Eleição de Grão-Mestre 2014/2016: Entrevista ao candidato Júlio Meirinhos
Os obreiros da Loja Mestre Affonso Domingues elaboraram dez perguntas destinadas a serem colocadas a ambos os candidatos. Foram enviadas aos candidatos, que a elas responderam sabendo que as questões colocadas eram exatamente iguais para ambos e sem conhecerem as respostas um do outro. Não são, tivemos consciência disso, perguntas fáceis. Mas fizemo-las confiantes em que a grande capacidade dos candidatos se traduziria em boas respostas a perguntas difíceis e, sobretudo, que através delas poderíamos ter uma mais aprofundada noção dos projetos e do pensamento de cada um deles. Publicamos hoje a entrevista do candidato Júlio Meirinhos.
Na próxima semana, publicar-se-ão as respostas do outro candidato.
Qual o papel e significado da Maçonaria Regular no século XXI?
A Maçonaria Regular deve continuar a ser o que sempre tem sido ao longo dos tempos.
Deve ser um espaço de princípios e valores, de aperfeiçoamento interior, de liberdade e de progresso.
Um espaço de fraternidade, solidariedade e de aperfeiçoamento de características de liderança em todas as áreas da vida em sociedade.
Num tempo em que voltam a emergir fenómenos populistas e de valores pouco democráticos e em que as condições de vida das pessoas se degradam brutalmente os nossos valores devem estar bem presentes na defesa da liberdade e do progresso.
Onde está um Maçom deve estar a Maçonaria e os seus valores.
E o mundo, hoje, precisa dos nossos princípios e valores.
Assinalas no teu manifesto a prioridade ao relacionamento com as Obediências dos espaços iberoamericano e lusófono. Como vês o papel da GLLP/GLRP nesses espaços e que políticas de atuação concreta preconizas?
Como tenho dito a melhor opção é manter o rumo e consolidar o trabalho que tem vindo a ser feito ao longo dos anos.
A inovação pouco ponderada ou a rotura com as relações consolidadas traz, inevitavelmente, retrocessos na nossa afirmação internacional.
Assim sendo, procurarei reforçar a nossa aposta estratégica na relação com as principais potências maçónicas, com particular incidência com os países Ibero‐americanos e com os países lusófonos e, em especial, com as potências regulares brasileiras e a Grande Loja de Moçambique assim como com os Triângulos e Lojas a trabalharem no espaço lusófono.
Comigo, terá continuidade a preparação da organização da Conferência Maçónica da CMI, a realizar em Lisboa, em 2015. Também aqui não podemos, face aos compromissos assumidos, dar passos atrás.
Pugnarei, analogamente, pela continuidade das Cimeiras Ibéricas, pelo trabalho ibérico conjunto no espaço ibero-americano e pelo crescente incremento da participação na CMI e na organização que congrega a Maçonaria Regular Lusófona.
No fundo, também aqui consolidarei a nossa participação e afirmação.
É redutora a visão de quem entende que nos devemos fechar sobre nós próprios diminuindo a nossa ação internacional.
Que papel e que intervenção (se é que alguma) preconizas que a GLLP/GLRP exerça na sociedade portuguesa, como e com que instrumentos?
Como já referi vivemos um tempo em que estão a emergir fenómenos populistas e em que as condições de vida das pessoas se degradam brutalmente.
Logo, devemos afirmar os nossos valores na defesa da liberdade e do progresso.
Afirmá-los na sociedade sem nos abrirmos em excesso mas sem nos fecharmos sobre nós próprios.
Devemos primar, igualmente, pela solidariedade e fraternidade.
E a melhor forma de o fazer é pelo exemplo.
Um Maçom deve ser exemplar no seu comportamento cívico pois onde está um Maçom está a Maçonaria. E, assim sendo, o nosso comportamento individual continua a ser a nossa melhor intervenção na sociedade.
Coletivamente, devemos afirmar, cada vez mais, na sociedade, os nossos valores e romper com todas as práticas internas que não estejam em consonância com eles.
E, para isso, o melhor instrumento é a nossa ação individual e coletiva.
Como preconizas que se efetue a capitalização, gestão e administração do Fundo de Solidariedade Maçónico?
A capitalização deve ser efetuada por duas vias: uma percentagem dos resultados líquidos existentes a definir, anualmente, no momento da definição da aplicação desses resultados líquidos; e, os donativos recebidos pela GLLP/GLRP.
A gestão deverá ser efetuada em obediência a um Regulamento debatido e aprovado no seio do Conselho de Veneráveis Mestres.
E a sua administração deverá ser efetuada pelo Grão-Mestre que, naturalmente, poderá cooptar quem entender para o auxiliar.
Como preconizas o lançamento e funcionamento da Academia Maçónica (“Academia de Formação” é pleonasmo...) e qual o prazo que prevês para efetivo início do seu funcionamento?
