lojas que as constituem estão integradas numa associação civil, titular de personalidade jurídica, nos termos do Código Civil, que é quem legalmente é titular de direitos e obrigações. Essa associação civil tem os seus órgãos próprios, nos termos legais, que asseguram a sua gestão e representação.
Algumas Lojas (ou melhor, os elementos agrupados em algumas Lojas) também constituíram associações de direito civil, para o mesmo propósito.
Tanto quanto julgo saber (e se estiver errado, peço desculpa e agradeço correcção), similarmente se passa no GOL, com a característica de as associações profanas que são titulares de personalidade jurídica se denominarem Grémios. Assim, a Obediência Grande Oriente Lusitano é uma estrutura maçónica; o Grémio Lusitano ~e a associação de direito civil que lhe confere personalidade jurídica. O mesmo sucede com as Lojas. Por exemplo a Loja Estrela d'Alva é a Lojsa Maçónica. O Grémio Estrela d'Alva a associação titular de direitos e obrigações civis.
@ rogério fonseca:
Há comentários que suplantam os textos que comentam. É o caso do seu! Muito obrigado pela contribuição1
Um abraço.
Permitam-me uma achega.
O Simple tem alguma, bastante, razao no que diz no seu primeiro comentario.
Todavia ele por desconhecimento vai buscar um exemplo profano. Ou se calhar nao.
Se em vez de contrato ele tivesse dito Regulamento ou Orçamento ou contas finais, assuntos discutidos em Loja, e para os quais o concurso de especialistas nas materias é sempre apreciado, entao sendo o companheiro o mesmo um aprendiz especialista desses assuntos, a sua intervençao é sempre importante.
O modus operandi é o que o Rui Bandeira descreveu. Interrupçao de Trabalhos e apresentaçao dos argumentos por parte do obreiro especialista.
Há que perceber que um aprendiz ou um companheiro, pelo facto de ritualmente sublinho ritualmente nao poderem falar, não são necessariamente desconhecedores das materias, e por isso a sua opiniao pode ser muito importante.
Por desconhecimento terá o meu exemplo sido menos feliz, mas de facto o José Ruah acertou em cheio na minha intenção: a de perceber o que acontece se um aprendiz ou companheiro souber mais do que os mestres sobre determinada matéria profana em que é especialista, e essa matéria estiver em discussão.
Um abraço,
Simple Aureole
Olá meus amados ir ∴ confesso que ainda não consegui descobrir onde as lojas tiraram que aprendiz e companheiro não fala em loja, talves vem da operativa, mas vejo negativamente nas lojas empurrando os iir ∴ para o adormecimento.
Por favor se alguém souber de algo me passa,as vezes vou em lojas que não tem esse comportamento.
CAM ∴
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