19 fevereiro 2014

Aquela Loja


Aquela Loja tinha um problema para resolver. Não era um problema inesperado. Não era um problema que não se tivesse antecipado. Mas tinha de se resolver rapidamente e bem.

Aquela Loja tinha Mestres habituados a manifestar as suas opiniões com seriedade, a ouvir as opiniões dos demais com atenção e, sobretudo, a analisar com serenidade propostas diferentes, ou mesmo divergentes, cada um ciente de que a posição diferente da sua não é um obstáculo a abater ou a vencer, é um complemento a integrar, de forma a que o resultado final seja a melhor solução viável e possível.

Aquela Loja, nessa noite, preferia uma solução que não se revelava viável. Procurou então alternativas viáveis e perfilaram-se duas. Ambas possíveis. Ambas aptas a que se atingissem os objetivos pretendidos. Escolher-se-ia uma ou outra. Mas o problema era que não se tratava de escolher entre o bom e o mau, o certo e o errado, o forte e o fraco. Havia que escolher entre dois bons, procurando descortinar qual deles viria a ser melhor. 

Aquela Loja tinha uma escolha difícil a fazer. Porque entre duas boas hipóteses, não lhe agradava preterir uma. Sobretudo isso.

Aquela Loja fez então o que sempre soube fazer bem: cada um deu a sua opinião, expôs prós e contras, explorou hipóteses. Sem criticar as análises efetuadas ou hipóteses colocadas pelos que anteriormente tinham exposto os seus pontos de vista. Ninguém queria ganhar, ninguém queria impor a sua preferência. Todos e cada um procuravam a melhor solução.

Aquela Loja sabia que, se nada de novo surgisse, acabaria por ter de escolher entre as duas alternativas viáveis. Sem vencedores nem vencidos. sem azedumes. Simplesmente uma alternativa seria escolhida e a outra preterida porque assim teria de ser e o que tem de ser tem muita força.

Aquela Loja, quase na hora de ter que decidir viu de repente alguém apontar uma terceira solução. Uma solução que a desobrigava de escolher entre um bem e outro bem. Uma solução que também era boa. Uma solução que resolvia o problema a contento. Uma solução que estava, afinal, à vista de toda a gente, só era preciso olhar para ela...

Aquela Loja em menos tempo do que demoro a escrever esta frase decidiu o que tinha a fazer. Em menos de um ai o ar ficou mais leve, as posturas descontraídas. Alguém se encarregou de resumir o que resultara do debate e expor as várias soluções possíveis. A tomada de decisão foi uma mera formalidade: o consenso fora atingido. Com o contributo de todos. 

Aquela Loja resolveu em menos de uma hora um problema que era importante, porque todos cooperaram para que surgisse a solução.  Assim, o todo pôde ser melhor e mais eficaz do que a soma das partes. A vontade coletiva não resultou da vitória de uma vontade individual sobre outra. A vontade coletiva surgiu e facilmente se tornou consensual porque ninguém queria "ganhar" e todos procuravam resolver, em conjunto, um problema.

Aquela Loja debateu o problema em sessão aberta com a presença de Aprendizes e Companheiros. Não reservou para a Câmara do Meio o debate apenas entre os Mestres. Porque naquela Loja não se tem receio algum em que os que mais recentemente se lhe juntaram, os Aprendizes e Companheiros, vejam que os Mestres têm opiniões diferentes e que não há nada de especial nisso. Há apenas que conciliar diferenças quando se puderem conciliar, fazer escolhas quando for necessário, encontrar alternativas que superem divergências sempre que possível. E depois todo o grupo sente a satisfação de um trabalho bem feito, de uma missão bem cumprida.

Aquela Loja criou uma cultura. Uma cultura de debate sempre que o debate é preciso. De diálogo em todas as ocasiões. De cooperação na superação de divergências ou diferenças. Sempre abertamente, sempre frente a frente, sempre olhos nos olhos. E, decidido o que se tem de decidir, depois brinca-se, convive-se, come-se e bebe-se. E cada problema que é assim resolvido torna mais fácil a resolução do problema seguinte.

Aquela Loja procura integrar muito bem os novos elementos e portanto não lhes esconde nada. Os novos assistem à forma como os mais antigos e experientes debatem, escolhem, superam diferenças, cooperam, decidem, resolvem os problemas. E quando chega a hora de cada um dos mais novos assumir a responsabilidade de decidir, já sabe como ali se faz. Já viu, ao vivo e a cores, como cooperar é mais profícuo do que procurar "ganhar". Como cada um pode e deve exprimir a sua ideia, o seu sentir, em relação a todas as questões, porque todas as opiniões são importantes e todas contribuem para a formação da decisão do grupo. Como todos claramente ficam a saber em que circunstâncias cada decisão é tomada, que pressupostos a sustentam, que razões a fundamentam.

