08 março 2007

Simón Bolívar, Revolucionário e Maçon

Segundo os historiadores Júlio Mancini e Américo Carnicelli, o Libertador Bolívar foi iniciado na maçonaria em 1803, na Loja "Lautaro", que funcionava em Cádis, Espanha, onde também se iniciaram outros próceres da independência das colónias espanholas da América do Sul. Outro historiador, o Marquês de Villa Urrutia, assinala a mesma data, mas sustenta que a Loja não se chamava "Lautaro", mas sim "Caballeros Racionales". Ambas as Lojas existiam em Cádis em 1803. A confusão virá das visitas que Bolívar costumava fazer à Loja "Caballeros Racionales". A Loja "Lautaro" foi fundada em 1800 por inspiração de Francisco de Miranda, que residia em Londres, fazendo planos para uma expedição libertadora da Venezuela. Dizem que sugeriu esse nome em homenagem ao caudilho araucano, que venceu o conquistador Valdívia em 1554, em Tucapel (Chile). Porém, Miranda nunca esteve na Loja "Lautaro" de Cádis, porque a sua cabeça foi posta a prémio pelos espanhóis. De Londres através de amigos que viajavam para a Península Ibérica, mandava cartas e desse modo mantinha contacto com dito centro maçónico. Mais tarde, José de San Martín, fundou em Buenos Aires, Argentina, outra Loja "Lautaro", em lembrança da Loja de Cádis. Depois fez o mesmo em Santiago de Chile e Lima, onde as Lojas "Lautaro" foram centros de patriotas na luta pela independência.

Em 1801, quando Bolívar tinha 18 anos de idade, contraiu casamento em Madrid, com Maria Teresa del Toro, sobrinha do Marquês del Toro, seu amigo de Caracas. Depois de viajar por França e outros países, regressou à Venezuela com sua esposa para se dedicar à administração das suas ricas propriedades rurais. Mas a felicidade durou-lhe muito pouco. Após dez meses de permanência em solo venezuelano, a febre amarela acabou com a jovem existência de Maria Teresa del Toro, lançando Bolívar na desolação. Órfão e viúvo aos vinte anos, pois tinha perdido seus pai, mãe e esposa, andou vários meses percorrendo vários lugares de Venezuela, em calada tristeza, até que os seus familiares conseguiram convencê-lo a que voltasse para a Europa. Finalmente,em 1803, embarcou num barco que o levou a Cádis, Espanha. Então esse porto andaluz era a principal porta de entrada da Europa, pela sua situação vantajosa na comunicação com a América e com África. Ali residiam muitos estrangeiros e vivia-se um interessante ambiente liberal. Poucos dias depois da sua chegada a Cádis, o jovem Bolívar fez amizade com alguns intelectuais que frequentavam a Loja "Lautaro", com os quais conversava sobre as ideias de liberdade e a necessidade de lutar contra toda forma de opressão. Atraído por esse pensamento revolucionário, decidiu ingressar na Loja "Lautaro", onde conheceu outros latino-americanos, como José de San Martín e Mariano Moreno, que mais tarde também seriam próceres da Independência. Na Loja "Lautaro", discutia-se sobre os princípios de "liberdade, igualdade e fraternidade", sobre a dignidade do homem e a possibilidade de converter em Repúblicas às colónias espanholas de América. A verdade é que a Loja "Lautaro", fez germinar na mente de Bolívar, a ideia de acabar com o domínio espanhol na Venezuela, para semear ali a semente da liberdade para o resto da América do Sul. O mesmo Bolívar diria, anos mais tarde, que, sem a morte de sua esposa, não teria realizado a sua segunda viagem a Europa e ingressado na Loja "Lautaro", onde a maçonaria lhe mostrou novos caminhos. Comentando esse episódio na vida de Bolívar, afirmam alguns historiadores, que sem o temporão desaparecimento de Maria Teresa del Toro, o impetuoso venezuelano não teria podido ter as ideias que o impulsionaram à luta pela Independência, antes viveria placidamente em Caracas ou San Mateo. A sua entrada na maçonaria e as suas viagens fizeram-lhe ver as coisas de um modo diferente. A morte de sua esposa pô-lo muito cedo no caminho da política, fazendo-lhe seguir depois a carroça de Marte em lugar de seguir o arado de Ceres. Já iniciado na maçonaria, Bolívar viajou para Madrid, de onde saiu rumo a França em Maio de 1804, acompanhado de seu amigo Fernando Toro, também venezuelano e primo de sua defunta esposa. Jovem e rico, frequenta os salões mais elegantes e trava amizade com o sábio alemão Alexander Humboldt, outro maçon, recém chegado de uma viagem científica por terras da América do Sul. Em Paris, alternava as suas visitas aos círculos literários, mundanos e políticos, com a sua assistência às sessões de lojas maçónicas e principalmente da Loja "Mãe Escocesa de Santo Alexandre da Escócia", onde se encontrou com o seu velho mestre e amigo Simón Rodríguez, que era maçon e inimigo da monarquia espanhola. Simón Rodríguez saiu da Venezuela em 1797, por ter participado no movimento revolucionário de José Maria Espanha e Manuel Gual. Então Simón Bolívar tinha só onze anos, mas mantinha intacta a lembrança do seu professor humanista e rebelde. O vínculo maçónico e a admiração que Bolívar sempre teve pelas ideias revolucionárias de Simón Rodríguez, selou a amizade de mestre e aluno, com um cálido abraço de fraternidade. Desde então até ao regresso de Bolívar à Venezuela, passando pelos Estados Unidos, em 1806, sempre estiveram juntos, falando de política, participando em fóruns, visitando povos e sobretudo aperfeiçoando a ideia de libertar a Venezuela.

