06 fevereiro 2009

O tempo

Hoje vais ser um pouco diferente das outras sextas-feiras. Normalmente, neste dia da semana publico uma historieta para reflexão, quase sempre de autor que desconheço, selecionada de entre a correspondência eletrónica que recebo.

Hoje, publico uma pequena história, mas integrada num texto que me enviou José Restolho. Uma reflexão merecedora de atenta consideração e, portanto, geradora de mais reflexão.


Hoje enquanto dialogava com alguém a quem devo muito, por sinal, dei por mim a reflectir sobre o Tempo. Não sobre a meteorologia mas sim sobre o Tempo enquanto medida de intervalos de duração. Bom, Einstein, na sua teoria da relatividade, demonstrou que o Tempo não era afinal absoluto, mas sim relativo. Mas não é sobre a mecânica relativista que a minha reflexão se baseia. O Tempo é como uma cascata de água. Sempre contínuo, impossível de parar. E, tal como se estivéssemos no meio dessa cascata, por mais que se nade contra, acabamos sempre por ir no mesmo sentido da corrente. Já que não podemos fugir ao implacável Tempo, então que podemos fazer? Muita gente prefere ficar parada a pensar “Ai porque fiz eu isto?”, ou então “se eu soubesse o que sei hoje…”. É verdade que não podemos alterar as nossas escolhas, muito menos o passado, mas também não podemos encarar o futuro como algo planeado ao milímetro pois, citando o Princípio da Incerteza de Heisenberg, “No Universo nada é absoluto”. Existem várias correntes filosóficas sobre esta temática: Epicuro dizia que devíamos viver cada dia como os seguidores do Carpe diem defendiam que se devia de viver cada momento com toda a sua intensidade. Não que discorde com estas correntes filosóficas mas prefiro virar-me para oriente e, mais uma vez, encontrar lá a resposta. No meio de um manancial de contos e provérbio zen, encontrei este conto:

Certo dia, Buddha contou a um jovem que parecia desesperado:

Há algum tempo atrás, um homem que estava a caminhar pelo campo encontrou um tigre. Assustado, ele começou a correr e o tigre correu atrás dele. Aproximando-se de um precipício, o homem pegou nas raízes expostas de um arbusto selvagem e pendurou-se, precipitadamente, para baixo. O tigre farejava-o acima. Tremendo de medo, o homem olhou para baixo e viu, no fundo do precipício, outro tigre à sua espera. Apenas a raiz do arbusto o sustinha. Porém, ao olhar para a planta viu dois ratos, um negro e outro branco, que estavam a roer aos poucos a raiz. Nesse momento, os seus olhos descobriram no arbusto um belo morango, ali mesmo ao seu lado. Aí, o homem segurou a raiz só com uma mão, e com a outra pegou no morango e comeu-o. "Que delícia!" - disse ele.


Este conto faz-nos reflectir na importância de aproveitar e de viver o momento na sua plenitude. Quando paro e observo a nossa sociedade contemporânea, vejo a grande maioria das pessoas envoltas no stress do trabalho, sem tempo para nada nem ninguém. Vão-se tornando cada vez mais egoístas, isto é, concentram-se apenas nas suas carreiras profissionais e vão esquecendo o resto (família, amigos, etc). Não menosprezando a importância da carreira profissional, há que não esquecer o resto. Se todos arranjássemos um pouco mais de tempo para os que nos rodeiam, certamente que a nossa sociedade se tornaria mais tolerante. Pessoalmente tento manter esta ideia presente no meu pensamento, faz parte do caminho que percorro diariamente para, e passo a expressão, construção do meu modesto “templo”. Mais uma vez trata-se apenas de um testemunho profano que vos deixo para, tal como eu, reflectirem.

Como se vê, reflexão e busca de aperfeiçoamento não são exclusivo dos maçons! Genericamente, concordo com as conclusões do José Restolho. Apenas sublinho que a capacidade de aproveitar e viver o presente, na sua plenitude não deve corresponder ao abandono da perspetiva de futuro. Como em tudo na vida, fundamentalismos dão sempre mau resultado! O Presente é para ser desfrutado, mas é algo tão frágil que, mal damos por ele, já é Passado. E O Futuro é algo de intangível e incerto, mas, mal cuidamos, estamos imersos nele, não já como Futuro, mas no momento Presente!