Aquela Loja funciona assim há mais de vinte anos. Não sabe funcionar de outra maneira. Não quer funcionar de outra maneira. Sente-se muito bem a ser como é.

Aquela Loja é a minha Mestre Affonso Domingues e é por ela ser como é que eu não quero nem perspetivo alguma vez ser obreiro de outra Loja que não ela.

Rui Bandeira

Já não posto nada neste blog há demasiado tempo... Lembrei-me de publicar algo que merece ser recordado, naturalmente desprovido de qualquer conotação politica que lhe possam querer dar. Eu posto unicamente as palavras do Poeta:

É preciso avisar toda a gente
dar notícia informar prevenir
que por cada flor estrangulada
há milhões de sementes a florir

É preciso avisar toda a gente
segredar a palavra e a senha
engrossando a verdade corrente
duma força que nada detenha

É preciso avisar toda a gente
que há fogo no meio da floresta
e que os mortos apontam em frente
o caminho da esperança que resta

É preciso avisar toda a gente
transmitindo este morse de dores
É preciso imperioso e urgente
mais flores mais flores mais flores


João Apolinário (poeta português falecido a 22 de Outubro de 1988)


12 fevereiro 2014

Sol e Lua


Na parede (ou junto ou perto desta) do lado oposto à entrada do espaço de reunião de uma Loja maçónica são visíveis representações do Sol e da Lua, aquele do lado direito de quem entra, esta do lado oposto.

O Sol, estrela sem a qual não seria possível a existência de vida no nosso planeta, desde a mais remota Antiguidade que foi associada pela Humanidade à Vida, à Criação. As religiões primitivas divinizavam o Sol. O mesmo se verificou no Egito, na Suméria e noutras regiões das civilizações da Idade do Bronze e subsequentes, prévias às mais elaboradas crenças greco-romanas e ao Monoteísmo.  

O Sol sempre foi associado ao princípio ativo, ao masculino, ao poder criador.

Por outro lado, a Lua é associada ao princípio passivo, ao feminino, à fecundidade.

A colocação destes símbolos no espaço das reuniões maçónicas não tem nada a ver com crenças pagãs ou religiosidades primitivas, mas insere-se na mesma linha da simbologia do pavimento mosaico: a chamada da atenção para a dualidade, especificamente, no caso, para a polaridade.

O Sol e a Lua simbolizam o dia e a noite, a luz direta e a luz reflexa, a ação e a reflexão, o trabalho ou atividade e o descanso, o dinâmico e o estático, a crueza da forte luz solar e a placidez da suave luz lunar, a ação e a reação. São símbolos que nos recordam que nada é tão simples e direto como possa parecer á primeira vista, que a aparência exterior que brilha como a luz solar encobre a natureza interior que se vislumbra como a pálida luz da Lua. 

Os dois símbolos recordam-nos que há tempo de agir e tempo de refletir. Há tempo de fazer e tempo de descansar. Há tempo de aprender e tempo de ensinar. Há ação e contemplação. Há dia e há noite. Há verso e há reverso. Todas estas dualidades integram a Realidade, afinal constituem a Realidade.

O Sol e a Lua dão-nos a noção do dinamismo da Vida, da Criação, do Real, da interação entre duas polaridades que se atraem e que se repelem, que mutuamente se influenciam. Dois princípios, duas forças, dois elementos, dois fatores, que ambos existem, ambos são reais, mas ambos são incompletos, completando-se apenas mediante a sua mútua influência. Tal como já o Pavimento Mosaico perspetivara, a Criação, a Vida, o Real, não são estáticos, não são simples, não são básicos. São dinâmicos, são complexos, são evolutivos. 

Ao meditar sobre a relação entre estes dois símbolos, o maçom deve adquirir a noção de que se não deve limitar a um único aspeto da realidade, a um único tema de estudos. A espiritualidade é importante, mas não menos importante é a materialidade. Espírito e matéria não se opõem - completam-se. Tal como o Sol e a Lua não se digladiam, repartem entre si o dia e a noite. E um dia completo, um ciclo de vinte e quatro horas, compõe-se de dia e de noite, do reino do Sol e do tempo da Lua. Assim também o Homem completo não dedica apenas a sua atenção aos assuntos do espírito, também se dedica aos negócios da vida real e quotidiana, material. Tão incompleto é aquele que apenas se importa com o material, o dinheiro, o poder social, o ter, ignorando a vida espiritual, o aperfeiçoamento moral, o interior de si mesmo, o ser, como aqueloutro que navega nas regiões etéreas do esoterismo, ignorando, ou fazendo por ignorar, que a Vida é esforço e trabalho e pó e carne e esforço e ação e construção.