Bolívar recebeu o grau de Companheiro, o segundo na maçonaria simbólica, numa Loja francesa em 11 de Novembro de 1805. Sobre essa cerimónia existe um documento, guardado no arquivo do Supremo Conselho do Grau 33.° para a República de Venezuela. Desde que chegou a Paris, Bolívar frequentava a Loja "Mãe Escocesa de Santo Alexandre da Escócia", onde assistiu ao número regulamentar de sessões para se fazer credor da respectiva ascensão. Na maçonaria simbólica ninguém sobe de grau sem ter preenchido satisfatoriamente o requisito da assiduidade e o progresso nos conhecimentos próprios da Ordem. O documento da ascensão de Bolívar ao grau de Companheiro foi adquirido em Paris pelo escritor venezuelano Ramón Díaz Sánchez, que, antes de o doar ao Supremo Conselho do Grau 33.°, em Caracas, o fez examinar por peritos em paleografia e por historiadores bem informados sobre a actividade maçónica de Bolívar. O dito documento, escrito em francês, traduzido diz textualmente o seguinte: "À Glória do Grande Arquitecto do Universo, etc., Ao 11.º dia do 11.° mês do Ano da Grande Luz de 5805, os trabalhos de Companheiro foram abertos no Oriente pelo R:. I:. de la Tour d' Auvergne. O Oeste e o Sul iluminados pelos RR:. II:. Thory e Potu. A leitura da última prancha traçada foi feita e sancionada. O Venerável propôs elevar ao Grau de Companheiro o R:. I :. Bolívar, recentemente iniciado, por causa de uma viagem que está em vésperas de empreender. O parecer dos II:. foi unânime para sua admissão e a votação favorável; o R:. I:. Bolívar foi introduzido no Templo e após as formalidades requeridas prestou ao pé do Trono o juramento de uso; colocado entre os dois Vigilantes, foi proclamado Companheiro Maçon da Resp:. Mãe Loj:. Escocesa de Santo Alexandre da Escócia. O trabalho foi coroado por uma tríplice bateria e o I:., tendo-a agradecido, tomou lugar à cabeça da Coluna do Sul. Os trabalhos foram fechados da maneira costumada. (Ass.) J. A Tour D'Auvergne, Venerável Mestre; (Ass.) Thory, Primeiro Vigilante; (Ass.) Potu, Segundo Vigilante; (Ass.) Jura De; (Ass.) P. Vidal, G:. de J:. do 33°; (Ass.) D'Auduar, 33°; (Ass.) Simón Bolívar; (Ass.) C. Abraham; (Ass.) Jeanne de la Salle". Dias depois, com seu flamejante Grau de Companheiro, Bolívar, acompanhado do seu amigo e mestre Simón Rodríguez, empreendeu uma viagem de observação e estudo por Itália e Suiça. Em Roma, fez o seu famoso juramento do Monte Sagrado, porque tinha fixado em sua mente a ideia de lutar pela independência de Venezuela.