Equilíbrio entre o desfrutar do Presente, o Recordar do Passado e o Preparar do Futuro. Esta, na minha opinião, a melhor fórmula para agirmos perante a Vida.


O José Restolho vira-se para o oriente, para aí procurar as respostas às questões filosóficas que o assolam. É um meio como outro qualquer. E, sentindo-se confortável com isso, tão eficaz como qualquer outro. A Sabedoria Oriental tem ainda o bónus de, usualmente, se expressar de uma forma poética ou semi-poética, que é uma feliz aliança entre a Sabedoria e a Beleza.


Mas permita o nosso amigo que puxe dos meus galões lusos e aqui consigne que a lição deste conto zen também está, muito mais terra-a-terra, é certo, presente em dois provérbios populares portugueses:
O que não tem remédio, remediado está e Morra Marta, morra farta! (quanto mais não seja, de moranguinhos...)

Um abraço e o meu agradecimento ao José Restolho pela sua autorização de publicação deste seu texto. E, a todos os leitores, pensem no texto me tirem também as vossas conclusões. Lembrem-se que pensar, refletir, é uma forma de prevenção do Alzheimer
...

Rui Bandeira

05 fevereiro 2009

Música no Blogue - Uma nova Etapa

Quase 5 meses depois de termos posto musica no blogue, e estando a playlist a ficar muito variada decidi subdividir os estilos de musica.

Assim passa a haver uma lista só com musica classica e uma outra só com musica ligeira. As listas estao colocadas sucessivamente e sao identificadas com cores diferentes, a Azul para musica clássica e a Vermelha para musica ligeira.

O que se ganha ?

flexibilidade de escolher o estilo de musica mais adequada ao gosto e ao estado de espirito.

O que se perde?
Para ouvir musica há que ir expressamente à playlist escolhida e iniciá-la.

Esperemos que este sistema funcione, e que seja pratico. Se não for por favor comente e dê a sua opinião.


Jose Ruah

04 fevereiro 2009

Pergunta de profano


Há dias, publiquei e comentei um texto que me foi enviado por um profano, sobre Aikido e Maçonaria. Esse contacto inicial tem proporcionado a continuação de uma agradável troca de correspondência. Mais do que isso, um precioso diálogo com um profano, a propósito do que neste blogue se escreve. Precioso para mim, porque este blogue destina-se, em primeira linha, precisamente ao esclarecimento de todos sobre a Maçonaria, do que trata, do que nela se faz. Ter - como periodicamente acontece - reações de profanos, seja em comentários aos textos publicados, seja em mensagens privadas, permite-me ir aferindo da forma e da eficácia com que é atingido o propósito de esclarecimento.

Transcrevo então de uma mensagem de José Restolho, onde ele coloca uma questão muito concreta:

Penso que é importante salientar que não quero de forma alguma tornar-me inoportuno. Simplesmente vejo neste blogue um sitio de reflexão e uma fonte de grande conhecimento que ajuda a saciar esta "fome" constante de conhecimento.

Entretanto e com profunda humildade, gostaria de lhe colocar uma questão. Uma das coisas que mais é realçada na maçonaria vista de fora são os seus ritos e símbolos, sobre os quais tanto se especula (não estou a incluir as ridículas teorias da conspiração, tais como a conquista do mundo pelos maçons, terem recebido os conhecimentos dos símbolos dos extra-terrestres ou ainda serem o instrumento do diabo na terra). Visto por mim não me parece que esses símbolos e ritos existam só porque sim, ou porque gostam de fazer teatro ( tal como ja vi referido num documentário do Discovery Channel). Então a minha pergunta é a seguinte:

Serão esses símbolos e ritos "guidelines" para a viagem que cada um tem de percorrer? Será errado dizer que os significados dos mesmos ultrapassam a comparação linear e lógica deles (por exemplo, esquadro = rectidão) e que o verdadeiro significado depende de cada um, sendo resultado de uma profunda introspecção?

É importante salientar que tenho consciência do facto de ser um profano e, como tal, compreendo se não me poder responder na plenitude a esta questão.