O Sol e a Lua simbolizam opostos, mas opostos que mutuamente se influenciam e se completam. Assim deve o maçom gerir a sua vida: estudar mas também aplicar, contemplar sem deixar de trabalhar, imaginar mas também executar, fazer e descansar, ter o que necessita para Ser, mas Ser sempre acima do mero Ter.

Rui Bandeira  

05 fevereiro 2014

Romãs e colmeia


Normalmente colocadas sobre os capitéis das duas colunas que marcam a entrada do Templo - do espaço onde ocorre uma sessão ritual maçónica - estão seis romãs, três sobre cada um dos capitéis.

Este número já é uma simplificação. O Templo de Salomão (que muitos dos símbolos maçónicos evocam) teria representadas, sobre as suas colunas de entrada nada mais, nada menos do que quatrocentas romãs! Com efeito, pode ler-se no segundo livro dos Reis, capítulo 7, versículos 18 a 20: "Fez também romãs em duas fileiras por cima de uma das obras de rede para cobrir o capitel no alto da coluna; o mesmo fez com o outro capitel. Os capitéis que estavam no alto das colunas eram de obra de lírios, como na Sala do Trono, e de quatro côvados. Perto do bojo, próximo à obra de rede, os capitéis que estavam no alto das duas colunas tinham duzentas romãs, dispostas em fileiras em redor, sobre um e outro capitel."

E, no segundo livro de Crónicas, capítulo 4, versículo 13, encontramos: "Há quatrocentas romãs para as duas redes, isto é, duas fileiras de romãs para cada rede, para cobrirem os dois globos dos capitéis que estavam no alto da coluna." 

Para além da representação simbólica de elemento decorativo do Templo de Salomão, as romãs simbolizam a união entre os maçons, a igualdade essencial de todos combinada com a individualidade de cada um.

A observação do fruto elucida-nos rapidamente da razão de ser destas representações simbólicas. Uma romã tem uma casca dura e resistente, que representa o espaço físico da Loja: uma e outro abrigam as infrutescências (os obreiros), mantendo-os a coberto de elementos exteriores (pragas; profanos). As infrutescências (as "sementes", "bagas" ou "grãos") representam os obreiros da Loja. Tal como as infrutescências da romã são todas diferentes umas das outras, havendo leves variações de formato e de tamanho, também os obreiros de uma Loja mantêm a sua individualidade própria. Mas, se comermos as infrutescências da romã, verificamos que todas elas têm exatamente o mesmo sabor, o mesmo grau de doçura em função do amadurecimento do fruto, independentemente da forma e do tamanho delas.

Assim também os obreiros de uma Loja, pese embora as inevitáveis diferenças decorrentes da sua individualidade, estão unidos na mesma essencial igualdade.

Tal como as bagas de uma romã estão unidas por uma pele branca, que torna difícil e trabalhoso a sua separação, assim também os obreiros de uma Loja se unem por laços de fraternidade, auxiliando-se mutuamente nas adversidades, cooperando nos seus estudos ou projetos.

Os grãos da romã estão firmemente unidos e apertados uns contra os outros. Se abstrairmos da cor granada (romã em castelhano), assemelham-se a um favo de mel, lembrando as abelhas, que, tal como os maçons, trabalham incessantemente, aquelas colhendo o néctar nos campos para fabricar o mel, estes recolhendo da Loja e de seus Irmãos os ensinamentos, os exemplos, que lhes são úteis para o sempre desejado aperfeiçoamento pessoal.

Enquanto que na Maçonaria latina e no Rito Escocês Antigo e Aceite se utiliza a simbologia da romã, ela não é usada na Maçonaria anglossaxónica, no Rito de York ou no Ritual de Emulação. Estes, pelo contrário, utilizam o símbolo da colmeia.

Uns e outros procuram enfatizar o mesmo: a união entre os maçons. Mas uns fazem-no com recurso à romã, outros através da colmeia.