Em Maio de 1806, quando Bolívar já preparava sua viagem de regresso a Venezuela, foi elevado ao Grau de Mestre, na mesma Loja "Mãe Escocesa Santo Alexandre da Escócia", juntamente com os Companheiros Manuel Campos, Antonio Bianchi, Crussaire e o conde Jean Sérurier, segundo se depreende de documentos impressos conservados na Biblioteca Nacional de Paris. Esse facto foi corroborado pelos historiadores Julio Mancini e Marquês de Villa Urrutia. Desde o seu regresso à Venezuela em fins de 1806, após visitar os Estados Unidos, Bolívar, até Agosto de 1810, não teve actividade maçónica, salvo uma visita que fez a uma Loja de Filadélfia e os contactos esporádicos que tinha com alguns membros das Sociedades Patrióticas, que, sem serem lojas maçónicas propriamente ditas, agrupavam pessoas com instrução maçónica, como Juan Germán Roscio, Vicente Saías e Juan José de Landaeta. Quando chegou a Londres, em companhia de Luis López Méndez e de Andrés Belo, teve em Francisco de Miranda um fraternal irmão maçon e cordial amigo. Em fins de Agosto, Bolívar, que visitava em seus momentos livres a loja maçónica "A Grande Reunião Americana", fundada e dirigida por Miranda, foi confirmado no sublime Grau de Mestre, numa cerimónia especial que saía um pouco dos ritos maçónicos. No momento de sua confirmação, Miranda, como costumava fazer com todos os que recebiam essa honra, tomou a Bolívar o juramento seguinte: "Eu não reconhecerei por governantes legítimos de minha Pátria senão aos eleitos pela livre e espontânea vontade do povo; e sendo o sistema republicano o mais aceitável à Governação das Américas, empregarei todos os meios que estejam ao meu alcance para o fazer admitir a seus habitantes". Este juramento que fez Bolívar no momento de receber sua confirmação de Mestre, é o quinto voto que exigia Miranda aos maçons que chegavam a essa cimeira do simbolismo. Esta versão, publicada pelo historiador Américo Carnicelli, foi confirmada pelo maçon e prestigiado historiador argentino Bartolomé Mitre, no seu livro sobre a organização dos 'Caballeros Racionales". Bolívar, permaneceu em Londres até 25 de Setembro de 1810, data em que empreendeu o regresso à Venezuela na corveta "Saphire". Miranda fá-lo-ia depois, a 10 de Outubro, no navio "Avon".

Nos últimos anos, apareceram provas da alta hierarquia maçónica do Libertador Bolívar, o qual não se limitou ao Grau de Mestre, antes chegou ao cume do escocismo, que é o Grau 33.°. O Libertador Bolívar, em 1923, tinha conseguido indiscutível prestígio continental. O seu nome ocupava com frequência a primeira página dos diários mais credenciados dos Estados Unidos, Inglaterra e França. No Museu Maçónico de New York, em conjunto com muitas relíquias maçónicas dos heróis da Independência das Américas, exibem-se o avental e o colar do Libertador Bolívar, com os ornamentos próprios do Grau 32.°. Mas o historiador maçónico venezuelano Celestino B. Romero chegou mais longe. Após uma exaustiva investigação, conseguiu reunir suficientes provas para informar num livro que ao Libertador Bolívar foi outorgado o Grau 33.° e último do Rito Escocês Antigo e Aceite. Celestino B. Romero foi Grão Mestre da Grande Loja da República de Venezuela e Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho do Grau 33° para a República de Venezuela. Estudioso e dedicado à investigação da história maçónica, tinha acesso aos arquivos da Ordem onde se guardam velhos e desconhecidos papéis, alguns com antiguidade de mais de 170 anos. Numa de suas visitas ao vetusto arquivo, fez um sensacional achado. Encontrou um amarelecido documento, que revela que no ano 1823, chegou a Caracas o R:. I:. José Cerneau, alto dignatário do Supremo Conselho dos Estados Unidos, com a missão expressa de conferir as máximas honras aos maçons que se distinguiram na luta pela liberdade da Grande Colômbia. O R:. I:. José Cerneau, investido de amplos poderes, em nome do Soberano Grande Consistório de Chefes da Alta Maçonaria dos Estados Unidos, segundo consta no Boletim do Arquivo Nacional, em seu número 2, no mês de Abril de 1824, elevou ao Grau 33.° Diego Bautista Urbaneja, Carlos Soublette, Andrés Narvarte, Lino de Clemente, Manuel M. Quintero, José de Espanha, Vicente do Castelo, J. Porfirio Iribarren, José Marra Pelgrón, José Manuel Landa, Francisco Vicente Parejo, José Gabriel Lugo, José Manuel Morais, Santiago Mariño, Tomás José Sanabria, Marcelino da Praça, Felipe Estévez, José Remigio Martín, Ramón Landa, José Marra Lovera, Gerónimo Pompa, José Manuel Rivero, Manuel Cala, Juan José Cande, Francisco Carabaño, Judas Tadeo Piñango, Juan Bautista Monserrate, José Marra Ponce, Joaquín Tellechea, Manuel Vicente Huizi, Juan Maimó, José Santiago Rodríguez, Simón Bolívar, Rafael Lugo, Francisco Conde, José Manuel Olivares, José Cordeiro, Carlos Cornejo, José Marra de Vermelhas, Antonio Febres Cordeiro, José Marra do Castelo, Andrés Caballero, Juan M. Barry, George Woudwery, Leonardo Jiménez, José Tadeo Monagas, Diego Vallenilla, Manuel Maneiro, José Francisco Bermúdez, José Antonio Páez, Juan Bautista Arismendi, Manuel López de Umérez, Francisco Aranda, José Áustria, Leonardo de Lorenzy, Matras Padrón, Rafael Guevara, Manuel Echeandía, Juan Escalona, Valentín Osío, José Manuel Gonell, Santos Michelena, José de Lima, Pedro Gual, Carlos Padrón, José Grau, Miguel Vargas, Esteban Escobar, Manuel Muñoz, Rafael Urdaneta, Ramón Machado, Agustín Armario, Tomás Yánez, Andrés Torrellas, Pablo de Michelli, Fernando Peñalver, Pedro Briceño Méndez, Rafael Formoso, Juan Bautista Dalla Costa, José Freyres e José Blanco (Presbítero). De acordo com esta lista, publicada em Abril de 1824 no Boletim do Arquivo Nacional e corroborada pelas investigações que levou a cabo o R:. I:. Celestino B. Romero, é indubitável que o Libertador Bolívar obteve o Grau 33.°.