Antes de tudo, esteja José Restolho descansado que a resposta em nada fica limitada pelo facto de quem inquire ser profano, isto é, não maçon. Como acima referi, este blogue destina-se, em primeira linha, a propiciar o esclarecimento dos não maçons em relação à Maçonaria. Por outro lado, a matéria questionada em nada interseta matéria que possa estar coberto pelo chamado segredo maçónico - e que eu já tive oportunidade de mencionar que é muito mais restrito, simples e justificado do que normalmente se pensa: ver aqui.

A questão colocada permite resposta simples e direta: quanto à primeira pergunta, SIM; quanto à segunda, NÃO.

SIM, os ritos e símbolos são "guidelines" para a viagem que cada um tem de percorrer. Marcos. Estações. Indicadores. O estudo dos símbolos permite a cada maçon aprofundar o seu conhecimento das matérias relativas à espiritualidade e à moral. O domínio dessa técnica permite que vá cada vez mais longe, cada vez mais fundo, designadamente dentro de si - que é o mais longínquo lugar onde cada um pode ir, acreditem! E, a algum momento dessa viagem, porventura o maçon terá a satisfação de ter conseguido obter algumas das respostas por que ansiava.

Quanto à referência a ritos, existe uma imprecisão terminológica na pergunta (rito, ritual) que fica esclarecida, creio, com a leitura deste texto. Mas assentemos, por agora, que a execução do ritual é mais uma forma de colocar símbolos perante os maçons.

NÃO. Não é errado dizer que os significados dos símbolos ultrapassam a comparação linear e lógica deles e que o verdadeiro significado depende de cada um, sendo resultado de uma profunda introspeção. Também por esta via tem sentido e significado a designação de Maçonaria Especulativa. Especulativa também porque o trabalho primordial do maçon é especular, hipotizar, analisar, tentar, errar e recomeçar, aprender, cair, levantar-se e prosseguir. Por outro lado, cada um é diferente dos demais. Tem diferente combinação de genes. Diferente história de vida. Diversas influências. Os símbolos, enquanto elementos destinados a análise, a descoberta, são, por natureza, dotados de plasticidade que permite que cada um, do mesmo ponto de partida, chegue a destinos completamente diferentes.

Rui Bandeira

03 fevereiro 2009

Bodes do Asfalto em Portugal!

Foi já há quase ano e meio que publiquei aqui no blogue um texto sobre o Moto Clube Bodes do Asfalto. No final do ano passado, recebi uma simpática mensagem do Coordenador Estadual de Santa Catarina do dito Moto Clube, Irmão W. S. B., dando-me algumas informações de atualização.

Fiquei assim a saber - e, por esta via, ficam todos os que este texto lerem a partilhar esse conhecimento - que o Moto Clube Bodes do Asfalto tem presentemente cerca de 3.000 membros, no Brasil e em mais alguns países.

Agora a designação de EBA - Encontro do Bodes do Asfalto - ficou restrita aos Encontros regionais, sendo que agora existem também os EBA-"X", que se refere aos EBA realizados por estado (EBA-SP para o Encontro relativo ao Estado de S. Paulo, por exemplo) e o EBAN, que é o Encontro Nacional. É organizado um Encontro do Bodes do Asfalto Nacional anualmente, sempre mudando-se o local de realização.

E eis a grande novidade: para o final de Setembro do corrente ano, está prevista a realização do 1.ºEBAI - Encontro do Bodes do Asfalto Internacional!

E onde? Nada mais, nada menos do que percorrendo o Caminho de Santiago, a partir de Lisboa , obviamente, até Santiago de Compostela!

Está prevista a participação de 50 casais do Brasil, em motos de 600 cc alugadas.

Votos de grande sucesso para o 1.º EBAI!

Rui Bandeira

02 fevereiro 2009

As quatro dimensões do blogue


Quem consulta a banda direita do blogue, encontra, logo abaixo do Arquivo do Blogue, um espaço designado por Textos via RSS e, nele o ícone laranja com um ponto e dois arcos de círculo, a branco, que identifica o serviço de RSS, isto é, o serviço pelo qual o internauta pode ter assinalado, no local próprio do seu explorador da Rede, um atalho para o último texto publicado no A Partir Pedra.