A meu ver, esta diferença é essencialmente cultural. A sociedade latina, mediterrânica é essencialmente gregária. O gregarismo meridional acentua a importância do estar junto, sendo essa união que gera a força grupal que protege o indivíduo e potencia as suas capacidades. Já as sociedades anglossaxónicas e nórdicas privilegiam a iniciativa, a ação e, assim, enfatizam a organização da colmeia como forma de potenciar as capacidades de cada abelha para o bem comum.

Os símbolos maçónicos não nascem do nada e não são interpretados no limbo. Resultam das sociedades onde os maçons se inserem. Esta diferenciação é exemplo disso, na minha ótica.

Rui Bandeira 

29 janeiro 2014

Oração de um Mestre a outros Mestres - II


Novos Mestres:

Eis-vos finalmente na Câmara do Meio. Eis-vos merecidamente revestidos da plenitude de todos os direitos de Mestres Maçons. Eis-vos igualmente onerados com a totalidade dos deveres de Mestres Maçons.

Estais na Câmara do Meio iguais entre iguais. Cada um de vós não é menos, não vale menos, do que eu ou qualquer outro Mestre Maçom presente nesta sala – quaisquer que sejam os ofícios por alguns exercidos, quaisquer que sejam as dignidades a alguns outorgadas. Cada um de vós não é mais do que eu ou qualquer outro Mestre Maçom presente nesta sala – quaisquer que sejam os vossos méritos, os vossos títulos académicos ou posições profanas. Cada um de vós é exatamente igual a mim e a qualquer outro Mestre Maçom presente nesta sala – iguais entre iguais na nossa comum pequenez perante o Grande Arquiteto do Universo, perante a nossa comum ignorância do sentido da vida e da existência, perante o nosso comum desejo de ser melhor, saber mais, fazer bem, viver plenamente.

Tendes exatamente os mesmos direitos que cada um dos outros Mestres Maçons presentes nesta sala – e que, afinal, se resumem ao direito de transmitir aos demais as opiniões e os entendimentos de cada um, ao direito de cooperar na tomada das deliberações que hajam de ser tomadas e ao direito de participar organizadamente na administração da Loja.

Recaem sobre vós exatamente os mesmos deveres que recaem sobre cada um dos outros Mestres Maçons presentes nesta sala – todos os deveres inerentes a um homem de honra e de bons costumes, fiel à sua palavra e aos seus compromissos, mais os deveres resultantes do nosso comum compromisso de nos aperfeiçoarmos permanentemente, acrescidos da especial responsabilidade assumida pelos Mestres Maçons: a partir de agora, não sois responsáveis apenas por vós próprios e pela vossa própria melhoria; a partir de agora sois responsáveis também por todos os Aprendizes e Companheiros desta Loja. Responsáveis por os auxiliar na sua jornada, responsáveis pela preparação e evolução de cada um como todos nós nos responsabilizámos pela vossa preparação e evolução. Responsáveis por iguais que um dia também acederão a esta Câmara do Meio no exato mesmo estatuto de que agora vós, como todos os demais Mestres Maçons presentes nesta sala, dispondes.

Compreendeis agora, se não vos tínheis já apercebido antes, que a dureza dos Mestres na apreciação dos vossos trabalhos não era vã exigência, estulto apoucamento ou deslocada manifestação de inexistente superioridade. A nossa meticulosidade no apontar dos mais ínfimos detalhes negativos dos vossos trabalhos, tantas vezes mostrando-os piores e mais significativos do que realmente eram, o nosso hábito de temperar os quantas vezes parcos elogios ao resultado do vosso esforço com a referência ao que podia ser melhor, não se destinaram nunca a desmerecer do vosso trabalho ou alardear inexistentes superioridades. Foram, como tudo o que ritualmente em Loja se processou ao longo de todo o tempo da vossa formação, simples meios, ferramentas, de vos incutir algo que deveis considerar absolutamente inerente à condição de Mestre Maçom: uma absoluta e permanente exigência da melhor qualidade possível em tudo o que somos e fazemos, uma absoluta aspiração à maior aproximação que nos for possível da perfeição.

O vosso percurso teve de ser longo e duro, porque culmina na vossa presente situação de iguais entre iguais, com a inerente consequência de que o direito de vos julgar e de julgar as vossas ações passou a ser em primeiro lugar atribuído aos mais severos dos julgadores: vós próprios! A nossa aparente severidade nunca foi, pois, mais do que mera preparação para a mais rigorosa severidade na vossa apreciação e na apreciação dos vossos atos, a indeclinável e inabalável severidade que um homem de bem, livre e de bons costumes, devidamente preparado e completamente consciente de si próprio deve devotar à sua autoapreciação, como meio de ser e tornar-se sempre, dia a dia, momento a momento, melhor, cada vez melhor, cada vez um poucochinho menos longe da inatingível meta da perfeição.