Simón Bolívar, Libertador da América do Sul, Revolucionário e Maçon passou ao Oriente Eterno em 17 de Dezembro de 1830, na Quinta San Pedro Alejandrino, em Santa Marta, Colômbia, onde era assistido pelo médico francês Prosper Reverend. Por uma ironia do destino, a casa onde faleceu o Libertador era do espanhol Joaquín de Mier. Os restos mortais do Libertador Simón Bolívar, foram repatriados em 1842, e trasladados para o Panteão Nacional da Venezuela em 28 de Outubro de 1877, durante a governação do maçon Antonio Guzmán Blanco.

Este texto foi adaptado e traduzido daqui.

Rui Bandeira

07 março 2007

A Internet Lodge

A Maçonaria Britânica é, sem dúvida, um evidente exemplo do respeito pela Tradição. Foi em Inglaterra que se estabeleceram os princípios enformadores da Maçonaria Especulativa Regular. É em Inglaterra que funciona a mais antiga e respeitada Loja de Investigação Maçónica, a Quatuor Coronati, que, em especial na investigação histórica, constitui inegavelmente um marco de referência. Mas o respeito pela Tradição não exclui, pelo contrário, a atenção pela evolução, o interesse pela modernidade, a capacidade de inovação. E também nesta vertente a Maçonaria Britânica marca pontos, com a sua atenção ao desenvolvimento das Tecnologias de Informação e à sua utilidade para o conhecimento e difusão do Ideal maçónico. Prova disso mesmo é a Loja de Investigação que hoje aqui apresento, a Internet Lodge, Loja n.º 9659 do registo da Grande Loja Unida de Inglaterra (UGLE).

O seu logótipo, visível na imagem que acompanha este texto, é constituído por um teclado e um monitor de computador, este com a imagem do compasso, esquadro e letra G, sobre um plano de fundo com um mapa do globo encimando um pavimento mosaico, ilustrando a aliança entre a Tradição Maçónica e as Novas Tecnologias de Informação.

A Internet Lodge definiu como sua finalidade permitir aos maçons das Obediências reconhecidas em todo o mundo juntarem-se para finalidades Maçónicas e amizade pessoal, dentro do enquadramento de uma Loja Regular da Grande Loja Unida de Inglaterra e como seus objectivos a Universalidade (promover a Maçonaria Universal, permitindo a membros de Lojas comunicar e trocar ideias numa base universal e promover a compreensão mais larga da Maçonaria, tal como é praticada nas diversas Obediências), a Colaboração (fornecer um ambiente baseado na Internet, em que os membros da Loja podem trabalhar junto e realizar pesquisa maçónica e projectos em colaboração para além das fronteiras internacionais), a Instrução (promover a instrução maçónica através das tecnologias de comunicação) e o Progresso (prestar atenção ao futuro da Maçonaria e em especial divulgar o uso das Novas Tecnologias para fins maçónicos).

Qualquer maçon de uma Obediência reconhecida pela Grande Loja Unida de Inglaterra pode ser admitido como membro desta Loja, bastando para tal preencher e enviar o formulário disponibilizado no sítio. A jóia de adesão são 50 Libras, acrescidas, para os membros não registados em nenhuma Loja da UGLE, de mais 48,76 Libras para registo na Grande Loja. A quota anual são 60 Libras.

A Loja foi consagrada em 29 de Janeiro de 1998 na Província de East Lancashire da Grande Loja Unida de Inglaterra e fisicamente está sediada no Freemasons Hall, em Bridge Street, Manchester. No entanto, pelo menos duas das suas reuniões em cada ano têm lugar fora de Manchester.