Logo abaixo deste espaço, encontra um outro, intitulado Textos via correio eletrónico. Neste, encontra um atalho identificado como Receba os textos do A Partir Pedra por correio eletrónico. Este atalho dá acesso direto ao serviço de subscrição, gratuita, de uma funcionalidade útil para quem nem sempre tem tempo para navegar na Rede Mundial de Computadores, mas não quer perder a possibilidade de ler todos os textos que se publicam no A Partir Pedra: o envio, por regra entre as 21 e as 23 horas (hora de Portugal Continental, TMG), de uma mensagem de correio eletrónico para a caixa de correio eletrónico do subscritor do serviço, contendo o texto ou os textos (se foi publicado mais do que um) publicados no A partir Pedra nas 24 horas antecedentes.

Logo abaixo, tem um outro espaço, denominado Assinantes por RSS e por correio eletrónico, que contém uma imagem com a indicação, atualizada, do número de subscritores destes dois serviços, relativamente ao A Partir Pedra.

Estes espaços já existem há algum tempo e têm sido objeto de apreciável interesse e utilização, por parte dos nossos leitores, particularmente o relativo à subscrição da receção dos textos publicados no A Partir Pedra por correio eletrónico. Em menos de um ano, subscreveram os dois serviços 137 interessados, dos quais 125 para a receção dos textos por correio eletrónico e 12 por RSS - números à data da publicação deste texto.

Estes serviços eram fornecidos através do norte-americano Feedburner, o qual foi adquirido, no ano transato, pelo Google. O Google decidiu agora integrar o serviço na sua gama própria, embora mantendo a designação de Feedburner. Em consequência, está a decorrer - creio que até final do corrente mês - o processo de migração da plataforma original Feedburner para a plataforma Google.

A razão de ser principal deste texto é informar os nossos leitores que procedemos hoje à migração da conta para a nova plataforma. Em princípio, e se tudo correu bem, todos as já existentes requisições de feeds e de receção dos textos por correio eletrónico migraram para a nova plataforma e os leitores aderentes continuarão a receber os feeds e as mensagens de correio eletrónico, sem perturbações e sem necessidade de qualquer atuação. Mas, se porventura alguma anomalia ocorrer, solicito que me deem conta do facto para o endereço mestreaffonsodomingues@gmail.com e tentarei ver o que se passa. Mas, no limite, qualquer anomalia será fácil e rapidamente superada através de uma nova requisição do serviço, a efetuar já para a nova plataforma (o atalho já está atualizado para o efeito).

O conjunto de ferramentas de acesso aos textos do A Partir Pedra completa-se com o espaço Seguidores - atualmente 11. Este espaço destina-se a informais quais os detentores de contas Google que decidiram obter da plataforma o seguimento de todos os textos publicados no a Partir Pedra, através do painel de acesso à respetiva conta.

Tudo isto faz com que 148 leitores do A Partir Pedra sigam este blogue sem necessidade de a ele acederem diretamente e, portanto, sem serem contabilizados pelo contador de visitas. Este dá-nos conta de visitas diárias que variam normalmente entre cerca de 150 e 250 (episodicamente, um pouco menos ou um pouco mais). Ou seja, presentemente, o A Partir Pedra chega a cerca de 300-400 leitores por esse Mundo fora.

Por nós, fazemos o que podemos para facilitar aos nossos leitores o acesso aos textos. Por isso temos um blogue a quatro dimensões: acesso direto, RSS, correio eletrónico e seguimento.

A todos o nosso muito obrigado pelo interesse e a minha garantia pessoal de que procurarei que os textos aqui publicados continuem a manter o vosso interesse. Nem sempre haverá o "suco da barbatana", mas espero que a qualidade média não vos desiluda.

Rui Bandeira

30 janeiro 2009

O cão velho, o leopardo e o macaco

Mais uma história para ler e refletir. Hoje, tem a ver com a experiência e a sabedoria que só esta traz. Como habitualmente, recebi-a por correio eletrónico, desconheço o seu autor e editei-a ao meu jeito, para publicação aqui.

Uma velha senhora foi para um safari na África e levou seu velho cão com ela.