De vós a Loja pede sempre o mesmo: aquilo que cada um de vós, em cada momento, puder dar. Cada um de vós retirará e receberá da Loja sempre o que lhe aprouver do que a Loja tem. E todos sabemos que a Loja só tem aquilo que nós lhe dermos, pelo que, quanto mais todos lhe dermos, mais poderemos tirar.

Meus Irmãos Mestres Maçons, hoje festejai. A partir de amanhã reiniciai o vosso trabalho, reempunhai as vossas ferramentas, senhores do vosso trabalho, do vosso caminho, da vossa criação. Confiamos todos em que, como até aqui, sereis dignos de vós próprios e das vossas ferramentas até ao momento em que finalmente vos autorizardes a vós mesmos a pousá-las, quando verificardes ter chegado a vossa meia-noite.

Meus Irmãos no vosso grau de Mestres Maçons e na vossa insuperável qualidade de homens livres e de bons costumes, bem-vindos ao vosso lugar, bem-vindos aonde sentíamos a vossa falta, bem-vindos a esta Câmara do Meio!

Rui Bandeira

25 janeiro 2014

O Mundo quadrado!

(Fonte: Desconhecida, pesquisa em Google Imagens)

Por vezes esta é a forma como vejo o espaço onde vivemos!
Por vezes esta é a forma como me sinto envolvido pela iMundice em que diariaMente chafurdamos!

Por vezes, algumas vezes, de vez em quando!

Será que o Mundo podia ser menos Quadrado, se fosse gerido e liderado por aqueles, que se dizem, “Eu estou preparado”?
Será que seria melhor se tudo fosse mais Redondo e menos Quadrado?

Será?
Por vezes?
Quadrado?
Redondo?

Será que não estamos a ser Quadrados ao tentar arRedondar aquilo que na verdade deve de ser Quadrado?

Pois é, tantas questões e tão poucas ou nenhumas respostas, e logo num espaço onde se escreve sobre a Maçonaria Universal de uma forma tão brilhante e transparente.

Não deve ser a Maçonaria um espaço de crescimento, aprendizagem e de construção de homens melhores e assim serem capazes de a todo e qualquer instante dar respostas para tudo e mais alguma coisa?

- Se sim e se este é um espaço escrito por Maçons, como pode este Maçon ter tantas questões e tão poucas, ou nenhumas respostas?

Por isso mesmo!

- Exactamente por isso mesmo é que o Maçon não se considera um Homem perfeito, o Maçon é um Homem que trabalha diariamente no caminho da perfeição!

- Exactamente por isso mesmo é que existem tantas e tantas outras questões, sem uma resposta concreta e definida, porque o Maçon sabe que é através deste processo de se questionar, que vai ser levado a encontrar as respostas a todas as suas e mais algumas questões!

- Exactamente por isso mesmo é que o Maçon é, e afirma-se ser, um Homem Livre e de Bons Costumes, porque quando se questiona e busca respostas, fá-lo no uso total da Liberdade de Pensamento e em Plena Consciência, nunca no entanto quebrando a regra, de o fazer, de acordo com os Bons e Antigos Usos e Costumes!

-Exactamente por isso mesmo é que o Maçon não se afirma como Maçon mas é-o Reconhecido como tal, pelos seus iguais (Irmãos)!

- Exactamente por isso mesmo é que hoje vos deixo com todas estas questões e sem respostas, para que, se assim o entenderem, possam também procurar, um pouco mais, por vós próprios sobre o que é ser Maçon!

Exactamente por isso mesmo, hoje, termino este meu texto!
Disse!

Alexandre T.

22 janeiro 2014

Saber parar


Um dos desafios mais difíceis para um homem ativo é saber parar. Uma das coisas mais descuradas por quem está habituado a assumir responsabilidades é a preparação para a cessação da assunção dessas mesmas responsabilidades. Quem está habituado a fazer tem tendência para alimentar a ilusão de que o seu contributo é imprescindível. Pessoalmente, procuro combater essa tendência lembrando-me frequentemente que o cemitério está cheio de insubstituíveis - e, no entanto, o mundo continua a girar, o Sol continua a nascer todas as manhãs no Oriente e a pôr-se todas as tardes no Ocidente, o mundo e as sociedades prosseguem imperturbavelmente os seus destinos, apesar de os insubstituíveis terem sido substituídos...