No seu sítio estão publicados diversos trabalhos de investigação, já apresentados em Loja (a título de exemplo: O Futuro do Ritual, Princípios Maçónicos revisitados e Uma visão europeia do crescimento Maçónico).

O sítio da Loja tem ainda um interessante Centro de Ajuda da Internet, com informações úteis sobre vírus informáticos, burlas utilizando as Novas Tecnologias de Informação, correio electrónico, spam, Etiqueta na Rede, etc..

Da Tradição à Modernidade está-se à distância de um endereço na Rede...

Rui Bandeira

06 março 2007

O Masonic Hotel

Aqui na Europa ainda estamos habituados a que a Maçonaria seja sobretudo como nós, maçons, dizemos, discreta.

Já mostrei aqui no blogue exemplos de que, noutros pontos do globo, particularmente nos Estados Unidos da América, a Maçonaria é vivida de um modo completamente diferente, de uma forma bem mais aberta e pública.

Mas não só nos Estados Unidos. Hoje, deixo aqui um exemplo, relativo ao país que mais longe está de Portugal, precisamente nos antípodas: a Nova Zelândia.

Uma das cidades neozelandesas é Napier, que se auto-define como cidade Art-Deco. E é em Napier que se encontra o Masonic Hotel . Na cidade Art-Deco, obviamente que tinha de ser o maior hotel Art-Deco original...

No sítio do hotel, verificamos que em tudo se assemelha a um hotel de centro de cidade (pronto, um hotel art-deco...), nem sequer particularmente grande (35 quartos), mas generosamente equipado com um café-bar que serve também refeições, um restaurante, um bar de cerveja (começa a melhorar...) e um bar irlandês (cada vez melhor...). De relevante, realmente só o nome...

Em suma, meus caros: maçon que se preze, se for à Nova Zelândia e visitar Napier, já sabe onde se alojar: no maior hotel art-deco da cidade art-deco, o Masonic Hotel!

Rui Bandeira

05 março 2007

ANTIGOS DEVERES: Da conduta

O sexto e último tema dos Antigos Deveres respeita à conduta que os Maçons devem ter, em todos os aspectos da sua vida:

1. NA LOJA, ENQUANTO CONSTITUÍDA

Não organizareis comissões privadas nem conversações separadas sem permissão do mestre, nem falareis de coisas impertinentes nem indecorosas, nem interrompereis o mestre nem os vigilantes nem qualquer irmão que fale com o mestre; nem vos comportarei jocosamente nem apalhaçadamente enquanto a loja estiver ocupada com assuntos sérios e solenes; nem usareis de linguagem indecente sob qualquer pretexto que seja; mas antes manifestareis o respeito devido aos vossos mestre, vigilantes e companheiros e venerá-los-eis.
Se surgir alguma queixa, o irmão reconhecido culpado ficará sujeito ao juízo e à decisão da loja, a qual constitui o juiz próprio e competente para todas as controvérsias desse tipo (salvo se seguir apelo para a Grande Loja) e à qual elas devem ser referidas, a menos que o trabalho do Senhor seja no entretanto prejudicado, motivo pelo qual poderá usar-se de processo particular; mas nunca deveis recorrer à lei naquilo que respeite à Maçonaria sem absoluta necessidade, reconhecida pela loja.

2. CONDUTA DEPOIS DE A LOJA TER ENCERRADO E ANTES DOS IRMÃOS TEREM PARTIDO

Podeis divertir-vos com alegria inocente, convivendo uns com os outros segundo as vossas possibilidades. Evitai porém todos os excessos, sem forçar um irmão a comer ou a beber para além dos seus desejos, sem o impedir de partir quando o chamarem os seus assuntos e sem dizer ou fazer qualquer coisa ofensiva ou que possa tolher uma conversação afável e livre. Porque isso destruiria a nossa harmonia e anularia os nossos louváveis propósitos. Portanto, não se tragam para dentro da porta da loja rancores nem questões e, menos ainda, disputas sobre religião, nações ou política do Estado. Somos apenas maçons, da religião universal atrás mencionada. Somos também de todas as nações, línguas, raças e estilos e somos resolutamente contra toda a política, como algo que até hoje e de hoje em diante jamais conduziu ao bem-estar da loja. Esta obrigação sempre tem sido prescrita e observada e, mais especialmente, desde a Reforma na Grã-Bretanha, ou a dissenção e secessão destas nações da comunhão de Roma.