Um dia, caçando borboletas, o velho cão, de repente, deu-se conta de que estava perdido.

Vagueando a esmo, à procura do caminho de volta, o velho cão percebeu que um jovem leopardo o tinha visto e caminhava na sua direção, com intenção de conseguir um bom almoço...

O cachorro velho pensou:

- Oh, oh! Estou mesmo enrascado !

Olhou à volta e viu ossos espalhados no chão por perto. Em vez de se apavorar ainda mais, o velho cão ajeitou-se junto ao osso mais próximo, e começou a roê-lo, dando as costas ao predador .


Quando o leopardo estava a ponto de atacar, o velho cachorro exclamou bem alto:

- Este leopardo estava delicioso ! Será que há outros por aí ?


Ouvindo isso, o jovem leopardo, com um arrepio de terror, suspendeu o seu ataque, já quase começado, e esgueirou-se na direção das árvores.

- Caramba! - pensou o leopardo, - essa foi por pouco ! O cão velho quase me apanhava!

Um macaco, numa árvore ali perto, viu toda a cena e logo imaginou como fazer bom uso do que vira: em troca de proteção para si, informaria o predador que o cão não tinha comido leopardo algum....

E assim foi, rápido, em direção ao leopardo. Mas o velho cachorro viu-o a correr na direção do predador em grande velocidade, e pensou:

- Aí tem coisa!

O macaco alcançou o felino, cochichou-lhe o que lhe interessava e fez um acordo com o leopardo.

O jovem leopardo ficou furioso por ter sido feito de parvo, e disse:

- Macaco! Sobe para as minhas costas, para veres o que acontece com quem se arma em esperto comigo!


Agora, o velho cão via um leopardo furioso, a vir na sua direção, com um macaco nas costas, e pensou:

-E agora, o que é que eu posso fazer ?

Mas, em vez de correr (sabia que suas pernas doridas não o levariam longe...), o cachorro sentou-se, mais uma vez dando costas aos agressores, fazendo de conta que ainda não os tinha visto, e quando estavam suficientemente perto para o ouvirem, o velho cão disse:

- Mas afinal onde está o raio daquele macaco? Estou a morrer de fome! Ele disse que ia trazer outro leopardo para mim e nunca mais chega!


Moral da história: não mexa com cachorro velho... Idade e habilidade sobrepõem-se à juventude e intriga. A
Sabedoria só vem com a idade e a experiência.

É o que vos deixa aqui hoje este já maduro

Rui Bandeira

29 janeiro 2009

Ainda o Movimento Pijaminha

Em 30 de setembro do ano passado, o JPSetúbal publicou aqui no blogue um texto intitulado Movimento PIJAMINHA (da treta!). Faça o favor de seguir o atalho e ir lá (re)ler, antes de continuar a ler este texto... ... ...

Já está? Então ficou a saber ou recordou-se. Quem teve o cuidado de ler os comentários ao texto, tem já todos os elementos para prosseguir a leitura deste escrito. Quem não teve, faça o favor de voltar ao atalho e ler também os comentários. Este escrito espera e não foge, entretanto... ... ... Já está? Ótimo! Estamos então todos quase devidamente enquadrados para entender plenamente o que segue. Só falta saber dos antecedentes. Mas isso resolvo já no parágrafo seguinte...

O JPSetúbal, sempre solidário, tinha recebido uma daquelas mensagens-corrente que proliferam pela Rede Mundial de Computadores, no caso sobre o Movimento Pijaminha, e inquiriu dois ou três outros elementos da Loja sobre a possibilidade desta apadrinhar a campanha e ajudá-la. Da conversa havida, resultou que era uma possibilidade a ponderar, mas que, antes de tudo, havia que investigar sobre a efetiva existência da campanha, a bondade dos seus propósitos, o real interesse dos seus objetivos, a sua relevância social - enfim, as verificações que habitualmente fazemos antes de decidirmos dar o nosso apoio a qualquer entidade ou iniciativa. O JPSetúbal encarregou-se de obter algumas informações e... logo na primeira diligência, no IPO, apanhou com um banho de água fria: não só o IPO não necessitava de pijaminhas, como não caucionava a iniciativa e, até, a considerava perturbadora dos seus serviços. Daí o texto do JPSetúbal referenciado no atalho acima.