A nossa Academia já deu os seus primeiros passos. Com José Manuel Anes, José Ruah, entre outros, várias ações já foram concretizadas. E outras foram planeadas e aguardam implementação.
Eu quero consolidar o seu funcionamento descentralizado por todo o país.
Quero, analogamente, implementar o seu funcionamento digital.
Quero, igualmente, aprofundar as suas valências maçónicas e profanas.
Quero, ainda, trabalhar na elaboração da história da Maçonaria Regular portuguesa.
E vou fazê-lo desde logo. Mal seja instalado na Cadeira de Salomão.
Na dinâmica de funcionamento Lojas/Grande Loja privilegias a prevalência da liberdade de atuação das Lojas ou da coordenação da Grande Loja? Na primeira hipótese, como prevines fenómenos de basismo e descoordenação? Na segunda, como prevines excessiva coordenação e autoritarismo?
Acho esta dicotomia algo redutora.
Eu quero uma governação mais colegial e mais participada em que todos os irmãos sejam, cada vez mais, ouvidos.
Quero uma Grande Loja cada vez mais afirmativa em todos os seus planos mas que não se substitua às Lojas ou que as procure submeter.
Quero obreiros e Lojas livres pois aí estará a nossa força.
Quero ouvir, sempre, o Conselho de Veneráveis.
Mas quero, naturalmente, que exista articulação na nossa ação coletiva.
Articulação, liberdade, governação participada e colegial é aquilo que preconizo.
Sem basismo, sem autoritarismo e, acima de tudo, sem projetos individuais de Lojas que possam desvirtuar os nossos valores e princípios em prol de promiscuidades e interesses financeiros e/ou de outro tipo.
Aquilo porque já passámos com o envolvimento de uma ou outra Loja em processos pouco claros e que estão a ter tradução judicial é algo a não repetir.
E não se trata, aqui, de autoritarismo.
Trata-se de defender os nossos valores e de não prejudicar a nossa imagem coletiva e individual.
Quais as principais obras/contribuições que fizeste para o desenvolvimento da nossa Augusta Ordem nos últimos 10 anos?
A melhor avaliação deve ser feita pelos meus Irmãos. Mas é bem conhecido que, nestes últimos dez anos, estive sempre à Ordem.
Estive sempre ao serviço da Maçonaria e do Grão-Mestre em funções.
Estive sempre presente na minha Loja e em largas dezenas de outras Lojas.
Ajudei a edificar Templos na minha região, a consagrar novas Lojas, em todo o país, a iniciar novos irmãos e a elevar outros.
No fundo, participei ativamente no crescimento e consolidação da GLLP/GLRP.
Estive presente na maioria das Assembleias e Grandes Lojas. Representei a nossa organização no estrangeiro.
Desempenhei várias funções no Grão Mestrado e na minha Loja. Desempenhei várias funções nos Altos Graus. Não quero aqui enumerar todas pois seria fastidioso e o meu currículo foi distribuído a todos e pode ser consultado.
Fui, como sempre, um obreiro participativo na edificação coletiva do nosso caminho.
É por isso que me candidato.
Porque entendo que desenvolvi um percurso nos últimos dez anos que me capacita para gerir a GLLP/GLRP em linha com o que acontece nas grandes potências maçónicas mundiais que primam pela adequada preparação, pela estabilidade e continuidade da gestão das suas lideranças e da sua gestão administrativa e financeira.
Quantos irmãos foram por ti propostos e quantos deles continuam ainda na nossa Augusta Ordem?
Ao longo de toda a minha vida maçónica tive a honra de propor dezenas de irmãos e a grande maioria está connosco.
Mas a permanência dos obreiros na nossa Augusta Ordem é um tema que merecerá reflexão comigo a Grão-Mestre. É algo a melhorar e temos todos, em conjunto, de encontrar formas de o fazer.
Se fores eleito Grão-Mestre, qual a principal mudança em relação ao que existe que preconizas e qual o principal aspeto que achas deve ser mantido inalterado na GLLP/GLRP?
Pretendo ter uma liderança mais participada e colegial. Quero manter o rumo dos princípios que têm norteado uma boa gestão administrativa e financeira assim como do nosso crescimento e consolidação. Não podemos regredir a uma gestão amadora (ainda que bem intencionada). As nossas responsabilidades e compromissos não o permitem.
Se não fores eleito Grão-Mestre, que papel, atividade e colaboração, nos próximos cinco anos, antevês para ti na GLLP/GLRP?
O mesmo papel que tenho tido desde sempre.
Estarei sempre à Ordem da Maçonaria e do Grão-Mestre em funções. Estarei sempre presente nas Lojas e junto dos meus irmãos por todo o país e no estrangeiro. Serei sempre mais um a partir pedra.
Entrevista publicada por
Rui Bandeira