3. CONDUTA QUANDO IRMÃOS SE ENCONTRAM SEM TERCEIROS MAS NÃO EM LOJA FORMADA

Deveis cumprimentar-vos uns aos outros de maneira cortês, como vos ensinarão, chamando-vos uns aos outros irmãos, dando-vos livremente instrução mútua quando tal parecer conveniente, sem serdes vistos nem ouvidos e sem vos ofenderdes uns aos outros nem vos afastardes do respeito que é devido a qualquer irmão, mesmo que não fosse maçon. Porque embora todos os maçons sejam como irmãos, ao mesmo nível, a Maçonaria não retira ao homem a honra que ele antes tinha; pelo contrário, acrescenta-lhe honra, principalmente se ele bem mereceu da Fraternidade, a qual deve conceder honra a quem for devida e evitar as más maneiras.

4. CONDUTA NA PRESENÇA DE TERCEIROS NÃO MAÇONS

Sereis prudentes nas vossas palavras e atitudes, a fim de que o mais penetrante dos terceiros não seja capaz de descobrir ou achar o que não convém sugerir; por vezes desviareis a conversa e conduzi-la-eis com prudência, para honra da augusta Fraternidade.

5. CONDUTA EM CASA E PARA COM OS VIZINHOS

Deveis proceder como convém a um homem moral e avisado; em especial, não deixeis família, amigos e vizinhos conhecer o que respeita à loja, etc. mas consultai prudentemente a vossa própria honra e a da antiga Fraternidade por razões que não têm aqui de ser mencionadas. Deveis também ter em conta a vossa saúde, não vos conservando fora de casa, depois de terem passado as horas de loja; evitai os excessos de comida e de bebida, para que as vossas famílias não sejam negligenciadas nem prejudicadas e vós próprios incapazes de trabalhar.

6. CONDUTA PARA COM UM IRMÃO DESCONHECIDO

Deveis examiná-lo com cuidado, da maneira que a prudência vos dirigir de forma que não vos deixeis enganar por um ignorante e falso pretendente, a quem rejeitareis com desprezo e escárnio, evitando dar-lhe quaisquer sinais de reconhecimento.
Contudo, se descobrirdes nele um irmão verdadeiro e genuíno, então deveis respeitá-lo; e, se ele tiver qualquer necessidade, deveis ajudá-lo se puderdes ou então dirigi-lo para quem o possa ajudar. Deveis empregá-lo durante alguns dias, ou recomendá-lo para que seja empregado. Mas não sois obrigado a ir além das vossas possibilidades, somente a preferir um irmão pobre, que seja homem bom e sincero, a quaisquer outros pobres em idênticas circunstâncias.


Finalmente, todas estas obrigações são para observardes, e assim também as que vos serão comunicadas por outra via; cultivando o amor fraternal, fundamento e remate, cimento e glória desta antiga Fraternidade, evitando toda a disputa e querela, toda a calúnia e maledicência, não permitindo a outros caluniar um irmão honesto, mas defendendo o seu carácter e prestando-lhe todos os bons ofícios compatíveis com a vossa honra e segurança e não mais. E se algum deles vos fizer mal, dirigi-vos à vossa própria loja ou à dele; e daí, podeis apelar para a Grande Loja, aquando da Comunicação Trimestral, e daí para a Grande Loja anual, como tem sido a antiga e louvável conduta dos nossos antepassados em todas as nações; nunca recorrendo à justiça a não ser quando o caso não se possa decidir de outra maneira, e escutando pacientemente o conselho honesto e amigo de mestre e companheiros quando vos queiram impedir de recorrerdes à justiça com estranhos ou vos incitar a pordes rapidamente termo a todo o processo, a fim de que vos possais ocupar dos assuntos da Maçonaria com mais alacridade e sucesso; mas com respeito aos irmãos ou companheiros em juízo, o mestre e os irmãos devem com caridade oferecer a sua mediação, a qual deve ser aceite com agradecimento pelos irmãos contendores; e se essa submissão for impraticável, devem então continuar o seu processo ou pleito sem ira nem rancor (não na maneira usual), nada dizendo ou fazendo que possa prejudicar o amor fraternal, e renovando e continuando os bons ofícios; para que todos possam ver a influência benigna da Maçonaria e como todos os verdadeiros maçons têm feito desde os começos do mundo e assim farão até ao final dos tempos.

Amen, assim seja.

Como se vê, este acervo de regras prima, antes de tudo, pelo bom senso e pela aplicação dos ditames da Moral e da Boa Educação. Para além disso, frisa os específicos deveres de preservação da identidade dos Irmãos, da não discussão de Política e Religião em Loja, da Solidariedade entre Irmãos, da Tolerância, da Discrição e da Vida Saudável e Regrada. Em suma, uma cartilha de comportamento de... homens livres e de bons costumes!

Rui Bandeira

03 março 2007

Hoje é Sábado

Hoje é Sábado….
Estou com gripe…
O Benfica logo jogará sem o Luisão…

Deu-me para Vos trazer a experiência desta semana que está a acabar mal, mas que decorreu muito bem.