Parecia assunto acabado. Mas alguns comentários àquele texto puseram-me o ninho atrás da orelha... O simple, embora confessando o seu ceticismo, informou da existência de um blogue do Movimento Pijaminha. Elsa Nascimento assumia-se como elemento desse movimento e também assinalava o dito blogue.

Quando alguém dá a cara, merece-me, pelo menos, o benefício da dúvida. Resolvi ir espreitar o tal blogue e ver por mim próprio. Encontrei lá este texto da assumida líder do movimento. Pareceu-me esclarecedor, mas continuei a reservar a minha opinião e decidi ir acompanhando o assunto.

Em novembro último, recebi uma mensagem dando-me conta deste comunicado de imprensa do IPO. Novo mau sinal...

Já este mês, li esta entrada no blogue do Movimento Pijaminha.

Creio já ter elementos suficientes para ter uma opinião formada.

Segundo o Movimento, este ano, apesar de afetados pela polémica, conseguiram recolher donativos que lhes permitiram distribuir 310 pijamas no Hospital D. Estefânia, 20 pijamas e 20 pares de meias na Casa da Criança de Tires e 44 pijamas e 30 pantufas e chinelos e vários pares de meias no Instituto da Sãozinha, na Abrigada, Alenquer. Não é já feita nenhuma referência ao IPO.

O IPO, por sua vez, continua a rejeitar a associação do seu nome ao movimento.

Em face das duas posições, as minhas conclusões são:

1. O Movimento terá sido iniciado por pessoas bem intencionadas, mas voluntaristas.

2. Algo inorgânico, mas desorganizado e vulnerável a entusiasmos avulsos, deu origem a mensagens eletrónicas e apelos descoordenados, utilizando o nome de Movimento Pijaminha e associando-o, indevidamente, ao IPO - o que esta instituição não apreciou nada!

3. O núcleo inicial do projeto tenta salvá-lo e fazê-lo ultrapassar a polémica e dirige a sua atividade em benefício de outras instituições que não o IPO.

4. Se na minha mente permanecem algumas dúvidas sobre a efetiva necessidade social de distribuir pijamas no Hospital público de D. Estefânia, admito que seja relevante o auxílio prestado a instituições de acolhimento de crianças.

5. As intenções dos promotores do movimento parecem ser louváveis e, pelo menos, quanto aos lares de acolhimento de crianças, são suscetíveis de suprir ou ajudar a suprir algumas necessidades reais.

6. No entanto, o "pecado original" da polémica ocorrida, afeta, talvez irremediavelmente, a "marca" Movimento Pijaminha.

Correndo o riso de dar uma opinião que me não é pedida, penso que a iniciativa tem possibilidades de ser relevante para ajudar a suprir efetivas necessidades sociais, designadamente no particular "nicho" das instituições de acolhimento de crianças, mas, para tal, necessita de fazer duas coisas:

1. ORGANIZAR-SE. ESTRUTURAR-SE. Evoluir do voluntarismo de simples boa-vontade para uma instituição particular de solidariedade social, que conquiste a confiança pública. Hoje em dia, as pessoas, de tão solicitadas, começam a ser mais seletivas na consideração dos apelos à sua solidariedade e penalizam ou não dão o apoio, que porventura seria justificado, a iniciativas que suspeitem de desorganizadas, amadoras, insuficientemente controladas e, logo, não lhes dando suficientes garantias de boa aplicação dos seus donativos.

2. SUBSTITUIR A "MARCA" MOVIMENTO PIJAMINHA POR OUTRA. Justa ou injustamente, a "marca" Movimento Pijaminha está afetada, talvez irremediavelmente, pela polémica e desconfiança. Queira-se ou não, potencia desconfianças e, logo, desmobiliza vontades de ajudar. A superação da desconfiança será porventura possível, mas implicará esforços acrescidos, que melhor aproveitados seriam na atividade central de solidariedade. Embora eu compreenda o capital afetivo que esta "marca" implicará para os promotores originais do movimento, objetivamente ela prejudica já mais do que beneficia.

Esta a minha análise, o meu juízo, a minha opinião - que ninguém pediu!

Rui Bandeira