Este alerta mental é válido também para uma Loja maçónica. Uma das piores coisas que pode acontecer a uma Loja maçónica é haver elementos que, qualquer que seja ou tenha sido a sua valia ou importância, se considerem insubstituíveis, necessários, procurando exaustivamente influenciar ou determinar o que na Loja se decide, se projeta, se faz - como se nada se possa de jeito fazer sem que o trigo seja cultivado na sua terra, a farinha moída em seu moinho e o pão cozido no seu forno - embora gostem que haja semeadores para lançar o trigo à sua terra, moleiros para fazer funcionar o seu moinho e padeiros para colocar o seu pão dentro do seu forno e de lá o retirar... Uma Loja subordinada a quem não consegue deixar de nela impor a sua vontade perde inevitavelmente qualidade, capacidade de evolução, criatividade e capacidade de execução.

É por estarmos alerta em relação a isso que o José Ruah e eu, já em conversa de há cerca de três anos, assentámos em que teríamos de estar atentos ao momento em que fosse asado irmo-nos discretamente afastando da influência nos destinos da Loja, de modo a não sufocarmos esta na sua evolução, deixando que a nossa contribuição passada seja isso mesmo, Passado, e favorecendo a evolução futura nas mãos de gente tão ou mais bem preparada do que nós.

As circunstâncias têm feito com que, nos últimos três anos, a nossa intenção ainda não pudesse passar disso: num ano fui chamado a desempenhar funções no Quadro de Oficiais, no seguinte foi o Ruah, agora sou novamente eu. A contribuição de quadros da Mestre Affonso Domingues para outras Lojas obrigou a que não nos pudéssemos afastar sem auxiliar na reconstituição de uma massa crítica de Mestres, em número e qualidade suficientes para que a Loja não precise de nós coisíssima nenhuma. Mas estamos ambos atentos à chegada desse inevitável momento em que devemos iniciar o nosso processo de reforma - para não corrermos o risco de passarmos a ser peso onde antes procurámos ser motor.

Essa foi uma das razões pelas quais no final da última sessão, o Zé e eu olhámos um para o outro com um ar de enorme satisfação - quais dois gatos gordos deitados em frente à lareira, lambendo os beiços após lauta refeição. Claro que um dos motivos foi a satisfação de termos colaborado numa sessão da Loja particularmente bem sucedida, como referi no meu texto anterior. Mas também porque sentimos que o momento em que nos vamos tornar desnecessários está iniludivelmente mais próximo. Não será porventura já para amanhã (pelo menos até ao fim do ano eu tenho ofício a executar), mas a Loja está a atingir um nível comparável aos seus melhores tempos, reconstituiu (e ainda não terminou o processo) o seu Quadro de Mestres e dispõe agora de um confortável número de jovens e qualificados Mestres, tem as colunas de Aprendizes e Companheiros preenchidas por gente capaz e tem candidatos que bateram à porta e aguardam a sua vez de ser atendidos (alguns já há bastante tempo - não estão esquecidos...). Se nada suceder em contrário, se o quadro de obreiros agora se mantiver estabilizado por, pelo menos, dois ou três anos, não tenho dúvidas de que não só o Zé e eu já não faremos falta nenhuma, como deveremos afastar-nos dos centros de decisão da Loja, de forma a não pearmos a normal evolução dela com as nossas recordações de tempos passados. A experiência é benéfica, mas para enquadrar a força e o empenho da juventude e a capacidade da maturidade, não para as subjugar ou limitar...  

Parece-me assim que se aproxima a passos largos o momento em que o Zé e eu deveremos de vez deixar o exercício de Ofícios no Quadro (enfim, uma vez por outra, para substituir alguém, se não houver mais ninguém disponível, pode ser - mas sem abusar...) e, sobretudo, guardarmos para nós as nossas apreciações, para que mais fluidamente se expressem as opiniões e mais livremente se tomem as decisões pela nova geração da Loja. É esta a lei da vida. É assim que os grupos e as sociedades evoluem, cada geração assumindo as rédeas no momento asado.

Então e finalmente o Zé e eu poderemos assumir total e completamente o nosso papel de  Marretas, assistindo ao que se passa do nosso camarote, caturrando sobre o que vemos ser feito e resistindo a reconhecer que o que então estiver a ser feito é tão ou mais bem feito do que nós alguma vez fizemos...

Rui Bandeira

Subscrito por mim  José Ruah