Na 2ª feira, ao almoço, parti um dente, mesmo à frentinha, o que me calhou muito bem... Estava a almoçar com um Cliente !
Se nunca passaram pela experiência de partir um dente quando estão a almoçar com um Cliente, aconselho vivamente a que não percam esta sugestão !
É muito emocionante, o pessoal diverte-se à brava, e se houver negócio para fazer então é um descanso porque vai logo à vida.
Dos da frente de preferência, para ficar bem à vista... quando se rirem verão que toda a gente ri ainda mais !

Na 4ª feira tivemos a nossa sessão ritual ordinária que, pelo seu conteúdo diferente, constituiu um momento altíssimo da vida actual e futura da nossa Respeitável Loja.

Na 5ª feira, pela manhãzinha, fui até aos Bombeiros Voluntários da Amadora para onde os “miúdos” da Cerciama haviam sido convidados para fazer o “Bombeiro por um Dia”.

Já tinha ouvido falar dos “Bombeiro por um Dia”, tal como já ouvi falar dos “Polícia por um Dia”, mas nunca assistira a qualquer acção relacionada com o conceito.

Infelizmente, às tantas, começou a chover o que estragou algumas partes do programa, mas mesmo assim deu para aqueles miúdos passarem um dia bem diferente, cheio de emoções que de resto demonstraram com evidência.












O pessoal dos Voluntários da Amadora é de uma paciência sem limites e de uma cordialidade a toda a prova (obrigado caríssimo Borges pela dedicação e competência com que acompanhaste a “rapaziada”) e os jovens puderam ouvir explicações sobre a forma de actuar em caso de necessidade, conhecer as viaturas e carregar no “tim-nó-nim…”, usar os fatos de protecção (com capacete, luvas e botas… tudo à maneira) e os pensos e os curativos… uma festa para quem tem tão pouco e pede tão nada…

As descidas pelo tubo foram emocionantes, a sala das comunicações um espanto com tantos botões e “televisões”.




Estiveram felizes os “miúdos” e estiveram felizes os bombeiros na sua função de ajudar, como quase todos, quase sempre.

Que se pode pedir mais a esta semana, mesmo acabando com uma gripalhada ?

E mesmo que o Benfica não ganhe logo à noite… foi uma grande semana, justa e perfeita !
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JPSetúbal
(Nota: Bem, mas se ganhar a semanita ficará ainda mais justa !!!)

02 março 2007

ANTIGOS DEVERES: Da gestão do trabalho na Irmandade


O quinto tema dos Antigos Deveres respeita à forma como se deve organizar e processar o labor numa Loja Maçónica. Também aqui é evidente que se trata de normas fixadas desde o tempo Operativo, regulando efectivamente o exercício do múnus profissional dos construtores em pedra. Tais princípios são adaptados e seguidos, feita a transição para a Maçonaria Especulativa, para o trabalho simbólico da construção do Templo interior do maçon.

Todos os maçons trabalharão honestamente nos dias úteis para que possam viver honradamente nos dias santos; e observar-se-á o tempo prescrito pela lei da terra ou confirmado pelo costume.

O mais apto dos companheiros será escolhido ou nomeado mestre ou inspector do trabalho do Senhor; e será chamado mestre por aqueles que trabalham sob ele. Os obreiros devem evitar toda a linguagem grosseira e não se tratar por nomes descorteses, mas sim por irmão ou companheiro; e devem comportar-se com urbanidade dentro e fora da loja.

O mestre, conhecendo-se a si mesmo capaz de destreza, empreenderá o trabalho do Senhor tão razoavelmente quanto possível e utilizará fielmente os materiais como se seus fossem; não dará a irmão ou aprendiz maiores salários dos que ele, realmente, possa merecer.

Tanto o mestre como os obreiros, recebendo os seus salários com exactidão, serão fiéis ao Senhor e terminarão o trabalho honestamente, quer ele seja à tarefa quer ao dia; não converterão em tarefa o trabalho que costume ser ao dia.

Ninguém terá inveja da prosperidade de um irmão, nem o suplantará, nem o porá fora do trabalho se ele for capaz de o terminar; porque nenhum homem pode terminar o trabalho de um outro com o mesmo proveito para o Senhor a menos que esteja completamente familiarizado com os desenhos e planos daquele que o começou.

Quando um companheiro for escolhido como vigilante do trabalho sob o mestre, será leal tanto para com o mestre como para com os companheiros, vigiando zelosamente o trabalho na ausência do mestre, para proveito do Senhor; e os seus irmãos obedecer-lhe-ão.

Todos os obreiros empregados receberão o salário em sossego, sem murmurar nem se amotinar, e não abandonarão o mestre até o trabalho estar concluído.

Cada irmão mais jovem será instruído no trabalho, para se evitar que estrague os materiais por falta de conhecimento e para aumentar e continuar o amor fraternal.

Todas as ferramentas usadas no trabalho serão aprovadas pela Grande Loja.

Nenhum outro trabalhador será empregado no trabalho próprio da Maçonaria; nem os pedreiros-livres trabalharão com aqueles que não forem livres, salvo necessidade urgente; nem ensinarão trabalhadores e obreiros não aceites como ensinariam um irmão ou um companheiro.

Estas são normas de regulação de actividade profissional que, pela sua ponderação e acerto, passaram a ser encaradas e seguidas como normas de vida e colaboração entre os maçons dos tempos modernos. Não é preciso inventar nada, basta ser justo e tentar chegar tão próximo da perfeição quanto possível... Nada mais se precisa de exigir a um homem livre e de bons costumes!

Rui Bandeira l

01 março 2007

ANTIGOS DEVERES: Dos Mestres, Vigilantes, Companheiros e Aprendizes


O quarto tema dos Antigos Deveres respeita directamente aos obreiros, nos seus diversos graus e qualidades:

Toda a promoção entre maçons é baseada apenas no valor real e no mérito pessoal, a fim de que os senhores possam ser bem servidos, os irmãos não expostos à vergonha e a arte real não seja desprezada. Portanto, nenhum mestre nem vigilante é escolhido por antiguidade, mas pelo seu mérito. Torna-se impossível descrever estas coisas por escrito, e cada irmão deve ocupar o seu lugar e aprendê-las na maneira própria desta Fraternidade. Fiquem apenas sabendo os candidatos que nenhum mestre deve tomar aprendiz a menos que tenha ocupação bastante para ele e a menos que se trate de um jovem perfeito, sem mutilação nem defeito no corpo que o torne incapaz de aprender a arte, de servir o senhor do seu mestre, e de ser feito irmão e depois companheiro em tempo devido, mesmo após ter servido o número de anos consoante requeira o costume do país; e que ele provenha de pais honestos; de maneira que, quando qualificado para tal, possa ter a honra de ser vigilante, depois mestre da loja, grande vigilante e, por fim, grão-mestre de todas as lojas, conforme ao seu mérito.
Nenhum irmão pode ser vigilante sem ter passado pelo grau de companheiro; nem mestre sem ter actuado como vigilante; nem grande-vigilante sem ter sido mestre de loja; nem grão-mestre a menos que tenha sido companheiro antes da eleição, e que seja de nascimento nobre ou gentleman da melhor classe ou intelectual eminente ou arquitecto competente ou outro artista saído de pais honestos e de grande mérito singular na opinião das lojas. E para melhor, mais fácil e mais honroso desempenho do cargo, o grão-mestre tem o poder de escolher o seu próprio grão-mestre substituto, que deve ser ou deve ter sido mestre de uma loja particular e que tem o privilégio de fazer tudo aquilo que o grão-mestre, seu principal, pode fazer, a menos que o dito principal esteja presente ou interponha a sua autoridade por carta.
Estes dirigentes e governadores, supremos e subordinados, da antiga loja, devem ser obedecidos nos seus postos respectivos por todos os irmãos, de acordo com os velhos preceitos e regulamentos, com toda a humildade, reverência, amor e diligência.

Este texto mostra claramente que os Antigos Deveres remontam à fase operativa da Maçonaria, isto é, em que se regulavam as regras aplicáveis aos obreiros da arte da construção em pedra. Repare-se que, então, a entrada na Arte se fazia pela porta do Aprendizado, desde que se tratasse de "um jovem perfeito, sem mutilação nem defeito no corpo que o torne incapaz de aprender a arte, de servir o senhor do seu mestre"; provando as suas capacidades, podia então ser "feito irmão" - o que inculca que nem todos os Aprendizes logravam obter tal estatuto -, "depois companheiro em tempo devido, mesmo após ter servido o número de anos consoante requeira o costume do país", depois, "quando qualificado para tal, possa ter a honra de ser vigilante" e finalmente "mestre de loja". Trata-se de uma estrutura de enquadramento da aprendizagem e progresão na profissão de construtor em pedra.

É de notar que já na época operativa se regulava mais do que a mera oficina de construção, antes se prevendo a organização e funcionamento de uma vera associação profissional. Assim se compreende a menção a "grande vigilante" e "grão-mestre" e seu substituto.

Estas regras foram, recorde-se, incluídas nas Constituições de Anderson, que asseguraram a transição da Maçonaria Operativa para a Maçonaria Especulativa, estabelendo as bases da Maçonaria Regular, tal como ela é hoje entendida em todo o Mundo.

Rui Bandeira